Fabiano Borges e a união da música latino-americana em seu novo CD Latinoamérica


Leonor Bianchi

A Revista do Choro conversou com uma das grandes referências do violão brasileiro da nova geração, Fabiano Borges (32), para conhecer seu novo disco duplo – Latinoamérica -, lançado no final de 2015.

Com larga vivência ao violão, o instrumentista e compositor brasiliense é considerado um dos maiores divulgadores do violão latino-americano no Brasil e na América Latina. Admirador e divulgador do choro por onde passa em suas turnês pelo mundo – Borges hoje, é um dos violonistas brasileiros com maior atuação no cenário internacional -, apaixonou-se pela música latina, embora tenha sido ao choro que dedicou sua dissertação de mestrado: Trajetória estilística do choro: O idiomatismo do violão de sete cordas, da consolidação a Raphael Rabello, apresentada em 2008, no programa de Pós-graduação em Música da Universidade de Brasília – UnB.

Fortemente influenciado pelos gêneros musicais latino-americanos, há mais de uma década Borges vem pesquisando o imenso repertório de ritmos e os compositores desses países e os diálogos possíveis entre estes e a música e o violão brasileiro.

Seu CD Latinoaméria é o resultado deste trabalho de pesquisa, e consolida uma trajetória que, em nível fonográfico, começou com os seus dois primeiros CDs: Sete Cordas (2011), um álbum duplo solista; e Concierto Latinoamericano, gravado em 2013 na Argentina e ainda não lançado no Brasil.

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A riqueza da cultura latino-americana traduzida através da expressão musical

Segundo Borges, o objetivo do seu novo trabalho Latinoamérica é revelar a riqueza cultural latino-americana através da música, uma vez que esta expressão artística fica restrita aos seus países de origem e não ultrapassa fronteiras tão próximas. Neste sentido, citando compositores da virada do século XX, ele gravou no CD Ernesto Nazareth, compositor muito conhecido no Brasil e nada ou muito pouco difundido na Argentina, e o compositor argentino Andrés Chazarreta, bastante popular em seu país, mas ainda desconhecido pelo público brasileiro.

No breve texto de abertura do CD Latinoamérica Borges comenta que “é comum ouvirmos entre os músicos a expressão “música brasileira e latino-americana”, separando a cultura brasileira do restante do continente”. Justamente por isso, ele elaborou o CD com músicas de diversos países latinos sem distinções culturais, e com isso criou uma unidade sonora latina ao projeto, incluindo, claro, neste repertório, a música brasileira, apresentada no disco pelos gêneros valsa, choro, baião, maracatu, frevo e samba.    

Nove meses de muito trabalho até o disco ficar pronto

Como muitos artistas brasileiros, foi o próprio Fabiano quem cuidou de todos os procedimentos de produção executiva e captação de recursos para que o CD, que teve patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF), saísse. Uma tarefa árdua para quem deveria apenas preocupar-se com a performance ao instrumento, consideremos.

Distribuído pela Tratore, o cd foi gravado e mixado por Felipe Castelar, no estúdio FM2Audio, em Brasília, e traz quatro faixas; Payadora, El 180, La Humilde e Sons de Carrilhões gravadas no estúdio Namastè, em Córdoba, na Argentina, pelo técnico Marcelo Brizuela. E foi lá, na Argentina, que começou o processo de produção do CD.

– O CD Latinoamérica começou em Córdoba, na Argentina. Na verdade, comecei a gravar esse disco no mesmo ano em que lancei o primeiro; 2011. Quatro faixas das 26 que entraram no disco foram gravadas em Córdoba. Tive o prazer e a honra de gravar lá com dois músicos argentinos; o Diego Martín Castro, grande amigo meu, e Martin Gallo, percussionista que toca bongoleurero, um instrumento muito típico da cultura argentina; espécie de bombo de couro de animal que se toca lateralmente. O instrumento que Mercedes Sosa tocava. Essas músicas que gravei lá ficaram guardadas desde então, e quando surgiu a proposta de fazer o novo CD eu sabia que elas poderiam entrar, conta Borges.

Comentando algumas faixas do disco, o violonista, que tem sete composições autorais no CD, enfatiza o papel singular da percussão em algumas obras que integram o projeto, destacando que, para além do violão, é ela, a percussão, quem dialoga diretamente com a linguagem mais popular da cultura e da música; o que ele justamente desejava mostrar neste novo trabalho.

– O percussionista Martin Gallo participou das gravações com o bombo legüero. A música Som de Carrilhões, de João Pernambuco, foi gravada com o Diego Matín Castro. Ele faz o violão um e eu toquei o sete cordas tradicional usado como acompanhamento, fazendo a linha dos baixos do violão de choro. Payadora é uma milonga chamada de ‘milonga candongo’; uma milonga mais rápida, que se dança; não é a milonga campeira, mais conhecida. Essas músicas integraram o projeto de uma maneira muito bonita porque tem tudo a ver com a música da América Latina. E veio aí a percussão de lá estabelecendo um contraponto com a percussão brasileira. A percussão sutil do bombo legüero tem um grave muito bonito, mas ao mesmo tempo na região do aro, dando um brilho à percussão. Ao mesmo tempo, no Brasil, contei com a participação do Léo Barbosa na percussão na música Pequena Suíte Nordestina, um maracatu onde ele fez uma verdadeira orquestra colocando o gonguê, agogô, xequerê… Isso torna o projeto mais bonito, pois enfatiza a cultura popular; porque por mais que o violão seja bonito e queira ser autossuficiente, existem aspectos onde a percussão dá o brilho adequado, sobretudo, quando estamos falando de música popular. E esses dois percussionistas fizeram um trabalho muito bonito; fiquei muito satisfeito com o resultado do trabalho deles no disco, considera o compositor.

Paixão pela da música latino-americana

No disco, Borges escreve um breve texto sobre cada obra que o integra e um texto de abertura onde fala sobre o projeto fonográfico e a proposta de fazer um disco com diversas referências sonoras latino-americanas. Nesse texto, ele observa como um ponto negativo de todo esse manancial cultural a falta de integração da música latino-americana, que faz com que um determinado compositor seja muito conhecido num país e em outro não.

– A pesquisa de repertório desse disco se deu em função da minha paixão pela música latino-americana. Queria colocar no disco compositores que já tivessem uma bagagem e fossem reconhecidos em seus países de origem, mas também gostaria de registrar novos compositores em atividade que pudessem refletir gêneros e estéticas musicais variadas. Por essa questão convidei o violonista Rogério Caetano, sete cordas bastante conhecido aqui no Brasil e que já gravou vários discos. Dele, gravei a valsa Milena, composta para sua esposa e que integra seu primeiro disco, produzido em 2006. Gravei, de Mario Zedog, violonista e compositor peruano, sua música Estudio de Concierto, dedicada ao compositor paraguaio Agustín Barrios Mangoré (1885 – 1944); de Mario Orozco, outro compositor peruano, interpreto no disco a música Brumas, feita por ele em homenagem ao compositor e violonista brasileiro Baden Powell. Essa música é quase um ‘samba peruano’, eu diria; uma música difícil, polifônica; no começo tem três vozes. É uma música muito bem feita. Gravei também, de Franz Castilho, compositor colombiano, violonista muito jovem que escreveu a música Homenaje a Eduardo Martin em homenagem ao violonista cubano Eduardo Martín. Este último escreveu um pequeno texto para o livreto que acompanha o disco. E essa música – Homenaje a Eduardo Martín -, representa justamente a estética musical centro-americana, a música da América Central. E é muito bonito isso porque o projeto se alarga mais e não fica restrito ao Cone Sul. No CD há músicas do finalzinho do Cone; da fronteira; do norte da argentina; música andina; um pouco da música centro-americana. A riqueza da música americana se dá justamente nessa esfera, da união de todas essas músicas, desse diálogo, considera Borges.

 

Repertório é uma aula de cultura latino-americana

O disco é uma verdadeira aula de cultura latino-americana, como destaca o violonista e professor do Instituto de Artes da Unicamp, Gilson Antunes, em um dos textos do livreto que acompanha o CD. Encontramos nessa aula maracatu, baião, frevo, milonga, tango, choro, samba, landó, huyano, chacarera, gato e outros gêneros e estilos musicais.

Dentre os compositores brasileiros apresentados no disco estão Ernesto Nazareth, João Pernambuco, Ricardo Tacuchian, Egberto Gismonti e Rogério Caetano.

Cada disco é composto de 13 faixas. Segundo Borges:

– No CD 1, destaca-se a obra Duas Peças Brasileiras. O segundo movimento intitula-se Rio de janeiro, cuja música sintetiza a musicalidade do povo brasileiro por meio do samba. Editada nos EUA pela RYCY Productions, trata-se de uma música originalmente escrita para violão solo e dedicada ao grande violonista espanhol Gabriel Estarellas. Porém, registrei essa peça em formato de trio neste disco, cuja instrumentação contou com a gaita de Pablo Fagundes e com a percussão do Léo Barbosa. 

Na abertura do CD 2, destaca-se a Suite Sudamericana, obra que sintetiza gêneros musicais sul-americanos. O quarto movimento representa a cultura afro-peruana, razão pela qual se intitula Aires de Landó. A obra foi dedicada ao projeto Worldwide Guitar Connections (WGC), de Fabrício Mattos, violonista brasileiro que reside em Londres, destaca o compositor.

Valsa-Chôro

Gênero intrínseco ao choro, a valsa aparece no CD na composição de Fabiano Borges, Valsa-Chôro, escrita por ele um projeto realizado na Itália, onde foi editada pela Ut Orpheus, importante editora daquele país.

Como nos conta Borges:

– Pensei em fazer uma música que refletisse a estética brasileira, já que ela foi composta para um projeto – Antologia ExtraEuropa -, que contemplava músicas de diversos países. A Adriana Tessie, amiga italiana que me convidou para participar do concurso, pediu que eu escrevesse algo que expressasse a estética da música braseira e isso me dava margens a fazer muitas coisas. Acreditei que seria interessante elaborar algo próximo a nossa música do início do século XX. Então, fiz uma música que reflete justamente essa transição do século XIX para o XX; uma valsa que lembra um pouco Francisco Mignone, um pouco de Villa-Lobos, mas que tem uma atmosfera da valsa seresteira. E tem uma coisa curiosa na grafia dessa música, como vemos no CD; o editor colocou um acento circunflexo e um hífen em sua escrita e, embora eu não a tivesse escrito desta forma na partitura, essa grafia acabou adjetivando a música e deu a ela aquele sabor antigo da época da Villa, pontua Borges.

Lançamento no Brasil, EUA a Europa

Em novembro do ano passado, Fabiano lançou o disco nos Estados Unidos e aqui no Brasil. Este ano, ele viaja em abril para a Europa, onde lançará o CD em França e em Portugal.

– O disco foi lançado nos EUA, em novembro de 2015, e foi super complicado porque o CD demorou a chegar mais do que eu queria. Mas acabou dando tudo certo e consegui levar alguns exemplares para lançar nos Estados Unidos. Os primeiros recitais foram feitos lá. Fiz uma apresentação em St. Philips Episcopal Church, em Corel Gables, Miami (Florida), e depois no teatro da Universidade da Florida, no Centro de Estudos Latino-Americanos, organizado pelo Doutor em Etnomusiccologia, o brasileiro Welson Tremura, que desenvolve um importante trabalho nesse centro de pesquisa. No Brasil fiz um recital de lançamento em dezembro, na Aliança Francesa de Brasília, conta Borges.

Este ano, no dia 3 de março, ele apresentará o cd no Teatro de Sobradinho, em Brasília; em 01 de abril estará no XII Festival International et Rencontres de Paris, na França, e de lá segue para Portugal, onde lançará o disco na Universidade de Aveiro.

Iniciação musical e vivência no choro

Quem hoje vê Fabiano Borges tão envolvido com todas essas referências musicais latino-americanas não imagina que há alguns anos, quando ele ainda era um estudante de música, sua relação com o choro era íntima ao ponto dele ter formado um grupo de choro com amigos instrumentistas de Brasília. Como ele mesmo nos conta:

– Minha história com o violão foi uma paixão. Minha família não é da música. Quando comecei a quere tocar violão havia uma dúvida entre o violão e a guitarra. Aos nove anos eu queria tocar guitarra elétrica, mas meu pai achava que eu iria fazer muito barulho em casa. Aí comprei um violão com dinheiro de mesada, mas depois fui para a guitarra. Só que logo no início do meu contato com o instrumento vi que não era a guitarra que eu queria. Toquei guitarra alguns anos, mas o violão foi mesmo o que me chamou atenção. Fiquei muito envolvido e apaixonado pelo violão clássico; era o que realmente eu gostava.

Ainda muito jovem me dei conta da obra do compositor paraguaio Agustín Barrios. Lembro que na época existia ainda a fita K7 e eu escutava muito um violonista peruano chamado Jesús Castro-Balbi interpretando Barrios nessas fitinhas.

O choro veio logo em seguida de maneira muito natural. Montei um grupo de choro aqui em Brasília chamado Plano Instrumental com os músicos Felipe Vieira, saxofonista; e Pedro Vasconcelos, cavaquinista. Tocávamos um repertório de choro bastante variado, com músicas de Hermeto Pascoal, Jacob do Bandolim, Pixinguinha… Isso eu tinha meus 16 anos. Éramos muito jovens! Chegamos a tocar em vários lugares em Brasília, mas o grupo acabou e depois veio uma nova fase em que comecei a me dedicar muito à questão solista. Nessa época eu já estava com o sete cordas.

Este período coincidiu um pouco com minha empolgação por Raphael Rabello, e lembro que fiquei muito entusiasmado também com o violão flamenco. Mas depois parei um pouco com essa linha e, aos 25 anos comecei a abraçar de novo o clássico. Foi quando comecei a fazer as duas linhas e é o que prevalece até hoje, só que com uma pequena diferença; nos últimos nove anos, comecei a me dedicar mais à música latino-americana e a associar todo esse processo, todo esse estudo. Então, digamos que hoje permanece a influência do clássico, mas voltei meu trabalho para arranjos e músicas com a estética latino-americana não somente brasileira. Permaneceu a influência do choro, que ainda é uma referência para mim. Inclusive o meu mestrado em Musicologia foi sobre a temática do choro. Na dissertação, feita entre 2006 e 2008, tratei do idiomatismo do violão de sete cordas considerando a trajetória estilística do choro. Trabalhei o choro como gênero, uma ideia trazia pelo Marcelo Versoni, pianista, onde ele mostra com muita propriedade que a partir da década de 1920 o choro começou a se estabelecer como gênero, pois até então o choro não era tratado como tal; aparecia sempre como valsa, ou até como híbrido, eventualmente. E em 1920, o choro começa a aparecer mais como gênero musical. Em seu projeto, Versoni comparou várias partituras de Ernesto Nazareth, Chiquinha e Callado. E eu fui trabalhar exatamente esse momento em que começa a aparecer o violão de sete cordas no Brasil, na década de 1920. O sete cordas que começa a se estabelecer com China; depois na década de 1930 com Tuti; as gravações de Luperce Miranda e com cantores; e trabalhei com transcrições de época, observando como o violão se estabelecia como instrumento de acompanhamento e como ele vai progredindo para a situação solista, que é o que a gente vive hoje. Para chegar nisso, estabeleci um paralelo entre Dino e Raphael Rabello buscando entender como o violão de acompanhamento se estabelece no violão solista de Raphael Rabello. Em minha pesquisa, considerei tanto as entrevistas, numa pesquisa qualitativa, quanto as transcrições musicais. Há depoimento do próprio Raphael Rabello, entrevistas com sua irmã, Luciana Rabello, Marcelo Gonçalves, José Paulo Becker. E com isso fui montando justamente o arcabouço desse violão acompanhador, ou de acompanhamento, e como se refletia essa influência do violão acompanhador no violão solista. Foi essa a ideia; trabalhar como se estabelece esse idiomatismo considerando a trajetória do choro.

Tive uma trajetória em Brasília até 2006, onde participei muito do curso de verão oferecido pela Escola de Música de Brasília. Fiz cerca de nove edições com Ian Getz, Vitor Santos, Mario Ulloa, Paulo Bellinati… essa turma… Estudava tanto arranjo, quanto harmonia e composição.

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De lá pra cá muita coisa aconteceu. Nesse meio tempo conheci um universo novo da música latino-americana. Diria que isso aconteceu no Peru, lugar para qual já viajei muitas vezes para participar de vários festivais, e na Argentina também. Entendia um pouco do universo da musica folclórica Argentina e isso tudo foi me influenciado.

Em 2011 gravei o disco Sete Cordas, solista, que, assim como o Latinoamérica é um disco duplo. Depois veio outro trabalho com um DVD chamado ‘Concierto Latino americano’. Nele interpreto somente composições latino-americanas de outros compositores. Minha intenção era justamente mostrar o universo da música latino-americana que se abria para mim, mas a partir de uma interpretação, de uma visão minha como intérprete e não como compositor.

Este novo disco – Latinoamérica, veio justamente consolidar minha visão enquanto arranjador, pesquisador e compositor, por isso que este disco é importante do ponto de vista da consolidação do meu trabalho, porque nas minhas composições eu não coloco apenas a estética brasileira. A estética brasileira no disco Latinoamérica está justamente em Duas Peças Brasileiras, dedicada ao violonista espanhol Gabriel Estarellas; que é uma música para violão solo, mas gravada em trio no disco; e no disco 2, a música Suíte Sudamericana, uma suíte totalmente voltada para a América Latina onde temos movimentos que representam a música dos povos andinos, a música afro-peruana, a música argentina… É uma composição muito inspirada nessas influências que tive nesses últimos anos, conta Fabiano Borges.

Clube do choro

Brasiliense e violonista amante do choro, Fabiano teve uma estreita relação com o Clube do Choro de Brasília, como nos conta:

– O Clube do Choro de Brasília foi um lugar onde estive por muitas vezes. Cheguei a estudar com Alencar Sete Cordas, violonista cearense que viveu aqui muito tempo e foi professor de muita gente. Muitos estudaram harmonia com ele; os princípios do violão; a baixaria. Ele era um craque; sabia muito sobre a sutileza do acompanhamento da música brasileira no que diz respeito ao choro. Eu devo muito a ele; gosto muito da linguagem que ele desenvolveu no violão de sete cordas. Isso eu deveria ter meus 16 anos. Gostava muito de choro, que me influenciou muito naquele período. Ia muito ao Clube do Choro, que funcionava em outra sede, onde vi muitas apresentações desde os 15 anos. Assisti lá, por exemplo, Yamandu Costa quando ele ainda usava o nome Diamandú Costa, aos seus 17 anos, e fazia duo com Armandinho Macedo; Paulo Bellinati; Paulinho Nogueira, e muitos grupos de choro. Lembro do Choro Livre… O Alencar tocava no Choro Livre. Eu diria que Brasília foi muito importante para minha formação, pois além dos estudos, havia o Clube do Choro, o que me proporcionava a participação como ouvinte em inúmeras apresentações que eram, e ainda são, muito ricas para qualquer músico e verdadeiras aulas”, observa o instrumentista.

Um violão além das fronteiras

Quando pergunto a Borges quem no Brasil desenvolve um trabalho de pesquisa, composição e interpretação semelhante ao dele, o violonista diz que desconhece. O nome que mais se aproximaria ao seu trabalho, segundo Borges, seria o de Yamandu Costa.

– Olha, eu desconheço. Quem se aproxima de meu trabalho, de uma certa maneira, é o Yamandu porque ele nasceu no Rio Grande do Sul e foi aluno do Lucio Yanel, um músico argentino que morou no Brasil na década de 1970 e criou uma escola, digamos, do violão na fronteira. Mas é uma escola onde o violão está restrito à música argentina, argentino-brasileira. O meu trabalho vai um pouco mais além porque busco referências na música andina, do Peru, de Cuba…

Uma coisa muito importante é que quando me aproximei mais da música espanhola, principalmente a flamenca, em 2006, 2007, descobri que o que eu buscava estava muito mais perto do que eu imaginava. Essa coisa do rasgueio, essa brincadeira, essa sutileza rítmica que tem muito na música flamenca, eu encontrei aqui na América Latina de uma maneira muito mais interessante, a meu ver, e que tem muito mais a ver com a nossa música, tem muito mais diálogo e afinidade estética que a música flamenca em si tem e com a música brasileira. Eu respeito muito a música flamenca, mas não toco mais, não me dedico mais a ela. Aproveitei um conjunto de técnicas, mas tenho voltado meu trabalho para a estética latina com a qual me identifico mais, argumenta o violonista.

Presença no importante Acervo Digital do Violão Brasileiro

Fabiano Borges figura dentre os grandes violonistas que integram o projeto do jornalista Alessandro Soares, Acervo do Violão Brasileiro, lançado em 2014.

– Meu verbete foi feito pelo violonista Gilson Antunes, e para mim, realmente é um prazer e uma honra estar no Acervo, porque o projeto tem resgatado a obra de violonistas e compositores muito importantes e mostrado a importância dos violonistas que estão em atividade. Fiquei muito grato por terem feito esse verbete, e acho muito bom o fato de além dos textos que o site traz podermos escutar algumas faixas dos discos na plataforma, diz Borges.

Veja ainda…

Conheça mais sobre o trabalho do violonista Fabiano Borges

http://www.fabianoborges.com.br/

https://soundcloud.com/fabiano-borges-bsb

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Author: imprensabr