Especial Pais do Choro: Série Pixinguinha: Muita história ainda para contar


A verdadeira história da composição e gravação de Um a Zero

Por Leonor Bianchi

No especial de hoje, a verdadeira história da composição e gravação de Um a Zero, a música mais gravada da dupla até hoje!

Em entrevista à Revista do Choro, o biógrafo de Benedicto Lacerda, Sidney Castello Branco, revelou que Um a Zero é a composição mais gravada de Benedicto. A composição, erroneamente como vem sendo dito, não é de só de Pixinguinha, foi feita pelos dois músicos.

Diz Sidney em seu livro ‘Benedicto Lacerda: O flautista de ouro. Um gênio na Orfandade’, lançado em 2014:

– É de fundamental importância esclarecer a história da música Um a Zero, ou 1 a 0, dita por alguns ser de autoria exclusiva de Pixinguinha, e que foi composta em 1919 por conta da vitória brasileira sobre a seleção do Uruguai tornando-se vencedora da Copa Sulamericana de futebol, quando na realidade foi composta por ambos.

Lacerda, todos da época sabiam, era Flamengo, da mesma forma como todos sabiam que Pixinguinha era Vasco.

O Tri Campeonato Carioca conquistado pelo Flamengo em 29 de outubro de 1944, com a vitória sobre o Vasco, placar um a zero, gol de Valido, foi para Benedicto inesquecível, e para Pixinguinha o oposto. E o título da obra, muito provavelmente, veio em cima desse resultado.

Foge de qualquer lógica e de qualquer racionalidade, a história de que Pixinguinha compôr a obra Um a Zero em 1919 em homenagem a Seleção Brasileira de futebol e a guardar  no baú. E então fica a pergunta: – Mas que homenagem seria esta? Homenagem secreta da qual o homenageados não têm conhecimento – indaga o biógrafo.

Lendas caídas por terra a respeito da composição de Um a Zero

A fim de por luz sob a verdadeira história da composição de Um a Zero, o biógrafo de Benedicto elenca uma série de argumentos que devem ser observados pelos pesquisadores da história do choro, que estão há pelo menos duas décadas repetindo versões equivocadas de trechos dessa história, como veremos mais adiante.

– Qual a razão de uma homenagem a Seleção Brasileira de Futebol, campeã Sulamerica de futebol no ano de 1919, ficar no baú de Pixinguinha até 1946?

– Dizem que Pixinguinha achava que ninguém poderia executá-la. Nem ele???

– Por que será que nenhum jornal, revista ou qualquer outra mídia, entre os anos de 1919 e 1946, não publicou ou deu qualquer notícia sobre um choro em homenagem a Seleção Brasileira composto por Pixinguinha?

– Onde está a partitura original manuscrita, de 1919?

– Onde estão os registros imediatos em jornais ou revistas publicados me 1946, época da gravação do choro por Benedicto e Pixinguinha, noticiando: “Pixinguinha e Benedicto Lacerda gravaram um choro chamando Um a Zero, composto em 1919 por Pixinguinha em homenagem a Seleção Brasileira de Futebol e que estava guardado a sete chaves”!?

O fato é que Benedcito e Pixinguinha fizeram juntos, lado a lado, Um a Zero, assim como outros choros. Cada um fazia uma parte e vice-versa. Aqueles que conhecem de parceria musical, sabem muito bem como funciona o sistema, não existe uma regra rigorosa, é tudo flexível. As obras compostas por Benedicto e Pixinguinha denominam-se obra indizíveis, pois foram criadas em comum, em coautoria.

Erros que encontramos na literatura especializada sobre choro

Alguns pesquisadores da música brasileira, na contemporaneidade, têm se arriscado a narrar a sua maneira e visão a história do Choro. O livro ‘Choro – Do Quintal ao Municipal’, extremamente lido e comentado pelos chorões, traz uma informação que, com o tempo – o livro é dos anos 2000 -,  está se amagalmando e se tornando uma verdade, mas uma verdade errada. Em sua página 73, o autor diz:

– Os 25 primeiros discos previstos (da dupla Benedicto e Pixinguinha) individualmente no contrato acabaram sendo 17. O primeiro deles foi gravado em abril de 1945 e o segundo e melhor de todos, em maio do ano seguinte, com a memorável versão de Um a Zero. Nota-se, aos poucos, o duo perdendo o entusiasmo e, nas gravações a partir de 1948, começa simplesmente a cumprir contrato.

Os autor que escreveu o trecho acima citado, afirma equivocadamente que a primeira gravação feita pela dupla aconteceu em abril de 45, mas na verdade, não foi, ocorreu em 9 de janeiro de 1945. O disco sim, foi lançado em abril.

Ainda no livro ‘Do Quintal’, o autor comete outro equivoco: o de afirmar que a música Um a Zero seria a segunda gravação feita pela dupla Benedicto e Pixinguinha, o que na verdade não aconteceu assim. A dupla gravou diversos choros antes de gravar Um a Zero, porém o lançamento de Um a Zero aconteceu no segundo disco da dupla lançado no mercado.

Ainda há outros inúmeros equívocos do autor no ‘livro do Quintal’, mas não cabe agora trazermos todos à tona neste artigo, o qual não esgota aqui. A partir desta semana, toda segunda-feira, a Revista do Choro traz um artigo Especial Pais do Choro: Série Pixinguinha: Muita história ainda para contar. Não perca nenhum!

Leia mais:

Benedicto Lacerda: O sabiá da flauta

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Author: imprensabr

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