Revista do Choro conversa com Johnny Rocha: violonista, estudante de Música da UFRJ que transcreveu e interpretou em vídeo o Choro Inédito de João Pernambuco


Leonor Bianchi

Há cerca de um mês, o IPB – Instituto Piano Brasileiro divulgou que encontrara no acervo de fitas-rolo da pianista Neusa França (compositora do Hino de Brasília), falecida em março deste ano, uma música inédita de João Pernambuco (1883 – 1947), feita em parceria com Alfredo Medeiros e interpretada por este num sarau na casa de Neusa, no Rio de Janeiro, em Ipanema, em 1958. O jovem violonista Johnny Rocha, estudante do curso de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ao saber da existência da música, transcreveu-a e gravou um vídeo interpretando-a. A iniciativa despertou atenção da editora da Revista do Choro, que entrevistou o instrumentista.

O violonista Jhonny Rocha.

O violonista Jhonny Rocha.

Leonor Bianchi/ Revista do Choro: Qual a sua idade?

Johnny Rocha: Tenho 23 anos.

Revista do Choro: Como sua relação com a música começou?

Johnny Rocha: Lembro-me de brincar, estudar, conversar ao som de Rádio/ CD ligado em casa, o dia inteiro. O despertar real para a música/ violão aconteceu aos 13 anos, do nada! Meu Pai me ensinou os primeiros acordes, ritmos, dedilhados, enfim. Cheguei e disse: – Pai, me ensina a tocar violão? Ele riu e prontamente largou tudo, e foi anotando umas posições. A partir dai foi muito natural. Passava o dia com o violão descobrindo novos “sons”, aprendendo e inventando moda. Era tanto, que minha mãe dizia: – Chega né? Já fez muito barulho hoje! Aos poucos o ‘barulho’ foi virando música e sem perceber eu estava participando de pequenos grupos na escola na igreja, festivais; acompanhava o coral de alunos no ensino fundamental onde eu estudava…

Revista do Choro: E quais foram suas influências musicais? Como o choro entrou no seu repertório de estudos?

Johnny Rocha: No início, o que me atraia era o blues, o rock. Também ficava repetindo a faixa da Nocturne op. 9 No. 2 (Chopin) até tirar toda a melodia e harmonia. Depois, através da escola, do meu pai, de pesquisas, tive contato com o choro, a bossa-nova e o jazz. Nessa época descobri compositores fundamentais até hoje: Pixinguinha, Villa-Lobos, Tom Jobim e Baden Powel. Ao ouvir o Baden, decidi que era aquele o caminho. Tinha uns 15 anos, aproximadamente.

Revista do Choro: Você foi o violonista desta geração, que ao escutar a peça inédita de João Pernambuco em parceria com Alfredo Medeiros, interessou-se na mesma hora em transcrevê-la e interpretá-la. Como foi o seu aprendizado musical?

Johnny Rocha: Depois das aulas com meu pai, fui buscando conhecimentos teóricos por mim mesmo, como se diz; de forma autodidata. Um primo meu, Filipe, na época, também estudava violão e eu “roubava” tudo dele! E fui seguindo sozinho mesmo, até então nada de ler partituras; tirava de “ouvido”, aos trancos e barrancos (risos).

Em 2008 descobri uma escola de música na FAETEC, onde tive minha primeira aula formal de música e violão. Tive a honra de ser aluno do violonista João de Aquino, primo do Baden, que tornou-se um pai musical para mim. Devo muito a ele. Até hoje o perturbo (risos). Atualmente, estudo na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Revista do Choro: Não sabia que na Faetec tinha Escola de Música!

Johnny Rocha: Nem eu! Aquele lugar foi lindo pra mim.

Revista do Choro: Como está sendo sua formação musical?

Johnny Rocha: Continuo pesquisando, estudando coisas novas. Outro dia, inventei de compor um “choro dodecafônico”. Ficou super engraçado. Acredito que o aprendizado seja infinito; quando se afirmar saber já não se sabe. Posso dizer que caminho para o violão popular brasileiro; isso é o que estudo e me identifico. Entrei na universidade buscando um apuramento teórico e técnico no violão. E tem sido excelente aprender novos olhares, opiniões.

Revista do Choro: E o choro de João Pernambuco que encontraram agora, o que o levou a transcrevê-lo e interpretá-lo em um vídeo?

Johnny Rocha: Então, Pernambuco é lindo demais. Seguindo a página do Acervo Digital do Violão Brasileiro, vi a notificação da música inédita e fiquei curioso. Já fui pegando o violão e fui desafinando-o porquê na gravação estava meio tom abaixo. Quando vi, estava tocando a música. Fiz um esboço de transcrição e resolvi gravar o vídeo. Demorei mais tempo para gravar o vídeo e postá-lo do que para tirar o choro (risos).

Administro uma Fan Page do Pernambuco para trocar partituras novas, músicas desconhecidas e etc. E, naturalmente quis compartilhar o áudio e a transcrição para os amigos da página com a afinação padrão 440 para ficar mais fácil de tirar de ouvido ou seguindo a partitura.

Revista do Choro: Não imaginaria que tivesse sido dessa maneira… Depois que você postou o vídeo, quem te procurou? Qual foi a repercussão desse vídeo?

Johnny Rocha: No mesmo dia, o Instituto do Piano Brasileiro (IPB) me parabenizou pela iniciativa comentando o vídeo. No dia seguinte, pela tarde, saiu uma matéria no jornal online O Globo, indicado pelo Alessandro Soares, do Acervo Digital do Violão Brasileiro, que também me parabenizou e pretende publicar minha transcrição no site do Acervo.

Revista do Choro: Fale sobre a música encontrada…

Johnny Rocha: Bom, de primeira, ali tem tudo do João Pernambuco, desde sua marca registrada, que é definir a música e fazer dela cantável nas 3-5 primeiras notas. O encadeamento dos acordes, os arpejos lembram muito a composição ‘Pó de Mico’, do João Pernambuco. A música foi composta pelo João Pernambuco em parceria do Alfredo Medeiros. Até onde sei não há registro autoral dela, tanto que não se sabe o nome. Intitulei de “Choro Inédito”, mas acredito que em breve vamos saber o nome original desse choro.

Revista do Choro: Sabem o ano?

Johnny Rocha: O ano ainda não. Sabemos apenas a data da gravação original executada pelo Alfredo, realizada em 05 de setembro de 1958. João Pernambuco se foi em 1947, ou seja, a música deve ser de 1947 ou de antes.

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Author: imprensabr