O Choro enquanto suporte pedagógico no ensino regular da rede pública de Macaé


Por Leonor Bianchi

Os alunos da Escola Municipal Raul Veiga, do bucólico distrito serrano de Glicério, em Macaé, desfrutam de um privilégio entre os alunos das escolas públicas, atualmente: eles têm aula de musicalização com um professor bastante imbuído de sua função de educador e que, há 10 anos envolveu toda a escola e comunidade local com o ensino de música através do Choro.

Concursado, Marcelo Pfeil começou a trabalhar na rede pública municipal de Macaé (RJ), em 2005. Conhecida como ‘Capital Nacional do Petróleo’, Macaé, no estado do Rio de Janeiro, tem íntima relação com a música, sobretudo, com o choro. Além de ter duas bandas centenárias: Nova Aurora (1873) e Lyra dos Conspiradores (1882), é terra natal de dois ilustres chorões: Viriato Figueira da Silva (1851 – 1883) e Benedicto Lacerda (1903 – 1958).

Assim que começou a lidar com a realidade da ‘sala de aula’, o educador percebeu que a expectativa dos alunos em relação à aula de música, necessariamente contemplava o aprendizado de um instrumento. Foi quando criou uma oficina de cavaquinho e violão dentro do espaço da aula ‘normal’ de música. Notou imediatamente o retorno de seus alunos.

“A ideia do projeto surgiu em 2005, quando ingressei na rede e me surpreendi com o fato de nenhum dos alunos conhecerem o macaense Benedicto Lacerda. Acrescido a este fato, percebi que a grande expectativa dos alunos era aprender a tocar um instrumento”, conta o professor.

Um dos objetivos do projeto das oficinas de música, segundo Pfeil, é criar uma alternativa contra a cultura midiática imposta ao jovem brasileiro, que é formatado para só ouvir e curtir o que o rádio e a moda ditam. Além disso, diz o professor:

“O projeto das oficinas ultrapassa o ensino de música. Buscamos capacitar os alunos para identificação e escrita dos elementos básicos da música, a apreciação musical, mas, sobretudo, queremos despertar o estudante, o jovem para atitudes proativas em seu cotidiano, o que seria ao final uma proposta socioeducativa. O projeto ainda visa a formação e a ampliação de plateia, o fomentar ao bom gosto musical e a valorização de nossas raízes culturais”, ressalta o educador Marcelo Pfeil.

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Nesses anos à frente do projeto, muitos estudantes já passaram pela oficina que começou modesta e tomou corpo há quatro anos quando o professor recebeu apoio da Secretaria Municipal de Educação de Macaé, que passou a ver os resultados das aulas de música e encampou as aulas no contraturno dos alunos.
A partir deste novo momento para o professor a escola e, finalmente, para seus alunos, a oficina de música, torna-se Orquestra de Violões na Escola.

“A Orquestra é o resultado da proposta socioeducativa que estabelece uma dinâmica entre aluno, linguagem musical e instrumento (violão, percussão e cavaquinho) e lança mão da linguagem do choro e seus subgêneros como viés no processo de musicalização de crianças e adolescentes”, explica o professor Marcelo Pfeil.

No repertório praticado durante as oficinas, obras de compositores clássicos do Choro, como Joaquim Callado, Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros, Pixinguinha, Benedicto Lacerda, Pedro Galdino, Jacob do Bandolim, Hermeto Paschoal entre outros.

Para além dos muros da escola

Com tanto empenho e dedicação, era de se esperar que o retorno do trabalho fosse reconhecido. Nos últimos anos, a Orquestra tem se apresentando em diversas situações fora da escola. O grupo já participou de apresentações em outras escolas e teatros de Macaé e Região dos Lagos.

Em 2014, o criador da Orquestra de Violões na Escola, MarceloPfeil, foi um dos palestrantes do Congresso Internacional de Educação Brasil – Finlândia (Conid 2014), que aconteceu no Teatro Princesa Isabel, em Copacabana. O tema de sua palestra foi: O ensino de música brasileira e do instrumento musical no âmbito da escola regular. Sua palestra contou com a participação dos alunos da Orquestra de Violões na Escola.

Aulas virtuais em 2015

Este ano, Marcelo quer trabalhar bastante e usar as redes sociais e a internet como suporte em suas aulas. “Meu projeto futuro é fomentar ainda mais as aulas on line, que já começamos de maneira embrionária através das redes sociais. Assim, o aluno assiste aos vídeos tutoriais sem a presença do professor, sendo que alguns desses vídeos são produzidos pelos próprios alunos”, conta.

Outra meta do educador é levar o projeto para outras escolas do município. “Ampliando a ação, o projeto contaria com a participação de mais professores de música com esse perfil” finaliza Pfeil.

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Author: imprensabr

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