Leonor Bianchi
Natural de São Paulo, o percussionista Aluá Nascimento (37) desenvolve um trabalho com música brasileira e choro em Londres, que se tornou referência, desde 2006, quando ele foi morar lá. O ‘Choro in Roda’, criado por ele em 2012, reúne músicos de diversos países em apresentações que acontecem algumas vezes ao ano, num restaurante considerado o reduto dos brasileiros em Londres: o Tia Maria.
De família de músicos, é filho de Dinho Nascimento, também percussionista. Desde a infância Alua se relaciona com a música, sobretudo comm a percussão. Sua atuação o levou a atuar no famoso grupo de percussão ‘Stomp’.
Semana passada a Revista do Choro conversou com Alua Nascimento para saber como é a cena do choro em Londres e como ele tem atuado no sentido de difundir o gênero fora do Brasil, no Reino Unido. Leia a entrevista.
Revista do Choro: Como foi sua formação musical no Brasil? E fora do país?
Aluá Nascimento: Comecei tocando percussão com o meu pai, o percussionista Dinho Nascimento; ele foi meu grande mestre no universo da percussão.
Com oito anos eu fazia parte do bloco carnavalesco que existia no Morro do Querosene, comunidade em que eu nasci e me criei, eu tocava muito na rua e nas festas que aconteciam na comunidade.
Estudei percussão popular e vibrafone na Universidade Livre de Música (ULM) e percussão erudita na Escola Municipal de Música.
Fiz parte do Abaçaí (Balé Folclórico de São Paulo), do Baque-Bolado (Grupo de Música e Dança) e mais recentemente do Stomp, grupo internacional de percussão.
Podemos dizer que minha formação é bastante eclética.
Revista do Choro: Quais instrumentos você toca?
Aluá Nascimento: Eu toco diversos instrumentos de percussão. Para mim, qualquer coisa pode se transformar num instrumento. No Stomp eu tocava vassoura, pá de lixo, tampa de latão, isqueiro, bola de basquete, mangueira.
Dos instrumentos de percussão convencionais eu toco pandeiro, zabumba, vibrafone, xilofone, marimba, berimbau, entre outros.
Em um dos meus projetos chamado ‘Grand Cajon and Friends’, eu uso o meu corpo como instrumento de percussão.
Revista do Choro: Você faz o Choro in Roda desde 2012. Como nasceu o projeto? Você já estava aí ou saiu do Brasil justamente com o objetivo de fazer o projeto?
Aluá Nascimento: Eu moro em Londres desde 2006. Na época eu sentia falta de um lugar que tocasse música instrumental brasileira, daí me veio a ideia de criar o Choro in Roda. Levei a ideia para a Contemporânea e para o Tia Maria e eles acreditaram no projeto, e nossa parceria continua até hoje
Revista do Choro: Como você avalia a presença da música brasileira aí?
Aluá Nascimento: Eu sinto que a música brasileira no Reino Unido vive de fases; fases boas e ruins. Estamos vivendo um momento de transição; várias casas que oferecem música brasileira estão fechando e outras estão abrindo.
Revista do Choro: O que acontece por aí afora o projeto Choro in Roda que reúna essa gama de instrumentistas em torno do choro e da música instrumental brasileira? Há alguma roda permanente?
Aluá Nascimento: No momento não há nenhuma roda de choro permanente em Londres. Mas as pessoas se encontram para tocar choro e música instrumental brasileira. Toda semana rola uma roda na casa de alguém ou em algum pub (bar).
Revista do Choro: Existem oficinas de choro aí?
Aluá Nascimento: Sim, eu mesmo acabei de dar uma oficina de pandeiro. Deu tão certo, que vou passar a fazer regularmente. A maioria dos músicos que vêm a Londres acaba dando oficinas.
Revista do Choro: Quem são os professores?
Aluá Nascimento: Todos os músicos que fazem parte do ‘Choro in Roda’ são também professores.
Revista do Choro: E quem são os músicos interessados em conhecer a música brasileira e o nosso chorinho por aí?
Aluá Nascimento: A maioria dos músicos interessados em conhecer a música brasileira e o choro é de ingleses.
Revista do Choro: Existem grupos que se dedicam especificamente ao choro, no Reino Unido?
Aluá Nascimento: Tem um grupo chamado ‘Choro Alvorada’ que se dedica exclusivamente ao choro.
Revista do Choro: Quem são hoje os instrumentistas brasileiros que se destacam na cena musical daí?
Aluá Nascimento: Alguns instrumentistas brasileiros em destaque são: Adriano Adewale, Mario Bakuna, Luiz Morais e Giuliano Pereira.
Revista do Choro: Como você avalia esse intercâmbio entre músicos de diversas nacionalidades no projeto Choro in Roda?
Aluá Nascimento: Acho bom, é sinal que cada vez mais pessoas estão se interessando pelo choro.
Revista do Choro: E o Choro in Rio? O que foi esse projeto e quando ele aconteceu?
Aluá Nascimento: Em agosto aconteceu o ‘Rio in Dalston’, evento relacionado às Olimpíadas. O ‘Choro in Roda’ foi uma das atrações do evento, daí fizeram um trocadilho, ‘Choro in Roda’ no ‘Rio in Dalston’ ficou ‘Choro in Rio’.
Revista do Choro: Você vem com frequência ao Brasil para dar oficinas, gravar, para apresentações? Qual foi a última vez que esteve aqui?
Aluá Nascimento: Sim, todos os anos eu vou ao Brasil e fico pelo menos dois meses. Este ano, fui duas vezes ao Brasil. Fui em julho dar uma oficina de percussão corporal e outra de ‘parkourssion’, uma mistura de ‘parkour’ e percussão corporal. Estarei no Brasil novamente em Dezembro para mais oficinas, shows, palestras e encontros.