Pensadores do Choro: A magia de Amilar Brenha e o encontro com o bandolim


No domingo 24 de janeiro de 2016, a Revista do Choro começou a publicar o livro Pensadores do Choro na íntegra para seus assinantes. A cada domingo um novo capítulo vem sendo publicado desde então. Após publicarmos o artigo Tudo Culpa do Choro, do autor Sergio Aires, contemplado pelo prêmio literário promovido pela Revista do Choro e e-ditora] (www.portaldaeditora.com.br), em 2014, estamos publicando o texto de Vanessa Trópico vencedor do edital: O choro marajoara de Adamor do Bandolim e um breve relato da história do choro no Pará. Leia hoje o terceiro capítulo do texto de Vanessa Trópico. 

Boa leitura!

A magia de Amilar Brenha e o encontro com o bandolim

Amilar Arthur Brenha era um músico maranhense da região de Pinheiro, que estava desempregado no período em que passou um circo-teatro em sua cidade, chamado Íbis, o primeiro circo a se instalar em Macapá, de propriedade do Sr. Careca. Ele ingressou na companhia circense e fez uma temporada em Macapá, em 1958. Adamor foi para estreia do circo com o consentimento de seu pai, onde, então, ouviu Amilar tocar o sucesso Diana, de Carlos Gonzaga, em solo no bandolim.

Amilar Brenha e Fernando Canto, em 1984.

Amilar Brenha e Fernando Canto, em 1984.

“- Eu nunca tinha visto alguém tocar bandolim na minha vida, só em gravação, mas assim ao vivo, não… Ele me deslumbrou”, contou nosso Mestre do Choro, falando sobre o impacto de ver o instrumento pela primeira vez aos dezesseis anos de idade.

Adamor já tocava cavaquinho, mas não tinha experiência alguma com o bandolim. Quando decidiu se especializar no instrumento, tentava copiar o instrumentista maranhense, contudo, as cordas do cavaco não ajudavam, pois apenas trocar a afinação do cavaco para a do bandolim não resolvia. Um dia, aproximou-se de Amilar, comentou sobre sua dificuldade e dele recebeu a orientação de colocar em seu cavaco cordas de bandolim.

Adamor diz nunca ter ido à casa do instrumentista para receber uma aula sequer, diz que nunca lhe pediu um acorde. Suas aulas eram suas infindáveis idas, todas as noites, ao circo, para apenas observar o mago do bandolim tocando.

 Para tanto, perdia aulas na escola para colher capim para os elefantes e pedir bananas na feira para os macacos. Desta forma, fez amizade com o palhaço, que o deixava entrar no circo sem pagar ingresso.

A admiração de nosso compositor por Amilar alcançava tão alta proporção que, para ele, assisti-lo ao vivo era como se estivesse com o próprio Pixinguinha a sua frente.

O circo foi embora e o bandolinista Amilar Brenha já era muito conhecido nas festas da cidade, tocando no Regional E-2, da rádio difusora e nos grupos de choro ‘Os Piriricas’ e ‘Café com leite’.

Amilar recebeu uma proposta de emprego do governo, a qual não pode aceitar porque não tinha o nível de escolaridade requerido. Devido a isto, ocupou a vaga de vigilante das Centrais Elétricas do Amapá. Como não sabia assinar seu nome, em 1980, incentivado por amigos, obteve escolaridade de níveis fundamental e médio, tendo feito ainda muitos cursos livres na área de educação musical e folclore. Ministrou aulas de música na Escola Estadual D. Pedro I, em Mazagão, Amapá, as quais eram supervisionadas pelo antigo Conservatório Amapaense de Música, hoje Escola de Música Walkiria Lima.

No ano de 1986, o governo do Amapá, sob o comando de Nova Costa, patrocinou um vinil de doze músicas intitulado ‘O show mágico de Amilar Brenha’. No disco estão as músicas Piririca no Choro, Laquimé, Sargento Penha, Complete o Tempo, Capitão Boca Torta, Choro das Crianças, Choro Café com Leite, Lama na Cara, Mazagão no Choro, Choro de Lenha e Tião. O governo também contratou chorões de Belém para a gravação, mas Adamor não foi convidado. Na semana do lançamento do vinil, Amilar teve um acidente cardiovascular que lhe furtou o movimento do braço esquerdo.

Os organizadores do lançamento do vinil de Amilar voltaram à Casa do Gilson e perguntaram a Adamor qual o valor de seu cachê para se apresentar no show em Macapá. Nosso Mestre não aceitou cachê, apenas pediu a passagem dele e de dois músicos: Hélio (pandeiro) e Gilson (cavaquinho). Tiveram quatro dias para aprender todo o repertório do show. Adamor Dispensou a hospedagem e pediu para mostrar uma composição sua, A magia de Amilar, composta para o grande mestre, amigo e espelho e ainda tocou uma música do próprio amigo Amilar que ele já não se recordava, o choro Misterioso. Participante do evento, Amilar, emocionado, aplaudia de forma singular o amigo que o homenageara, batendo a mão direita em seu peito. Amilar Arthur Brenha faleceu em 20 de abril de 1991, em Macapá.

Fonte da foto de Amilar Brenha: http://www.alcinea.com/

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Author: imprensabr