Hemeroteca Digital do Choro – 90 anos de Altamiro Carrilho


Por Leonor Bianchi e Rúben Pereira

O flautista, compositor e chorão Altamiro Carrilho construiu uma bela história em sua passagem pela cena musical dos últimos 70 anos. Desde sua chegada a Niterói, por volta de 1940, até seu falecimento em 2012, Altamiro trabalhou incansavelmente pelo Choro. Toda sua atuação profissional tinha um foco: Enaltecer o universo do Choro, seus compositores, histórias e obras.

A seção Hemeroteca do Choro registra nesta edição algumas passagens das mais importantes na biografia artística do flautista que foi destaque na imprensa.

Em 1939, ao chegar no ambiente de rádio, no Rio de Janeiro e destacar-se ao vencer o temido programa de Ary Barroso, que naquele momento estava com o primeiro prêmio acumulado há 8 semanas, Altamiro Carrilho teve certeza que aquele era o caminho a seguir.

Altamiro Carrilho destaca-se no ambiente radiofônico

Altamiro Carrilho torna-se destaque no meio musical carioca por sua virtuosidade na flauta e passa a ser disputado por regionais e rádios. Torna-se flautista do Regional do violonista Rogério Guimarães e fecha contrato com a Rádio Difusora fluminense.

Altamiro com foto - ano 2 numero 18 agosto de 1949 Revista do Radio

Tempos depois é contratado para o casting da Rádio Guanabara e tem sua contratação laureada pela Revista do Rádio de 18 de agosto de 1949, com uma boa foto de Altamiro com sua foto e a seguinte nota: “Altamiro Carrilho é uma das caras novas de grande valor no “broadcasting” carioca. Tendo se iniciado há tempos na antiga Rádio Club Fluminense, flautista de grandes méritos, grangeou a simpatia e a admiração de numerosos escutas. Quando a D-8 encerrou suas programações de estúdio, Altamiro transferiu-se para o sem-fio guanabarino. Com a remodelação da Guanabara, foi convidado a integrar o quadro da veterana C-8. O autor de “Maria Teresa”, tem dado provas sobejas do seu valor, sendo por isso, convidado a fazer diversas gravações; “Flauteando na Chacrinha”, “Travessuras do Sérgio”, “Atraente”, e muitas outras”.

Equipe da Rádio Guanabara - Revista do Radio

A substituição de Benedicto Lacerda em seu regional

Outra notícia importante sobre a trajetória de Altamiro Carrilho, e esta com uma foto de grande valor histórico e pouco ou nada divulgada, é a sua entrada como flautista no Regional de Canhoto, que até então chamava-se Regional de Benedicto Lacerda, e com o adoecimento de Benedicto, tornou-se Regional do Canhoto, sendo Altamiro Carrilho convidado a substituir seu ídolo, o maior flautista em atuação até então, Benedicto Lacerda. Este registro é importante e a foto ora publicada conta exatamente com os lendários componentes do Regional de Lacerda, acrescido de Altamiro Carrilho e sua flauta. Altamiro tinha então 26 anos de idade. Em publicação da Revista Fon Fon de 23 de junho de 1951 lemos acima da foto: “O famoso regional de Benedito Lacerda, que agora é o regional de Canhoto, está brilhando na Mayrink Veiga. No lugar de Lacerda, Altamiro Carrilho tem agradado em cheio no auditório da PRA-9. Esta é uma das boas atrações das “Noites brasileiras” da veterana emissora carioca. São os seguintes os componentes do regional, além de Altamiro Carrilho: violões – Jayme Florence e Horondino Silva; cavaquinho – Waldir Tramontano (canhoto); acordeon – Orlando Silveira; pandeiro – Gilson de Freitas”.

Revista Fon Fon 23 de junho de 1951 - nota com foto da substituição de lacerda por Altamiro

Mais um degrau alcançado: Altamiro lança seu maxixe ‘Rio Antigo’

Altamiro, depois de estudar com o carteiro Joaquim Fernandes, com o mérito de ser campeão do programa de Ary Barroso, tocar no Regional de Rogério Guimarães e ser contratado pela Rádio difusora fluminense e posteriormente pela rádio Guanabara, chega ao ápice esperado para um flautista popular em termos musicais e profissionais. Ao ocupar o posto deixado por Benedicto Lacerda, Altamiro vaticina sua entrada definitiva no panteão dos grandes da música popular. E Altamiro Carrilho tinha apenas 26 anos de idade naqueles anos 1950 que se iniciavam. O jovem flautista iria ainda experimentar a ascensão vertiginosa do sucesso com seu maxixe ‘Rio Antigo’, que compôs e gravou em 1955, vendendo 960.000 cópias em apenas 6 meses.

É o momento de lançamento do seu maxixe “Rio Antigo” que destacamos com a publicação da nota na coluna “No mundo dos discos” assinada por Aluizio Rocha, no Jornal Diário de Notícias de 15 de maio de 1954:

“Altamiro Carrilho – “Rio Antigo” e “Saudade de Pádua” – Copacabana 5.203.

A bandinha de Altamiro Carrilho, com sua instrumentação característica, nos transporta num “flash-back” musical, bem adequado ao Rio do bom tempo de Nazareth e Chiquinha Gonzaga, aquele Rio que ainda não era a cidade maravilhosa, mas que era a alegre cidade que metamorfoseava e se sentia feliz e cheia de esperanças de um futuro mais risonho, mais farto e mais seguro…

A valsa da face oposta, nostálgica e melodiosa, poderia ter no título o nome qualquer outra cidade do interior, onde aos domingos as euterpes e as liras de ouro fazem ouvir as composições dos mestres locais.

Dois bons números no gênero“.  

rio antigo detalhe coluna aluizio rocha

 

rio antigo detalhe na íntegra 2

Fontes:

Revista do Rádio 1948 a 1970

Lançada em abril de 1948, no Rio de Janeiro, pelo jornalista Anselmo Domingos, não por acaso quando a ascensão do rádio no Brasil dava origem ao que ficou conhecido como “Era do Rádio”, a Revista do Rádio, que por 22 anos (1948-1970) circulou em praticamente todo o território nacional, logo se tornou uma das mais célebres protagonistas desse rico momento de nascimento da cultura de massas em nosso país.

O discreto editorial de apresentação da nova publicação parecia prever o destino do periódico, ainda que não manifestasse essa pretensão: “Uma revista nova é sempre uma incógnita. (…) Programa não apresentamos. Ele está encerrado no próprio nome da revista. Estaremos cumprindo um programa se cumprirmos com o título.”

Revista Fon-Fon foi uma revista brasileira surgida no Rio de Janeiro em 1907. Seu nome era uma onomatopéia do barulho produzido pela buzina dos automóveis.

Tendo como um de seus idealizadores o célebre escritor e crítico de arte Gonzaga Duque, tinha no enfoque dado a ilustração uma de suas principais características. Um grande exemplo dessa premissa foi a colaboração do pintor Di Cavalcanti em 1914.1 A revista, inclusive, tornou célebres ilustradores como Nair de Tefé, J. Carlos, Raul Pederneiras e K. Lixto. Tratava principalmente dos costumes e notícias do cotidiano e foi publicada até agosto de 1958.

Diário de Notícias 1870 a 1872

Local: Rio de Janeiro, RJ

Houve pelo menos três jornais com o título Diário de Notícias no Rio de Janeiro: o de A. Clímaco dos Reis, que começou a circular em 1870; o Diário de Notícias republicano, no qual escreveram Rui Barbosa, Lopes Trovão, Medeiros e Albuquerque, Aristides Lobo e outros notáveis da literatura e política nacionais, e o Diário de Notícias fundado em 1930 por Orlando Ribeiro Dantas e que circulou até meados da década de 1970. Este verbete trata do primeiro deles.

Lançado em 2 de agosto de 1870, uma terça-feira, com tiragem de 6 mil exemplares, era um diário de quatro páginas, vendido ao peço popular de 40 réis e assinatura mensal 1$000 réis. Cobrava 80 réis a linha para anúncios e publicações literárias e 100 réis para a publicação de outras matérias de interesse particular. Era impresso em tipografia situada na rua Gonçalves Dias, 60.

Embora surgisse num momento em que se iniciava a campanha republicana, com a criação, em 1870, do Partido Republicano do Rio de Janeiro e o lançamento do jornal A República – cujo primeiro número publicou o Manifesto Republicano que iria guiar, dali em diante, a bem-sucedida luta antimonárquica –, o jornal se auto definia por sua “índole inofensiva”, o que significava, nas palavras do seu redator, “sua indiferença absoluta ao movimento dos partidos que se gladiam”. A apresentação revela, além de intenções e expectativas de seu proprietário, algumas das dificuldades, na época, para se fazer um jornal:

“Surge hoje o primeiro número do Diário de Notícias, tão anciosamente esperado pelo publico que acolheu da forma a mais lisongeira o programma que fizemos distribuir. (…)

Ninguém ignora quanto são dispendiosas as emprezas desta ordem, e que ellas sem a proteção valiosa do publico não podem progredir na sua marcha civilisadora, por isso esperamos que tendo todos […] attenção a índole inofensiva do Diário, a sua indiferença absoluta ao movimento dos partidos que se gladiam, o receberão com aquella benignidade que caracterizsa um povo essencialmente laborioso e honrado.(…)

Já foi publicado o nosso programma, mas cumpre-nos reproduzil-o como lei fundamental que temos de seguir e respeitar.

O Diário de Noticias, extranho completamente a facções, não deixará de dar conta de todos os movimentos da política, da governação e do estado; publicará todas as occorrencias do mundo, descrevendo com exactidão e minuciosidade todos os successos da corte e os do vasto império do Brasil.; não enserira em suas columnas artigos offensivos a dignidade e honra de qualquer, fazendo manter a maior sisudez nas correspondencias particulares e nos assumptos a pedido; publicara o movimento commercial, festividades religiosas e ephemerides, assim como diversos materiais sobre hygiene, instrucção e recreio; dará uma resenha de todos os espetáculos, apreciando o desempenho das diversas peças que se representarem; publicara romances em folhetins, assim como, chistosos folhetins typicos, locaes e phantasiosos. (…)”

O lançamento foi bem acolhido por O Mosquito, o jornal de Cândido Aragonês Faria, na edição de 7 de agosto de 1870, ao vaticinar que o jornal “tornar-se há (…) em breve (…) indispensável a todas as classes da sociedade, já pela extraordinária variedade das suas noticias, já pela barateza da assignatura.” E na edição seguinte, de 14 de agosto, quando, depois de observar que “Começa a tomar notável incremento entre nós a imprensa jornalística”, volta a anunciar a chegada do Diário de Notícias e de outra publicação, a Tribuna do Povo, de Emílio Zaluar, “jornal interessantíssimo e de grande utilidade para o povo, pela sua doutrina democrática, mais (sic) logo virá, outro e outro, e assim chegaremos ao desideratum a que é preciso que cheguemos; mas convém que a imprensa não se torne escrava de interesses sórdidos. Para se facilitar a leitura do povo é preciso não a por pelo preço d’água em occasião de secca.”

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Author: imprensabr

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