Houve mesmo disputa entre os chorões da Rádio Nacional?


Leonor Bianchi

Disputas entre os músicos da Rádio Nacional? Será mesmo que existiu a tal rixa entre Dante Santoro e Radamés Gnattali, como afirma Henrique Cazes em seu livro ‘Choro – Do quintal ao municipal’? E as disputas entre os regionais da Rádio Nacional? Marketing das emissoras para colocar o nome dos regionais mais atuantes da época ainda mais em voga e ganhar mais audiência?

Benedicto e Dante Santoro nunca disputaram nada

Ambos exímios flautistas de sua geração comandavam cada qual o seu regional em rádios concorrentes. Falo de Dante Santoro e Benedicto Lacerda.

Benedito Lacerda tocava com Gorgulho (Jaci Pereira) (violão), Ney Orestes (violão), Canhoto (Valdiro Frederico Tramontano) (cavaquinho) e Russo do Pandeiro (pandeiro). O Regional passou por algumas mudanças, como a substituição de Gorgulho por Carlos Lentini e a partir de 1937 passou a ter Dino e Meira nos violões e Popeye, no pandeiro. Era um dos regionais mais requisitados de seu tempo e com esta formação se apresentou até 1950, quando Canhoto assumiu sua direção, transformando-o no Regional da Canhoto. Nesta formação, Altamiro Carrilho assumiria a flauta antes tocada por Benedicto Lacerda.

O Regional de Dante Santoro fundou a Rádio Nacional, em 1936. Dante era um flautista extremamente competente e respeitado. Liderou por 33 anos o seu regional à frente da Nacional e, segundo o biógrafo de Benedicto Lacerda, Sidney Castello Branco, com quem conversei sobre o tema, nunca houve nenhuma disputa entre os regionais de Benedicto e o de Dante Santoro.

Revista do Radio 1950

Revista do Radio 1950

“Nunca houve qualquer tipo ou espécie de rixa entre os Regionais de Benedicto e Dante Santoro, este inclusive era muito amigo de Benedicto e procurava improvisar , tal como Benedicto.

Se vc pesquisar os regionais da época, irá verificar que o  de Benedicto era, disparado, o mais requisitado, mais admirado pelo público, vide os resultados dos concursos promovidos pelas rádios nos quais o Regional de Benedicto sempre ganhava o primeiro lugar, portanto essa fonte de informação sobre rixa é sem fundamento.
Hoje, vivemos na era do Fake News eletrônico, mas Fake News sempre existiu e antes era fabricado por aqueles que eram formadores de opinião e tinham suas colunas nos jornais, como também escreveram diversos livros com muitas mentiras, sempre objetivando algum resultado e na época era difícil verificar , porém hoje com a Internet podemos comprovar a quantidade enorme de construções falsas e desconstruções também falsas a respeito de diversas personalidades brasileiras em todos campos de atividade.
Dante Santoro era funcionário contratado da Rádio Nacional(36) desde a sua inauguração, devendo registrar que o Regional de Dante Santoro fazia parte da Rádio Nacional, vide que a direção do regional lhe foi entregue pela direção da Rádio sem nada lhe pagar pela tarefa, ou seja, ele tocava na Sinfônica da Nacional e também no Regional.
Tocou em diversas rádios antes de entrar na Nacional, tais como Rádio Sociedade Gaúcha, Rádio Cajuti, Rádio Educadora, Rádio Cruzeiro e Rádio Club.

Benedicto tocou e inaugurou diversas Rádios, tais como Guanabara, Cruzeiro do Sul, Tupy etc..sempre com contratos de curto prazo, sabendo administrar as melhores oportunidades de trabalho e oferta financeira, diferentemente de muitos outros artistas que eram contratados da Rádio Nacional, que lhes garantia um valor fixo por mês”, disse o biógrafo.

Sidney nos enviou por e-mail as fotos abaixo com Dante Santoro participando de um show em homenagem a Benedicto Lacerda e outra quando de sua visita a viuva de Benedicto, logo após o falecimento deste (Revista do Rádio).
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Radamés e Dante Santoro teriam alimentado alguma rixa?
Este é outro fato levantado pelo pesquisador Henrique Cazes, que ainda requer mais esclarecimentos uma vez que trata-se de uma opinião isolada, defendida por ele apenas.

No livro ‘livro Uma História da Música de Porto Alegre’, do compositor e jornalista Arthur de Faria, vemos que o autor levantou de forma muito pertinente a questão de haver ou não uma disputa entre Dante Santoro e Radamés Gnattali.

Radamés Gnattali

Radamés Gnattali

“O chorão e pesquisador Henrique Cazes tem uma opinião bem particular sobre Dante. Ele diz que o Regional era o único ponto fraco da Nacional, que Santoro tinha uma única introdução que se adaptava a qualquer ritmo e andamento, e que os demais músicos da casa tinham verdadeiro “desprezo” pelo grupo.

Cazes, é claro, não tem idade pra ter presenciado nada disso. Mas, a se julgar por algumas outras opiniões que ele expressa em seu livro Choro – do Quintal ao Municipal, essa também pode ter sido herdada de seu mentor Radamés Gnattali. Tanto que ele cita literalmente Radamés ao se referir ao regional. Diz que o velho maestro, com sua verve muito peculiar, os resumia numa frase: Eram tudo uns cachaças.

É bastante possível que houvesse alguma rixa pessoal entre Dante e Radamés. Ciúme, é certo. Afinal, ano a ano as formações orquestrais da Nacional – brilhantemente arranjadas por Radamés e outros poucos – cresciam em importância e prestígio frente à sonoridade tímida do regional. Pode ser uma explicação para o fato de que, sendo quase da mesma idade, vindos da mesma cidade e trabalhando diariamente numa mesma rádio por mais de 30 anos, os dois nunca foram amigos.

Jairo Severiano, que conheceu bem a ambos, é testemunha ocular da história. E contou por e-mail: Radamés adorava tomar chope com os amigos. Nessas reuniões, depois de alguns chopinhos, ele assumia aquela sua decantada postura de ranzinza/ espirituoso e esculhambava todo o mundo. Assim, acho que tais esculhambações não devem ser levadas a sério, especialmente neste caso do Dante Santoro que, além de sua incontestável competência musical, integrou por diversos anos uma orquestra dirigida pelo Rada (segundo o próprio Rada). Além do mais, o padrão de qualidade da Rádio Nacional em sua época áurea (sou testemunha auditiva disso) era uma coisa muito séria e jamais admitiria ter suas estrelas acompanhadas por um bando de “cachaças”…

Ou seja: a de Cazes, ainda que perpetrada em livro de referência, é opinião isolada. Altamiro Carrilho, por exemplo, cita Dante e Benedito Lacerda como suas maiores influências, os dois maiores flautistas da geração anterior a sua: Dante (…) tinha um estilo muito particular, muito dele, muito especial. (…) Um estilo alemão – assim, digamos, bem matemático. Mas tocava bonito, tinha uma sonoridade muito bela que superava aquela certa falta de balanço. Já Carlos Poyares, outro cobrão, achava que Dante tinha sido o maior de todos. E há uma certa polêmica quando se fala nos maiores regionais da Época de Ouro (1928-46, aproximadamente). Uns falam no de Rogério Guimarães, da Rádio Tupi. Outros no de Claudionor Cruz ou o de Canhoto. Mas todos citam os Regionais de Dante Santoro e Benedito Lacerda”, finaliza Arthur.

Foto: Enquete feita pela Revista do Rádio em 1950 perguntando aos ‘populares’ qual Regional eles preferiam; o de Dante Santoro ou o de Benedicto Lacerda.

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Author: imprensabr