Há exatamente 110 anos, em 1911, estreava nas gravadoras e nos palcos o nosso chorão imortal Pixinguinha, Alfredo da Rocha Vianna Júnior.
Sua estreia profissional foi fora dos palcos; nos estúdios fonográficos. Nesse ano trabalhou bastante! Estreou como flautista no rancho carnavalesco as Filhas da Jardineira, iniciou seu trabalho como músico da noite tocando na famosa choperia La Concha, na Lapa, Rio de Janeiro, e também fez sua primeira apresentação no teatro, substituindo o famoso flautista Antônio Maria Passos na revista Morreu o Neves!, de Raul Pederneiras e Luiz Peixoto.
O trecho a seguir, escrito pelo pesquisador Pedro Paulo Malta para o site pixinguinha.com.br, referente ao ano de 1911 na vida do músico, deixa clara a data da estreia do chorão naquele ano.
A estreia fonográfica como flautista do regional ‘Choro Carioca’
“Ano decisivo para Pixinguinha, que está com 13/14 anos quando faz sua estreia fonográfica como flautista do conjunto Choro Carioca, que, liderado por Irineu de Almeida, tem em sua formação dois irmãos de Pixinguinha atuando como violonistas: Léo e Otávio – o China. A primeira música gravada por eles é a polca Nhonhô em sarilho (Guilherme Cantalice), seguida de mais quatro composições de Irineu de Almeida: as polcas Nininha e Dainéia, o schottisch Salve e o tango São João debaixo d’água, todos gravados na Casa Faulhaber e lançados com o selo Favorite Record. Outra música gravada neste ano pelo Choro Carioca éa polca Isto não é vida, de autor desconhecido. Nas gravações, Pixinguinha toca numa flauta de prata italiana, da marca Barlassina & Billoro, que recebe neste ano de presente do pai, que paga 600 mil-réis pelo instrumento, importado com o número de série 2.424.” (Pedro Paulo Malta)
Início como flautista na orquestra do rancho carnavalesco Filhas das Jardineiras
O ano de 1911 registra também o início da atuação de Pixinguinha como flautista da orquestra do rancho carnavalesco Filhas das Jardineiras, que tem como diretor de harmonia Irineu de Almeida e, segundo o cronista Jota Efegê, em 1911 comemorava seu sexto ano de atividades – desde sua fundação, em 1905, na Rua Dr. Mesquita, localizada entre a Central do Brasil e a Praça Onze. Além de marcar o início da atividade profissional de Pixinguinha com a música de carnaval, sua participação neste rancho guarda um marco importante em sua vida pessoal, ainda segundo Jota Efegê: é aqui que conhece os parceiros inseparáveis Ernesto dos Santos (o Donga) e João Machado Guedes (o João da Bahiana). (Pedro Paulo Malta)
Estreia como músico da noite na casa de chope La Concha
Também em 1911, Pixinguinha tem sua primeira experiência profissional, na casa de chope La Concha (localizada na Lapa), como flautista do conjunto de Pádua Machado (pianista), que traz também em sua formação o trompetista Bonfiglio de Oliveira e o violonista Otavio Vianna (o China), irmão de Pixinguinha.
No livro Pixinguinha, vida e obra, o jornalista Sérgio Cabral informa que seu biografado se apresenta no La Concha “muitas vezes com o fardamento do Mosteiro de São Bento”, sua escola na época, quando mata aulas para trabalhar, ganhando ordenado de seis mil-réis por noite. Cabral informa também que, pouco depois, Pixinguinha vai trabalhar em outras casas noturnas como o ABC (na Rua Mem de Sá, na Lapa), o Cabaré Cassino (também na Lapa, mas na Rua dos Arcos) e o Ponto (na Praça Tiradentes). (Pedro Paulo Malta)
Estreia no teatro
O mesmo ano de 1911 registra ainda a primeira vez que Pixinguinha se apresenta em um teatro – principal mercado de trabalho para os músicos nas décadas iniciais do século 20. Este teatro é o Rio Branco (antigo Cinematógrafo Rio Branco, localizado na Rua Visconde do Rio Branco, no Centro), onde Pixinguinha toca no lugar do famoso flautista Antônio Maria Passos (que cai doente, precisando ser substituído às pressas) na revista Morreu o Neves!, de Raul Pederneiras e Luiz Peixoto. Quem indica o adolescente Pixinguinha é o violonista Arthur Nascimento (o Tute, que já o conhecia da choperia La Concha). Tute vai até a casa da família Vianna chamar o garoto, que naquele momento empinava pipa. “Respondi: ‘Não, não vou, não. Eu, hein?’. Naquele tempo, o Teatro Rio Branco tinha muito prestígio. Mas minhas irmãs ficaram em cima: ‘Vai! Vai!’. Não queria ir, mas elas insistiram: ‘Vai! Deixa de ser tolo!’. Acabei aceitando”, recorda Pixinguinha em seu depoimento ao MIS. “Tute me apresentou ao seu Auler, que estava na sala de espera. ‘Esse moço é que vai tocar no lugar do Antônio Maria’. Seu Auler admirou-se: ‘Mas ele não é moço, não é nada. É um fedelho!’”.
Pixinguinha acaba caindo nas graças do regente da orquestra, Paulino Sacramento, e do dono do Teatro Rio Branco, que o efetiva no emprego.” (Pedro Paulo Malta)