Revista do Choro lembra o centenário de Pereira Filho


Precursor do violão elétrico no Brasil foi considerado o melhor violonista do Rio de Janeiro na década de 1930

Leonor Bianchi

João Pereira Filho foi violonista e compositor. Nasceu no Rio de Janeiro em 22 de setembro de 1914. Seu pai, João Pereira, era músico com grande atuação, inclusive responsável por um dos únicos métodos para instrumentos de cordas da época. Tocava violão, cavaquinho e bandolim.

Desde muito novo mostrou enorme talento para as cordas. Aos cinco anos de idade já participava de rodas e conjuntos. Com o violão, tomou parte em muitos conjuntos em emissoras de rádio e em orquestras. Pereira Filho é considerado o precursor do violão elétrico no Brasil e, posteriormente, do uso da guitarra no país.

O violonista João Pereira Filho.

O violonista João Pereira Filho.

A partir de 1929, com quinze anos de idade, passa a compor e gravar suas composições. Solista de violão de mão cheia e acompanhador perspicaz, Pereira destaca-se e passa trabalhar com muitos instrumentistas e cantores. Era um violão seguro, com fundamento, sabia a harmonia exata para cada melodia por mais modulante que ela fosse. Por conta de inúmeros trabalhos com orquestras, Pereira Filho lança mão, ainda nos anos 1930, de um violão elétrico, figurando no topo da lista dos notáveis introdutores deste instrumento no Brasil.

Pereira Filho era considerado por muitos como o melhor violão de todo Rio de Janeiro nos anos 1930.

Tocou em diversas emissoras de rádio no Rio de Janeiro e foi o violonista que acompanhou Orlando Silva em suas primeiras gravações. Em 1935 estava registrando seu violão em duas pérolas de Cândido das Neves com interpretação majestosa de Orlando Silva: ‘Lágrimas’ e ‘Última estrofe’.

Ciro Monteiro,Carmem Miranda, Luperce Miranda e Laurindo de Almeida. Todos na Rádio Mayrink Veiga. No canto esquerdo está o violonista Pereira Filho. (Arquivo Osmar Frazão).

Ciro Monteiro,Carmem Miranda, Luperce Miranda e Laurindo de Almeida. Todos na Rádio Mayrink Veiga. No canto esquerdo está o violonista Pereira Filho. (Arquivo Osmar Frazão).

No site ‘Músicos do Brasil’, a pesquisadora Maria Luiza Kfouri traça o panorama da atuação do violonista Pereira Filho:

“Considerando seu currículo e suas realizações, é curioso que Pereira Filho seja um músico quase que totalmente desconhecido do público. No site Adoro Cinema Brasileiro: “O número de 15 de abril de 1933 de Cinearte publicava: A música é do maestro Radamés e tem, além de uma canção e um batuque original, uma composição dramática, que acompanha uma das sequências mais fortes do filme. As demais músicas são motivos tirados da canção citada e do batuque. Há, ainda, isoladamente, uma outra canção da autoria de Hekel Tavares, com letra de Joracy Camargo. Essa canção é cantada por Jorge Fernandes, o conhecido cantor carioca, que é acompanhado por um grupo de notáveis violonistas, chefiados por Pereira Filho, considerado o melhor violonista do Rio”. O filme era “Ganga Bruta”, de Humberto Mauro. No Blog do Choro: “Com seu aguçado bom gosto, Orlando Silva escolheu para gravar duas pérolas de Cândido das Neves e um acompanhamento de matar: Pereira Filho, Luiz Bittencourt (aos violões) e Luperce Miranda (ao bandolim). Rui Ribeiro nota a qualidade das cordas: ‘Principalmente em “A última estrofe”, existe a utilização de recursos invulgares, pelo sentido da independência rítmica dos instrumentos. Dois violões (…) em riqueza de arpejos e um verdadeiro rendilhado sonoro, com laivos de improvisação, do bandolim de Luperce Miranda completando o contexto harmônico’.”

“No Instituto Moreira Sales, encontramos, além deste, outros acompanhamentos de Pereira Filho; seu estilo ‘dilacerante’, seu violão literalmente ‘chorado’, com a exata noção harmônica de como encaixar cada acorde, cada baixaria. Vale a pena ouvir ‘Lágrimas’ (o lado A de ‘A última estrofe’ – 1935). Imperdível, também, é a versão de Luis Americano para Sonho (Dunga), uma das mais belas interpretações do saxofonista. Pereira Filho, aqui, usa o violão elétrico (1945). J. L. Ferrete define seu estilo à perfeição: ‘… técnica espantosa e uma expressividade sem limites’.”

Rogério Borda, estudioso da história da guitarra elétrica no Brasil, conta que “os principais precursores na utilização do violão elétrico e da guitarra elétrica no Brasil […] foram […]: Pereira Filho (1914-1986), Garoto (Aníbal Augusto Sardinha, 1915-1955), Laurindo Almeida (1917-1995), Betinho (Alberto Borges de Barros, 1918), Poli (Ângelo Apollonio, 1920-1985), José Menezes (1921), Luiz Bonfá (1922-2001) e Bola Sete (Djalma de Andrade, 1923-1987)”.

Nas palavras de Ayrton Mugnaini Jr., pesquisador do rock brasileiro:

“Outro ‘proto-rock’ brasileiro que merece ser mencionado – mais exatamente, um samba-choro-rock – é o instrumental ‘Edinho No Choro’, gravado por seu autor, o violonista Pereira Filho, em 1945. Muitos de vocês devem saber que o velho e bom pedal de distorção – ou, em bom português, ‘fuzzbox’ – foi inventado justamente para que os usuários de amplificadores transistorizados pudessem simular os valvulados dos anos 1940 e 1950. Pois ‘Edinho No Choro’ é de babar para quem se amarra num ‘fuzz monster’; Pepeu Gomes, se não ouviu esta gravação, gostará de saber que já se gravava coisas assim antes de ele ter nascido em 1952”.

Como referência, é importante lembrar que, mesmo no jazz, a guitarra engatinhava nessa época. O primeiro guitarrista americano a ganhar destaque foi Charlie Christian que, a partir de 1939, durante três anos, apresentou-se com a big-band de Benny Goodman.

Pereira Filho foi, portanto, um dos primeiros músicos a encontrarem uma derivação da linha tradicional do violão brasileiro, baseada no violão clássico europeu e no choro – que ele nunca abandonou – e incorporar à sua linguagem novas técnicas, harmonias e estruturas nascidas com o jazz e com o blues. Tocava, também, cavaquinho e bandolim.”.

Pereira Filho falece em 12 de dezembro de 1986, depois de atuar em diversas orquestras e regionais, gravar muitos discos solo e acompanhar cantores e instrumentistas. Um às dos instrumentos de cordas no Brasil. Uma memória que não podemos prescindir.

Capa da partitura para violão de Manhã de Carnaval, de Luiz Bonfa e Antonio Maria, arranjo de João Pereira Filho.

Capa da partitura para violão de Manhã de Carnaval, de Luiz Bonfa e Antonio Maria, arranjo de João Pereira Filho.

Discografia:

1933 Jongo africano/Áurea • Victor • 78

1936 Variações sobre cateretê • Victor • 78

1945 Edinho no choro • Continental

1953 Conversa fiada/Serenata havaiana • Continental • 78

1953 Garoa/Borba gato • Continental • 78

1959 Conversa fiada/Noites sem rumo • Todamérica • 78

Para saber mais

http://musicosdobrasil.com.br/pereira-filho

Para ouvir Pereira Filho

Gravação de 1945. Pereira Filho sola na guitarra o Choro ‘Edinho no Choro’

Pereira Filho acompanha Olga Praguer Coelho

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Author: imprensabr

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