E nos 450 anos do Rio de Janeiro… conheça a ‘Geografia da Música Carioca’


Leonor Bianchi e Rúben Pereira

O livro Geografia da Música Carioca, de João Carino e Diogo Cunha revela um Rio de Janeiro que conheceu o samba através dos índios, seus primeiros habitantes. Depois disso, esse Rio conheceria muitas misturas de ritmos, como o lundu, o maxixe, a polca, o choro, a marcha carnavalesca, o samba, a bossa nova, a jovem guarda e o rock, até chegar aos dias de hoje com a forte influência dos bailes funk na rotina dos cariocas.

Com prefácio do músico Carlos Didier, pesquisador e biógrafo de Noel Rosa, Orestes Barbosa e Nássara e orelha e André Diniz (Almanaque do Choro), o livro foi dividido em 11 capítulos, teve pesquisa iconográfica de Diogo Cunha e ilustrações que dão ritmo à leitura.

Geografia capa alta

Como nos conta o autor Diogo Cunha “no livro Geografia da Música Carioca escrevemos sobre os gêneros musicas com certidão de nascimento, lavrada ou não, na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Nessa geografia das “coisas nossas” o choro que é, em larga mediada, o “embaixador dessa cidade” entrou no baile. Falamos um pouco sobre os principais compositores do gênero: Pixinguinha, Nazaré, Chiquinha Gonzaga, Callado… Colocamos uma foto tirada em 1968 com Pixinguinha, Clementina de Jesus e João Havelange, em um evento em homenagem ao jogador Djalma Santos, que também está na imagem. Mas a história mais curiosa é sobre um soirée dançante, em 1913, na sede do Rancho Carnavalesco Pragas do Egito, na rua da Babilônia, 35, na Tijuca. A agremiação desfilava na Av. 28 de setembro em Vila Isabel e o presidente do Pragas era Alexandre Gonçalves Pinto, o Animal. A marcha do ano de 1913 pilhava com o manda-chuva da república velha senador Pinheiro Machado:

“Falam das Pragas do Egito \ Que estragam a plantação \ Não há couve nem palmito \ Nem tomate nem feijão \ Cada “praga” é um periquito \ Em plena devastação \ Há praga mais perigosa, \ Da policia no eirado: \ Que nos diga o Louro Rosa, \ Agora “ostracimizado” \ Si a praga mais poderosa \ De que o Pinheiro Machado”, destaca o autor Diogo Cunha.

Ao fim do capítulo que trata do choro são elencadas 25 gravações importantes para o gênero, como o Gaúcho (Corta-Jaca), de Chiquinha Gonzaga, interpretado por Maria Tereza Madeira; Carinhoso, de Pixinguinha e João de Barros, interpretada por Orlando Silva; Suíte Retratos, de Radamés Gnattali, pela Camerata Carioca e Choro Negro, de Paulinho da Viola e Fernando Costa, por Paulinho da Viola.

Neste capítulo, os autores marcam o surgimento do choro como sendo o momento da criação do grupo Choro Carioca (ou Choro do Callado) pelo flautista Joaquim Callado, em 1870. Porém, na Cronologia do choro que o livro apresenta, as influência sonoras e rítmicas que deram origem ao gênero aparecem desde 1845 com a chegada da Polca ao Rio de Janeiro. Seguindo na cronologia do capítulo, os autores destacam os anos de:

– 1896 – Criação da Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro através do maestro Anacleto de Medeiros;
– 1911 – Com a estréia de Pixinguinha, na Choperia Concha, na Lapa;
– 1914 – A formação do Grupo Caxangá por Pixinguinha e Donga;
– 1919 – Criação do grupo Oito Batutas;
– 1922 – Os Batutas fazem a primeira turnê de um grupo de instrumentistas brasileiros aos exterior;
1936 – O carteiro Alexandre Gonçalves Pintos (Animal) lança o livro O Choro: Reminiscências dos chorões antigos;
– 1937 – Orlando Silva grava Rosa e Carinhoso;
– 1946 – Pixinguinha grava duo com Benedicto Lacerda
– 1949 – Waldir Azevedo grava pela Contineltal ‘Brasileirinho’;
– 1968 – Jacob do Badolim e o época de Ouro tocam no Teatro João Caetano ao lado de Zimbo Trio e Elizeth Cardoso;
– 1975 – Surge o Clube do Choro no Rio de Janeiro;
– 1978 – O pesquisador Ary Vasconcelos reedita pela Funarte o livro ‘O Choro: Reminiscências dos chorões antigos’, Alexandre Gonçalves Pintos (Animal).
– 1997 – Lançada no Rio de Janeiro a pioneira revista Roda de Choro;
– 2001 – É instituído o Dia Nacional do Choro comemorado na data de nascimento de Pixinguinha.

Podemos destaca deste capítulo a fala dos autores em relação a importância do Choro na música brasileira:
“Para compreender as raízes da música brasileira, é fundamental conhecer um pouco da história do choro ou ‘chorinho’, como alguns poetas preferem chamá-lo. Ela se inicia no Rio de Janeiro por volta da segunda metade do século 19. A formação musical dos conjuntos da época era basicamente flauta, violão e cavaquinho. Desde 1870, estas formações passaram a animar bailes familiares a acompanhar a cantoria de modinhas sentimentais pelas ruas da cidade, tornando-o, assim, cada dia mais popular. O choro é oriundo da polca europeia, da valsa, do schottisch, da quadrilha e do lundu. Surgiu como um estilo diferente de executar esses gêneros musicais”.

O livro é o primeiro do produtor musical, pesquisador de música brasileira e apresentador do programa ‘Roda de Choro’, da Rádio MEC, João Carlos Carino e o quarto de seu parceiro nesta obra, Diogo Cunha.
Publicado pela Muriqui Livros (2014, 316 págs.), o volume editado por Carlos Didier contou com patrocínio da Nova Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, Ministério da Cultura – Governo Federal, apoio do Instituto Memória Musical Brasileira e produção de Carino Produções.

A bibliografia foi dividida por capítulos e o livro traz um excelente índice onomástico com nomes como, Alfredo Vianna, Catulo da Paixão Cearense, Donga, José Ramos Tinhorão, Patápio Silva, Sinhô, Villa-Lobos, Tia Amélia, Zé Pereira entre muitos outros nomes importantes no cenário da música carioca.

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Author: imprensabr

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