Por Leonor Bianchi
21 de agosto de 1895. Segunda noite de apresentação da revista burlesca ‘Zizinha Maxixe’ no Teatro Éden Lavradio, no Rio de Janeiro. Expectativa e apreensão. O vaudeville adaptado por autor anônimo que estava para entrar em cena estava prestes a apresentar músicas da compositora Francisca Gonzaga. Os jornais haviam dado notas aumentando a expectativa para aquela noite. Em um dos hebdomadários da semana lemos: “Hoje, Quarta-feira, 21 de agosto de 1895. Grande e surpreendente novidade teatral! Representação da opereta burlesca de costumes nacionais, imitada do francês por…, música original da popular maestrina Francisca Gonzaga! ZIZINHA MAXIXE!”
Plateia a postos, músicos em seus lugares, atores e dançarinos prontos e começou a tão esperada ‘Zizinha Maxixe’. Assim que começou a peça a platéia sentiu-se incomodada. O que estava acontecendo? As coisas parecem que não foram ensaiadas. A correria para estrear a peça, os músicos arregimentados na última hora e o amadorismo geral tinha feito com que o vaudeville subisse ao palco sem nenhum ensaio e o preço disso estava sendo cobrado ali, perante a plateia. As músicas eram inegavelmente boas, mas estavam sendo tocadas flagrantemente sem ensaio. Ao que foi dito, a noite anterior de estreia não havia sido muito diferente. Ao fim de um dos atos surge a Zizinha dançando seu maxixe ao som de uma música que destacava-se das outras, a protagonista arrebentou em seu solo e arrebatou a platéia com os passos do corta-jaca, e, pela primeira vez na noite a platéia foi ao delírio e aplaudiu entusiasticamente o número. Ao findar a apresentação, o que todos comentavam era o momento do ‘corta-jaca’ e exclamavam uns aos outros: “Que música mais gostosa!”, “Foi o refrigério da noite!”, “A Chiquinha sabe o que faz!”. Naquela noite o ‘tango amaxixado’, ‘Gaúcho’, já passou a ser chamado de ‘Corta-jaca’.
A opereta burlesca não durou muito, foi apresentada apenas mais uma noite e findou sua temporada com apenas três entradas em cena. Mas foi o suficiente para deixar na lembrança de todos o momento do corta-jaca. A letra de Machado Careca faz diversas referências ao passo de maxixe chamado corta-jaca e isso foi fundamental para que os ouvintes apelidassem a música de ‘corta-jaca’. A letra unida ao passo da dança em cena foi a gota d’água para a música ser renomeada.
A peça Zizinha Maxixe tinha em seu casting o ator cômico Machado Careca, que foi quem letrou a música e foi importante na popularização da mesma.
Letra de Machado Careca apresentada em Zizinha Maxixe, em 1895.
Letra de Machado Careca para o Corta-Jaca
Neste mundo de misérias
Quem impera é quem é mais folgazão
É quem sabe cortar a jaca nos requebros
De suprema, perfeição, perfeição.
É quem sabe cortar a jaca nos requebros
De suprema, perfeição.
Ai, ai, como é bom dançar, ai!
Corta-jaca assim, assim, assim Mexe com o pé!
Ai, ai, tem feitiço tem, ai!
Corta meu benzinho assim, assim!
Esta dança é buliçosa
Tão dengosa que todos querem dançar
Não há ricas baronesas nem marquesas
Que não saibam requebrar, requebrar
Não há ricas baronesas nem marquesas
Que não saibam requebrar
Este passo tem feitiço
Tal ouriço faz qualquer homem coió
Não há velho carrancudo nem sisudo
Que não caia em trololó, trololó
Não há velho carrancudo nem sisudo
Que não caia em trololó
Quem me vê assim alegre
No Flamengo por certo se há de render
Não resiste com certeza, com certeza
este jeito de mexer, de mexer
Não resiste com certeza, com certeza
este jeito de mexer!
Um flamengo tão gostoso
Tão ruidoso vale bem meia-pataca
Dizem todos que na ponta está na ponta
Nossa dança corta-jaca, corta-jaca!
Dizem todos que na ponta está na ponta
Nossa dança corta-jaca!
A segunda apresentação “oficial” do Corta-Jaca
Passaram-se 9 anos desde a estréia nos palcos cariocas do tango ‘Gaúcho’, que foi desde sempre chamado por todos de Corta-Jaca. A música de Chiquinha desceu do palco do Éden Lavradio em 1895 e caiu no gosto do povo animando muitos maxixes no subúrbio carioca.
Na noite de 1904 o Gaúcho da Chiquinha entrava em cena mais uma vez na peça de costumes, ‘Cá e Lá’, após a estréia em 1895 e a edição para piano e relativo sucesso, deste dia em diante o Gaúcho de Chiquinha, ou corta-jaca, como já havia sido batizado pelo ´povo, ia entrar de uma vez por todas para o hall das composições imortais no repertório do Choro. Foram semanas e semanas em cartaz com enorme sucesso elevando o termo ‘corta-jaca’ a verdadeira febre em todos os assuntos. Era roupa corta-jaca, comida corta-jaca, boneco para recortar e dançar corta-jaca… tudo era corta-jaca.
A peça ‘Cá e Lá” foi um estrondoso sucesso e carimbou de vez a composição de Chiquinha Gonzaga.
Letra para Corta Jaca apresentada na revista “Cá e lá” em 1904.
Letra de Tito Martins e Bandeira de Gouvêa
A jaca sou mui leitosa e gostosa
Que dá gosto de talhar…
Sou a jaca saborosa que amorosa
Faca está a reclamar para cortar!
Sou a jaca saborosa que amorosa
Faca está a reclamar!
Ai! Que bom cortar a jaca,
Ai! Meu bem ataca assim,
Assim toca a cortar!..
Ai! Que bom cortar a jaca
Sim meu bem ataca, sem descansar!…
Ai! Que bom cortar a jaca
Ai! Meu bem ataca assim
Assim toca a cortar!…
Ai! Que bom cortar a jaca
Sim meu bem ataca assim, assim!…
O nome original e o rebatismo da composição de Chiquinha Gonzaga
A composição de Chiquinha Gonzaga foi batizada pela autora de Gaúcho. Assim ela foi tocada e apresentada na peça Zizinha Maxixe em 1895. Porém, o passo de dança que a protagonista da peça utilizou para representar a música foi o passo do maxixe chamado corta-jaca e isto causou tal impressão, como já explicitado em nosso texto, que a música passou a ser chamada de corta-jaca desde aquela apresentação. A peça Zizinha Maxixe ficou em cartaz apenas três dias e foi o suficiente para a música cair na boca, mais precisamente no assobio do povo. Em 1904, Chiquinha inseriu o tango-maxixe Gaúcho na peça Cá e lá e desde então a consagração popular aconteceu tornando o Gaúcho ou Corta-Jaca num retumbante sucesso.
Hoje encontramos a música chamada das duas maneiras e o título Corta-Jaca já está estabelecido, de maneira que muita gente não conhece a música por este nome.
Corta-jaca é um dos passos da dança do maxixe
O corta-jaca é um dos passos do maxixe. É mais uma das danças populares recreativas que a população lançava mão em saraus, bailes, festas de santo e até em capoeiras, para se divertir e socializar.
Consiste em juntar os pés sem flexionar os joelhos e passar os pés para lá e para cá como se fossem duas navalhas a cortar a jaca. Tusso isto, marcando o ritmo no sapateado.
Algumas descrições do passo corta-jaca no maxixe:
O corta-jaca é uma dança individual, ginástica e solta, de origem discutida. Para alguns procede da Espanha, enquanto outros a consideram criação brasileira.
Caracteriza-se pela movimentação dos pés, sempre muito juntos e quase sem flexão das pernas. Os pés movimentam-se da mesma forma que uma navalha, passando continuadamente sobre um assentador de barbeiro, como no corte da jaca.
Dão a impressão de deslizar, embora se consiga ouvir bem o sapateado, que marca a melodia simultaneamente com o ponteio das violas.
É rápida e difícil, com andamento de alegretto, exigindo perícia e esforço do dançador. O movimento dos braços no corta-jaca não tem nenhuma função específica, além de manter o equilíbrio; é uma dança toda calcada no movimento dos pés.
É ou era dançada na Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. Também chamado corta-a-jaca, é um dos passos do samba existente na Bahia.
Segundo o Dicionário Aurélio, é um dos passos tradicionais do samba-de-roda, em que o dançarino torce e movimenta o pé como se estivesse cortando a jaca: “— Isto é o tatu, isto é a saramba, isto é o quimbete, isto é a tirana, …. isto é… o corta-jaca, o fandango, o sarrabalho?” (Martins Fontes, A Dança, p. 90). Na gíria de Pernambuco e Alagoas, corta-jaca significa indivíduo bajulador.
Corta-jaca também é o apelido do famoso tango “Gaúcho” (na verdade um maxixe bem sacudido) de autoria da maestrina Chiquinha Gonzaga, que escandalizou o então honorável senador Rui Barbosa pela sua “lascividade”.
“Corta-Jaca” ou “Dança do Corta-Jaca”, como está classificado em uma de suas edições, é na verdade um maxixe bem sacudido, característica que muito contribuiu para o seu êxito. A fim de ser cantado em Cá e Lá, ganhou letra de Tito Martins e Bandeira de Gouveia, autores da peça (“Ai! Ai! Que bom cortar a jaca / Ai! Sim, meu bem ataca, sem descansar…”).
Gravações importantes
Conhecido desde 1895, quando foi lançado na opereta-burlesca “Zizinha Maxixe”, o tango “Corta-Jaca”, cujo título original é “Gaúcho”, teve a popularidade redobrada nove anos depois, ao reaparecer na revista Cá e Lá. Comprovam o sucesso as sete gravações que recebeu entre 1905 e 1912 e sua apresentação, em 26.10.1914, numa recepção oficial no Palácio do Catete, então sede do Governo Federal. Na ocasião, foi interpretado pela primeira dama, Sra. Nair de Teffé, fato explorado como escândalo pela oposição. As gravações iniciais da música foram as seguintes:
Pepa Delgado e Mário Pinheiro – Lançado em 1906 Gravação em dueto de vozes e com a letra de Machado Careca.
Os Geraldos – Lançado em 1906 Gravação em dueto. Letra de Machado Careca
Banda do Corpo de Bombeiros soba regência de Albertino Pimentel – Lançado em 1909 Gravação instrumental
Grupo Chiquinha Gonzaga – Lançado em 1910 Gravação instrumental
Medina de Sousa e Olímpio Nogueira – Lançado em data imprecisa pela Victor n.o 99.713
Grupo dos Sustenidos – Gravação instrumental em data imprecisa
Banda do Batalhão de Caçadores – Gravação instrumental em data imprecisa
Pepa Delgado e Mário Pinheiro
Mário Pinheiro – CORTA JACA – Chiquinha Gonzaga-Machado Careca.
Gravação de 1905.
Maria Teresa Madeira e Marcus VIANNA
Corta Jaca hoje em dia – Gutavo Roriz viola contrabaixo berimbau e bateria
Clube do Choro de Brasília
Gravação antiga Grupo Chiquinha Gonzaga do flautista Antonio Mario Passos com data imprecisa
O corta-jaca na obra de Chiquinha Gonzaga
A Obra de Chiquinha Gonzaga consiste hoje de 214 composições conhecidas, com 77 peças musicadas. O Gaúcho, ou Corta-jaca é uma composição de 1895 e hoje está entre suas criações mais populares rivalizando em gravações com Lua Branca, Ó Abre Alas e Atraente.
- A avezinha (c/ Mário Monteiro)
- A baiana dos pastéis
- A bela jardineira, valsa
- A bota do diabo (c/ Avelino de Andrade)
- A brasileira (c/ José Sena)
- A Corte na roça (c/ Francisco Sodré)
- A desfilada dos mortos (c/ Paulo Araújo)
- A fiandeira (c/ Maria Cunha)
- A filha da noite
- A guitarra (c/ Raul Pederneiras)
- A Jandira (c/ Ruben Gil e Alfredo Breda)
- A Juriti (c/ Viriato Correia)
- À Memória do General Osório
- A mulatinha (c/ Patrocínio Filho)
- A noite
- A noiva
- À Nossa Senhora das Dores
- A peroba (c/ Antônio Quintiliano)
- A redentora
- A República
- A sertaneja (c/ Viriato Correia)
- A sorte grande (c/ A. Armando)
- Ada
- Agnus Dei
- Água do Vintém
- Aguará
- Aguará (Graça Vermelha)
- Ai, morena
- Ai, que broma! (c/ Ernesto Matoso)
- Alegre-se, viúva
- Alerta!
- Amapá
- Amarguras (c/ Paulo Araújo)
- Amendoim
- Amor (c/ João de Deus Falcão)
- Angá (c/ Antoinette)
- Angá-catu-rama
- Angelitude (c/ C. Gonzaga Filho)
- Animatógrafo
- Anita
- Aracê (O dia sai)
- Araribóia
- Arcádia
- Ari (Filha do céu)
- As pombas (c/ Raimundo Correia)
- As três garças (c/ Luís Galhardo)
- As tricanas de Coimbra
- Atraente
- Aurora
- Ave-Maria
- Balada
- Barcarola
- Beijos (c/ Luís Murat e Alfredo de Sousa)
- Beijos do céu (Um sonho) (c/ Raimundo Correia)
- Bela Rosa (c/ Cardoso Júnior)
- Bella fanciulla Io t’amo
- Bijou
- Bionne
- Borboleta
- Brasileira
- Burro de Carga
- Cá e lá, tango
- Cá por cousas (c/ Oscar Pederneiras)
- Camila
- Cananéia
- Canção brasileira (c/ Carlos Galhardo)
- Canção de Lauro (c/ Viriato Correia)
- Candomblé (c/ Augusto de Castro)
- Caobimpará (Mar azul)
- Caramuru
- Carijó
- Carioca
- Cariri
- Carlindo
- Carlos Gomes
- Carmencita
- Carnavalesco (c/ Luís Peixoto e C. Cordeiro)
- Carta a Zizinha (c/ Filinto Almeida)
- Casa de caboclo (c/ Luís Peixoto)
- Catita
- Ceci
- Coco velho
- Colégio de senhoritas (Os pombos) (c/ Paulo Araújo)
- Compensação (c/ Orlando Teixeira)
- Conspiradores
- Cora (c/ Furtado Coelho)
- Corcundinha (c/ Viriato Correia)
- Corta-jaca
- Cuautemoc (c/ Avelino de Andrade)
- Cubanita
- Dama de ouros
- Dança brasileira
- Dança das fadas
- Dança nº 1
- Dança nº 2
- Day-break
- Democrático
- Desalento
- Desejos, com Esculápio
- Deus de fogo
- Diabinho
- Diálogo
- Diário de Notícias
- Djanira
- Doce fado
- Dona Adelaide (c/ Patrocínio Filho)
- Duas horas (Oh mon étoile)
- Dueto de amor
- Duquesne
- É enorme
- Eis a sedutora
- Elvira (c/ Bruno Nunes)
- Em guarda
- Escandanhas/Mulata (c/ Luís Peixoto e Carlos Bittencourt)
- Espanha e Brasil (c/ Patrocínio Filho)
- Estrela d’Alva (c/ Mário Monteiro)
- Eu já volto
- Eu te adoro
- Eu te amo
- Evoé
- Faceira
- Faceira, escuta
- Fado de Coimbra
- Falena
- Fani
- Fantasia
- Feijoada do Brasil
- Fênix
- Feno de Atkinsons
- Festa de São João
- Fogo-foguinho (c/ Viriato Correia)
- Foi um sonho (c/ Ernesto de Sousa)
- Forrobodó (c/ Luís Peixoto e Carlos Bittencourt)
- Gaúcho (Corta-jaca)
- Genéia (c/ Paulo Araújo)
- General Osório
- Gondoleira
- Gonza (Manobras do amor) (c/ Osório Duque Estrada)
- Grata esperança
- Gruta das flores
- Guaianases
- Guasca
- Há alguma novidade? (c/ Moreira Sampaio)
- Habanera
- Harmonia das esferas
- Harmonias do coração
- Heloísa
- Heróica
- Hip
- Iaiá fazendo etc. e tal (c/ Almeida Júnior)
- Iara
- Invocação
- Ismênia
- Itararé
- Jagunço
- Janiquinha
- Júlia
- Juraci
- L’Ange du Seigneur
- La violette
- Laurita
- Leontina
- Lídia (c/ Batista Cardoso Júnior)
- Linda morena
- Lua branca
- Machuca (c/ Patrocínio Filho)
- Manhãs de amor
- Marcha do cordão
- Meditação
- Meia-noite
- Menina faceira
- Minha pátria
- Minho em festa (c/ Cândido Costa)
- Morena (c/ Guerra Junqueiro)
- Morena, morena (c/ Ernesto de Sousa)
- Morgadinha
- Mulher-homem
- Musiciana
- Não insistas, rapariga
- Não morreu
- Não se impressione (c/ Luís Peixoto e Carlos Bittencourt)
- Não sonhes (c/ Lutegarda Caires)
- Não venhas (c/ Batista Coelho e Batista Cardoso Júnior)
- Noivado (c/ Lúcio de Mendonça)
- Nossa Senhora das Dores
- Nu e cru (c/ Antônio Quintiliano)
- Ó abre-alas
- O bandolim
- O beijo (c/ J. Brito)
- O Boulevard da Imprensa
- O coió (c/ Luís Ribeiro)
- O cozinheiro
- O esfolado (c/ Raul Pederneiras e Vicente Reis)
- O mar (c/ Holanda Cunha)
- O namoro (c/ Frederico Júnior )
- O padre Amaro
- O perdão (c/ Avelino Andrade)
- O que é – simpatia (c/ Casimiro de Abreu)
- O sertanejo (c/ Antônio Quintiliano)
- Oh! Não me iludas
- Olhos irresistíveis
- Ortruda
- Os mineiros
- Os namorados da lua
- Os oito batutas
- Os olhos dela
- Os passos no choro
- Os portugueses (c/ Batista Cardoso Júnior)
- Os talheres (c/ Antônio Quintiliano)
- Palaciana
- Para a cera do Santíssimo (c/ Artur Azevedo)
- Paraguaçu
- Pedrinho (c/ Batista Cardoso Júnior)
- Peho-Pequim
- Piu-dudo (Beija-flor)
- Plangente
- Platina
- Poesia e amor (c/ Casimiro de Abreu)
- Polca militar
- Por que choras (c/ Vítor Cunha)
- Prece à Virgem
- Prelúdio
- Primeira gavota
- Promessa (c/ Paulo Araújo)
- Psiquê
- Pudesse esta paixão (c/ Álvaro Colás)
- Radiante
- Redes ao mar (c/ Mário Monteiro)
- Robertinha
- Roda, ioiô (c/ Erneto de Sousa)
- Rosa
- Sabiá da mata
- Saci-pererê
- Sada
- Santa (c/ Alberto de Oliveira)
- São Paulo
- Satã
- Saudade
- SBAT
- Se o ferreta está de veneta
- Sedutor
- Sereia (c/ Aluísio de Azevedo)
- Serenata
- Serenata (c/ Aluísio de Azevedo)
- Si fuera verdad
- Só na flauta
- Só no choro
- Soberano
- Sonhando
- Sultana
- Suspiro
- Tambiquerê
- Tamoio
- Tango brasileiro
- Tango característico
- Tapuia
- Te amo
- Techi
- Teu sorriso
- Teus olhares (c/ Avelino Andrade)
- Tim-tim
- Timbira
- Toujours et encore
- Trigueira
- Tuniquins
- Tupã
- Tupi
- Tupiniquina
- Um fado
- Uma página triste
- Valquíria
- Vamos à missa
- Vida ou morte
- Vilancete (c/ Haddock Lobo)
- Vinde! Vinde!
- Viva la gracia
- Viva o carnaval
- Viver e folgar (Filha do Guedes)
- Vou dar um banho em minha sogra
- Xi!
- Yo te adoro!
1914: Nair de Teffé e o Corta-Jaca no Palácio do Catete
Na história da trajetória da composição de Chiquinha Gonzaga um capítulo importante é o que se refere a apresentação do Corta-jaca no palácio do catete em 1914 pela primeira dama Nair de Teffé. Considerada a redenção da músicas popular no Brasil, este acontecimento até hoje ecoa em nossa memória musical. No dia 26 de outubro de 1914 nos jardins do Palácio do Catete uma galante festa anunciava a despedida do Presidente da República Marechal Hermes da Fonseca. A primeira dama Nair de Tefé havia se esmerado e estava certa que fecharia com grande estilo sua passagem pelo Catete. No entanto, havia um detalhe na festa que a primeira dama fazia questão que fosse o ponto alto. Cansada de cerimônias oficiais onde a cultura brasileira não tinha espaço ela preparou uma surpresa que deu o que falar. Convocou o compositor Catulo da Paixão Cearense para acompanhá-la com seu violão na apresentação da música que ela considerava a mais brasileira, o maxixe “Corta-Jaca”, de Chiquinha Gonzaga. Juntavam-se na surpresa duas coisas explosivas para uma recepção diplomática: o violão, instrumento da malandragem, e o maxixe, ritmo popular considerado sensual.
A repercussão foi tanta, que o fato ganhou ares de escândalo nacional e fez com que Rui Barbosa registrasse no Diário do Congresso Nacional um violento pronunciamento:
– “Uma das folhas de ontem estampou em fac-símile o programa da recepção presidencial em que diante do corpo diplomático, da mais fina sociedade do Rio de Janeiro, aqueles que deviam dar ao país o exemplo das maneiras mais distintas e dos costumes mais reservados elevaram o Corta-Jaca à altura de uma instituição social. Mas o Corta-Jaca de que eu ouvira falar há muito tempo, que vem a ser ele, Sr. Presidente? A mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, a irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba. Mas nas recepções presidenciais o Corta-Jaca é executado com todas as honras da música de Wagner, e não se quer que a consciência deste país se revolte, que as nossas faces se enrubesçam e que a mocidade se ria?”
Esta atitude heróica de Nair de Teffé deixou uma marca especial no Corta-Jaca de Chiquinha Gonzaga, tonando a música já tão popular num hino da redenção da música popular no país e foi a entrada simbólica de nossa música genuína na vida social e política oficial do país.