Leonor Bianchi
Há muito gostaria de dar mais espaço na revista aos lançamentos fonográficos, à história da indústria fonográfica brasileira, à produção musical no Brasil, à história dos estúdios, desde sua chegada ao Brasil, nos anos de 1910, até os dias de hoje, e, finalmente tratar dos compositores, dos intérpretes, e das músicas que fizeram e ou gravaram, interpretaram.
Com farto material em mãos, creio que o momento propício seja este, e inauguro, então, uma nova série de artigos especiais feitos com exclusividade para a Revista do Choro a qual darei o nome de ‘Referências do Choro’. O título não é meu; é inspirado em um projeto de catalogação de repertório de choro realizado pela equipe da Casa do Choro, há uns 10 anos, e do qual participou Rúben Pereira, colaborador da Revista do Choro. Nessa catalogação, foram compilados pelo menos dois cds com vasto repertório chorístico dos primeiros tempos do choro no Rio de Janeiro. Os discos têm o nome de Referências do Choro.
O disco 1 apresenta 18 faixas (54 min.), mas sem indicar seus compositores. Este é um trabalho de pesquisa para os novos estudantes de choro, e de memória para quem conhece de cor esse repertório. Para a produção dos artigos, fica interessante mesmo não dizermos logo ‘de cara’ os nomes dos compositores dessas peças. Isso pode aguçar a curiosidade dos leitores mais atentos para a leitura do próximo artigo sobre a música 2, Treme-Treme.
As 18 músicas do disco Referências do Choro N.1, são:
1 – Serpentina (Nelson Alves)
2 – Treme-treme
3 – Seu Lourenço no Vinho
4 – Juriti
5 – Urubu Malandro
6 – Gadu Namorando
7 – Carne Assada
8 – Guará
9 – Helena
10 – Não tem nome
11 – Sonhos de Nair
12 – Massada
13 – Carinhoso
14 – Clube XV
15 – Em que época
16 – Pintinhos no terreiro
17 – Remexendo
18 – Conversa de Botequim
Serpentina – de Nelson Alves
A cada semana vamos falar de uma música deste disco e de seu compositor. Hoje, abrimos com o choro de Nelson Alves, Serpentina.
Nelson Alves tocou cavaquinho e foi um compositor inspirado e de sucesso, sendo gravado até por outros músicos, como por Benedicto Lacerda, que registrou seu choro Mistura e Manda, em 1930. Compôs valsas, choros, schottschis e polcas durante as primeiras décadas do século XX. Nasceu (1895) e morreu (1960) no berço do samba, o Rio de Janeiro (RJ). Seu choro Serpentina integra o repertório de mais 15 músicas compostas por ele.
Um dos primeiros chorões a gravar em estúdio
Nos anos de 1910 participou de inúmeras gravações para a Casa Edison. Neste tempo, ele fazia o papel do cavaquinista acompanhador. Papel este que seriam referência na formação dos grupos instrumentais daquela época e que até hoje despeja sobre a estética sonora do choro uma característica peculiar da música popular brasileira. Foi um dos primeiros chorões a gravar em estúdio.
Com Pixinguinha fundou o conjunto Os Oito Batutas
Amigo de grandes sambistas e chorões de seu tempo, conheceu Pixinguinha e com ele fundou, em 1919, Os Oito Batutas.
Tocou com Chiquinha Gonzaga
Integrou o Grupo Carioca, com Arthur de Souza Nascimento, o Tute, também violonista dos Oito Batutas. Tocou com Chiquinha Gonzaga em seu grupo e no Grupo da Guarda Velha, organizado por Pixinguinha. Revelou-se exímio solista de cavaquinho gravando choros de sua autoria para a Victor e a Brunswick em 1929 e 1930.
Encontramos na internet poucas interpretações da música Serpentina, de Nelson Alves, mas as que encontramos fazem jus à ‘Escola de Choro Brasileira’.
Destaco abaixo a interpretação dos chorões do Tempero Cearense (Ceará); logo depois, a perfeição na execução da flauta pelo músico do conjunto Época de Ouro, Antônio Rocha. A seguir, as meninas do Choro das Três apresentam sua interpretação para a música de Nelson Alves e, por fim, o instrumentista Alexandre Ribeiro mostra sua interpretação à composição do cavaquinista Nelson Alves colocando sua clarineta para soar.