O choro enquanto Patrimônio Cultural do Brasil


Você está participando deste debate? O que você sabe a respeito desta iniciativa?

Leonor Bianchi

Em 2016 li uma notícia em algum jornal que não me lembro mais agora, teria que pesquisar, dizendo que o choro ia virar patrimônio cultural brasileiro. Na época, entrei em contato com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) – tenho todos os e-mails aqui -, e ninguém sabia dizer da onde tinha surgido aquela informação e quem poderia me dar uma entrevista para falar mais a respeito. De fato essa é a única informação que a gente encontra na internet relativa a esse tema, publicada naquela época, não há mais nada, e o assunto ficou enterrado. Perguntei para algumas pessoas que trabalham com choro há muitos anos e ninguém sabia dizer nada a respeito. Na secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro muito menos… no Ministério da Cultura também… ninguém… Até que parei de pesquisar sobre o assunto e nunca mais voltei a essa pauta.

Recentemente, houve uma demanda da Casa do Choro, no Rio de Janeiro, e do Clube do Choro de Brasília para que um documento fosse construído em prol dessa demanda, ou seja, transformar o choro em patrimônio cultural brasileiro.

Neste sentido, uma comissão foi criada para realizar um fórum, e tomar como base o que for extraído desse fórum para redigir um documento que vai virar um projeto de lei para transformar o choro em patrimônio cultural brasileiro.

A ’empresa’, a pessoa jurídica que está organizando esse documento é a Associação de Amigos do Museu do Folclore Edson Carneiro, no Rio de Janeiro. Eu não sei exatamente como eles chegaram nesse papel, não sei se foi através de alguma licitação, como aconteceu a escolha, mas provavelmente foi um processo via edital público, embora eu acredite que esse edital foi pro-forma, o que aconteceu alí foi realmente indicação de um determinado grupo para que essa associação assumisse a responsabilidade de formatar esse documento. Por que não foi criada uma comissão com pessoas do ambiente do choro, profissionais que atuam neste segmento, para elaborar esse documento, e deixaram esse material na mão da Associação de Amigos do Museu do folclore? Não tem nada a ver isso aí! Tá tudo errado! Esse é o primeiro ponto. Eu não sinto que o choro possa ser legitimado por um organismo que representa o folclore brasileiro. Acho péssimo que seja o pessoal do folclore tentando legitimar um documento como esse no ambiente do choro, pois o choro não é música folclórica, o choro é cultura popular, mas não é folclore. Então, isso aí também tá ‘meio totalmente’ enviesado ao meu ver… no meu olhar… O seu provavelmente é outro…

Tendo em vista o Dia Nacional do Choro, celebrado ontem, e toda a mobilização que essa associação tem feito através de várias lives convidando profissionais do segmento de choro, músicos, produtores, pesquisadores… -, a mim não convidaram… Inclusive estão me excluindo do debate…. Estranho, né? A editora da única revista sobre choro que existe no mundo não foi convidada para participar desse debate… kkkk comédia!, Daí a gente já vai vendo que a coisa não é séria. Eu não digo isso em nível pessoal, até porque eu não quero ser convidada para rodinha nenhuma, não tenho nem tempo, sou uma trabalhadora braçal da cultura, mas ‘fica um pouco totalmente’ sem sentido ELA (a Associação) não convidar o único órgão de imprensa que existe representando esse gênero musical para sentar à mesa e participar desse debate. Ou será que eu estou enganada, você pensa de outra forma? Você acha que é realmente a imprensa não tem que participar ainda mais a única revista que existe sobre choro aí mesmo que era motivo dessa revista ficar de fora desse debate… É assim que você ver?) -,  com o intuito de construir, elaborar esse documento eu convidei essa equipe do Museu do Folclore para dar uma entrevista para a Revista do Choro comentando a construção desse documento e o fato de o choro finalmente se tornar patrimônio cultural brasileiro. Mas tal foi minha surpresa quando do retorno da Associação dizendo que eles não tinham tempo para responder a entrevista.

Ops! Cuma? Não tem tempo para dar uma entrevista para a única revista de choro que existe no mundo falando sobre um tema preemente e que está no auge do seu debate? Estranhíssimo… Mas, mais do que estranho, absurdo e inadmissível.

Ouça o podcast e saiba o que aconteceu durante minha comunicação com a Asociação de Amigos do Museu do Folclore que está produzindo esse documento, e veja o quão frágil é essa estrutura.

Eu não legitimo esse documento organizado por essa Associação de Folclore. O choro não é folclore, é música popular, mas não é folclore; esse é o primeiro ponto… já começou tudo errado.

E não falar à imprensa? Não falar à única revista de choro que existe no mundo sobre a construção de um projeto que vai transformar o choro patrimônio cultural brasileiro? Não tá muito dissonante isso daí? Vocês acham isso natural e normal?

história e inventário do choro

Clique aqui e saiba mais sobre a reedição deste clássico de Ary Vasconcelos

Ouça o podcast 

 

A foto que ilustra o podcast integra o acervo ‘Pixinguinha’, resguardado pelo Instituto Moreira Salles.

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Author: imprensabr