Leonor Bianchi
São muitas as dúvidas que pairam sobre a obra de Pixinguinha, um dos mais inspirados compositores de choro da contemporaneidade. Seu acervo de partituras manuscritas guarda muitos mistérios ainda hoje, quarentena anos após sua morte.
Pesquisadores dedicados a estudar a vida e a obra de Alfredo da Rocha Viana Filho (1897 – 1973/ RJ, BR) perscrutam os caminhos dos 150 anos da história do choro a fim de buscar fontes mais precisas para conduzir os rumos das novas etapas de investigação sobre vasto repertório de composições do maestro e suas (possíveis) parcerias.
A música ‘Nelsinha’, um choro, é mais uma que deixa a todos que estudam Pixinguinha no escuro sobre a origem de sua verdadeira autoria.
O acervo de Pixinguinha está sob a guarda do Instituto Moreira Salles (SP/ BR), e lá existem dois manuscritos de Arnaldo Corrêa – copista que trabalhou muito ao lado de Pixinguinha e de diversos outros chorões daquele tempo -, nos quais ele dá a Pixinguinha a autoria da música. Contudo, vejam que estranho: o nome de Pixinguinha foi riscado e substituído pelo de Antônio Maria Passos, outro importante chorão e compositor amigo de Pixinguinha em outra partitura pelo próprio copista Arnaldo Corrêa!
No acervo de Jacob do Bandolim do MIS ‘Nelsinha’ tem manuscrito de Candinho do Trombone e outro de
A dúvida aumenta mais ainda quando descobrimos que no acervo de Jacob do Bandolim resguardado pelo Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS-RJ) existem outras duas partituras deste choro: a primeira tem como copista ninguém menos do que Candinho do Trombone (Cândido Pereira da Silva), um dos músicos mais importantes da geração anterior a Pixinguinha, chorão, além de exímio trombonista também tocava violão; fez carreira musical na rotina das sociedades musicais e das bandas do Rio de Janeiro, e foi um dos maiores contribuidores para o que conhecemos da música de banda e do repertório de choro e correlato ao choro daquele tempo uma vez que foi copista de inúmeros chorões. No final de sua vida, Candinho, bastante doente doou todo o seu acervo com mais de 500 partituras e outros documentos para o bandolinista Jacob do Bandolim, por isso essas partituras constam do acervo de Jacob do Bandolim no MIS. Na partitura escrita por Candinho a música está creditada a Antônio Maria Passos, já no outro manuscrito, escrito pelo copista Manuel Pedro do Nascimento, os créditos da composição vão para Pixinguinha.
Com essa dubiedade de informações, que ainda conta com um fator extra para dar ainda mais mistério ao tema: a rasura do nome de Pixinguinha e substituição deste pelo de Antônio Maria Passos numa das partituras do Acervo Pixinguinha, do IMS, escrita pelo copista Arnaldo Corrêa, que também escreveu outra partitura dizendo que a música era de Pixinguinha, não podemos afirmar quem é o verdadeiro autor deste choro. Até hoje, 2022, ‘Nelsinha’ permanece sem edição e também nunca foi gravada.
Agora… uma pergunta que também não quer calar:
– Quem era a Nelsinha?
No slide a seguir apresento todas as partituras manuscritas do choro ‘Nelsinha’ resguardadas nos acervos Pixinguinha (IMS), Jacob do Bandolim (MIS), e outra pelo Instituto Casa do Choro.