JACOB DO BANDOLIM, EM 1955, NA REVISTA RADIOLÂNDIA: UM GALÃ-BURGUÊS NACIONALISTA


Leonor Bianchi

Em agosto de 1955 a revista carioca Radiolândia, uma das publicações mais populares no segmento de entretenimento e fofoca daquele tempo, deu destaque ao músico Jacob Pick Bittencourt, o Jacob do Bandolim.

 

 

Na matéria, que vocês podem ler aqui neste artigo, Jacob posa com uma arma, uma pistola, para a galeria de fotos que ilustra o conteúdo do periódico impresso, hoje digitalizado e disponível no site da Hemeroteca Digital Brasileira.

Ao mesmo tempo em que se gaba de ser caçador de animais na floresta (na verdade, sua casa em Jacarepaguá, região ainda pouco urbanizada na época em que ele morou lá), como se fosse um nobre francês da corte de Luis XV, o músico também aparece olhando a película de microfilme de uma partitura com o auxílio de um equipamento para leitura dessa mídia. Eram os microfilmes pertencentes ao acervo do pianista e chorão Ernesto Nazareth, que depois da sua morte ficou com Jacob.

NUNCA DEVEMOS – EM ÉPOCA ALGUMA -, NATURALIZAR IMAGENS COMO ESSA SENDO APRESENTADAS NA IMPRENSA, AINDA MAIS POR ARTISTAS. EMPUNHAR ARMAS, NEM QUE SEJAM DE BRINQUEDO. MUITO MENOS ESTAS, PODE SER NATURALIZADO NUMA PAGINA DE JORNAL. VALE LEMBRAR, QUE NÓS SOMOS USADOS PELOS EUA DESDE ESSA ÉPOCA PARA COMPRAR, ABSORVER E NATURALIZAR A CULTURA DO ARMAMENTO, AINDA QUE ARMAMENTO PARA ENTRETENMENTO. O BRASIL NUNCA NUTRIU A CULTURA DA ARMA! JACOB DO BANDOLIM MANDOU MUITO MAL MAIS UMA VEZ!

Leonor Bianchi

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“JACOB DO BANDOLIM TEM NA CABEÇA MAIS DE 2 MIL CHORINHOS, CENTENAS DE MÚSICAS DE ERNESTO NAZARETH E MILHARES DE COMPOSIÇÕES”

Não me impressiona que ainda hoje, 67 anos depois dessa matéria ter sido publicada, a exaltação à imagem de Jacob do Bandolim permaneça, e cada vez mais exacerbada; haja vista a cobertura que a imprensa deu ao lançamento da última biografia do músico, publicada em 2020, já observada por mim no vídeo abaixo.

 

 

Naquele tempo, quando a exaltação a sua imagem estava apenas começando, Jacob recebera do jornalista Miguel Cury o selo de ter uma memória infalível, assimiladora de DOIS MIL CHORINHOS! É tudo muito volumoso e grandioso quando se fala de Jacob do Bandolim. Impressionante!

 

 

Logo abaixo do título da matéria… uma foto de Jacob ao lado do compositor, arranjador, pianista Radamés Gnattali pretende endossar a narrativa que segue o jornalista, apresentando a face ‘Jacob pesquisador’, seu esmero em cuidar dos cadernos de partituras e microfilmes do pianista e chorão antecessor a várias gerações a sua, Ernesto Nazareth (Rio de Janeiro, 20 de março de 1863 – Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1934).

 

 

ACERVO ERNESTO NAZARETH – ACERVO JACOB DO BANDOLIM

Boa pergunta: e onde estão esses microfilmes hoje, sobreviveram ao tempo? Estão com o Instituto Jacob do Bandolim ou com o Museu de Imagem e do Som (RJ)? Até onde sei (minha fonte para afirmar isso é uma entrevista que assisti, feita pela Rede Globo, em 2002, com as pessoas que coordenam o Instituto Jacob do Bandolim) esses microfilmes estavam no MIS e muitos se deterioraram ao longo dos anos em função das péssimas condições de armazenamento nas quais foram deixados. Uma irresponsabilidade do Estado! Mas todos se acabaram com o tempo? Nada restou? E o que existe, onde está? Quando será digitalizado e disponibilizado ao público?

Enfim… não à toa estou aqui… Aprendi com o Jacob a querer resguardar a minha cultura, por isso tantas dúvidas ainda sobre onde estão, como estão, como deveriam estar as peças desse quebra-cabeças chamado acervo Jacob do Bandolim.

 

 

“Não tocarei – nem que seja programado -, música estrangeira. Meu bandolim é feito de madeira da terra”

Jacob do Bandolim

 

 

 

NA COLUNA SOCIAL

Para quem não sabe, Roberto Marinho, sim, o mesmo da emissora tentacular, Rede Globo, era o diretor da revista Radiolândia. A história que essa imprensa marrom conta e que veio desaguar no mesmo caderno de cultura do jornal O Globo editado hoje, em 2022, é a mesma há 70 anos. Só 70?

Em 1955, Jacob do Bandolim desfilava nas páginas da Radiolândia como mauricinho-play boy nos jardins do luxuoso hotel Quitandinha, em Petrópolis (RJ/ BR), com amigos do regional do Moreno, e a cantora Marion; de excêntrico caçador, em sua casa, uma enorme e privilegiada área verde na zona Oeste do Rio de Janeiro, onde ele podia desfrutar com privacidade e toda segurança de quem trabalhava para a Justiça e tinha armas guardadas em casa; de exímio músico e compositor, amigo de todos, querido por todos, nos palcos, nos estúdios, pelas gravadoras… de galã, no programa da rádio Mundial onde participou do programa ‘Onde os galãs se encontram”.

 

 

 

JACOB NACIONALISTA

Defensor da autêntica música brasileira, Jacob diz na matéria o que todos nós sabemos; que ele jamais tocaria música estrangeira, em nenhuma circunstância, demonstrando nesta fala um purismo que poucos músicos o fizeram de forma tão radical. Este traço de um nacionalismo muito pontuado foi o que permitiu com que ele acabasse sendo o agregador de um dos maiores acervos do choro que resistiu ao tempo e que sabemos existir nos dias atuais. Este foi um traço positivo – sem ser positivista -, do nacionalismo (às vezes racista e eugenista) de Jacob do Bandolim. Pena hoje não termos acesso ao material que ele passou a vida reunindo…

 

 

 

Fonte da pesquisa: Site da Hemeroteca Digital Brasileira.

 

 

 

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Author: imprensabr