Ricardo Vieira e o projeto Sete Cordas e Flauta


Por Ricardo Vieira

            Queridos leitores da Revista do Choro. Comecei a estudar música por volta dos 12 anos de idade por influência direta do meu grande mestre Samuel Marques (1969-2015). O estímulo maior se deu quando, por repetidas vezes, o presenciei escrevendo peças e arranjos para orquestrações diversas fazendo uso apenas de papel e caneta. De fato, aquilo muito me impressionava e me atraía, e, a partir de então, começava uma longa temporada de aulas de estruturação musical, apreciação, leitura e percepção, com uma forma muito particular de ensino: as bases teóricas da estruturação musical foram apresentadas para mim como “ferramentas”e“estratégias”para o“fazer”musical, com ênfase no processo criativo. Isso mesmo, desde as primeiras aulas, os conteúdos teóricos eram apresentados como ferramentas que eu poderia lançar mão para compor, improvisar, arranjar, etc. Tudo que eu conseguia captar, aplicava ao violão. Minhas influências foram bastante variadas. Cresci ouvindo os discos de Waldir Azevedo, Jacob do Bandolim e Dilermando Reis que meu avô colocava aos finais de tarde, e o mestre Samuel Marques me apresentou de Bach a Piazzolla e John Coltrane. Ainda na adolescência tive o primeiro contato com o violão de sete cordas (V7C). Admirava as rodas de choro que se formavam na casa de João Argolo (1909-2009), até que um dia surgiu a oportunidade de integrar um grupo de Choro na Escola de Artes da prefeitura de Aracaju, localizada nas dependências do CAIC Costa Melo, em Aracaju-SE. Foram quase dois anos de muito chorinho em diversas apresentações pela capital e interior do Estado. Quando do termino do projeto, devolvi o V7C à instituição e iniciei os estudos de guitarra elétrica, que por aproximadamente oito anos foi meu instrumento de estudo e trabalho, sempre sob a orientação do mestre Samuel Marques. Foi nesse período que um novo universo de influências musicais passou a habitar meus ouvidos, sempre estimulado para a diversidade de estilos, tais como o virtuosismo dos mestres John Petrucci, Scott Henderson, Steve Vai e Joe Satriani; a não menos virtuosística, porém, requintadíssima linguagem de George Benson, Pat Metheney, Joe Pass e Pat Martino; e não esquecendo os brasileiros Mozart Mello, Frank Solari e Eduardo Ardanuy, Nelson Faria e Ricardo Silveira, dentre muitos outros.

ricardo vieira foto nova

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            De fato, não tive uma formação no âmbito do processo tradicional de ensino, mas sempre fui tomado por um enorme desejo e satisfação em estudar música de um modo geral, sempre com o foco voltado para a prática do processo criativo, tendo as ferramentas teóricas como embasamento, principalmente para poder experimentar, e por vezes, quebrar as regras.

            Concomitante aos estudos musicais, me graduei em Biologia e concluí um mestrado em Biologia Parasitaria com ênfase em Biologia Molecular sob a orientação do Prof. Dr. Roque Pacheco, ambos os cursos na Universidade Federal de Sergipe, entre 2006 e 2012. Quando surgiu a oportunidade do doutoramento na mesma área, vislumbrei ali a necessidade de escolher para qual rumo direcionaria minha vida profissional e resolvi optar por me dedicar exclusivamente à música.

            O álbum de partituras Sete Cordas e Flauta é resultado direto de um projeto de pesquisa e produção profissional realizado no período de 2012 a 2014, cuja proposta geral consistiu na composição de oito peças inéditas para V7C e Flauta. O projeto, intitulado Sete Cordas e Flauta, foi realizado no âmbito do Mestrado Profissional (MP) do Programa de Pós-Graduação Profissional em Música (PPGPROM) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) sob a maravilhosa orientação do Prof. Dr. Robson Barreto Matos e coordenação do Prof. Dr. Lucas Robatto.

            O estímulo maior para o meu interesse pela música instrumental brasileira para flauta e V7C surgiu do contexto profissional no qual estou inserido. Nos últimos anos, dentre outros trabalhos, tenho atuado profissionalmente como violonista do Duo Setevento, ao lado do flautista João Liberato, no qual, componho, arranjo a adapto peças para flauta e V7C. Outro aspecto relevante se refere ao fato de constatar, através de uma busca preliminar em fontes virtuais e bibliográficas retrospectiva a dez anos de publicações, a escassez de um repertório original para V7C e flauta. 

            Portanto, é com imensa honra e alegria que apresento um repertório original para uma das formações instrumentais possivelmente mais emblemáticas da música instrumental brasileira – o violão e a flauta, presente já nos alicerces da historia da música no Brasil,  e cuja linguagem evoluiu, se consolidou e se difundiu para o mundo. Ainda mais feliz por inserir o V7C nesse contexto, que, sem sombras de dúvidas, alberga uma linguagem viva, enraizada por Dino Sete Cordas e maravilhosamente representada por cada vez mais brasileiros nos dias atuais, tais como Yamandu Costa, Marcelo Gonçalves, Rogério Caetano, dentre outros.

 Do repertório do livro

             As peças contidas no livro Sete Cordas e Flauta são inéditas e autorais, compostas entre Fevereiro de 2013 e Maio de 2015. Todo o processo composicional aconteceu naturalmente ao longo de 18 meses. As peças surgiam a partir das mais diferentes formas e inspirações, tais como simples motivos,  sentimentos, ou até mesmo imagens e aromas. Algumas peças pareciam estar prontas em meu ouvido interno… a peça Seu Delinear praticamente foi transcrita em poucas horas a partir do que ouvia do meu interior. Optei pela concepção das ideias de um modo livre, sem preocupações técnicas a nível de princípios teóricos composicionais. Em todos os casos, a expressão daquilo que sentia e desejava expor constituiu a principal estratégia composicional.

            Quanto aos aspectos técnicos inerentes ao V7C e a Flauta, à medida que as peças foram concebidas, pesquisei por ferramentas idiomáticas que pudessem contribuir para o tema de cada peça, tal como o frulato em Valsinha pra Júlia e Seu Delinear, bem como o Bit Box em Mosaico, ambas técnicas estendidas de flauta. Quanto ao violão, rasgueados reversos em Mosaico, elementos percussivos sobre o corpo do  instrumento em Valsinha pra Júlia e harmônicos artificiais foram explorados para proporcionar um colorido ao repertório. Além disso, a notação musical de cada peça é dotada de uma série de detalhes como dinâmicas, acentuações e principalmente sugestões de digitações para mão esquerda ao V7C. Neste ponto, venho expressar o meu desejo, como compositor: que cada intérprete sinta-se livre para expressar-se através da execução deste repertório, não ficando restrito ou engessado nas sugestões contidas neste livro. Estas notações são os resultados do meu processo pessoal de interpretação das peças.  

            Vale ressaltar que este repertório vislumbra um duo em que ambos têm funções tanto contrapontísticas, quanto de acompanhamento, tal como a Flauta Baixo em Eçaúna de Mel que exerce função de delineamento harmônico. O V7C aqui é apresentado com uma função que vai além da tradicional baixaria presente nos choros, modinhas e sambas, e que de fato é idiomático ao instrumento. Ele exerce função solística claramente em Mosaico, Maturação e em Seu Delinear. De fato, este assume as baixarias com grande liberdade contrapontística e de improviso em Livre pra Chorar, Cabeça de Bacalhau e Na Veia.

            De um modo geral, o repertório apresenta um quadro dos gêneros musicais brasileiros, sobretudo o choro, mas com uma linguagem que funde os universos tradicional e contemporâneo. Isso pode ser verificado por uma simples apreciação dos aspectos harmônicos e contrapontísticos das peças, onde podem ser encontradas as tradicionais baixarias típicas e idiomáticas do V7C sobre harmonias quartais, por exemplo, em Maturação.

            Desejo imensamente que o álbum de partituras Sete Cordas e Flauta constitua fonte e ferramenta para todos que se interessem pela música instrumental brasileira, e sobretudo, como estímulo a formação de novos duos  de  V7C e Flauta. Jaú disponível para todos os interessados. visite www.ricardovieira.net e um grande Abraço!!!

 

RICARDO VIEIRA

DEPOIMENTOS SINGULARES

 

Salvador-BA, 16 de Janeiro de 2016

Prof. Dr. Lucas Robatto

Coord. do Programa de Pós-Graduação Profissional da UFBA (PPGPROM-UFBA)

“A presente coleção de obras para flauta e violão de sete cordas constitui um importante marco para o repertório de música instrumental brasileira. Um marco com uma dimensão de ineditismo, pois é a primeira publicação de coleção integralmente dedicada a esta formação instrumental, mas que também apresenta uma marcante dimensão de síntese, pois as obras aqui apresentadas conseguem concentrar na flauta e no violão de sete cordas relevantes características dos tradicionais regionais, talvez a formação mais idiomática da música instrumental brasileira, presente e essencial em gêneros tradicionais como o choro, as canções, a seresta, a modinha, as valsas brasileiras, entre tantos outros. Ricardo Vieira, através de suas composições, consegue com muita qualidade e propriedade direcionar sua visão musical simultaneamente para duas direções: por uma lado explora uma das mais importantes tradições da música brasileira, ao tempo em que, por outro lado, transcende-a ao apresentar novas trilhas, sonoridades e possibilidades, demostrando assim que esta tradição ainda é vital e contemporânea. É com muita alegria que vejo agora disponibilizado para todo público interessado o trabalho de Ricardo Vieira, que me impressionou muito quando o conheci, antes mesmo das músicas serem colocadas integralmente no papel. A escrita e a edição cuidadosa da presente edição permitirá que muitos mais músicos possam usufruir deste importante acréscimo ao repertório da música instrumental brasileira, e estou seguro de que este novo repertório vai também servir de grande estímulo para que grupos instrumentais com flauta e violão de sete cordas sejam criados, disseminando assim esta sonoridade tão marcante da música o Brasil”.

Salvador-BA, 04 de Dezembro de 2015

Prof. Dr. Wellington Gomes

EMUS-UFBA

“Inicialmente, o que chamou a minha atenção foi a qualidade da escrita sonora dessas peças, compostas de maneira equilibrada entre flauta e violão, bem como bem conduzidas numa linguagem de natureza instrumental clara e eficiente para os dois instrumentos. É notável também como este compositor desenvolve as suas estruturas formais de maneira bem definida, mesmo que em alguns momentos de algumas peças a fraseologia e periodicidade dos eventos musicais remetam a uma ideia de improvisação que, por sua vez, se encaixa de maneira coerente dentro da estética musical escolhida”.

 

Salvador-BA, 04 de Dezembro de 2015

Prof. Dr. Robson Barreto

EMUS-UFBA

“Considero que o trabalho de Ricardo Vieira traz uma contribuição bastante madura e embasada para o ambiente do choro. A começar pela valorização de dois instrumentos que sempre estiveram presentes na sua trajetória, a flauta e o violão de sete cordas. Cito também a importância da construção de um repertório para a formação de duo de flauta e violão de sete cordas, com composições próprias, já que não é comum encontrar repertório brasileiro originalmente escrito para essa formação. Destaco também a concepção madura e embasada na história, do violão de sete cordas, tanto pelo estilo fixado por Dino, quanto pela estrutura solística inserida por Rafael Rabelo. Como exemplo, cito a peça auna de Mel” que inclui logo na introdução um belíssimo solo do violão de sete cordas. Na peça Livre pra Chorar” o violão assume mais a função de acompanhador e retrata com maestria a riqueza melódica característica do choro. Destaco ainda a originalidade das composições, com aspectos próprios, cada uma situa-se num universo, um verdadeiro passeio pelos estilos musicais brasileiros. De forma geral, em todas as composições, vemos um violão que transita por várias fazes da história do choro ultrapassando em muito a função de simples acompanhador. Além dos trechos solísticos vemos a riqueza contrapontística, numa simbiose perfeita com a flauta, conferindo um trabalho de alto nível técnico e interpretativo”.

 

Onde encontrar o livro

Loja do site oficial: www.ricardovieira.net

Contatos Ricardo Vieira

TALENTOS E EVENTOS

Telefone: Ricardo Dantas (Produtor)

+55 11 2339.8695
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Email: ricardo@talentoseeventos.com.br

Site oficial: www.ricardovieira.net

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Author: imprensabr