O Choro, os chorões e o Carnaval Carioca


Por Leonor Bianchi

A relação do choro e dos chorões com o Carnaval sempre foi íntima. Podemos citar a quadrilha de Joaquim Callado ‘Carnaval’, de 1867, e os bailes promovidos pela Orquestra Phênix Dramática das décadas de 60 e 70 do século XIX sob a regência do maestro Henrique Alves de Mesquita, como marcos iniciais desta relação.

Ainda, a chorona pianeira Chiquinha Gonzaga, que inaugurou a marcha carnavalesca no Brasil, com a composição ‘Ô Abre Alas’ (1899), os chorões Irineu de Almeira, Álvaro Sandim e Bonfiglio de Oliveira – todos mestres de harmonia em ranchos célebres do Carnaval carioca nos anos de 1910, e os geniais Pixinguinha e o flautista Benedicto Lacerda (anos 1940) – ambos com ampla atuação no Carnaval do Rio de Janeiro -, também nos revelam a integração dos chorões com o Carnaval.

O choro, enquanto gênero musical ou forma de tocar, pautou sua relação com o Carnaval, alimentando os ranchos e orquestras de salão com os melhores músicos, arranjadores e compositores.

Na verdade, os chorões sim é que tiveram presença preponderante no Carnaval brasileiro, desde sempre. Callado, Chiquinha Gonzaga, Irineu de Almeida, Álvaro Sandim, Pixinguinha, Donga, Benedicto Lacerda e uma infinidade de chorões tem sua marca registrada na história do Carnaval brasileiro.

Pixinguinha criou dez das dez introduções imortais do repertório de marchas que cantamos há quase cem anos, no Carnaval. Donga compôs o então chamado de ‘tango carnavalesco’ ‘Pelo telefone’, consagrado como o primeiro samba da história assinado em parceria com o jornalista Mauro de Almeida; Irineu de Almeida, professor de música de Pixinguinha, foi maestro de rancho carnavalesco. O maior sucesso de toda a história do Carnaval brasileiro foi composta por um chorão. Trata-se da marcha carnavalesca ‘A Jardineira’, de Benedicto Lacerda e Humberto Porto, que, paralelamente ao ‘Ô Abre Alas’, da chorona Chiquinha Gonzaga (1899) é até hoje o símbolo do Carnaval carioca. Benedicto Lacerda, aliás, além de líder de uma dos maiores regionais de choro de todos os tempos, foi fundador e campeão do primeiro concurso (ainda que um concurso informal) de escolas de samba do Rio de Janeiro, representando o Estácio, em 1928.

Chorões que lideraram Ranchos

Pelo menos três célebres chorões são conhecidos por suas relações com ranchos e suas orquestras: Irineu de Almeida, Álvaro Sandim e Bomfílio de Oliveira. Irineu comandava a orquestra do Rancho Filhos da Jardineira. Foi o responsável pelas primeiras lições de música de Pixinguinha. O Trombonista Álvaro Sandim liderava o Rancho Flor de Abacate e para este compôs seu mais conhecido choro. Bomfílio de Oliveira atuou no Carnaval com seu trompete como diretor de harmonia do Ameno Resedá, o mais famoso dos ranchos carnavalescos do Rio de Janeiro.

Muitos outros chorões anônimos ou conhecidos participaram de ranchos carnavalescos, entre eles Romeu Silva, Albertino Pimentel (Carramona), Napoleão Tavares, Sebastião Sirino, Oscar de Almeida e muitos outros. O auge deste movimento dos ranchos foram as duas primeiras décadas século XX.

E quem diria… o maior dos chorões, Pixinguinha, estreou publicamente num rancho carnavalesco

Irineu de Almeida, diretor de harmonia do rancho Filhas da Jardineira, morava na Pensão Vianna e foi responsável pelas primeiras lições de Pixinguinha. A pensão Vianna era do pai de Pixinguinha e por ali passaram centenas de músicos e chorões.

Em 1911, Irineu levou seu pupilo – Pixinguinha -, para estrear publicamente no rancho carnavalesco Filhas da Jardineira. Quem nos conta sobre este episódio é o jornalista e cronista carnavalesco Jota Efe Gê, em seu livro ‘Figuras e Coisas da Música Popular Brasileira’ (1980):

“Quando aos 13 anos, em 1911, seu mestre Irineu de Almeida (o Batina ou Lord Mamoeiro que, respectivamente, lhe davam nas rodas dos músicos e dos carnavalescos), o levou, de calça curta, para tocar flauta no rancho Filhas da Jardineira, o garoto Pixinguinha já era bom executante, Tanto assim que, no ano seguinte, com dois professores, era integrante do Trio Suburbano e, ao mesmo tempo, diretor de harmonia de um outro rancho, o Daladinos Japoneses.”

O jornalista segue em seu texto intitulado ‘O flautista Pixinguinha, símbolo do deus Pã’ enumerando histórias do garoto Pixinguinha, que anda criança profissionalizou-se na música. Jota Efe Gê conta toda a saga de Pixinguinha até este se profissionalizar e viajar para França com seus Oito Batutas, e finaliza o artigo dizendo: “O flautista de calça curta, iniciado num rancho de Carnaval era, agora, um vitorioso”.

Além de carteiros, compositores

No livro ‘Figuras e Coisas da Música Popular Brasileira’, o cronista Jota Efe Gê apresenta uma de suas crônicas publicadas no jornal O Globo de 15 de fevereiro de 1977 com o título ‘Eles entregavam cartas e faziam as marchas dos ranchos’. No artigo, ele cita os nomes dos carteiros que nos áureos tempos dos ranchos, compunham a maioria de suas canções:

“Depois que o Ameno Resedá inovou no Carnaval carioca – e, por isso mesmo, foi cognominado “Rancho-Escola” -, criando enredos e fazendo-os desfilar com seus personagens aos ritmos de pomposas marchas, todos os co-irmãos seguiram a mesma trilha. (…)

Eram muitos os músicos e poetas que compunham para os ranchos, mas dentre eles, quatro carteiros, entregadores da correspondência do Departamento de Correios (então subordinado ao Ministério de Viação e Obras públicas), merecem destaque. Eis os seus nomes: Napoleão de Oliveira, Romeu Silva, Antônio Bernardo e Oscar de Almeida. Este último, afora as bonitas marchas que fez para o Ameno Resedá e Recreio das Flores, foi o autor de uma sentida valsa (em três longas partes), intitulada ‘Paixão de Pierrô’, ‘Pierrô e Colombina’ ou ‘Desespero de Pierrô’, que dominou os três dias de Carnaval com toda cidade cantando-a por inteiro.”

Jota Efe Gê conta ainda o nome desses carteiros e para onde compunham. As marchas do Napoleão de Oliveira, por exemplo, eram endereçadas ao Ameno Resedá ou Rancho União da Aliança. As do carteiro Oscar de Almeida iam para o Rancho Recreio das Flores ou também para o Amano Resedá. As criações musicais de Romeu Silva tinham tinham espaço garantido no Rancho Flor do Abacate, Recreio das Flores ou no Rancho Ninho do Amor, e as composições de Antônio Bernardo iam para o Rancho Mimosas Cravinas ou para o Tomara que Chova.

Danças do Choro no Carnaval

O Carnaval hoje é dominado por sambas, marchas e até por funks e roques, mas o que se cantava e dançava nos carnavais de 100 anos atrás ia muito além da marcha e das cançonetas, afinal o samba ainda estava para eclodir. Em 1904, a polca Rato-Rato, de Casimiro Rocha foi a sensação do Carnaval. No ano anterior, outra dança, a Cançoneta, foi quem dominou os préstitos carnavalescos. ‘Quem inventou a mulata?’, de Ernesto Souza foi o grande sucesso.

Entre os grandes sucessos que ficaram para a história do Carnaval brasileiro, desde 1900, ano de estreia do inesquecível e atemporal “Ô Abre Alas’, estão: em 1906, o tango-xula ‘Vem cá, Mulata’, de Arquimedes de Oliveira e Bastos Tigre; em 1909, a dança que tomou conta dos salões durante o Carnaval foi a polca, com a composição de Costa Júnior ‘No bico da chaleira’, que fazia uma crítica ácida aos puxa-saco do governo. Em 1913, a compositora Emília Duque Estrada Farias compôs, sobre um tema musical baiano, a polca-tango ‘Dengo-Dengo’. No ano seguinte, em 1914, o sucesso do carnaval foi uma toada interpretada pelo Grupo do Caxangá e composto sobre tema musical do folclore pernambucano ‘Cabocla de Caxangá’, de João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense. Em 1915, um dos sucessos foi a polca ‘Urucubaca Miuda’, de autor desconhecido. Nos anos posteriores, a fixação do samba a partir de 1917 fez com que o binômio marcha-samba tomasse conta dos gêneros mais executados nos carnavais cariocas.

Valsa embala Carnaval Carioca de 1915

O Carnaval ainda buscava um próprio ritmo para traduzir os dias de folia e nesta busca os compositores lançavam mão de todos os ritmos dançantes possíveis. Os chorões e os poetas uniam polca e verso, tango e verso, choro e verso, e produziam incessantemente para o Carnaval, para embalar os dias de folia.

Em 1915, uma valsa em três partes, como era obrigação na época, foi o grande sucesso e legado dos dias de Momo. A valsa contava o desespero do Pierrô procurando sua Colombina. Foi composta pelo carteiro Oscar de Almeida e fez tanto sucesso que voltou a ser hit no Carnaval carioca de 1916. Muitos podem achar estranho uma valsa fazer sucesso no Carnaval e realmente é. Esta é a única valsa que figura na história do Carnaval brasileiro junto aos grandes sucesso que conhecemos desta festa popular.

Grupo de Caxangá: chorões sertanejos

A presença dos chorões foi tão forte no Carnaval carioca do início do século XX, que nas décadas de 1910 um grupo de chorões se reunia para sair durante os dias da folia pelos principais pontos da cidade. O mais conhecido desses grupos foi o ‘Grupo de Caxangá’, ou ‘do Caxangá’, como lemos em alguns jornais da época. Este grupo, de 1914 a 1919, foi a sensação dos dias de Momo na então capital federal Rio de Janeiro. Seus integrantes eram chorões, que hoje conhecemos como grandes expressões da música de seu tempo. João Pernambuco era Guajurema no Caxangá; Pixinguinha era Chico Dunga; Ernesto Odillon, o Donga, tinha o apelido de Zé Vicente; o flautista Nola era Zé Portera, Palmieri travestia-se de Zeca Lima; Osmundo Into era Ignácio Catingueira e os verdadeiros sertanejos Mané Francisco e Mané do Riachão eram chamados pelo seu próprio nome, Henrique Manel de Souza e José Moraes, respectivamente.

O Jornal do Brasil de 23 de fevereiro de 1914 assim referiu-se ao Grupo de Caxangá:

“A cidade inteira conhece o encantador grupo de Caxangá, que tem tornado populares as suas enternecedoras e sugestivas trovas nortistas.

Dizer o que os rapazes desse belo grupo fizeram ontem na avenida é quase que impossível. Basta dizer que conseguiram atrair a atenção e simpatia do povo que os aplaudiu com enorme entusiasmo”. 

O Grupo de Caxangá continuou em 1915 e no jornal Gazeta de Notícias de sexta-feira, 22 de janeiro desse ano, lemos a seguinte notícia:

“Este conhecido grupo carnavalesco sairá este ano entoando seus cânticos do sertão, que serão acompanhados por uma orquestra de pessoal do Choro, composto dos Srs.: A. Lopes, João Pernambuco, Juvenal Fontes, Ernesto Santos, Jota Braga, Oscar de Moraes, Osmundo Pinto, Alfredo Vianna (Pixinguinha) e o professor Bomfílio de Oliveira. Estes foliões dão seus ensaios à Rua do Riachuelo, N.268, às terças-feiras e domingos.

Os versos entoados pelo pessoal do Caxangá são da lavra do popular Sr. Catulo da Paixão Cearense.” 

Em 1917, um dos maios populares jornais da capital federal, O Malho, traria uma galeria de fotos do Carnaval daquele ano, na qual figuram os cantores e instrumentistas do grupo de Caxangá. 

O jornal O Paiz de terça-feira, 20 de fevereiro de 1917 noticiava o reaparecimento, naquele ano, do Grupo de Caxangá:

“Com as características vestimentas dos sertanejos do Norte, apareceu ontem, pelas ruas da cidade este simpático bloco, que nos deliciou por alguns momentos, que parou em frete a nossa redação.

O Grupo Caxangá, que traz a sua frente o inigualável Caninha Verde, é composto de escolhidos músicos, tem constituído a nota “chic” do Carnaval de 1917. Entre lôas dos sertanejos do Norte, o Grupo de Caxangá deixou-nos a seguinte:

“Seu Mané do Riachão
Que pecado é o seu?
Em ano de bom inverno
Seu riacho não correu!”

E por fim:

“Vou-me embora, vou-me embora
Segunda-feira que vem:
Quem não me conhece chora,
Que fará quem me quer bem?”

Em 1917, o Grupo de Caxangá visitou também a redação de outro importante jornal do Rio de Janeiro, o Jornal do Brasil, e lá, segundo a matéria que o hebdomadário publicou, demoraram um longo tempo, e o primeiro número musical que executaram foi a polca ‘Vagalume Sorrindo’, dedicada ao jornalista Vagalume, que estava presente naquele momento na redação.

Naquele ano, a formação do Grupo de Caxangá era a seguinte: Violões: Raul Palmieri (Zeca Lima); João Bitencourtt (Catolê); Joaquim dos Santos (José Vicente); João Pernambuco (Guajurema); Ouil (Zé Moela); Henrique Vianna, irmão de Pixinguinha (Ignácio Catingueira), nos cantos e sopros, Bomfílio de Oliveira (Chico Punga); Alfredo Vianna – Pixinguinha (Romano da Mãe D’Água) e Manuel dos Santos (Zé Portera). Cavaquinhos: Honório Mattos (Flô da Fama); Alberto Garibaldi (Canindé), Oscar de Moraes (Manu do Riachão). Ganzá: Pedrinho Franco (Buretema), no Maracá: José Silva (Chico Gama), Trombone: Arthur Cruz (Mané Francisco), e os cantores sertanejos Mané do Riachão (Oscar de Moraes), João Pernambuco (Guajurema) e Mané Grosador (Monteiro Lopes).

…E o samba foi criado por um chorão

Muita gente sabe que Donga é o pai do samba, mas se esquece que, antes de compor ‘Pelo telefone’ (1916), sucesso no Carnaval de 1917 e considerado o primeiro samba da história, Donga, Ernesto dos Santos, era um chorão inveterado. Não podemos esquecer que na reunião onde fora criada a música Pelo Telefone, na casa de Tia Ciata, estavam presentes mais alguns importantes personagens do choro, como Pixinguinha, João da Baiana e Sinhô. Este último, mesmo que não seja tão lembrado no ambiente do choro, teve passagem como flautista de choro em sua juventude, tendo vivenciado muitas rodas de choro.

Benedicto Lacerda e sua Jardineira: a mais popular de todas as canções carnavalescas foi feita por um chorão

O chorão macaense Benedicto Lacerda, flautista líder do regional mais badalado dos décadas de 1930, 1940 e 1950, foi responsável pela composição de inúmeros sucessos carnavalescos que conhecemos e cantamos há mais de 80 anos.

Sua história com composições de músicas de Carnaval começa em 1932 quando ele faz o samba ‘Dinheiro não Há’ em parceria com Alvarenga, para o bloco Deixa Falar, porém, já em 1928 Benedicto Lacerda participa do primeiro concurso entre as escolas de samba do Rio de Janeiro, informalmente organizado pelo pai de santo Alufá do Estácio (Zé Espinguela). O primeiro concurso das escolas de samba do Rio de Janeiro, oficialmente só aconteceria em 1932, promovido na Praça XI pelo jornal O Mundo Sportivo.

O concurso de Pai Alufá guarda uma história polêmica. Representando o Estácio, Benedicto Lacerda e sua flauta ficam em primeiro lugar, mas Pai Alufá resolve não lhe dar o prêmio, argumentando que a flauta de Benedicto tornava seu conjunto hour-concour.

Na verdade, Pai Alufá quis dizer que Benedicto, com o uso de sua flauta chorona, já saia na frente de qualquer outro concorrente e que seria desonesto conceder-lhe o prêmio já que nenhum outro conjunto ou músico dispunha de um chorão para engrandecer o número apresentado no concurso. A ‘desclassificação’ de pai Alufá a Benedicto Lacerda foi um reconhecimento da genialidade do flautista.

Criado no Estácio, berço da primeira escola de samba do Brasil, Benedicto Lacerda foi um dos responsáveis por levar o samba para o ambiente de choro nos idos anos de 1920 com o grupo Gente do Morro.

Após esses episódios, o flautista fez sucesso com grandes marchas carnavalescas. De 1932 a 1950 Benedicto Lacerda era popular durante todo o ano e explodia na folia de Carnaval. Quem não conhece a marchinha ‘A Jardineira’, composta em 1938 em parceria com Humberto Porto e que atravessou cinco gerações. Era o auge de uma série de sucessos do compositor feitos para o Carnaval.

‘Vai haver o diabo’ (1933), conhecida como ‘Macaco olha o teu rabo’, parceria com Gastão Viana; ‘Eva querida’ (1935), parceria com Luiz Vassalo e interpretada por Mário Reis num disco da RCA, naquele ano, e também interpretada e levada às telas do cinema por Carmem Miranda no filme ‘Alô, Alô Carnaval’, de Adhemar Gonzaga, em 1936, são só alguns dos sucessos emplacados por Benedicto Lacerda durante duas décadas de atuação do chorão na cena do Carnaval do Rio de Janeiro. Só para o Carnaval, o chorão compôs centenas de músicas, tendo mais de 60 premiadas em tradicionais concursos de compositores e músicos carnavalescos.

Paulinho: da viola, do choro e do Carnaval

Se existe uma relação de amor intensa entre o músico, o samba e o Carnaval, o compositor, sambista e chorão Paulinho Viola a traduz de maneira singular.

‘Filho do Choro’ – seu pai César Faria, grande violonista de seis cordas, acompanhou Jacob do Bandolim por toda a vida e foi um dos fundadores do Conjunto Época de Ouro -, Paulinho da Viola fez carreira de sucesso com o samba, mas nunca abandonou sua raiz chorona.

Em 1977, Paulinho imprimiu suas referências choronas num álbum clássico na discografia brasileira. O disco ‘Memórias Chorando’ tem composições dele, de Pixinguinha, e um choro desconhecido de Ary Barroso. São da autoria de Paulinho também os choros Choro Negro, Rosinha, essa menina, Abraçando Chico Soares, Sarau para Radamés e Romanceando. (…)

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Author: imprensabr

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