Um guitarreiro amazonense no ‘choro francês’


Primeiro ‘Embaixador Cultural’ do Brasil na França, o multinstrumentista, produtor musical, guitarreiro e chorão Rosivaldo Cordeiro dará, neste sábado, duas oficinas no XII Festival de Choro de Paris

Leonor Bianchi

Começou ontem o festival de choro mais tradicional que existe fora do Brasil. O XII Festival de Choro de Paris, organizado pelos músicos do Club du Choro de Paris, que tem como coordenadora a pianista brasileira Maria Inês Guimarães, agrega dezenas de instrumentistas, compositores, cantores, produtores e artistas brasileiros. Dentre eles, o amazonense Rosivaldo Cordeiro, com quem conversei pela internet sobre sua presença na França e no festival, no qual ministrará oficinas de cavaco e bandolim.

Cordeiro está aproveitando a presença no país para reencontrar amigos e fazer novos contatos profissionais. ‘Adotado’ pelos franceses, como diz ter sido, ele está super à vontade na cena francesa e já prepara para o ano que vem um projeto cultural envolvendo o Brasil e a França.

Rosivaldo Cordeiro pode vir a ser o primeiro Embaixador Cultural de Manaus na França.

Rosivaldo Cordeiro pode vir a ser o primeiro Embaixador Cultural de Manaus na França.

Intercâmbio cultural entre Brasil e França para além da música

Esta não é a primeira vez que o músico está na França. Em 2005 Rosivaldo participou do ano do Brasil na França; em 2007 retornou ao país e, recentemente, em 2014, esteve lá finalizando o disco de uma cantora de Manaus, produzida por ele.

Atualmente, Rosivaldo organiza um projeto de intercâmbio multicultural entre o Brasil e a França, que está reunindo um coletivo de artistas de várias expressões, como música, dança, moda, artes plásticas…

Completando 30 de carreira este ano e conhecendo bem as demandas do mercado fonográfico, Rosivaldo decidiu investir no segmento da produção musical de artistas brasileiros na Europa, sobretudo, na França, e tem planos de fixar residência naquele país para investir no nicho.

“A intenção é mudar minha residência para cá e ficar como Embaixador do meu estado aqui, representando os interesses da Amazônia na França. Estamos cuidando disso ante ao Cônsul do Amazonas e vendo a disposição de conseguirmos uma licença que estabeleça minha relação multicultural com a França. Conseguindo, eu já fico direto, senão, volto em maio ao Brasil, e em junho retorno à França. A ideia e inverter; ir ao Brasil para assuntos de qualidade familiar e cultural, mas morar aqui. A gente tem muito que fazer aqui e eu já dei minha contribuição ao meu estado”, diz o produtor, animado com a nova fase de sua vida.

30 anos de carreira

Para quem não lembra, Rosivaldo fez parte da banda Carrapicho, que em 1996 explodiu mundialmente com a música Tic-Tic-Tac, gravada na França. Em sua estada no país, ele aproveita para divulgar seu novo cd, ’Guitarreiro’ e seu trabalho de resgate dos mestres da guitarrada amazonense, já bastante conhecido no Brasil.

Capa do cd 'Guitarreiro', de Rosivaldo Cordeiro.

Capa do cd ‘Guitarreiro’, de Rosivaldo Cordeiro.

“Este ano faço 30 anos de carreira, e resolvi celebrar dessa forma. Cheguei aqui dia 9 de fevereiro e logo embarquei para Dubai de onde fui para o Festival de Artes de Fujaihar – um grande festival de artes -, com o Imbaúba”, conta o arranjador do projeto musical desenvolvido há nove anos em Manaus com os músicos João Paulo Ribeiro (percussionista), Roberto Lima e Sofia Amoedo (vocalistas) e o poeta e escritor Celdo Braga.

Grupo Imbaúba

Grupo Imbaúba

Paris não têm produtores musicais brasileiros

Em 2014 Rosivaldo fechou uma parceria entre o seu estúdio, o Estúdio Digital Verde, em Manaus, onde divide tarefas com a esposa Maíza Coelho, e um dos maiores estúdios franceses; o Davout. Agora ele volta à França para dar sequência a esta parceria e investir na produção de artistas e músicos brasileiros que atuam na cena francesa e europeia.

“Estou aqui fidelizando essa parceria e iniciando um trabalho de produção musical, pois não há produtor musical brasileiro em Paris. Estou sozinho neste metier. Vou começar a produzir alguns artistas brasileiros aqui e já tenho convites também de artistas franceses”, conta o produtor musical.

Neste momento, Rosivaldo está pré-produzindo do cd da estilista, compositora e intérprete Márcia de Carvalho, com quem faz um concerto neste sábado, 2 de abril, em seu ateliê. Ele também está organizando parcerias com Seba Yahia, músico francês apaixonado pela cultura brasileira e pelo choro, que reúne vários instrumentistas na Roda de Belleville, ponto de encontro para muitos músicos e artistas do Brasil. 

Rosivaldo Cordeiro na Roda de Choro de Belleville.

Rosivaldo Cordeiro na Roda de Choro de Belleville.

“Seba faz um trabalho muito parecido com o que eu faço em Manaus, de ajuntamento de pessoas, de músicos, principalmente de brasileiros, em torno da música”, observa Rosivaldo.

Rosivaldo Cordeiro e Seba Yahia. [Foto de Patrick Martineau]

Rosivaldo Cordeiro e Seba Yahia. [Foto de Patrick Martineau]

Além disso, Rosivaldo está envolvido com o projeto de samba e choro‘Gravata Florida’, do percussionista e intérprete Leo Di Mola, e semanalmente, às sextas-feiras, abre sua casa para o ‘Café com Choro’, uma roda informal que faz na sala de seu apartamento, em Paris, onde recebe franceses admiradores do choro.

Oficinas de cavaco e bandolim no Festival de Choro de Paris

Em Paris desde 9 de fevereiro, Rosivaldo se surpreendeu com o carinho dos franceses com relação ao choro, e conta como foi o convite para participar da oficina de choro no Festival de Choro de paris, o mais tradicional da Europa. Neste sábado, 2 de abril, o instrumentista dará duas oficinas no Festival: uma de cavaco e outra de bandolim. Preocupado com a formação do músico e do chorão, que ele diz estar improvisando demais nos dias de hoje e esquecendo-se de tocar o choro de verdade, Rosivaldo tratará, em sua oficina de cavaco, sobre a função do cavaco de centro no choro; uma escola que ele, enquanto discípulo de Waldir Azevedo, a quem pesquisa a biografia há pelo menos 15 anos, e quem instaurou esta função para o instrumento no choro, conhece bem.

“Existe a necessidade de falarmos sobre formação musical voltada para o choro. A ligação da Maria Inês, presidente do Club du Choro de Paris, fazendo o convite para que eu participasse do festival me surpreendeu. Ela soube que eu estava aqui e me convidou para fazer essas duas oficinas. Vou falar sobre a presença do cavaco de centro no choro e reforçar a ideia do choro tradicional, além de apresentar o bandolim… Tenho atuado muito na cena da música brasileira voltada para o samba e o choro aqui, e realmente há uma necessidade de falarmos em formação musical com quem toca choro aqui na França. Espero poder contribuir neste sentido.

“Essa oficina vai ser sobre cavaco de centro no choro, o que pouca gente procura desenvolver. Os jovens querem solar. Muitos são guitarristas e pegam o cavaco solando; esquecem o principal que é a harmonia e o balanço do choro. A orquestração toda do choro é em cima do pandeiro e do cavaco. O pessoal acha que é só o sete cordas e esquece que o sete cordas tem mais uma função de contraponto, ou seja, tem esses aspectos do regional que percebi que estão sendo esquecidos por aqui e eu espero poder contribuir neste sentido”, pontua o instrumentista, que, fora do festival, está organizando aulas permanentes de bandolim para os músicos que tocam choro em Paris.

Tradição no Choro

Dizendo-se não ser um purista, mas defensor da tradição do choro e de sua estética original, Rosivaldo acredita que o gênero esteja se atualizando muito e perdendo sua identidade e tradição de uns tempos para cá. Atuante na cena cultural de Manaus durante muito tempo, Rosivaldo implementou o primeiro curso de choro do estado e é um fervoroso fomentador do gênero.

“Não sei para aonde vai esse ‘novo choro’ que está por aí… Hoje o choro está se fundindo para uma outra coisa que eu não sei o que é. Não sou purista, mas as pessoas têm que ter muito cuidado para não desrespeitar a estética original do choro”, diz o chorão, fundador do Jacobiando, regional de choro contemporâneo que desenvolve um trabalho de respeito à tradição do choro em Manaus.

Transcrições inéditas de Waldir Azevedo

Como todo chorão mais tradicional, Rosivaldo é aficionado pela história do choro e pesquisa o gênero e a biografia dos grandes chorões, como Jacob do Bandolim e Waldir Azevedo, por exemplo. Só a respeito de Waldir, dedica-se a pesquisas há 15 anos.

CAPA.indd

“Se não tiver todo, tenho quase todo acervo de áudio do Waldir. Acho que sou um dos poucos, senão o único, que já transcreveu as obras inéditas dele, que são coisas que não existem em livros, internet… e em lugar nenhum. Inclusive, o projeto Waldir Versos Jacob, disco que gravei, é para fazer justamente esse resgate da obra do Waldir Azevedo, e também do Jacob do Bandolim e de suas composições que não foram mais regravadas, mas mais da obra do Waldir”, conta o chorão, que já produziu dois cds de choro: este e o cd Rosivaldo Cordeiro e grupo Jacobiando.

cd 1 rodivaldo cordeiro o grupo jacobiando.

Siga a carreira e os projetos de Rosivaldo Cordeiro

http://rosivaldocordeiro.wix.com/meusite

https://soundcloud.com/grupojacobiando/sets/grupo-jacobiando-jacob-x

https://soundcloud.com/grupojacobiando/sets/rosivaldo-cordeiro-e-grupo

https://www.facebook.com/rosivaldocordeiroeakbocada/

 

 

 

imprensabr
Author: imprensabr