O luthier do Choro


De família de imigrantes espanhóis estabelecida no interior de São Paulo, Lineu Bravo, desde cedo desenvolveu intimidade com as madeiras da oficina de marcenaria de seu pai. Com dez anos de idade, começou a tocar cavaquinho e aos 14 anos construiu seu primeiro instrumento; “um cavaquinho de madeira compensada, o que estava disponível para minha brincadeira de garoto. A ‘obra’ me trouxe enorme gratificação, mas o som era péssimo e eu já sabia disso. Logo percebi que um bom instrumento é muito mais que um objeto de madeira. Havia ali mistérios que meu espírito de menino já começava a perscrutar” lembra Lineu Bravo.

O tempo passou e Lineu construiu diversos instrumentos, principalmente bandolins e cavaquinhos. Mas levava a coisa como hobby. Até que um dia deparou-se com um verdadeiro violão de concerto em suas mãos.

“Aquilo aguçou-me a sensibilidade e, curioso, passei a investigá-lo com minúcia. Resolvi que podia. E fiz. Gostei do meu primeiro violão. Acho que não fui o único, pois em menos de uma semana o vendi ao dono daquele que me havia inspirado. Com o incentivo, importantíssimo, decidi. Tornei-me luthier profissional”, revela Lineu Bravo.

A partir daí, constrói instrumentos para os mais renomados instrumentistas do Brasil. Incansável no aprimoramento de seu trabalho, busca sempre extrair opiniões, comentários e ideias primordiais de seus clientes, para alcançar melhores resultados a cada novo instrumento.

“Sou antes de tudo um prático e autodidata. E meu autodidatismo advém mais da experiência empírica do que de leitura e cálculos. Acho importante ressaltar que estou falando de minha particular forma de trabalhar, pois, sabemos, há grandes luthiers que lançam mão de profundos conhecimentos científicos em seu trabalho, obtendo excelentes resultados”, pondera.

E acrescenta:

“Ouvir boa música e conversar com músicos sobre as suas percepções acerca de um instrumento, para mim é muito mais enriquecedor do que ler um livro sobre acústica. Enfim, entre meu ouvido e um paquímetro, fico com o primeiro. Ou ainda, entre ser um técnico e um artista, fico com a segunda alternativa”, afirma o Luthier do Choro.

Parceria originou um violão em homenagem a Dino

Em 2010, Lineu Bravo firmou parceria como violonista Rogério Caetano em busca de algo novo e que pudesse transcender o belo em sonoridade no violão com o objetivo de resgatar um instrumento que havia estagnado no passado”.

Esta união de talentos gerou a construção do violão sete cordas Lineu Bravo modelo Rogério Caetano, uma homenagem ao lendário Horondino José da Silva, conhecido como Dino Sete Cordas.

“Porque o Dino é o cara, o pedestal disso tudo. Esse instrumento estava meio esquecido e Rogério Caetano deu essa reavivada. De certa forma, não é só uma referência, mas uma reverência ao Dino Sete Cordas”, acrescenta Lineu.

O violão sete cordas Lineu Bravo modelo Rogério Caetano é uma homenagem ao lendário Dino Sete Cordas

Um pouco de história: Dino Sete Cordas

Diferentemente dos violões utilizados pelos solistas, que são normalmente os violões de corda de nylon, Dino Sete Cordas utilizava o de cordas de aço. Fundador de uma escola de acompanhamento, ele criou uma maneira de tocar com uma sonoridade muito característica. Alguns exemplos: quase obrigatoriamente esse violão é tocado com dedeira (não só com as unhas), alguns elementos da sonoridade são mais marcantes, além de ser um violão que se faz mais presente no acompanhamento. Porém, no final dos anos 70, os acompanhadores passaram a usar o violão sete cordas de nylon e o violão sete cordas de aço passou a ficar em segundo plano.

“Rogério queria o violão que desse aquele sabor, aquele cheiro do violão do Dino, que tivesse uma qualidade, em termos de afinação, em termos de tocabilidade, de equilíbrio, de sonoridade. Rogério Caetano resgatou esse tipo de violão e é responsável por essa forte difusão. Todo mundo está voltando a tocar, como os acompanhadores, muito em função do trabalho do Rogerinho”, relata o luthier Lineu Bravo sobre um dos principais violonistas de sete cordas do Brasil.

O processo de construção desse violão de cordas de aço, que se destaca principalmente em grupos de samba e choro, demorou cerca de um ano.

Segundo Rogério Caetano, a criação é um marco no Brasil e no mundo. “O violão sete cordas de aço, feito pelo meu amigo Lineu Bravo, estabelece de forma definitiva um padrão de altíssimo nível para esse nosso instrumento tão brasileiro. Fico muito feliz por esse modelo levar o meu nome e por saber que esse violão de aço ainda tem muito o que dizer na história da nossa música, ainda mais agora com um instrumento dessa categoria”, afirma Rogério Caetano.

Abaixo, bate-papo da Revista do Choro com o violonista Rogério Caetano sobre sua relação com o luthier Lineu Bravo

Rogério Caetano violão Lineu Bravo (2)

Revista do Choro: Como você conheceu o trabalho do Lineu?

Rogério Caetano: Conheci o trabalho do Lineu Bravo através do meu amigo e também violonista Maurício Carrilho.

Revista do Choro: Quando você encomendou um instrumento a ele pela primeira vez?

Rogério Caetano: Encomendei meu primeiro 7 cordas com o Lineu em 2007, na época eu estava gravando um CD autoral com peças para 7 cordas solo e ele fez um violão de 7 Cordas de Nylon com o qual eu gravei esse trabalho chamado Rogério Caetano.

Revista do Choro: Quais instrumentos feitos por ele que você tem?

Rogério Caetano: Atualmente eu uso um 7 Cordas de Aço Lineu Bravo modelo Rogério Caetano, instrumento que desenvolvemos juntos e que o Lineu compreendeu toda peculiaridade, anatomia e história desse violão que é o 7 Cordas brasileiro tradicional. Lineu está arrasando construindo 7 cordas de aço maravilhosos!

Revista do Choro: O que o fez escolher o violão dele?

Rogério Caetano: Além de ser um instrumento lindo, possui um som superpotente, timbre maravilhoso, ótima facilidade pra tocar, e uma afinação impecável, realmente são instrumentos de altíssimo nível!

Revista do Choro: Em que momentos você usa o violão feito pelo Lineu Bravo, estudos, apresentações grandes espetáculos…

Rogério Caetano: Eu uso o violão de 7 do Lineu nos meus shows e também em gravações minhas e de outros artistas, esse ano eu já gravei 5 DVDs e CDS com esse instrumento. São eles o CD e DVD Samba Social Clube vol 5 e 6, o CD e DVD Prêmio da Música Brasileira e os CDS e DVDs dos compositores Casquinha da Portela e Jorginho do Império. Todos gravados com o 7 Cordas de Aço Lineu Bravo modelo Rogério Caetano.

Mais informações ver: www.lineubravo.com.br e www.rogeriocaetano.com.br

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Author: imprensabr

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