O Xote de Yara, de Anacleto de Medeiros: aspectos históricos, estruturais e performáticos


Por David Pereira de Souza

Anacleto de Medeiros (1866-1907) foi uma das figuras mais significativas da música brasileira. Com seu apurado talento e intensa devoção à cultura musical, transformou a rispidez sonora das bandas de música com a beleza de suas melodias, o requinte de suas harmonias e a aguçada sensibilidade de orquestrador. Sua principal contribuição está ligada à participação efetiva no processo de fixação das danças europeias como a valsa, a polca, a schottisch e a quadrilha, entre outras, à linguagem das rodas de choro, gêneros que vão assumindo, gradativamente, uma forma particular de escrita e execução, como marca indelével da criatividade dos compositores chorões. Atuou efetivamente na criação e na organização de várias bandas de música, entre as quais podemos destacar: a Banda da Sociedade Recreio Musical Paquetaense, a Banda da Fábrica de Tecidos Bangu e a Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro.1 Anacleto frequentava, também, o grupo do Cavaquinho de Ouro, na Rua da Carioca, 40, onde se reuniam os famosos músicos do choro carioca das duas primeiras décadas do século XX, como Luís de Souza, Quincas Laranjeiras, Juca Kalut, Mário Cavaquinho e Villa-Lobos, apenas para mencionar alguns.

 

Anacleto de Medeiros. Museu da Imagem e do Som - MIS

Anacleto de Medeiros. Museu da Imagem e do Som – MIS

 

Como compositor, foi um dos mais expressivos de nossa música brasileira, não propriamente pela quantidade, que chega a um total aproximado de cem títulos,3 mas, principalmente, pela beleza e simplicidade que suas composições
transmitem, demonstrando criatividade e domínio quanto ao manuseio dos diversos elementos da linguagem musical, tanto “popular” (fluindo os requebros rítmicos, o plano modulatório característico da música urbana, a estrutura típica
de cada gênero instrumental cultivado em sua época, etc.) quanto “erudita” (fazendo sobressair, com seu talento e sensibilidade de exímio orquestrador, um equilíbrio sonoro muito particular em suas peças), a ponto de afirmar seu talento no quadro musical do Rio de Janeiro.

Em 1896, Anacleto de Medeiros, então famoso regente de bandas de música, informação corroborada por dados jornalísticos,4 foi convidado pelo comandante interino do Corpo de Bombeiros, tenente-coronel Eugênio Jardim, para dirigir a banda dessa corporação, cuja estreia, a 15 de novembro de 1896, se deu sob a regência de Anacleto de Medeiros. À frente da Banda dos Bombeiros, Anacleto chegou a gravar alguns dos discos pioneiros produzidos no Brasil, quando da instalação da Casa Edison, na Rua do Ouvidor, 107, pelo tcheco Fred Figner, tão logo começaram a se espalhar os primeiros fonógrafos e gramofones por todo o Rio de Janeiro. Segundo o pesquisador e especialista em áudio Humberto M. Franceschi, A relação das primeiras gravações encontradas no Catálogo para 1902 da Casa Edison é toda de discos com a Banda do Corpo de Bombeiros do maestro Anacleto de Medeiros.

Anacleto de Medeiros, ao centro de braços cruzados, e seus bombeiros músicos. Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. DINIZ, André. O Rio musical de Anacleto de Medeiros. RJ: Zahar, 2007. p. 59

Anacleto de Medeiros, ao centro de braços cruzados, e seus bombeiros músicos. Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. DINIZ, André. O Rio musical de Anacleto de Medeiros. RJ: Zahar, 2007. p. 59

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