Artista gráfico cria telas do chorão numa técnica conhecida como risografia
Por Leonor Bianchi
Os anos passam e a figura do grande chorão Pixinguinha é cada vez mais reverenciada. Às vésperas dos 120 anos do seu nascimento, em 23 de abril, ou na nova data recém-descoberta para seu aniversário, o dia 4 de maio, Pixinguinha segue sendo uma das maiores referências da música popular brasileira dentro e fora do Brasil. Ao choro sua contribuição dispensa comentários; foi fundador, Pai, Mestre.
Alfredo da Rocha Viana Filho, o nosso menino Pizindim, foi tão genial em sua ‘performance vital’, seja na carreira ou em sua vida pessoal, que chegou a ser chamado de ‘São Pixinguinha’ pelo poetinha Vinícius de Moraes. Insígnia esta que lhe preserva o devido status de um ser divinal que de fato ele foi neste mundão de Nosso Senhor.
Esta semana, navegando numa rede social, conheci o trabalho do artista gráfico e ilustrador Yuri Reis, o qual me chamou muita atenção. Na hora quis pautar para a Revista do Choro. O que eu vi de tão lindo e diferente sobre Pixinguinha em seu trabalho? Sua face impressa numa nova técnica gráfica, e olha que isso me chamou atenção pelo monitor do notebook, eu não vi a impressão pessoalmente; o que é uma lástima, mas não pormenoriza em nada a beleza e originalidade da ‘tela’. Sim, Yuri faz telas de Pixinguinha impressas numa técnica chamada Risografia, hoje ainda pouco difundida Brasil, mas já bastante utilizada por designers europeus.
Numa conversa agradável pela internet – afinal eu fui atrás da pauta -, descobri que Yuri não é ‘só’ um ilustrador, um desenhista de muito bom gosto musical, mas também um chorão nato! Cavaquinista e violonista carioca, criado do ambiente da música, Yuri (27) é apaixonado por choro e obviamente mais um seguidor de São Pixinguinha. Escolheu a imagem do maestro para inspirar seu trabalho e há algum tempo vem utilizando técnicas gráficas diferentes, e mais recentemente a risografia, para criar telas do compositor de ‘Rosa’ e ‘Carinhoso’.
Em nosso bate-papo ele contou um pouco sobre sua relação com o choro…
“Eu tive a oportunidade de conhecer a várias pessoas importantes no processo de aprendizado do cavaquinho e do seu papel no conjunto, como Julinho Leite (do antigo conjunto do Déo Rian), que foi meu primeiro professor de cavaquinho. Orgulho-me muito disso.
Aprendi muito com a Luciana (já na EPM) e com o Caçula, que é um músico de choro cheio de linguagem. Isso em se tratando de acompanhamento de cavaquinho, mas aprendi a falar/ tocar a língua dessa música com muita gente; músicos de vários instrumentos, mais velhos e contemporâneos meus.
Hoje não frequento nenhuma roda específica; quando posso me reúno com amigos em nossas casas e tocamos a nossa maneira. Quando tenho oportunidade de viajar, gravar ou me apresentar com choro ou o samba, sempre tenho a felicidade de fazê-lo ao lado dos músicos amigos que admiro e penso parecido no aspecto musical”, disse Yuri, que seguiu falando sobre como chegou ao resultado das telas de Pixinguinha que ilustram esta matéria feitas em risografia, e por fim explicou melhor o que vem a ser essa técnica.
“A risografia é um técnica de impressão em camadas. Semelhante, no processo, à serigrafia. Foi projetada inicialmente para fazer um grande número de cópias e por isso imprime em alta velocidade. Cada cor é impressa de uma vez, e como a tinta não é opaca, ela permite a criação de outras cores através de sobreposições. É uma técnica que trabalha com um número reduzido de cores, só as que o produtor tem disponível, como se fossem cores especiais.
Esse tipo de impressão produz uma malha gráfica reticulada bem bonita que confere ao trabalho um aspecto peculiar. Essa retícula é um modo de representar as várias porcentagens da cor, desde 90% até 10%. Quando a cor está em 100% não há a retícula.
Fora isso, cada impressão é única e particular, pois em cada exemplar o registro corre de maneira diferente, deslocando de modo impressivo as linhas e manchas de cores. O que inicialmente seria um problema de impressão é visto com beleza, como linguagem. É como um trastejo em um violão de aço, de choro (risos). A risografia é um processo especial e muito difundido na Europa.
Por isso, o Pixinguinha está aí representado. Na verdade, essa impressão em ‘riso’ do Pixinguinha é o final de uma série de desdobramentos. Já tem uns bons anos que venho trabalhando imagens do Pixinguinha com diferentes técnicas e tamanhos; trabalhos com grafite, carvão e pastel seco e até digital. Quando descobri a ‘riso’, transformei esse trabalho digital para poder “dar saída” ao mesmo de uma maneira mais gráfica e que me permitisse uma reprodutibilidade boa para que as pessoas tivessem mais acesso a ele.
Agora no dia 23, postarei na minha fan Page um desenho de 2014, se não me engano, que já compartilhei antes na internet quando ainda nem tinha a página profissional. É um retrato do Pixinguinha em carvão e pastel seco. Se você vir o trabalho enxergará a ligação com esse último. Você poderá vê-lo aqui nesse link.
A reprodução dele é mais complexa porque tem um tamanho incomum, mede 1m por 0,7m não podendo assim ser escaneado e reproduzido com tanta facilidade. Isso também me animou a reproduzir o outro trabalho com a técnica da risografia.
No Brasil existem estúdios especializados em risografia, mas não vejo isso como uma coisa muito difundida. Vi muito esse processo de impressão no trabalho de ilustradores portugueses e me interessei em fazer aqui. Mas não sei se há uma grande referência artística que utilize essa técnica é mais um processo mesmo.