Aracy de Almeida: a única intérprete da primeira composição de Jacob do Bandolim


Leonor Bianchi

Em 1938, aos 21 anos, o jovem Jacob Pick Bittencourt, o Jacob do Bandolim, estreou como compositor. “Si alguém sofreu”, com letra e música dele fora gravada na Victor pela cantora Aracy de Almeida, na época tão famosa quanto Carmem Miranda. Poucos lembra-se do fato de que foi ela, a ‘arquiduquesa do samba’ a intérprete da primeira música feita por Jacob. Em memória ao dia do seu nascimento, 18 de agosto, e a este fato pouco lembrado, redigi este breve artigo sobre a personagem incrível que foi Araca; uma mulher à frente do seu tempo, uma das maiores cantoras que o Brasil conheceu, e que foi muito mais do que a ‘polêmica’ e cri-cri’ jurada do programa de calouros do Silvio Santos.

Aracy ao micrifone num programa de caloros de rádio

A ‘malandra’ do Encantado (bairro do subúrbio carioca onde nasceu) ‘ajudou’ a trazer à tona novamente nos anos de 1950 os sambas do ‘quase’ esquecido Noel Rosa, falecido em 1937, numa época em que a indústria fonográfica brasileira passava por grandes transformações e os sambas estavam sendo esquecidos pelas rádios e gravadoras em detrimento das ‘músicas eletrônicas’.

Na academia, Aracy foi citada por Mário de Andrade em uma conferência, em 1943, onde o pesquisador elogiou e analisou os nasais e a pronúncia vocálica de Aracy de Almeida, comparando a mesma com a sonoridade do ‘nasalar da fala dos índios’. Se o que havia até então para os estudiosos da língua portuguesa falada no Brasil era o fonética do português e a do africano em nossa fala, Aracy estabelece e afirma com sua ‘nasalidade’ ao cantar o tom ‘anasalado’ da fala dos índios na voz do brasileiro. Estabelecia-se aí um novo paradigma para gramáticos e linguistas debruçados sobre os estudos da língua portuguesa ‘falada’ no Brasil.

“Mais vagos, ao nosso ver como regionalismo de caráter vocal, ainda surgem numerosos cantores brasileiros, bem constantemente nasais. É, por exemplo, o sr. Mota da Mota (“Vou Girá”, Victor, 33380), embora exagere um pouco a maneira rural de entoar. É o nasal admirável do sr. Raul Torres nesse dolente e brasileiríssimo ‘É a morte de um cantadô’ (Odeon, 11238, https://www.youtube.com/watch?v=nwq32LUYkFE). É o sr. Gastão Formente que no ‘Foi boto, Sinhá’ (Victor, 33807, https://www.youtube.com/watch?v=R6ZI51QHlCY), apesar de sua voz bastante ingrata, adquire uma cor nasal perfeitamente nossa. É também a sra. Aracy de Almeida (‘Triste Cuíca’, Victor, 33927, https://www.youtube.com/watch?v=o3UgmSIZQck), com ótima cor de vogais e menos feliz prolação de consoantes. Neste disco, se apresenta um bom exemplo de variabilidade de pronúncia do ‘não’, bem claramente ‘nãum” quando mais vigoroso, e na outra face do disco, escurecendo-se na dicção mais rápida, até que, num quase presto, chega a soar quase exclusivamente ‘num’. As variantes melhores estão no fim da música (“Tenho uma rival”), após refrão instrumental.” [Trecho da palestra de extraído de “Aspectos da Música Brasileira”, de Mário de Andrade, Nova Fronteira, 2012.]

Aracy nunca seguiu modelos, nunca viveu de aparência, nunca casou e nem teve filhos. Biógrafos da artista que também atuou em outras artes, como no cinema – Hermínio Bello de Carvalho (escreveu a primeira biografia sobre a cantora, “Araca: Arquiduquesa do samba. Um perfil de Aracy de Almeida”); o cineasta Aleques Eiterer (diretor do curta-metragem “Araca – O Samba em Pessoa”), e o jornalista Eduardo Logullo, (lançou em 2014, centenário de nascimento da cantora, “Aracy de Almeida: Não Tem Tradução”, livro com ensaios e trechos de entrevistas com Aracy de Almeida) -, tentam localizar um possível sobrinho há alguns anos, mas sem sucesso.

Nos anos de 1970, longe dos rádios, das gravadoras, sem dinheiro, Aracy foi ser jurada de programas de calouros que nessa época despontavam na TV brasileira, seguindo o exemplo do sucesso que eram os programas de calouros das rádios nos anos de 1930 e 1940. Jurada dos programas do Chacrinha e depois do Silvio Santos, passou uma imagem deformada de tudo aquilo que passara a vida valorizando: o bom senso e o bom gosto. Como diria Hermínio Bello de Carvalho, nessa fase Aracy virou um pastiche de si mesma. E foi com essa imagem, que aos 74 anos ela morreu, no dia 20 de julho de 1988, em função de uma embolia pulmonar agravada após um acidente vascular cerebral.

O encontro entre Aracy e Jacob do Bandolim

Não se sabe como aconteceu o primeiro encontro entre a cantora Aracy de Almeida e o conceituado instrumentista Jacob do Bandolim, que na época ainda estava no início de sua carreira, mas provavelmente a aproximação entre ambos se deu na Rádio Guanabara, onde ela era acompanhada por Jacob do Bandolim e seu conjunto. Essa relação deve ter dado a Jacob a oportunidade de solicitar a Aracy a parceria para gravar sua música. A cantora aceitou o convite e imortalizou em sua voz, como única intérprete, a primeira composição (melodia e letra) de Jacob Pick Bittencourt, o Jacob do Bandolim; ‘Si alguem sofreu’.

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Uma falta de observação que durou anos

Segundo, Sergio Prata, pesquisador da biografia de Jacob do Bandolim, um dos fundadores do Instituto Jacob do Bandolim:

“Vários historiadores citam que a estreia de Jacob do Bandolim em disco teria se dado em 1941, como acompanhante de Leva meu Samba (Odeon, nº 11.955), de Ataulpho Alves e, como solista e compositor, em 1947, com o seu choro Treme-Treme (Continental, 15.825, Out/ 47), mas, aqui nesse ponto a história tem que ser recontada, pois Jacob, que deixou essas informações registradas em vários depoimentos, nos pregou uma peça.

Na verdade, a verdadeira estreia fonográfica de Jacob se deu muito antes e foi descoberta durante o levantamento que o IJB realizou junto às editoras para lançar o Caderno de Composições de Jacob do Bandolim.

A estreia de Jacob no mundo fonográfico se deu como compositor, em 1938, gravado por Aracy de Almeida, a maior cantora dos anos 30, ao lado de Carmem Miranda. A composição, um lindo samba, chamava-se Si Alguém Sofreu (Victor, nº 34.309, maio de 1938) com letra e melodia de Jacob, fato que, inexplicavelmente, ele pouco comentou em toda a sua vida.

Para termos a real dimensão desse feito, basta lembrarmos que Jacob, em 1938, aos 20 anos, ainda era um iniciante no rádio, pouco conhecido, e Aracy de Almeida, uma celebridade, tanto que, três meses antes de gravar o samba de Jacob, havia gravado Último Desejo, de Noel Rosa (Victor, nº 34.296, fevereiro/1938) que se tornou grande sucesso nacional”, explica Prata.

O pesquisador faz ainda as seguintes observações a respeito da gravação de ‘Si alguém sofreu’:

“Uma feliz coincidência é que na gravação de ‘Si Alguém Sofreu’, o grupo que acompanha Aracy é o Conjunto Regional RCA Victor e quem faz a introdução é o clarinetista Luiz Americano, compositor de ‘É do que há’, o primeiro choro que Jacob ouviu.

Durante ‘Si Alguém Sofreu’, pode-se ouvir um bandolim em trêmulo. Assim, existe uma grande possibilidade, embora não se possa afirmar por falta de registros, de ser o próprio Jacob estreando também como músico naquela gravação”, diz Sergio Prata.

O Instituto Jacob do Bandolim resguarda em seu acervo o Contrato de Cessão de Direitos Autorais, datado de 1938, em nome de Jacob Pick Bittencourt, emitido pela Editora Irmãos Vitale; o rótulo do 78 rpm, e a partitura editada de ‘Si Alguém Sofreu’ com melodia e letra.

Interprete de sambas, mas também de choros

Amiga de todos os maiores compositores de samba de seu tempo, Aracy gravou músicas de Noel Rosa, Ary Barroso, Wilson Baptista, Assis Valente, Custódio Mesquita entre outros. Veio daí, dessa sua relação tão próxima dos sambistas, que Aracy de Almeida ganhou o apelido de ‘O samba em pessoa’ do radialista César Ladeira.

Conhecida como a cantora favorita de Noel Rosa, Aracy lembra durante a entrevista clássica que deu ao programa Vox Populi que fora ele, Noel que acreditara nela como cantora.

“Comecei numa escola de samba, cantei muito em candomblé, cantei em macumba, cantei em colégio protestante”, dizia, e que conheceu o Poeta da Vila em 1933, quando foi levada à Rádio Educadora do Brasil por Custódio Mesquita. Noel levou a menina à Taberna da Gloria e lhe entregou uma música, “Riso de criança”, que ela gravaria. “Quem acreditou em mim mesmo foi o Noel, que gostava desse meu gênio e me achava uma pessoa genial”, lembrou Aracy.

‘O samba em pessoa’ também interpretou choros

Vendo a chamada que postei na página da Revista do Choro no FB para este artigo sobre Aracy, o leitor da revista Clayton Moreira contribuiu comentando a participação belíssima daquela que fora chamada de ‘o samba em pessoa’ como intérprete de choros. ‘Engomadinho’, composição de Pedro Caetano e Claudionor Cruz (1946), e Flauta, cavaquinho e violão, de Custódio Mesquita e Orestes Barbosa são duas interpretações que marcam a voz de Aracy de Almeida como cantora de choros.

Nas telas do cinema

No cinema, Aracy atuou nos filmes “Segura esta mulher” (1946), dirigido por Watson Macedo e “Carnaval em lá maior”, dirigido pelo pioneiro Adhemar Gonzaga, fundador da Cinédia, primeiro estúdio cinematográfico brasileiro, que rodou as primeiras imagens da diva Carmem Miranda também

Como argumento, Aracy estrelou em dois documentários. No curta “Araca – O Samba em Pessoa” (2014), do mineiro Aleques Eiterer, o diretor enfoca da cantora Aracy, mas trata também da questão que marcaria toda a trajetória de artista: a dúvida do público a respeito de sua opção sexual. Durante todo o filme, a personagem de Aracy aparece encontrando uma mulata que não se sabe quem é; em várias situações. Não fica claro se é apenas uma amiga ou uma possível namorada.

Para o diretor do filme, “Aracy era muito inteligente, articulada, uma mulher à frente do seu tempo, em uma época em que só havia muitos cantores. Enfrentava o machismo de igual para igual, não se abalava”.

Hermínio Bello de Carvalho dá um depoimento emocionado no filme lembrando a amiga e da alegria que sente ao escutar a grande pérola de Aracy de Almeida, segundo ele; o samba-canção “Quando tu passas por mim”, de Antônio Maria e Vinicius. Na entrevista de 2014, ele diz ao Essinger:

“Se você a ouve cantando Vinicius, Ary ou Antônio Maria (Aracy gravou com êxito o samba-canção “Quando tu passas por mim”, de Maria e Vinicius), vê que está tudo ali”.

E no longa-metragem ‘Mosaicos: a arte de Aracy de Almeida’ (produção da TV Cultura de São Paulo/ 2009), dirigido por Nico Prado, tem coordenação musical de Fernando Faro produção de Fernando Abdo.

Biografias

Infelizmente não li nenhuma ainda e também não consegui retorno dos que escreveram sobre Aracy.

Sobre a biografia de Logullo, encontrei este comentário na internet:

“O livro de Logullo discute se Aracy de Almeida era homossexual — usa-se a palavra “sapatona”. Mas nada conclui, optando por citar Hermínio Bello de Carvalho, que a vê como “panssexual”. A cantora foi casada com o José Fontoura, goleiro do Vasco, mas o deixou. “… O homem dos meus sonhos nasceu morto”. Era boêmia, num tempo em que isto, para uma mulher, não era bem-visto.

Os biógrafos de Aracy, Hermínio Bello de Carvalho e Eduardo Logullo também não conseguiram dar retorno até o fechamento deste artigo.

Rádio Batuta

Quem fez um programa muito bacana sobre Aracy de Almeida para a Rádio Batuta, do Instituto Moreira Salles, foi o jornalista João Máximo, Biógrafo de Noel, que pode ser ouvido no site.

Breve recorte biográfico

Aracy de Almeida nasceu e cresceu no Encantado, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro. Seu pai, Baltasar Teles de Almeida, era chefe de trens da Central do Brasil. Estudou num colégio em Engenho de Dentro, onde foi colega do radialista Alziro Zarur, e passou depois para o Colégio Nacional, no Meyer. Garota pobre, ainda jovem Aracy cantava no coro da igreja Batista da qual seu irmão Alcides era pastor, e desde os tempos de criança sonhava em ser cantora de rádio.  Cantava samba, mas era apreciadora de música clássica e se interessava por leituras de psicanálise, além de ter em sua casa quadros de importantes pintores brasileiros como Aldemir Martins e Di Cavalcanti, com quem mantinha amizade. Os que conviviam com ela, na intimidade ou profissionalmente, a viam como uma mulher lida e esclarecida. Tratada por amigos pelo apelido de “Araca”, Noel Rosa disse, em 1933, numa entrevista a Orestes Barbosa, para “A Hora” disse: “Aracy de Almeida é, na minha opinião, a pessoa que interpreta com exatidão o que eu produzo”. Grande intérprete da obra do “poeta da Vila”, é apontada, juntamente com a rival Marília Baptista, como a melhor intérprete da obra de Noel Rosa. Começou a cantar profissionalmente na Rádio Educadora, em 1933, o que acabou acontecendo a partir de seu encontro com o compositor Custódio Mesquita, para quem cantou “Bom dia, meu amor”, de Joubert de Carvalho e Olegário Mariano, tornando-se um dos nomes mais conhecidos da fase de ouro do rádio. Por essa época, já conhecia Noel Rosa e, segundo o pesquisador Antônio Epaminondas, saía muito com o compositor, “ele de violão em punho, frequentando tudo o que era casa suspeita, botequins, nas imediações da Central do Brasil, na Taberna da Glória, etc. e ela ainda de menor”. Em 1934, gravou seu primeiro disco, para a Columbia, interpretando a marcha “Em plena folia”, de Julieta de Oliveira. Em seguida gravou a marcha “Golpe errado”, de Jaci. No final do mesmo ano, fez o seu primeiro registro de uma música de Noel Rosa, o samba “Riso de criança”, ainda pela Columbia. Em 1935, assinou contrato com a Rádio Cruzeiro do Sul e passou a integrar o elenco da gravadora Victor, participando de diversas gravações fazendo parte do coro. No mesmo ano realizou sua primeira gravação solo na Victor, interpretando os sambas “Triste cuíca”, de Noel Rosa e Hervê Cordovil e “Tenho uma rival”, de Valfrido Silva. No mesmo ano gravou o samba “Pedindo a São João”, Herivelto Martins e Darci de Oliveira e a marcha “Santo Antônio, São Pedro, São João”, de Herivelto Martins e Alcebíades Barcelos, músicas destinadas às festas juninas. Seu talento para cantar sambas e músicas carnavalescas fez com que fosse chamada pelo locutor César Ladeira de “O samba em pessoa”.

Foi casada com o goleiro de futebol Rei (José Fontana), que jogou no Vasco e no Bangu, entre as décadas de 1930 e 1940, mas o casamento durou pouco tempo.

Em 1936 gravou seus primeiros grandes sucessos, o samba “Palpite infeliz” e “O X do problema”, compostos por Noel Rosa. “Palpite infeliz” foi muito cantada no carnaval daquele ano, embora não originalmente destinado aos festejos de Momo. No mesmo período, ingressou na Rádio Tupi. Ainda em 1936, foi filmado “Alô, alô, carnaval”, dirigido por Adhemar Gonzaga e produzido pelo americano Wallace Downey. Neste filme, Noel Rosa sugeriu aos roteiristas e também compositores, João de Barro e Alberto Ribeiro, que “Palpite infeliz” fosse interpretada pela cantora lavando roupa num quintal modesto. Ao chegar ao estúdio da Cinédia, a cantora mostrou-se irritada com a sugestão de Noel Rosa e recusou-se a interpretar a cena, retirando-se das filmagens, alegando que não queria aparecer no filme maltrapilha, enquanto as outras cantoras estariam arrumadas. Noel Rosa, contrariado, chegou a declarar ao “Correio da Noite” que deixaria de compor canções para serem gravadas por ela, mas tal fato não aconteceu e os dois continuaram amigos até a morte de Noel. Em 1937 lançou de Noel Rosa os sambas “Eu sei sofrer” e “O maior castigo que eu te dou”. Também no mesmo ano, fez bastante sucesso com o samba “Tenha pena de mim”, de Ciro de Souza e Babaú, o que levou o cantor Sílvio Caldas a reclamar com os autores por não terem lhe dado o samba para gravar. No mesmo período, transferiu-se para a Rádio Nacional. Em 1938 lançou o samba canção “Último desejo”, derradeira composição de Noel Rosa, gravada no ano anterior e gerando uma polêmica musical com Marília Batista, que possuía uma versão diferente da mesma música. Porém as gravações foram realizadas após a morte de Noel, que nunca pode atestar qual das versões seria a fiel à sua composição. No mesmo ano gravou os sambas “Século do progresso” e “Rapaz folgado”, ambos também de Noel. Em 1939 lançou com grande êxito o samba “Camisa amarela”, de Ary Barroso, que tornou-se um clássico da música popular brasileira. Além das rádios Educadora (que se tornaria mais tarde Rádio Tamoio) e Cruzeiro do Sul, atuou nas rádios Mayrink Veiga, Ipanema, Cajuti e Philips, onde, no Programa Casé, fez dupla com o cantor e compositor Sílvio Caldas. Para o Carnaval de 1940, gravou a marcha “O passarinho do relógio (Cuco)” (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira) e, no ano seguinte, “O passo do canguru” (dos mesmos autores). Em 1942 fez sucesso com o samba “Fez bobagem”, de Assis Valente e com a marcha “Tem galinha no bonde”, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira. No mesmo ano, passou a gravar na Odeon, onde estreou com as marchas “Mamãe lá vem o bonde”, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira e “Que passou é esse Adolfo”, de Haroldo Lobo e Roberto Roberti, que fazia alusão ao dirigente alemão Adolf Hitler. Em 1946 lançou com grande sucesso o samba canção “Saia do caminho”, de Custódio Mesquita e Evaldo Rui, que se tornou um clássico e cuja gravação estava destinada a ser feita pelo cantor Jorge Goulart, não ocorrendo, entretanto, devido à morte prematura de Custódio Mesquita aos 35 anos, na véspera da gravação. No mesmo ano participou do filme “Segura esta mulher”, com direção e roteiro de Watson Macedo. Em 1947 lançou com sucesso o samba “Louco, ela é o seu mundo”, de Henrique de Almeida e Wilson Batista. Gravou ainda a rumba “Escandalosa”, de Moacir Silva e Djalma Esteves e com os Vocalistas Tropicais, mas que só se tornou um clássico ao ser gravado posteriormente por Emilinha Borba, o samba canção “Quem foi?”, sucesso daquele ano composto por Nestor de Holanda e Jorge Tavares. No ano seguinte lançou com grande sucesso o samba “Não me diga adeus”, de Luiz Soberano, J. G. da Silva e Paquito, vencedor do carnaval daquele ano. Participou ainda do filme “Esta é fina”, juntamente com Linda Batista, Nelson Gonçalves, Nuno Roland, Marlene e outros. No mesmo ano, passou a apresentar-se na Boate Vogue, onde permaneceria durante quatro anos com um repertório onde se destacavam diversos sambas de Noel Rosa. Em 1949 gravou mais uma composição do Poeta da Vila, o samba “João Ninguém”. Nos anos 1950, foi a responsável pelo ressurgimento do nome de Noel Rosa para o grande público, lançando músicas inéditas ou regravando muitos de seus sucessos. Em 1950 vai morar em São Paulo, onde reside por 12 anos (1950-1962). No mesmo ano gravou pela Continental uma série de três discos com músicas de Noel Rosa, entre as quais, os clássicos “Conversa de botequim” e “Feitiço da Vila”. O primeiro desses discos, recebeu arranjos de Radamés Gnatalli, capa de Di Cavalcanti e textos de Lúcio Rangel e Fernando Lobo. No ano seguinte gravou dois baiões, fato inédito em sua carreira de sambista, em gravação conjunta com o Trio Melodia, “Rua do sol”, de Hervê Cordovil e Manezinho Araújo e “Baião sacudido”, de Humberto Teixeira e Luiz Bandeira. Em seguida, lançou mais três discos em 78 rpm com sambas de Noel Rosa, trazendo os clássicos “Pra que mentir”, “Silêncio de um minuto”, “Feitio de oração”, “Com que roupa”, “O orvalho vem caindo” e “Três apitos”, esta, em sua primeira gravação, todas em interpretações marcantes. Em 1953 gravou um de seus últimos grandes sucessos, o samba canção “Se eu morresse amanhã”, de Antônio Maria. Em 1955 lançou pela Continental o LP “Canções de Noel Rosa com Aracy de Almeida”, com acompanhamento de orquestra regida por Vadico, parceiro de Noel, no qual interpretou, entre outras músicas, “Meu barracão”, “Voltaste”, “Fita amarela” e “A melhor do planeta”. No mesmo ano participou do filme “Carnaval em lá maior”, dirigido por Adhemar Gonzaga. Em 1957 fez uma representativa gravação do samba “Bom dia tristeza”, parceria de Adoniran Barbosa e Vinícius de Morais. No ano seguinte, registrou pela Polydor os sambas “Eu vou pra Vila”, de Noel Rosa e “Tristezas não pagam dívidas”, de Ismael Silva. Em 1960 a Philips lançou o LP “Samba”, no qual a cantora interpretou entre outros “Onde está a honestidade?”, de Noel Rosa. Em 1962, foi lançado pela RCA o elepê “Chave de Ouro”, com reaproveitamento de antigas gravações realizadas pela cantora. Em 1964, ao lado da dupla Tonico e Tinoco, gravou o cateretê “Tô chegando agora” e apresentou-se com Sérgio Porto e Billy Blanco na boate Zum-Zum, no Rio de Janeiro. No ano seguinte, participou com o sambista Ismael Silva do show “O samba pede passagem”, no Teatro Opinião. No mesmo ano, participou do show “Conversa de Botequim”, de Miéle e Bôscoli, e se apresentou ao lado do cantor Murilo de Almeida na boate Le Club. Ainda no mesmo período participou juntamente com outros cantores do show de despedida do cantor Sílvio Caldas no Maracanãzinho, despedida que acabou não se concretizando. Em 1968, participou do programa de calouros “Proibido colar cartazes”, ao lado do cômico Pagano Sobrinho, apresentado pela TV Record, de São Paulo. Ao ser insistentemente convidada para gravar depoimento sobre sua vida e sua carreira no Museu da Imagem e do Som (MIS), respondeu ao então diretor, Ricardo Cravo Albin: “Lá não piso! Sei que se gravar meu depoimento, morrerei no dia seguinte”. E, de fato, a cantora jamais gravou o depoimento. Em 1969, apresentou-se na boate paulista Canto Terzo e participou do show “Que Maravilha!”, ao lado de Jorge Ben, Toquinho e Paulinho da Viola no Teatro Cacilda Becker, em São Paulo. Nas décadas de 1970 e 1980 ficou conhecida por grande parte do público como jurada de programas de calouros, aparecendo como uma senhora rabugenta, sempre de óculos escuros e mau humor. Na verdade, tratava-se de uma personagem criada pela cantora para atrair a atenção do telespectador de programas como “A buzina do Chacrinha” e “Sílvio Santos”. Em 1980 realizou show no Teatro Lira Paulistana, que acabou chegando ao disco, num lançamento póstumo da Continental, em 1988, intitulado “Aracy de Almeida ao Vivo”. Após sua morte, a remasterização de antigas gravações e o relançamento em CD de antigos sucessos redimensionam a sua importância como intérprete. Em 1998, a cantora Olívia Byington lançou o CD “A Dama do Encantado” onde prestou homenagem à cantora, reunindo 20 sucessos de seu repertório, e contando com participações especiais como as de Chico Buarque e direção musical de Maurício Carrilho. Em setembro do mesmo ano, estreou no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, o musical “Aracy de Almeida no país de Araca”, com texto e direção de Eduardo Wotzick, baseado na vida da cantora.

Aracy na imprensa

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Biografia: Site Cantoras do Brasil.

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Author: imprensabr