Revista do Choro entrevista o flautista Antonio Rocha 2


Natural de Valença, cidade do sul do estado do Rio de Janeiro, o multi-instrumentista Antonio Rocha, revelação nos últimos anos à frente da flauta transversa no Choro, concedeu uma entrevista exclusiva à Revista do Choro. Nela ele conta como começou sua relação com a música, logo na infância influenciado por sua tia Jô, sua relação com outros instrumentos, como o piano e o saxofone, com a música erudita, e fala do CD que está gravando, um álbum com 14 estudos dedicados à linguagem da flauta brasileira em homenagem a vários flautistas.

O flautista Antonio Rocha.

O flautista Antonio Rocha.

Revista do Choro: Como começou sua relação com a música?

Antonio Rocha: Minha relação com a música veio através de minha família, desde muito pequeno, ouvindo e participando sempre!

Revista do Choro: Como a flauta entrou na sua vida?

Antonio Rocha: Nasci no dia 16 de abril de 1981 e com poucas horas de nascido ganhei um presente que mudou minha vida para sempre: minha primeira flauta! Minha tia Jô (Jocely Rocha) musicista, pediu que minha mãe escolhesse entre uma flauta e um violão e minha mãe escolheu a flauta. Quando completei oito anos fiquei conhecendo mais sobre flauta e não dei mais sossego em casa, queria minha flauta. Tia Jô, que tocava um pouco de flauta, colocou meus dedinhos nas chaves e me mostrou como é que soprava e para minha surpresa neste momento eu consegui tocar uma melodia (um trecho de melodia) Tristeza do Jeca. Dai não parei mais.

Revista do Choro: Você toca outros instrumentos além da flauta?

Antonio Rocha: Sim! Comecei com a flauta, mas logo quis conhecer outros instrumentos musicais. Profissionalmente só a flauta, mas na banda pude conhecer vários instrumentos, como o sax-tenor, que já toquei durante um tempo, a clarineta e a Tuba, mas são instrumentos de embocaduras muito diferentes e eu optei pela flauta, que é minha paixão! Não posso esquecer do piano e do órgão. Colaboro, sempre que possível, nas missas da Catedral de Nossa Senhora da Glória, aqui em Valença.

Revista do Choro: Como foi seu aprendizado de Choro, e rodas, você ouvia muita coisa e tirava as músicas, na banda de sua cidade, em casa com sua família musical?

Antonio Rocha: Comecei a estudar música com oito anos, porém, só levei a sério o estudo de música quando já estava com uns 13, 14 anos.”Inscrevi-me em um curso no Rio de janeiro e precisava prestar uma prova para ser admitido no curso.Foi difícil convencer meu pai a permitir tal proeza, pois tratava-se de um menino de 14 anos e sempre moramos em Valença. Tia Jô morava no Rio e nos levou até centro da cidade, na rua Ramalho Urtigão para que eu fizesse o teste na Escola Villa Lobos e assim foi. Teste feito, fui aprovado. Não chequei a estudar nesta escola, mas este dia marcou muito, pois tia Jô novamente acerta na mosca, presenteando-me com um álbum de choros que futuramente seria de grande utilidade em minhas pesquisas!

Minha relação com o Choro sempre foi de total admiração pelo trabalho de músicos como Altamiro Carrilho, Niquinho, Dino 7 cordas, Jacob, Pixinguinha, mas foi ouvindo um disco de Altamiro Carrilho, que um dia eu disse para mim mesmo: eu quero ser flautista! Eu ficava ouvindo as gravações e comparando com as partituras e tentando tocar, mas meu ouvido sempre falou mais alto e eu acabava tirando as melodias de ouvido, treinando de maneira muito agradável minha percepção musical!

Em casa, sempre tocávamos meu pai e eu e um fato sempre me chamou a atenção: umas sequências de acordes que meu pai usa até hoje. Lembro-me que em pouco tempo eu era capaz de repeti-las em qualquer tom. Creio que venha dai a minha capacidade de improvisar!

Revista do Choro: Você é hoje maestro da banda de sua cidade, no interior fluminense, Valença, a Sociedade Musical Progresso de Valença. Quando foi fundada a banda, quantos alunos ela têm hoje, quais músicos passaram por lá e qual é a história desta banda?

Antonio Rocha: A banda Progresso foi fundada em 20 de novembro de 1929 por ferroviários. Tenho um tio avô que também foi mestre desta banda, chamava-se José Batista de Almeida (conhecido como Arranca-Toco por seu temperamento).

No ano de 1997, eu já estava bastante envolvido com movimentos musicais em minha cidade, e em uma certa noite sonhei que estava em lugar claro,uma sala talvez, e nela havia um senhor e várias crianças com instrumentos musicais e este sr. se dirigiu a mim e disse:Precisamos muito de você na Banda Progresso de Valença….   compareça ao ensaio quinta feira,às 20h.  Eu acordei sem entender nada, mas compreendi o chamado e fui. Nessa época, a banda passava problemas com renovação de músicos e logo fui convidado a formar uma turma de alunos e lá estou até hoje.

Revista do Choro: Como você recebeu a notícia, o convite para tocar no Conjunto Época de Ouro? Deve ter sido uma emoção e tanto…

Antonio Rocha: Com muito orgulho e respeito, pois sempre considerei Jacob do Bandolim um dos máximos da música Brasileira. No início, muitos não concordaram com a notícia, pois o Época sempre foi um conjunto de um único solista, o bandolim, mas fui chegando e fui ficando, e deu certo.

Revista do Choro: Como vem sendo a experiência de ser um integrante tão jovem (hoje não mais, mas quando você começou a tocar com o Época, era) tocando no Época de Ouro, um grupo de choro tradicional e que este ano faz 50 anos.

Antonio Rocha: Sempre gostei muito de pesquisar e creio ter sido este meu diferencial no Conjunto Época de Ouro. Apesar de Jovem, sempre estive interessado em aprender.

Revista do Choro: Como está sua agenda de músico hoje? Você é professor da Escola Portátil de Música, no Rio de Janeiro, mas também dá aulas particulares. Como você mantém sua agenda de estudos com uma rotina tão cheia de shows e viagens?

Antonio Rocha: Meus vizinhos certamente não me aguentam mais, pois eu começo a estudar  às 9h00 em ponto e, quando o “bicho pega”, chego a estudar oito horas. Mas para mim estudar é sempre uma alegria.Tento aproveitar ao máximo o tempo de estudo,pois estou sempre viajando a trabalho. Aproveito qualquer oportunidade para decorar  meu repertório pensando nas melodias.Trabalho na Escola Portátil  há nove anos. Lá aprendo mais do que ensino!

Revista do Choro:Você também é um grande compositor, o que tem composto?

Antonio Rocha: Componho choro, música sacra, peças para banda e pequenas formações como duos trios quartetos e quintetos para sopros e cordas.Compus várias peças para flauta solo e um álbum com 14 estudos dedicados à linguagem da flauta brasileira em homenagem a vários flautistas como Dante Santoro,Altamiro Carrilho,Pixinguinha, Benedito Lacerda, entre outros.

Revista do Choro: Conte-nos sobre seu CD ‘ flauta brasileira’. Quando será lançado, há participações de quais músicos, quantas faixas tem no CD, onde foi gravado, e como será seu lançamento.É seu primeiro disco autoral?

Antonio Rocha: Meu CD está sendo gravado aos poucos e está em processo de finalização e em breve será lançado! Para gravá-lo contei com a participação de vários amigos: Conjunto Época de Ouro, Regional Imperial, Yury Reis, Glauber Seixas, Julião Pinheiro, Ana Rabello, Aquiles e Eversom Moraes, Celsinho Silva, Marlom e Mayco, e gravei uma faixa especial com participação da minha tia Jô cantando a marcha rancho ‘De Vovó para Vovô’, parceria dele com a tia.

Revista do Choro:Quais as rodas de choro você gosta de frequentar?

Antonio Rocha: Gosto muito de rodas de choro, mas ando meio sem tempo, mesmo assim apareço no Bip Bip, em Copacabana e em outros lugares  para tocar um pouco com os amigos.

Revista do Choro: Seu site foi criado há pouco tempo. Fale mais sobre esta sua interface virtual.

Antonio Rocha: Eu sempre fui resistente a redes sociais e etc, mas minha esposa, Cris, convenceu-mede que seria importante  e criei uma página no Facebook. Todos podem me encontrar facilmente e só digitar ‘Flautista Antonio Rocha’ e poderão encontrar minha página, que me auxilia na divulgação de meus trabalhos.Tenho também o sitehttp://rochaflautista.wix.com

Revista do Choro: Que instrumento você usa para tocar?

Antonio Rocha:Yamaha 481, Hammig

Revista do Choro:Quem é seu luthier?

Antonio Rocha: Luiz Tudrey em São Paulo, Sávio (Periquito), da Cia do Sopro, em Niterói, mas tenho feito eu mesmo pequenos reparos em minhas flautas.

Revista do Choro: Qual a gravação histórica que indicaria para novos estudantes de flauta?

Antonio Rocha: No choro, recomendo o LP Choros Imortais números 1 e 2, uma aula de flauta com o mestre Altamiro Carrilho. No campo erudito, indico Marcel Moyse (há muitos vídeos no Youtube).

Revista do Choro: Qual repertório Antonio Rocha toca hoje?

Antonio Rocha:Além do choro, que é o meu repertório de coração e  de trabalho, tenho estudado  Bach, Mozart, Vivald, Chaminade. Quero gravar em breve um CD com um repertório para flauta solo.

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Author: imprensabr


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