Os discos (de choro) que Pelão produziu na Marcus Pereira


Leonor Bianchi

Dos 142 LPs lançados pela gravadora Discos Marcus Pereira, 19 foram dedicados exclusivamente ao choro e destes, três foram produzidos por João Carlos Botezelli, nosso querido amigo Pelão, que nos deixou no último dia 1 de setembro, mas deixou também um legado grandioso para música popular brasileira.

Sua participação como produtor artístico na gravadora independente do publicitário Marcus Pereira, ao lado do diretor artístico da mesma, o pernambucano Aluízio Falcão, aconteceu em 1973, e ele já chegou mostrando serviço; conseguiu convencer Marcus Pereira a gravar o primeiro disco de Angenor de Oliveira, o sambista da Mangueira, Cartola que só conseguiu colocar seu primeiro disco na praça quando tinha 62 anos. O LP intitulado do Cartola foi lançado em 1974.

Botezelli foi indicado por Théo de Barros ao diretor artístico da gravadora Aluízio Falcão para produzir a série de quatro LPs da Coleção Música Popular Centro-Oeste e Sudeste onde Pelão colocou as vozes de Nara Leão, Ivone Lara, Clementina de Jesus e Renato Teixeira. Pelão participou também das gravações de materiais sonoros para a coleção Música Popular do Nordeste feito pela gravadora.

Pela Marcus Pereira, Pelão foi responsável por produzir e lançar o primeiro LP com uma foto de Donga, Ernesto os Santos, na capa. O sambista e chorão, compositor do primeiro samba registrado no Brasil – Pelo telefone -, ao lado de Mário de Almeida, ainda não havia gravado um disco seu até os 84 anos. O LP ‘A música de Donga’, lançado em 1974 não chegaria a ser ouvido por Donga, que faleceu pouco antes do seu lançamento. O disco trouxe vozes de Almirante e de Elizeth Cardoso.

É sempre bom lembrar, que o LP espetacular de Cartola produzido por Pelão na Marcus Pereira não deixa de ser um disco de choro também, uma que vez que os músicos que o acompanharam na gravação eram integrantes do Regional de Canhoto! Eram eles: Horondino Silva, o Dino, 7 Cordas, ao violão de 7 cordas, Meira, no violão de seis Canhoto, no cavaquinho, Raul de Barros, no trombone Copinha, na flauta, e no ritmo, Marçal, Luna, Gilberto e Jorginho Silva.

Ainda na Marcus Pereira Pelão produziu o LP ‘Brasil Trombone’, da série ‘Brasil, Choro’. O disco teve ninguém menos que Raul de Barros, compositor do famoso choro ‘Na Glória’ como estrela. O texto do encarte do LP foi escrito pelo crítico e jornalista musical Lúcio Rangel a convite do próprio Pelão. Da mesma série ele também produziu o LP ‘Brasil e Seresta’.

Em 1974 depois de ter feito tudo isso que você já leu, ter lançado Cartola, produzido o único disco de Donga em toda a sua vida, ter atuado na equipe que fez a captação dos áudios da coleção Música Popular do Nordeste, ter gravado Raul de Barros, Pelão também produziu a coleção ‘História das Escolas de Samba’, seu último trabalho na Marcus Pereira.

Relação com os músicos que gravou na Marcus Pereira

Pelão sempre contava sua relação com os músicos com quem trabalhou e a experiência de Raul de Barros para ele também foi especial. Dizia ele que Raul reclamava de tudo no estúdio, inclusive e, sobretudo, de um microfone barato, que caía o tempo todo deslizando no pedestal, esbarrando sempre no seu trombone. Com relação a Cartola, ele sempre teve a sensibilidade de dizer que o sanbista era genial e conseguiu ir do início ao fim no set de gravação sem precisar interromper para nada. A única dica que ele deu para o Cartola foi que ele tirasse a dentadura para cantar as músicas; e assim foi feito… e assim nós contamos com Cartola até hoje ‘O sol nascerá’ com ‘Alegria’…

Não participou do Ciclo de Conversas A Gravadora Discos Marcus Pereira e o Mapa Musical do Brasil, mas visitou todas as galerias da exposição Boudoir da Editora

Eu tive a oportunidade de conhecer pelão quando produzi, no ano passado, o Ciclo de Conversas A Gravadora Discos Marcus Pereira e o Mapa Musical do Brasil. Escalei o produtor para a primeira mesa do ciclo, que teria (e teve) a participação do diretor artístico da gravadora no seu primeiro momento de vida, Aluízio Falcão, e do jornalista André Picolotto, autor do livro Discos Marcus Pereira: uma história musical do Brasil, que publiquei pela Editora Flor Amorosa, em 2019. A mesa aconteceria num sábado de manhã, e na sexta-feira eu liguei para o Pelão para confirmar sua presença, e, sim, ele confirmou. Mas no dia seguinte não conseguiu aparecer na Live. Assistiu a mesa pelo YouTube e começou a me telefonar durante a Live. Eu só consegui falar com ele depois. Ficamos próximos, trocamos mensagens pelo Messenger e vez ou outra nos falávamos pelo WhatsApp.

Ciclo mp

Pelão foi um querido amigo, tornou-se assinante da Revista do Choro e me surpreendeu comprando ingressos para visitar todas as galerias da exposição Boudoir da Editora, que eu lancei em dezembro de 2020.

Nunca o entrevistei nem nunca estive com ele pessoalmente, mas deixo um convite para vocês lerem o livro do André Picolotto, pois ele esteve pessoalmente com José Carlos Botezelli, em sua casa, em São Paulo, e o entrevistou. Foi uma entrevista longa sobre a produção do LP de Cartola que Pelão produziu para a Marcus Pereira. O livro não está disponível, pois sua tiragem está esgotada, mas caso deseje adquirir, faça uma reserva comigo mandando um e-mail para editora floramorosa@gmail.com.

Mpandre

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Author: imprensabr