No mês do centenário de seu concerto lendário em Nova Friburgo, a Revista do Choro relembra a passagem de Villa-Lobos pela cidade


Leonor Bianchi

O chorão Heitor Villa-Lobos (1887-1959) criou uma obra que ganhou o mundo, onde sugeriu toda a diversidade da alma e da natureza brasileiras em composições que traduzem, através da música, o sentimento e a cultura do seu povo.

Heitor Villa-Lobos fotografado pela revista norte-americana Life. (W. Eugene Smith) Heitor Villa-Lobos fotografado pela revista norte-americana Life. (W. Eugene Smith)

Heitor Villa-Lobos fotografado pela revista norte-americana Life. (W. Eugene Smith)

A Revista do Choro, sediada em Lumiar, quinto distrito do município de Nova Friburgo, não poderia deixar de evocar a lembrança de sua passagem pela cidade, onde, em 1915, há um século, no dia 29 de janeiro, Villa fez seu primeiro concerto de significativa importância, estreando mundialmente como compositor, antes de tornar-se um sucesso na Capital Federal, tocando ele próprio suas obras ao violoncello, ao lado de sua esposa, na época, Lucília Guimarães, ao piano.

Lucilia Guimarães

Lucilia Guimarães

O concerto aconteceu no extinto Theatro Dona Eugênia, na atual rua Augusto Spinelli, local onde depois funcionaria o Cine Leal. O evento marcou para sempre a presença do compositor na cidade, que anualmente faz um calendário de atividades culturais para lembrar a data.

Theatro Dona Eugênia, Nova Friburgo, 1915, onde Heitor Villa-Lobos fez seu primeiro concerto, há um século. Fonte: História de Nova Friburgo

Theatro Dona Eugênia, Nova Friburgo, 1915, onde Heitor Villa-Lobos fez seu primeiro concerto, há um século. Fonte: História de Nova Friburgo

‘Ano Villa-Lobos de Nova Friburgo’

Nova Friburgo, este ano, homenageia o maestro Villa-Lobos com ‘O ano Villa-Lobos de Nova Friburgo’, para relembrar o concerto que o maestro fez na cidade, há exatos cem anos. A iniciativa é de músicos, agentes culturais, entidades não governamentais e profissionais liberais, entre eles: o Grupo de Arte Movimento e Ação (Gama), o jornal A Voz da Serra, o jornalista Girlan Guilland, e o agente cultural Júlio César Seabra Cavalcante (Jaburu), fundador do  grupo Gama.

Uma rua no bairro Ponte da Saudade com o nome do maestro foi reinaugurada pelo movimento cultural que está homenageando Villa-Lobos. Uma apresentação musical aconteceu na Praça do Suspiro, no dia 29 de fevereiro, data exata do concerto que ele fez em Friburgo, e diversas outras ações acontecerão durante todo ano, como encontros de trovadores, eventos literários, apresentações das bandas centenárias Euterpe Friburguense e Euterpe Lumiarense, concertos de música clássica, além da criação do ‘Salão Villa-Lobos’, inaugurado no dia de seu aniversário, 5 de março.

Filipeta feita para divulgar as homenagens ao centenário do concerto de Villa-Lobos em Nova Friburgo

Filipeta feita para divulgar as homenagens ao centenário do concerto de Villa-Lobos em Nova Friburgo

Inauguração do Salão Villa-Lobos

Desde 2009, a data de nascimento de Heitor Villa-Lobos é considerada oficialmente como o Dia Nacional da Música Clássica, no Brasil. Na data, aniversário de Villa, o Grupo de Arte Movimento e Ação (Gama), inaugura ‘Salão Villa-Lobos’ no espaço anexo ao restaurante Da Terra, (Rua Augusto Spinelli 116, em frente à Câmara Municipal, Centro de Nova Friburgo).

Um grande painel com a foto de Villa-Lobos lembrando sua passagem por Nova Friburgo há cem anos, foi colocado no local, onde estão expostas, ainda, quatro fotos do maestro e outras 16 imagens da arquitetura de Nova Friburgo nas décadas de 1910 – 1920. A exposição ficará no salão até abril, mas o painel com a foto de Villa-Lobos permanecerá no local.

Coluna do jornalista Massimo, no jornal A Voz da Serra, onde ele fala sobre a presença de Villa-Lobos em Nova Friburgo e as homenagens feitas a ele neste ano de 2015

Coluna do jornalista Massimo, no jornal A Voz da Serra, onde ele fala sobre a presença de Villa-Lobos em Nova Friburgo e as homenagens feitas a ele neste ano de 2015

O chorão Heitor Villa-Lobos

O menino Villa-Lobos, criado no Rio de Janeiro de fins do século XIX, teve desde muito cedo contato com a música dos chorões cariocas e já adolescente pulava a janela de casa para passar noites afora bebendo daquela fonte sonora.

Villa-Lobos frequentava a roda de choro da turma do ‘Cavaquinho de Ouro’ que, entre outros, reunia Sátiro Bilhar, Jayme Ovalle, Mário Álvares, Zé Cavaquinho e Quincas Laranjeiras.

Com seu violão, Villa-Lobos fez muitas serenatas e tocatas de choro. Inesquecível o caso da homenagem que ele e outros chorões fizeram a Santos Dumont quando de sua chegada ao Brasil, vindo da Europa. Villa-Lobos reuniu os maiores chorões da época e ‘invadiu’ o quarto onde Santos Dumont descansava, para fazer uma serenata surpresa em sua homenagem!  

Os Choros: Uma de suas obras mais significativas

A paixão de Villa-Lobos pelos chorões e sua linguagem musical, fez com que o gênio irrequieto do maestro criasse uma das mais monumentais obras musicais das Américas.

A série ‘Choros’ engloba 14 choros compostos entre 1920 e 1929, mas atualmente só temos acesso a 12 desses choros, pois os Choros N. 13 e N. 14 foram perdidos pela sua própria editora, Max Eschig, e não se tem conhecimento deles até hoje. Sabemos apenas que eram composições para duas orquestras e banda (Choros N. 13), e para orquestra, banda e coral (Choros N. 14).

“Certa vez eu me disse: ‘Meu Deus, preciso fazer alguma coisa bem elevada, na direção de Bach’. Então peguei todos estes temas e estudei um contraponto lógico. Nada de contraponto acadêmico… Tem muitas quartas, o que é contra a regra do contraponto, e que é muito bonito. Então comecei com o instrumento típico do choro e fiz uma coisa bem típica: O ‘Choros N. 1’ para violão solo, de 1920, dedicado a Nazareth. Depois fiz um gênero de música de câmara, muito pretensiosa, sabem? Choros? Improvisação, a fonte da alma pura, na forma de música de câmara. Fiz a síntese dos efeitos, a síntese da técnica… Peguei a flauta e a clarineta… fiz combinações para chegar ao contraponto, para chegar ao choro e a peça ‘Choros N. 2’ de 1924, dedicada a Mario de Andrade. Depois fiz com três instrumentos, e fiz com quatro… e o que eu coloquei? Três trompas e um trombone de vara, mas dentro de uma ideia absolutamente lógica (Choros N. 4, de 1926), dedicado a Carlos Guinle. Mas eu aproveitei de todo este sistema de música improvisada que nós fazemos, e aí desenvolvi até fazer uma coisa grandiosa, que dura… Eis os Choros.”. (Discurso feito por Villa-Lobos durante palestra no Club de Trois Centres, em Paris).

Sua monumental série dos Choros revela o quanto Heitor Villa-Lobos era apaixonado pelo gênero e o respeito que tinha pelos chorões.

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Author: imprensabr

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