Henrique Alves de Mesquita: Maestro Mesquitinha


Por Leonor Bianchi

Foi num 12 de julho de 1906, que o Brasil perdeu o criador do Tango Brasileiro; o primeiro músico do país a compor uma peça para trompete e piano e a ganhar uma bolsa para estudar na Europa, embora poucos tenham se dado conta desta perda naquele longínquo ano de 1906.

Henrique Alves de Mesquita nasceu na ladeira do Castelo, lugar seminal para a cidade do Rio de Janeiro, em 15 de março de 1830, e com 17 anos já estava apresentando a peça de concerto ‘Fantasia para Trompete’ com seu primeiro mestre, o compositor e violoncelista Desidério Dorison. Era 1847. Chiquinha Gonzaga estava nascendo.

Em 1848 inicia seus estudos com o Maestro Gioacchino Giannini, no Liceu Musical. Com a ida deste para o recém-fundado Conservatório de Música (fundado em 13 de agosto de 1848), Mesquita o acompanha.

Em fins de 1853, Henrique Alves de Mesquita e o clarinetista Antônio Luís de Moura abriram um estabelecimento na Praça da Constituição, hoje Praça Tiradentes nº 79. O nome dado para a casa fora Liceu Musical e Copistarista. No espaço, ensinavam música, afinavam pianos, vendiam instrumentos, arregimentavam músicos para bailes, copiavam partituras.

Forma-se em contraponto e órgão no ano de 1856 com o maestro Giannini, no Conservatório de Música, e é premiado com medalha de ouro mais o inédito prêmio no Brasil de ir para França estudar no Conservatório de Paris – na época a instituição de ensino de música mais aclamada do mundo.

Henrique Alves de Mesquita cai nas graças do Imperador Pedro II e, aclamado, embarca para Europa em julho de 1857 no vapor Petrópolis. Chegando à França, matricula-se no Conservatório de Paris e estuda nas classes de Harmonia do professor François-Emmanuel-Joseph Bazin (1816-1878), mestre do Compositor Bizet.

Deste tempo, são suas primeiras composições: ‘O retrato’, modinha de 1854; ‘Corrupio’, polca de 1855; ‘Ilusão’, romança, também de 1855; ‘Os beijos do frade’ polca-lundú de 1856; ‘Saudades de Mme. Charton’, valsa para piano de 1856;

Em Paris, Henrique Alves de Mesquita alçou grande popularidade com sua quadrilha ‘Soirée Brésilienne’, sua romança ‘Confissão e desengano’ e sua abertura sinfônica ‘L’étoile du Brésil’. Sua opereta ‘La nuit au chateau’ foi encenada em grande estilo, com o libreto de Paul Koch.

Porém, um episódio abala a continuidade de seu sucesso. Uma aventura amorosa ainda hoje envolta em brumas e mistério o fez cair em maus lençóis, levando o Conservatório de Paris a expulsá-lo, e a justiça a condená-lo a três anos de prisão por ‘galanteio’. Somente em 1866 é solto. Em julho desse ano, regressa ao Rio de Janeiro, mas sem o apoio do Imperador que passou a virar-lhe as costas.

No Rio de Janeiro, aproximou-se dos músicos populares passando a tomar parte em tocatas com o núcleo germinador do Choro: Callado, Viriato, Videira, Juca Valle e outros chorões daquela fase de nascimento do que viria depois a ser chamado de Choro.

Nesta nova fase, integra a orquestra do Alcazar Lyrique como trompetista e faz relativo sucesso com as polcas ‘Minha estrela’ e ‘Laura’. Em 1867 publica ‘Moreninha’, romança com letra de Laurindo Rabelo. Compõe, em 1868, o tango ‘Olhos Matadores’, considerado o primeiro tango brasileiro, editado em 1871, e cuja partitura está perdida nos dias atuais. 

Em Paris, Mesquita havia tomado contato com a Habanera Cubana. Ao voltar para o Rio de Janeiro e se familiarizar com o ambiente mais popular e de teatro, acaba criando um gênero menos sacudido e que iria desembocar no Tango Brasileiro, logo absorvido pelo Choro como uma de suas danças formadoras.

A partir de 1869, Mesquita passa a reger a orquestra do Teatro Phoenix Dramática, onde apresenta e suas óperas com grande sucesso.

No ano de 1870, encena, no Teatro Lírico Fluminense, sua ópera ‘La Nuit au Chateau’ já apresentada em Paris. A partir de então, apresenta várias operetas no Phoenix Dramática: ‘Trunfo às avessas’, em 1871, ‘Ali Babá’, com libreto de Eduardo Garrido de 1872, em que Henrique Alves de Mesquita apresenta seu segundo ‘Tango Brasileiro’ também chamado de ‘Ali Babá’. Ainda em 1872, encena ‘A pêra de Satanás’.

É de 1873 a opereta ‘A coroa de Carlos Magno’. Nesse período passa a lecionar solfejo e princípios de harmonia no Conservatório de Música do Rio de Janeiro e torna-se organista da Igreja de São Pedro, ocupando o posto até 1886.

Excursiona em 1876 a São Paulo à frente da orquestra do Phoenix Dramática em temporada aclamada e com destaque especial para a presença destacada do flautista Viriato Figueira da Silva. Adoece em 1877 e volta meses depois ao trabalho, só restabelecendo-se completamente em 1879. Apresenta, ainda, a opereta ‘Loteria do Diabo’, 1877 e ‘A gata Borralheira’, 1885.

A partir de 1890, é efetivado como professor de instrumentos de metal no Conservatório de Música, tendo sob sua responsabilidade as cadeiras de: trompa, clarim, cornetim, trombone, bombardão e tuba. Cargo ocupado até sua aposentadoria, em 1904, quando o Conservatório de Música já havia se tornado Instituo Nacional de Música (INM).

Tango Brasileiro e Tango Argentino: Diferenças básicas

É importante termos em mente, que Tango Brasileiro e Tango Argentino, além de não serem a mesma coisa, não são pais nem filhos um do outro. A relação estabelecida entre os dois é apenas da matriz formadora: a Habaneira e o Tango. O Tango Brasileiro é o resultado do encontro da prática da Habaneira com o Lundú e os Batuques, enquanto que na Argentina, há a fusão da Habaneira com a Milonga Criolla, gerando o Tango Argentino. Portanto, Tango Brasileiro e Tango Argentino são coisas diferentes, porém com a mesma matriz.

Maestro Mesquita, como passou a ser chamado frequentemente, era amigo íntimo da família de Pixinguinha, tendo no pai de Pixinga, o velho Alfredo Rocha Viana, um grande amigo. Foi também professor e regente, em diversas oportunidades, de Joaquim Callado e Viriato Figueira da Silva.

Era aclamado por França Junior como o continuador do Maestro José Maurício Nunes Garcia, na área de composições e atuação em música sacra. Machado de Assis referiu-se a ele em uma de suas crônicas, como o ‘Beethoven do Choro’.

A presença desta figura é essencial para o ambiente no qual o Choro floresce. Mesquita, Callado e Viriato representam centenas, ou até milhares de músicos que cultivaram a semente deste gênero autenticamente brasileiro.

Fontes:

SIQUEIRA, Batista. Três vultos históricos da música brasileira – ensaio biográfico – Mesquita, Calado, Anacleto. Rio de Janeiro: D. Araújo, 1970.

SEVERIANO, Jairo. Uma história da Música Popular Brasileira: das origens à modernidade. 2001

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Author: imprensabr

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