Leonor Bianchi
Em 2024, o Brasil lembrará os 60 anos do golpe que deu origem ao início da ditadura militar no país. Ano que vem, também, o livro do historiador Giovani Salvador, que editei e está sendo lançado neste momento pela Tupinambá Editorial, será utilizado como suporte pedagógico por um professor de história da rede estadual do Rio de Janeiro. O material foi escolhido após o professor adquirir o livro durante a pré-venda do mesmo e ter achado -, segundo ele -, o que estava procurando para dar suporte bibliográfico para um projeto que já vem desenvolvendo há anos na escola, unindo música popular brasileira e história. Ele já trabalhou com música folclórica, música regional, samba, e estava querendo inserir o choro no projeto pedagógico da escola para o ano que vem. Com o livro em mãos, ele ligou para mim e, após longa conversa, disse que queria mais 350 exemplares e que usaria o livro com seus alunos, em sala de aula. Quase chorei de emoção!
Livro de estreia da Tupinambá já sai premiado!
Receber essa notícia do professor, a quem prefiro manter no anonimato, por enquanto, me deixou muito feliz, afinal, para todos da equipe é um prêmio ter esta informação logo no livro de estreia da editora!
O choro nos anos de chumbo é o primeiro livro da Tupinambá Editorial, editora integrada por pesquisadores de choro aqui do estado do Rio de Janeiro, de onde sou natural. Um pessoal jovem e arejado, que, acompanhando já há algum tempo o meu trabalho pelas redes sociais e aqui pelo site da Revista do Choro, resolveu me convidar para prestar serviços como editora, curadora e também pesquisadora para sua tribo.
Primeiro livro que fala sobre choro durante o período da mitadura militar
Apaixonada pelo trabalho, sou suspeita para falar sobre o livro. Trata-se da primeira literatura que conhecemos sobre este período da nossa história, enfocando o choro. O autor foi muito feliz na sua proposta, e eu estou amando participar deste projeto editorial, que já sai desse jeito, indo para jovens estudantes da rede pública do meu estado, para abordar dois temas necessários, cada qual pelas problemáticas que trazem: o choro e a música popular na sociedade brasileira, ainda mais agora com o choro se transformando em patrimônio cultural imaterial do Brasil, e a(s) herança(s) da ditadura militar deixadas para a sociedade brasileira. Uma literatura que junge música e história com uma linguagem acessível sem deixar de fazer importantes referências bibliográficas.
Livro sai antes da inauguração do Museu da Memória em homenagem às vítimas da ditadura, nos 60 anos do golpe de 1964
O recém eleito mais novo ministro do Supremo Tribunal Federal e ex-ministro da Justiça deste terceiro mandato do Lula, Flávio Dino, anunciou este ano, ainda como ministro, a intenção do Governo em inaugurar em 2024, em Brasília, o Museu da Memória em homenagem às vítimas da ditadura, nos 60 anos do golpe de 1964.
Com a efetiva abertura do espaço, vamos tentar fazer o lançamento do livro no Museu, e doar exemplares para sua biblioteca. O tema ‘Ditadura Militar’ ainda precisar ser muito falado nas universidades, nos espaços de cultura, nas escolas, nos museus, assembleias, ruas, praças e dentro das nossas casas, para que nunca se repitam as atrocidades cometidas pelos militares contra a própria sociedade, como aconteceu naquele período, e para que a memória dos que lutaram contra o regime militar jamais seja apagada da história.
Autor coloca foco no que a imprensa noticiou
O choro nos anos de chumbo não se pretende um livro de críticas contra o regime, pois o autor coloca seu foco em fazer uma narrativa baseada no que a imprensa noticiou sobre os fatos que se relacionavam ao choro e a seus personagens durante os 21 anos da ditadura militar (1964 – 1985). Como o autor nos conta ao final da introdução:
“O choro passou de forma suave por esse período tenebroso se comparado ao samba e à MPB, e não sofreu censura. Muitos jornais e revistas da época reportaram notícias amenas sobre a vida dos chorões famosos desse tempo”.
O livro de Giovanni Salvador lança luz sobre o período da ditadura militar no Brasil enfocando os anos de chumbo e o que aconteceu no território de Pixinguinha durante essas duas décadas. Após uma introdução apresentando ao leitor o que foi a ditadura militar e como atuaram os presidentes ao longo deste período, instituindo diversos atos institucionais que limitavam e cerceavam os direitos dos cidadãos, o autor apresenta um panorama de como surgiu e estava o choro em diversas capitais brasileiras durante a ditadura militar.
Em sua introdução ele fala sobre a censura na imprensa, nas comunicações e nas artes, as consequências do regime militar para a cultura e à sociedade brasileira, e destaca como os jornais noticiaram a vida de diversos chorões durante esse período.
No livro aparecem histórias de Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Luperce Miranda, Araci Côrtes, Waldir Azevedo, Tia Amélia, Heitor Avena de Castro, Abel Ferreira, Sivuca, Rosinha de Valença, Jacob do Bandolim, Época de Ouro, Antonio D’Auria, Avendano Júnior, Adamor do Bandolim, jovens chorões, como Joel Nascimento e os rapazes do Língua de Preto, de Valença, interior do Rio de Janeiro, dentre tantos outros.
Destaco dessas histórias que o livro traz, por exemplo, o caso sobre o dia em que Jacob do Bandolim, em visita a Brasília, numa tarde de domingo, tocou para o Marechal do AI-5, Costa e Silva. Jacob chegou a interpretar, dizendo para o presidente ditador que era a música que mais gostava na época – Carolina -, de Chico Buarque, um dos compositores da música popular brasileira mais perseguido naquele período. Também os 66 anos de Pixinguinha, que mereceu uma festa no famoso bar Gouvea, com os velhos amigos da antiga; as internações de Pixinguinha depois de ter infartado, os depoimentos de Pixinguinha, Jacob do Bandolim e Luperce Miranda ao Museu de Imagem e do Som do Rio de Janeiro; o aniversário de João da Baiana na churrascaria Tijucana, com a presença de ilustres chorões; uma das ultimas entrevistas de Aracy Côrtes para a imprensa, onde ela lembra de sua amizade desde criança com Pixinguinha; os festivais de choro da década de 70 no Rio e São Paulo; o surgimento da primeira célula de músicos comunistas que criaram com jornalistas de importantes jornais de São Paulo o Clube do Choro de São Paulo, e outras inúmeras histórias que eu nunca havia lido nem sabia que existiam… O autor apresenta uma pesquisa inédita. Eu já li tudo o que existe sobre choro, e posso afirmar que ainda não havia sido feito nada neste sentido. Parabéns aos leitores que adquiriram o livro, ao professor da rede estadual do RJ, aos seus alunos, a toda equipe Tupinambá, e, claro, ao autor Giovani Salvador pela empreitada.
Para adquirir agora o livro O choro nos anos de chumbo, acesse o site Choro Patrimônio Cultural, clicando aqui.
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