Revista do Choro: Como surgiu o Clube do Choro de Paris, através de brasileiros?
Maria Inês Guimarães: O Clube de Choro de Paris surgiu na Casa do Brasil a partir de uma iniciativa de sua diretora Inez Machado Salim contando com a participação de músicos brasileiros e franceses radicados em Paris, em 2001.
Revista do Choro: Quem eram os músicos envolvidos?
Maria Inês Guimarães: Naquele ano, o concerto inaugural aconteceu com os membros do Club du Choro de Paris: Aline Soulhat, Maria Inês Guimarães, Celinho Barros, Renato Velasco, Paul Mindy, Julia Ohrman, Felipe Pegado, Daniel Castanheira, Fernando del Papa, Wander Pio entre outros.
Revista do Choro: Você tem ideia de quantos grupos de choro existem hoje em Paris?
Maria Inês Guimarães: Hoje em Paris existem uma quinzena de grupos de Choro dos quais diversos músicos foram formados a partir do trabalho de promoção e divulgação do Clube, com aulas, encontros, rodas, festivais; e existem claro, outros grupos aqui formados por artistas brasileiros ou franceses que divulgam o Choro pelo mundo: Choroparigo, Brazz, Que isso?, Pingo de Choro, Choro da Jaminha, Bécots da Lappa, Braséine, Travessias, Duo in Uno, Ilustrando o Choro, Guimarães Choro Quartet, Boca de Choro, Terça-feira Trio, Choro daqui, Choro de Gafieira…
Revista do Choro: Como o Choro chegou na França?
Maria Inês Guimarães: Através dos músicos chorões que sempre passaram por aqui deixando lembranças vívidas do gênero maior da música instrumental brasileira em concertos, parcerias com grandes cantores e compositores, rodas privadas e em seguida pelos intépretes que moram na França e aqui gravam discos, publicam composições e métodos. Historicamente, também a presença de Villa-Lobos muito contribuiu para o conhecimento do Choro na Europa por seu carisma e a grande série Choros.
Revista do Choro: Como é a memória dos franceses com relação à ida de Pixinguinha com ‘Os Batutas’ a Paris, em 1922?
Maria Inês Guimarães: A vinda dos Batutas foi mesmo um evento que ecoou em Paris, mas a lembrança que restou é mais sulinhada pelos brasileiros quando abordam esta época.
Revista do Choro: O Choro é oriundo de danças de salão europeias e o ambiente carioca, no tempo do nascimento do Choro, no Brasil, era fortemente influenciado pela cultura francesa. Como é a relação da França e dos franceses com este gênero musical essencialmente brasileiro, influenciado pelos ritmos dos salões europeus, sobretudo, parisienses?
Maria Inês Guimarães: Os franceses são verdadeiros apaixonados pelo Choro que escutam como música clássica, em silêncio e concentrados nos mínimos detalhes da composição, interpretação, variação e improvisação. Adoram também tocar o Choro e procuram com gourmandise informações sobre nossa música aqui na França nos clubes e casas de Choro, mas também viajando para o Brasil para frequentar oficinas, rodas e concertos.
Revista do Choro: Quais são os cafés e ambientes que recebem o Choro, em Paris?
Maria Inês Guimarães: O Choro na França é tocado das maiores salas de concerto até ao club de jazz passando pelos restaurantes brasileiros e europeus. Em Paris, vimos concertos de Choro com orquestra sinfônica no Teatro des Champs Elysées, na Salle Cortot, espetáculos nos clubes de jazz de Saint Germain de près, no Studio de l’Hermitage e as rodas regulares no Les Lauriers Bar[1], Swan Bar[2], Lou Pascalou Bar[3] e L’Entrepot[4], e o já tradicional Choro e feijoada em parceria com o Cebramusik, no restaurante L’estoril na cidade limítrofe de Antony.
Revista do Choro: Há um intercâmbio entre o Clube do Choro de Paris e com outros Clubes de países vizinhos a França?
Maria Inês Guimarães: O Clube de Choro de Paris está sempre viabilizando, com seus eventos regulares, aos músicos que aqui chegam e passam, a possibilidade de ir a outros centros europeus como Londres, Berlim, Lisboa, Madrid, Roma, Milão e outros. Da mesma maneira, durante o festival e os encontros internacionais que organizamos, recebemos intérpretes de diversas nacionalidades para tocar, aprender e ensinar as particularidades do Choro.
Revista do Choro: Como são as rodas de Choro do Clube do Choro de Paris?
Maria Inês Guimarães: Regularmente, organizamos rodas e encontros musicais na noite parisiense. Elas têm em geral um funcionamento semelhante ao que acontece no Brasil com algumas particularidades que vão se instalando dependendo do grupo que segura a roda. Algumas rodas são precedidas de uma sessão de trabalho coletivo que leva ao intercâmbio de partituras, de troca de ideias sobre o estilo ou sobre alguma obra em particular.
Revista do Choro: Tem algum festival de Choro rolando na França? Qual?
Maria Inês Guimarães: O Clube de Choro de Paris é o maior centro de música brasileira na europa e realiza o Festival Internacional de Choro, que acontece em Paris todo ano, no mês de março, com direção artistica de Maria Inês Guimarães. Nesta ocasião, promovemos seis concertos com músicos brasileiros vindos para a ocasião, grupos franceses e europeus, oficinas – para crianças e adultos -, de instrumentos (cavaquinho, pandeiro, 7 cordas, piano, violino, acordeon, canto etc), aulas de improvisação, de composição, aulas de conjunto (regionais e orquestra)…
Em Toulouse a Casa de Choro dirigida por Olivier Lob organiza também um importante evento regular, anual.
Revista do Choro: Quem são os músicos brasileiros que tem relação mais próxima com o Clube do Choro de Paris?
Maria Inês Guimarães: O Clube do Choro de Paris tem as portas abertas para os músicos brasileiros que estão aqui de passagem, em geral por quatro ou cinco anos: acabaram de nos deixar Marcelo Chiaretti, Lucia Campos, Rubinho Antunes, Renata Neves, Daniela Rezende, ou que aqui residem; os brasileiros como Teca Calazans, Celinho Barros, Renato Velasco, Maria Inês Guimarães, Fernando do Cavaco e os franceses, como Julien Hamard, Thierry Moncheny e Jeff Calmard.
Revista do Choro: Quais os projetos o Clube já realizou e os que pretende realizar?
Maria Inês Guimarães: As aulas regulares, as rodas, o festival e o encontro internacional, anuais, são as principais atividades do Clube de Choro de Paris. Já realizamos 10 festivais em treze anos de existência. Recebemos, anualmente, grandes nomes da música instrumental brasileira procurando abranger todos os estados do país e também grupos formados na França: Trio Quintina, Cadeira de Balanço, Quatro a Zero, Toca de Tatu, Dois de Ouro, Choro Braseiro, LuziNascimento Quarteto, Brazz, 13 Cordas, Terça-Feira Trio, Guimarães Choro Quartet, Trio madeira, Nó em pingo d’agua, Ilustrando o Choro, Marambaia, Regional Jazz Band, Corda Solta, Rudi e Nini Flores, Armandinho, Hamilton de Holanda, Agenor do Pandeiro, Paulo Moura, Toninho Ramos, Rafael Santos, Rubinho Antunes, Carlos Walter, Aline Soulhat, Mauricio Carrilho, Cristina Azuma, André Simão, Teca Calazans, Ana Guanabara, Aurélie e Verioca, Regional de Toulouse.
Temos também editado um caderno de partituras para os alunos. Nossa meta é continuar com a criação, promoção e divulgação do Choro na Europa e no mundo, para ajudar a alimentar o nosso maior gênero, viveiro de instrumentistas e compositores de todas as outras áreas da cultura musical de nosso país.
Revista do Choro: O Clube do Choro de Paris oferece aulas de Choro?
Maria Inês Guimarães:O Clube do Choro de Paris oferece aulas nas segundas e terças-feiras à noite, centradas na prática coletiva dos regionais ou orquestra de Choro. Os instrumentos são abordados como naipes de um todo melódico e rítmico. O trabalho leva em conta a particularidade de cada participante para desenvolver a técnica e a interpretação ligadas a este gênero: ouvido, leitura, fórmulas rítmicas, articulação e fraseado, toucher, variação, improvisação… Por outro lado, os instrumentos típicos do Choro, como cavaquinho, pandeiro e violão de 7 cordas são abordados por naipes.
Em parceria com o Conservatório de Antony e o Cebramusik, o Clube de Choro de Paris ampliou sua pedagogia para as crianças com o projeto Clubinho levando aos juvenis a prática de regionais dentro da escola de música clássica da França e trazendo para o Festival anual, grupos de jovens brasileiros e franceses para tocar com os profissionais.
Revista do Choro: Onde o Clube do Choro de Paris está sediado?
Maria Inês Guimarães: O clube funciona na Casa do Brasil em Paris e tem algumas rodas e aulas de piano no Cebramusik, em Antony.
Revista do Choro: Quais os Choros mais tocados nas rodas do Clube do Choro de Paris?
Maria Inês Guimarães: O repertório tocado nas rodas em Paris é bem diversificado, renovado sempre com composições dos artistas aqui residentes, brasileiros e franceses e também alimentado pelas publicações brasileiras de discos, partituras, videos.
Revista do Choro: Deixe o serviço do Clube:
Maria Inês Guimarães: A associação Clube de Choro de Paris é dirigida por um conselho constituído de: Maria Inês Guimarães (presidente), Beatriz Gomes (tesoureira) e Julien Hamard (secretário).Funciona na Casa do Brasil. Endereço para correspondência: Guimarães, 18 rue Mozart 92160 Antony França. 33 (0)1 71 54 83 85. As rodas em Paris são em geral nas terças (l’Entrepôt) e quintas (Lauriers) às 20h30. Email: clubduchorodeparis@club-internet.fr. Site: http://clubduchorodeparis.free.fr
[1] 98, Rue des Couronnes.
[2] 165, Boulevard Montparnasse.
[3] 14, Rue des Panoyaux.
[4] 7, Rue Francis de Pressensé.
Maria Ines Guimarães é brasileira de Uberaba, Minas Gerais. Reside em Paris desde 1988. É pianista, compositora, musicóloga, pedagoga:
Leia mais sobre Maria Ines Guimarães.
Maria Inês começou seus estudos de piano com Odette Camargos em Uberaba, Minas Gerais e em São Paulo trabalhou com Eudóxia de Barros e Rafael dos Santos. Acompanhou também as masters classes de Magdalena Tagliaferro. Ela se formou também com os músicos de jazz e improvisação livre Harry Swift, Jean Marie Machado e Bruno Wilhelm. Em Paris, Maria Inês estudou piano com Anna Stela Schic, Françoise Parrot-Hanlet. Desde o início de sua carreira Maria Inês dedica uma parte de seus concertos à música brasileira popular ou clássica. Seja no Brasil ou no estrangeiro, Bach, Beethoven, Fauré e Kurtág cohabitam com Nazareth, Mignone, Abreu, Villa-Lobos e Antunes. Em música de câmara ela tocou entre outros com Andrea Merenzon, Gilson Barbosa, Daniel Ramirez, Marcos Kiehl, Shinobu Saito, Aline Soulhat e Nathalie Villedieu-Afchain. Como as salas de concerto não são o melhor lugar para apreciar a música popular ela também se produziu em bares e clubs de jazz na América Latina e na Europa com o grupo Ilustrando o Choro (desde 1986) composto de piano, flauta e de percussão, bateria e baixo. Maria Inês faz do piano um verdadeiro instrumento chorão. A improvisação livre sendo uma de suas paixões Maria Inês fundou em 2004 o Duo Asymétrie com a percussionista brasileira Brenda Ohana. Desde 2007 ela criou um grupo para aliar música brasileira e improvisação livre que se transformou no Choro Quarteto com Bruno Wilhelm, Paul Mindy et Dominique Muzeau. Ela é membro fundador do grupo L’Attachement des Bobines formado em 2006.Com estes três grupos Maria Inês cria composições instantâneas, originárias da escuta mútua e da busca da unidade utilizando diferentes aspectos da matéria sonora. Desde 2012, Maria Inês traballhou com a compania de teatro Le Feu Follet para a qual ela compôs a musica para as peças Un trône pour un tyran (texto inspirado de Shakespeare), Merlin, Orphée com um piano preparado. Ela defendeu em Dezembro de 1996 sua tese de doutorado de musicologia na Sorbonne sobre a obra de Lobo de Mesquita. Esta tese foi publicada por Presses Universitaires du Septentrion na França em 1997. A atividade pedagógica como professora titular concursada no conservatório de Antony, as publicações de artigos e livros assim como de partituras completam a atividade de musicista de Maria Inês que já gravou 11 discos. Continuando sua atividade de promoção da música brasileira, iniciada em 1987 como delegada do Centro de Musica Brasileira de Campinas, Maria Inês é também fundadora do Centro Euro-brasileiro de Música (Cebramusik) que tem o projeto de divulgar a música brasileira na Europa. Ela é presidente do Club de choro de Paris.
DISCOGRAFIA: Alma Brasileira (Vibrato Musique, 1993) considerado pelo jornal “O Globo” como destaque do ano em 1993; Alberto Nepomuceno – piano works (Marco Polo, 1994) Henrique Oswald – piano works (Marco Polo, 1995); Fronteras latinas com a fagotista Argentina Andrea Merenzon (Irco-Cosentino, 1997). Dominica in Palmis, 1782 de Lobo de Mesquita foi lançado na França sob sua direção musicológica. (LNT, 2000) Saudades das Selvas Brasileiras com obras de Villa-Lobos (Pavane, 2000). Danses et oiseaux du Brésil com composições de Maria Inês saiu em 2003 pela editora francesa Billaudot acompanhado de dois albuns do mesmo nome com as partituras. Axuí-Ilustrando o Choro (Integral world, 2004) Contrepoint: Villa-Lobos, Kurtág (Integral classic, 2006). Primavera: composições próprias, choros tradicionais, improvisação (Integral classic, dezembro 2009).
Norte e Sul com Choro Quartet formado comBruno Wilhelm, Paul Mindy e Dominique Muzeau : lançamento em outubro 2014.
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