O Choro Sergipano 2


Por Leonor Bianchi

Xaxado, arrasta-pé, forró, caboclinho, baião… Todos são ritmos autenticamente nordestinos. O Brasil é um país multicultural e dialoga com a essência da cultura de todo seu território. O choro está muito presente no nordeste. Sergipe que o diga.  Foi para lá que a Revista do Choro viajou nesta quinta edição.

Sergipe, menor estado da federação, guarda história em cada esquina. O estado onde morreu o cangaceiro Lampião em sua rota de fuga dos comandantes do exército brasileiro, em 1938, é um intenso caldeirão cultural, onde pulsa, de forma pujante, a cultura popular. É em Aracaju, que brilha com toda a luz a beleza do choro brasileiro tocado por instrumentistas da terra. Com tradição no choro, vide os mestres Luis Americano, Netinho, Egnaldo do Bandolim, Zé da Velha, todos grandes chorões do estado, Sergipe vive um momento especial no que diz respeito à revitalização deste gênero autenticamente brasileiro, o choro.

Neste número a Revista do Choro traz uma matéria especial sobre a cena do choro em Sergipe, mais precisamente em Aracaju, onde acontece, desde maio de 2013, o Movimento do Choro Sergipano. Coordenado pelo radialista Sergio Thadeu Cruz, apresentador do programa ‘Domingo no Clube’, criado há 29 anos na rádio Aperipê AM por seu pai, o saudoso Thadeu Cruz, o movimento reúne uma gama de artistas e músicos em torno do projeto, que hoje tem apresentações regulares uma vez por semana no Café da Gente, no Museu da Gente Sergipana, fomentando a difusão do gênero e ampliando plateia.

– O Movimento do Choro Sergipano é um coletivo onde participam vários grupos com ações voltadas para o choro. É a congregação de diversos chorões de nossa cidade em um só momento fortalecendo seu público e o choro em si. A ideia surgiu no programa Domingo no Clube, em 2013. A cada mês fazíamos rodas de choro no programa e aí começamos a conversar e ensaiar a ideia de sair do estúdio com a roda de choro. Começamos a desenhar alguns pontos com os chorões da cidade e a data do lançamento foi 19 de maio de 2013. Nesse dia, cada grupo esteve presente na AEASE (Associação de Engenheiros Agrônomos de Sergipe). A ideia era fazermos nos terceiros domingos de cada mês, com dois grupos, que tinham duas horas cada apresentar seu trabalho, vender o seu CD, agendar novas apresentações. Os encontros acabaram fortalecendo não só o choro como a marca Movimento do Choro Sergipano, que consolida, a cada apresentação do projeto, a veia chorona do sergipano – explica o radialista e agitador cultural Sergio Thadeu. 

Depois da primeira apresentação, em maio de 2013, os chorões que integram o coletivo Movimento do Choro Sergipano voltaram a se reunir em julho após o São João, ainda que a ideia original fosse promover encontros mensais. Segundo Sergio Thadeu:

– Fomos para uma casa onde a predominância era o forró. Precisamos sair do espaço anterior em função de custos e agenda, pois na associação não conseguíamos manter um calendário fixo, o que nos fez procurar outro local. Foi então que o projeto passou a acontecer na Casa do Forró Cariri, onde há um espaço fechado. Mantivemos o mesmo formato uma vez por mês, sempre aos terceiros domingos, com dois grupos de choro. Começamos em agosto e fomos até novembro com este trabalho coletivo. Ficamos 2013 todo na Casa do Forró Cariri. Em 2014, eis que surge um novo momento para o projeto. A partir de janeiro, começamos a desenvolver o movimento no Café da Gente, no Museu da Gente Sergipana, a convite de sua proprietária, Adriana Hagenbeck, com quem vinhamos dialogando desde 2013. Passamos a fazer as apresentações uma vez por semana, sempre às sextas-feiras, das 19h30 às 22h -conta Thadeu.

Os instrumentistas que fazem acontecer a cena do choro em Sergipe

Como o próprio conceito e o nome do projeto já dizem, o Movimento do Choro Sergipano se dá na forma de coletivo, de integração, de parceria. São muitos músicos e instrumentistas envolvidos com a causa, querendo fomentar o choro num estado onde o gênero, assim como na maioria do Brasil, ainda não entrou para a agenda oficial. É uma turma grande de antigas e novas gerações, para qual a música e, principalmente o choro, são o elo de união.

Sérgio Thadeu convive e conhece cada um desses músicos que fazem o Movimento do Choro Sergipano acontecer e, durante nossa entrevista, elencou alguns nomes:

– Podemos citar o Egnaldo do Bandolim, um dos veteranos do bandolim de Sergipe; Zé Vieira Sete Cordas; Inácio do Pandeiro; Pisca Viana do bandolim, que faz parte do grupo Renovação do Choro; Rivaldo Tabaréu, violão de 6 cordas; Reginaldo Marinho, um dos grandes nomes do choro aqui em nosso estado; tem um jovem talento no violão de sete cordas, o Ricardo Vieira, integrante do grupo Brasileiríssimo. Outro bandolinista da nova geração é Difan Oliveira, mas tem também o Cruz Nascimento, bandolinista dos mais tradicionais de Aracaju, líder do grupo Braúna, que tem forte atuação no projeto. Nascimento vem da escola de bandolim de Jacob do Bandolim, Armandinho, do bandolim de 10 cordas. Podemos citar também o Bruno Leonel, do grupo Braúna; o Manoel Neto, também do Braúna; tem a moçada do grupo Os Tabaréus, que tem como fonte de inspiração a dupla Zé da Velha e Silvério Pontes. Há muitos excelentes cavaquinistas envolvidos no movimento, como Júlio do Cavaco, Edson, Barata, do Quinteto Brasil in Choro, que recentemente se apresentou em Viena, na Áustria. Podemos citar ainda, o bandolinista Dom José do Ban, que recentemente se apresentou no Clube do Choro de Brasília. Outro violão de seis cordas que merece ser lembrado é o Willians. Tem o Juarez da Barca do Choro; o Batata do Pandeiro, que faz parte do Quinteto Brasil in Choro; o Bicó, que trabalha numa linguagem mais freelancer com vários regionais; o Inácio do Pandeiro, líder do Renovação do Choro. Júlio, um jovem pandeirista que merece ser citado, toca com muita gente boa e tem o trabalho em que ele convida outros músicos. Não podemos esquecer de Odir Caius, que trabalha com flauta doce e sax digital; Fernando Freitas (bandolinista) e Felipe Freitas (clarinetista), ambos do grupo Brasileiríssimo. O Fernando participa também como bandolinista do Quinteto Brasil in Choro – enumerou Sérgio Thadeu .

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Não só o choro tem espaço no projeto

Além do choro, outros ritmos da música sergipana são apresentados no projeto.

Com a ida do Movimento do Choro Sergipano para o Café da Gente, um novo formato passou a ser apresentado, e foi inserida a participação especial de artistas e músicos sergipanos, “não necessariamente músicos ligados ao choro, mas músicos que engrandecem a música sergipana”, conta Sergio Thadeu.

Nomes como a dupla Chico Queiroga e Antonio Rogério, Antônio Carlos do Aracaju, Tonho Baixinho, Raquel Delmondes, Lina Souza, grupo Cataluzes enobreceram o movimento, que além do choro pretende elevar o nome da música brasileira no estado de Sergipe.

O choro no interior de Sergipe

O choro não está apenas na capital Aracaju, ele se faz presente também no interior, nas inúmeras festas populares e nos festivais de verão e inverno.

– Houve um projeto no interior, o ‘Cidade do Chorinho’, por volta de 2004, se não me engano em Laranjeiras. Há festivais culturais no interior que abrem portas para a moçada da capital, a exemplo desse que aconteceu em Laranjeiras. Japaratuba, cidade natal de Arthur Bispo do Rosário, ponto turístico bastante conhecido, também promove um festival cultural que privilegia o choro. Geralmente o choro chega ao interior dessa forma, nestes festivais. E, citando essas cidades, não posso deixar de falar da histórica São Cristóvão, quarta cidade mais antiga do Brasil, de onde vem alguns dos instrumentistas que integram o Movimento do Choro Sergipano. São de lá alguns membros do grupo Os Tabaréus, por exemplo – disse Sergio Thadeu. 

Em resumo, Thadeu conta que a cena do choro no interior do estado ainda não é forte, mas que o movimento levantado na capital Aracaju tem incentivado uma revitalização do gênero em todo o estado. 

– Torcemos para o choro chegar de vez no interior e apostamos nisso com o trabalho feito pelos grupos de choro e músicos do interior, como, por exemplo, o Aquida choro, de Aquidaban, o Odir Caius, que já citamos, da cidade de Estância, outro município riquíssimo culturalmente… Enfim, tem muita coisa boa acontecendo, e há lugares aqui que certamente poderiam vir a ser grandes centros importantes de produção de música boa e de bons chorões, contudo, a cena forte do choro hoje em Sergipe acontece mesmo é na capital –  analisa Thadeu.

As mulheres do choro sergipano

A presença feminina também está em alta no Movimento do Choro Sergipano. Compositoras, pesquisadoras e líderes de regional, as mulheres desenvolvem trabalhos autorais e ligados à rica linguagem do choro e do samba-choro no estado, como nos conta Sergio Thadeu:  

– Silvina, carinhosamente chamada de Silvina do Chorinho, lidera o regional ‘Os Boêmios Nota 10’. Com trabalhos gravados, é considerada a rainha do choro cantado em Sergipe.  Ela é quem tem o maior repertório e se dedica muito à questão da pesquisa do choro e samba choro – ressalta Sergio Thadeu.

Outra cantora que desenvolve sério trabalho com o choro em Sergipe é Maria Augusta. Líder do regional Os Brazucas, é uma excelente cantora, mas também compõe. Em seu trabalho, mescla composições  próprias com interpretações de clássicos do choro e do samba-choro.

A jovem cantora sergipana Maiumi Vieira também merece destaque. Considerada um revelação entre as intérpretes da  música sergipana da atualidade, integra o grupo Brasileiríssimos.

Herança chorona

Filho de outro grande nome do rádio brasileiro, seu pai, Thadeu Cruz, deixou como maior herança para o filho o bom gosto musical e o programa radiofônico Domingo no Clube. No ar pela rádio Aperipê, o programa completa 30 anos em 2015. 

– O programa Domingo no Clube tem um alcance muito grande. Foi dentro dele que nasceu a proposta do projeto Movimento do Choro Sergipano. Fazíamos rodas no estúdio uma vez por mês e daí surgiu a ideia do projeto. Hoje, temos contatos com importantes capitais brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e isso ajuda muito a divulgar nosso trabalho com o choro para o país todo conhecer. Gosto muito da minha profissão, o que eu faço é de coração! Fico muito feliz a cada vez que vejo um dos grupos daqui alcançando espaço em outras praças – ressalta Thadeu. 

Gravação de um CD está nos planos do Movimento

Com o objetivo de promover e levar a cada vez mais pessoas o choro produzido no estado de Sergipe, o Movimento do Choro Sergipano planeja a gravação de um CD com composições autorais de grupos do estado.

– A ideia de gravarmos um CD está atrelada à promoção do movimento. A ideia é trazer os grupos que fazem o movimento acontecer para dentro do estúdio, dando protagonismo à moçada que tem composições próprias, pois temos que dar visibilidade a novas composições do choro, até porque queremos incentivar os músicos daqui a compor, uma vez que há muita demanda de novas composições de choro… Estamos tendo todo cuidado necessário no planejamento deste CD, pois queremos obter um resultado primoroso e que esteja à altura do que os nossos músicos e público merecem – conclui o radialista Sergio Thadeu.

Foto em destaque: Grupo Os Tabaréus.

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Author: imprensabr


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