Leonor Bianchi
Fiquei surpresa ao receber esta resposta do biógrafo de Benedicto Lacerda ao lhe perguntar sobre o paradeiro de suas flautas, incluindo a de prata que ele ganhou no concurso do jornal A Noite com a música ‘Estou de mal São João’. Não sabia que havia tanto mistério envolvendo o assunto. Mas olha a resposta que ele me antecipou…
“Sua pergunta sobre as flautas de Benedicto me dará a oportunidade de esclarecer de forma definitiva a verdadeira história sobre esse assunto.
Não toquei neste assunto no meu livro por ser um assunto delicado e quis deixar esquecido, porém neste momento, não posso deixar de responder a sua indagação vide a relevância do assunto e da revista. Só peço a vc 24hs para te contar tudo em detalhes.
Abs,
Sidney”
Quanto suspense!
Tentei inúmeras vezes falar com a família de Altamiro Carilho para esclarecer a fala do biógrafo de Benedicto Lacerda, mas não tive retorno. Agora compartilho com você, assinante da Revista do Choro, a resposta que recebi de Sidney Castello Branco:
Revista do Choro: Benedicto Lacerda ganhou alguma outra flauta além da que ganhou no prêmio do jornal A Noite com a música Estou de mal com São João?
Sidney Castello Branco: Sim, em concurso no mesmo jornal, no ano de 1938, ganhou outra flauta com a música ‘Sob um céu de anil’, portanto, duas flautas, uma em 1936 e outra em 1938.
Revista do Choro: E essas flautad que ele ganhou nesses concursos do A Noite, existem ainda, onde estão?
Sidney Castello Branco: Não sabemos, não há registro histórico sobre as marcas dessas flautas.
Revista do Choro: Onde estão as flautas de Benedicto?
Sidney Castello Branco: Ao longo de sua vida, Benedicto teve algumas flautas e flautins, porém, as mais importantes e significativas passam por duas histórias que a seguir relato:
Flauta MILLEREAU – Fábrica francesa fundada em torno dos anos de 1830 – Benedicto emprestou esta flauta para o Bide (Alcebíades Moreira Costa), porque a dele era muito ruim, por volta dos anos de 1956/ 1957, com a seguinte condição: se o BIDE morresse primeiro que ele, a família então devolveria a flauta para Benedicto, porém, se Benedicto morresse primeiro, ele ficaria com a flauta. Em 1958, Benedicto morreu e o Bide ficou com a flauta até o ano de 1962, quando no sábado de Carnaval, pegou um táxi com amigos músicos e ia para o bairro de Ramos, resolveu saltar antes de chegar no local e pediu para os músicos levarem a flauta. Ocorre que os músicos esqueceram a flauta no táxi e esta nunca mais apareceu, apesar de pedidos publicados nos jornais da época. A flauta de Benedicto era a única existente no Brasil, naquela ocasião, muito cara e toda de prata.
Flauta BARLASSINA BILLORO – Italiana – Logo após a morte de Benedicto, seu ex-aluno (Benedicto deu muitas aulas a ele, sem nada cobrar, pois não tinha condições de pagar) começou a fazer contato com a viúva de Benedicto, Ondina Lacerda, para comprar a flauta de Benedicto, pois o mesmo para ele era um ídolo. A viúva sempre recusava, porém, a insistência era intensa do ex-aluno e em 1972/ 73 a viúva resolveu doar a flauta para o Museu da Imagem e do Som (RJ), que havia sido inaugurado em 1966, pois havia recebido pedido da direção do Museu sobre essa possibilidade.
Então, no programa noturno de televisão da extinta TV Tupy, canal 6 (Rio de Janeiro), chamado ” Clube dos Artistas”, apresentado pelo casal Lolita e Aírton Rodrigues (o qual minha mulher e eu assistimos), a sra. Ondina Lacerda entregou a flauta de Benedicto, que tinha seu nome gravado, para o seu maior fã, que havia se tornado um grande flautista, com a finalidade do mesmo usar um pouco e depois entregar ao MIS; o que seria feito por ambos em uma forma também de retribuir a admiração que o fã e grande flautista tinha por Benedicto. Tentei obter este videotape, porém, o mesmo não existe mais. Isso aconteceu entre 1972 e 73.
O tempo foi passando e flauta não foi entregue ao MIS, conforme o combinado. Nesse período de tempo a viúva de Benedicto teve um acidente vascular cerebral (AVC) que a deixou totalmente dependente de cuidados até o final de sua vida.
No início de 2012 fiz contato com membros da família de Altamiro Carrilho, com a finalidade de recuperar a flauta para o novo MIS, porém, não mais estava na posse de nenhum membro. Tentei falar com próprio Altamiro, porém, ele disse, através de recado, que ficava muito emocionado ao falar de Benedicto e que não tinha condições de saúde para conversar. Respeitei o momento e fiz contato com o empresário dele, e fui informado pelo sr. Sérgio Pargano que o Altamiro gostava de comprar e vender flautas e que não sabia nada sobre o assunto ‘flauta de Benedicto’. Tentei outros contatos, porém, não tive êxito.
Desta forma, infelizmente, não temos nenhuma flauta de Benedicto.
Aproveito este momento para pedir a Revista do Choro, se possível, para fazer um apelo, a quem souber do paradeiro das flautas de Benedicto Lacerda, que dê uma pista ou qualquer informação. Uma delas têm o nome de Benedicto Lacerda gravado. É um instrumento de extrema importância, pois faz parte da história do CHORO, do Samba e das marchinhas carnavalescas, e gostaríamos que ela fosse para Museu da Imagem e do Som (MIS), instituição correta para ela estar e ser vista por todos.
Somente a flauta Biloro estava com o nome de Benedicto Lacerda gravado, a anterior, possivelmente não havia gravação do seu nome tendo em vista que quando da publicação em jornal do apelo público para devolverem a flauta, não fizeram menção a qualquer gravação e sim somente a marca.