Leonor Bianchi
Recebidos pela esposa de Jacob, D. Adylia, que solicitou uma breve visita, Velloso e Assis logo foram alertados do estado delicado de saúde do bandolinista. Contudo, a brevidade da visita (de médico), ou dos médicos, já que para estar ali o advogado Assis acabou tendo de se passar por médico também, estendeu-se a um convite feito por Jacob para que ambos participassem de uma roda musical em sua casa com os convivas que sempre frequentavam esses encontros.
Impressionado com a melhora que teve durante o encontro com os ‘médicos’, após doutor Velloso – com a ajuda de Assis -, aplicar-lhe uma técnica alemã de terapia neural, Jacob fez questão de ligar para os amigos para comunicar o milagre e avisar que estava de volta por causa daqueles ‘bruxos’, que o tiraram do leito.
Naquele encontro mágico para Jacob, mas, sobretudo, para Assis e Velloso, estes conheceram a essência da vida familiar de Jacob do Bandolim, e tiveram a oportunidade de desfrutar de uma das rodas de choro mais seletas daqueles tempos, com as presenças de Radamés Gnatalli, Elizeth Cardoso, Ataulfo Alves, o flautista Eugênio Martins, além dos integrantes da primeira formação do Conjunto Época de Ouro: Horondino José da Silva (Dino 7 Cordas), César Faria e Carlinhos Leite (violões de seis cordas), o cavaquinista Jonas Silva e o pandeirista Gilberto D’Ávila.
Acompanhado por esse naipe de instrumentistas, Jacob acabou por aceitar o convite dos médicos que o salvaram por quase um milagre e iniciou o planejamento de sua viagem a Brasília; a primeira de várias que faria a nova capital do país.
Em Brasília, Jacob e o regional hospedaram-se nas instalações da chácara do Dr. Velloso; Estrela d’Alva. Jacob retornaria ao Rio para as festas de fim de ano, mas voltaria à casa do novo amigo médico passado o período de férias de verão.
Mesmo ainda sentindo fortes dores na região da coluna, Jacob via-se motivado a estar naquele novo ambiente, cercado por novos amigos e novos músicos, e sob a guarda e cuidados do médico Velloso. Este, por sua vez, conta que ficou surpreso ao saber por Jacob, que em Brasília morava um citarista muito amigo dele e que para ele – Jacob -, era um grande intérprete seu. Jacob referia-se a Heitor Avena de Castro.
“O Jacob dizia “eu tenho aqui um grande intérprete meu’, e falava do Avena. Mas eu não sabia quem era o Avena. Eu conhecia o Castro, um homem que fotografava muito bem… Para mim, ele era apontador de obras de Pederneiras, a empresa construtora da rodoviária e que fazia a reforma da unidade do Hospital de Base, que eu chefiava, no décimo primeiro andar. Ele tinha que corrigir a reforma, verificava o que era preciso fazer, e depois passava para os operários. Mas eu não sabia que ele era músico. Fotografava, gostava de fotografia, eu também gosto. Aí a gente trocava fotografia, mostrava e tal. E, surpreendentemente, o Castro apareceu na minha casa, numa sexta-feira à tarde: “Vim aqui para ver o Jacob…’. O Jacob estava logo na sala e falou… ‘esse é o Avena de Castro’. Jacob apanhou o bandolim, trouxe e foram tocar os dois. Aí eu chorei! Fiquei emocionado demais. Os dois juntos eram impressionantes!”, conta Velloso.
O artigo segue na semana que vem.