Quintiliano Pinto: O flautista e irmão do ‘Animal, que fora copista de Pixinguinha


Leonor Bianchi

Autor do clássico livro ‘O Choro’ reminiscências dos chorões antigos’, ‘Alexandre Gonçalves Pinto, (1936), conhecido como ‘Animal’ ficou mais popular do que seu irmão, o flautista chorão Quintiliano Gonçalves Pinto (1860?-1925?).

Mais velho que Alexandre, Quintiliano era  um dos chorões mais tradicionais pelas rodas de choro do Rio. Assim como Animal era carteiro na profissão, mas músico de coração. Admirava os antigos compositores da velha guarda, mas também tocava músicas modernas, como as de Pixinguinha, de quem fora copista.

Segundo o ‘Catálogo de Obras Pixinguinha’, Pedro Aragão e José Silas Xavier, Quintiliano deixou doze manuscritos de músicas de Pixinguinha – a quem sempre nomeava de “A. Vianna” -, alguns deles datados de 1917 (“Luiz tocando”), 1918 (“O Baú do Raul”, “Repentino” e a polca “Recordações”) e 1919 (“Triangular”, nome original do famoso choro “Naquele tempo”).

“Triangular” (“Naquele tempo”), de Pixinguinha, em manuscrito de Quintiliano Pinto datado de 17/05/1919 [no canto esquerdo da página há uma observação datilografada por Jacob do Bandolim, chamando atenção para o fato de que este choro já existia em 1919] (Acervo Jacob do Bandolim/MIS-RJ, JB_PMH_1094)”.

Os manuscritos de Quintiliano Pinto pertencem ao acervo monumental deixado por Jacob do Bandolim (só de partituras são mais de seis mil), hoje preservado pelo Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro.

Sobre o irmão, escreveu Alexandre Gonçalves Pinto no livro O Choro:

“Quintiliano Pinto, irmão do escritor, um dos velhos chorões e de nome na roda dos que tocavam ou não.

Quando a nossa mãe morreu, ele apaixonou-se tanto, que nunca tendo escrito qualquer música compôs uma valsa bastante triste, que botou o nome de ‘Minha mãe’, porém, apesar de não compor, tocava todas as músicas dos velhos e novos flautas ou de outro qualquer instrumento.

Tocou em muitos bailes, seresta e festas, e tinha muito gosto pela música, especializado-se nas antigas do seu tempo.

Só deixou a flauta já bastante idoso e pela moléstias que aos poucos foi minando seu organismo.

Sepultou-se no cemitério do Pechincha, em Jacarepaguá, proveniente de uma paralisia, e que hoje como seu irmão ainda choro e lastimo sua morte, pois sempre tocamos juntos e muito nos estimávamos.

Quintiliano também deixou centenas de partituras manuscritas com repertório dos “antigos flautas”, como Joaquim Antonio Callado, Viriato Figueira da Silva, Saturnino.

Fontes

‘O Choro’, reminiscências dos chorões antigos, Alexandre Gonçalves Pinto, 1936.

Panorama da música popular brasileira ‘Belle Époque’, Ary Vasconcelos, 1977.

Catálogo de Obras Pixinguinha, Pedro Aragão e José Silas Xavier.

 
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Author: imprensabr