Quincas Laranjeiras 80 anos de saudade


Por Leonor Bianchi

O meio musical carioca e a memória musical brasileira se despediam, há 80 anos, do mestre do violão Quincas Laranjeiras, pernambucano nascido em Olinda em 8 de dezembro de 1873.

Foi, em 3 de fevereiro de 1935 que Quincas Laranjeiras nos deixou ‘sem nenhuma referência na imprensa’, como lamentou Alexandre Gonçalves Pinto, o Animal, em seu livro O Choro, publicado um ano após a morte do pranteado violonista brasileiro.

Batizado Joaquim Francisco dos Santos, ganhou desde cedo o apelido de Quincas.

Em 1884, com 11 anos de idade recebe sua iniciação musical na fábrica de tecidos Aliança, no bairro de Laranjeiras (RJ), onde trabalhava.

O menino Quincas cresce e torna-se exímio violonista. Interprete de música erudita e profundo conhecedor de nossa música popular.
Transcrevemos abaixo a crônica de Jota Efegê publicada originalmente no jornal

O Globo de 4 de dezembro de 1973, e publicada em seu livro Figuras e Coisas
da Música Popular Brasileira V. 2.

Quincas Laranjeiras, violonista de erudito e do popularesco

Intregrante de grupo de ‘seresteiros escol’, como está na súmula biográfica de A canção brasileira, de Vasco Mariz, seu prenome Joaquim, prosaico e burguês, não caia bem Do mesmo modo, o sobrenome Francisco dos Santos teria que ser repelido. Veio com ele de Olinda, de Pernambuco, onde nascera a 8 de dezembro de 1873 e o trouxera para o Rio de Janeiro. Mas, ao se tornar o ‘primus inter pares no cículo dos grandes chorões de violão’, na qualificação que lhe dá Alexandre Gonçalves Pinto (o Anima), em seu livro O Choro, perdeu nome e sobrenome. Passou a ser o Quincas Laranjeiras. Foi na simplicidade dessa alcunha, a qual se ligou à designação do bairro de sua residência, que firmou
a reputação de emérito violonista. (…)

Ao ser admitido na fábrica de tecido Aliança, em Laranjeiras, o garoto Joaquim, de 11 anos ganhava seu primeiro emprego e com e a oportunidade de se iniciar na música. Ali, ao terminar seus trabalhar nos teares pode fazer parte da banda mantida por esse estabelecimento fabril, regida pelo mestre João Elias e onde seu primeiro instrumento foi a flauta.

Pouco depois, seguindo o caminho do pai, seu José, que juntava ao ofício de carapina o de ser bom violeiro, renunciava ao instrumento. Trocava o canudo de chaves pelo pinho, e dominando a perfeição viria se tornar reconhecidamente exímio. (…)

Deixando a tecelagem para ingressar no serviço, já que em 1889 fora admitido no departamento municipal de higiene e assistência pública, na função de humilde porteiro, a burocracia não colidiu com sua vocação musical. pelo contrário, facilitava-a.

Agora com mais tempo e em plena mocidade, reunia-se todas as tardes na O cavaquinho de ouro, na rua da Carioca 44, de propriedade do João dos Santos Carneiro e frequentado pelos aludidos pelos ‘seresteiros de escol’.

Desse grupo, do qual faziam parte Villa-Lobos, Anacleto de Medeiro, Zé cavaquinho, Irineu de Almeida, João Pernambuco, Felisberto Marques, Juca Kalut, Gonzaga da Hora e outros, Quincas era um dos principais ou o ‘chefe’, como o aponta Vasco Mariz, em seu livro citado.

Embora participante do grupo de chorões e seresteiros, o violonista Quincas Laranjeiras não era tão-somente um popularesco, competindo com seus companheiros na execução de musiquinhas recreativas, saltitantes em que se esmerava provando virtuosismo.

Era bom num chorinho, como era no acompanhar um tenorino, cantando lânguidas modinhas nas quais soltava seus agudos e caprichava nos floreios vocais.”
Quincas Laranjeiras tornou-se uma grande referência no violão naqueles tempo, na capital federal. Dava aula do instrumento junto a João Pernambuco e, graças ao seu
virtuosismo e domínio pleno do instrumento, sempre foi citado e laureado por muitos cronistas e hebdomadários da imprensa carioca.

Compositor de alguns choros bem conhecidos e fundador da escola chorona do violão brasileiro junto de Pernambuco, Quincas Laranjeiras participou de diversos carnavais cariocas empunhando seu violão no rancho Ameno Resedá, como nos conta Jota Efegê:

“Quando Zé Cavaquinho recrutou músicos para formar a orquestra do famoso rancho Ameno Resedá, que foi alguma vezes ‘campeão de harmonia’, nas competições do Carnaval Quincas Laranjeiras era, com seu violão, uma das figuras de destaque.”

O cronista Jota Efegê destaca ainda a desenvoltura com que Quincas Laranjeiras interpretava tanto canções populares quanto eruditas mais refinadas. E ao finalizar suas reminiscências sobre o violonista, lembra o centenário de nascimento de Quincas, que ocorreu naqueles dias de 1973, quando essa crônica que hora transcrevemos, foi escrita.
“À sua reconhecida categoria de excelente violonista que desfrutava nas rodas dos violões e seresteiros, aliava também a de bom intérprete de música erudita, dos clássicos do violão.

Estudou e executava com correção peças de Carcassi, Carulli, Castellati, Antonio Cano e outros nomes de grande expressão do violonismo (Sic).

(…)

Ao ensejo de transcorrer neste mês de dezembro, dia 8, o centenário de Quincas Laranjeiras, no apelido que invalidou o nome de Joaquim, dado pelo carapina e violeiro que foi seu pai, recorda-se, merecidamente um grande violonista.

De Quincas Laranjeiras, de seu virtuosismo, disse, há alguns anos, um dos órgãos de nossa imprensa: “…os bordões, tangidos pelos dedos de Quincas, riem e choram, cantam e suspiram, produzindo efeitos maravilhosos…”

Merecida, não há dúvida, a recordação que aqui foi feita.”

Assim, finalizou nosso célebre cronista Jota Efegê, a sua ode ao nosso eterno chorão Quincas Laranjeiras.

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Author: imprensabr

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