Alunos da rede municipal de Londrina fazem oficina de choro


Por Leonor Bianchi

O professor, instrumentista e chorão de Itapetininga (SP) Lucas Fiuza é o idealizador do projeto de educação musical Papo de Anjo, direcionado para estudantes da rede pública municipal de Londrina, com idades entre 8 e 11 anos. A oficina de choro e samba tem patrocínio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic), de Londrina e destina-se, atualmente, a 40 estudantes.

Com formação em Violão Erudito pelo Conservatório Dramático e Musical de Tatuí, Lucas também estudou Pedagogia e, ao lado de Thiago Marinho, Ramom Maciel, e Monique Kodama, desenvolve as atividades da oficina de choro.

– Formei-me em Violão Erudito com o prof° Ricardo Grion, no Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos, de Tatuí, onde fiz aulas individuais, sextetos e orquestra de violões. Posteriormente, comecei a frequentar o curso de choro com o prof° Alexandre Bauab, coordenador e professor de violão no curso de choro da mesma instituição, onde fiz as aulas individuais, de harmonia e regionais de choro. Nos intervalos das aulas iniciei meus estudos de forma autodidata dos instrumentos cavaco e bandolim. Formei-me em Pedagogia para aprimorar meu trabalho com a música na aula, conta Lucas Fiuza.

Lucas Fiuza é daqueles chorões tão aficionados, que tão logo viu-se no ambiente escolar, tratou de levar o gênero para dentro da sala de aula.

Lucas Fiuza é daqueles chorões tão aficionados, que tão logo viu-se no ambiente escolar, tratou de levar o gênero para dentro da sala de aula.

Ele começou a dar aula de música em sua cidade natal, através de um estágio, mas já passou por outras realidades do ensino de música e também deu aulas na Oficina de Choro de Londrina.

– Comecei a dar aulas como estagiário na Escola Livre de Música Municipal de Itapetininga, e passei por algumas escolas de música em Londrina e de ensino regular da mesma cidade. De agosto de 2014 até o mesmo mês de 2015 ministrei oficinas de choro em colégios estaduais da cidade para os instrumentos cavaco e bandolim na Oficina de Choro de Londrina, relata Fiuza seus primeiros passos como professor.

A ideia de criar e desenvolver o projeto de educação musical baseado no choro se deu pela motivação que Lucas tinha de difundir o gênero. E na escola, não só os alunos gostaram da ideia, mas também os professores.

– Pela minha vivência de 10 anos em contato com o choro surgiu a vontade de mostrar para as crianças um gênero pouco difundido na mídia, mas que de tão grandioso é imortal e ganha novos adeptos a cada dia, sempre renovando suas gerações. O objetivo é mostrar alternativas diferentes das grandes mídias de massa e a cultura dessa música tão brasileira através das aulas, palestras com nomes de chorões que foram ou são referências nos estilos e através de vídeos sobre samba e choro. O projeto foi muito bem recebido pelos professores, coordenação da escola, que abriram espaço e deram aval para trabalharmos, conta Lucas.

A educação musical é tão importante para o desenvolvimento das crianças, que pode ser um potencializador para a construção de um indivíduo melhor.

– Através da música, todo ser humano se sociabiliza melhor, desenvolve os aspectos cognitivos, motores e fica mais feliz, pois a música causa prazer tanto em quem toca, como em quem a ouve, enfatiza o professor Lucas Fiuza, que segue:

– Temos uma lei que já está em vigor; foi dado o prazo máximo para que ela fosse cumprida, que já venceu, mas não vemos as escolas públicas implementando o ensino de música, conta o professor.

A Escola Municipal Maria Carmelita Vilela Magalhães, onde funciona o projeto, não é uma unidade escolar onde estudam crianças em situação de risco.

– A escola fica na região sul; não chega a ser uma escola para crianças de extrema carência, mas coloquei justamente o canto, inspirado na iniciativa do maestro Heitor Villa-Lobos, que implementou o Canto Orfeônico nas escolas, pensando na participação e integração dos alunos com a música, sobretudo aquelas estudantes que não tinham ou não podiam comprar um instrumento, explica Lucas, o idealizador do projeto:

– Eu sou o idealizador, coordenador e também atuo como professor de cavaco e violão no mesmo, juntamente com meus parceiros, Thiago Marinho, na percussão, Ramom Maciel, no violão e Monique Kodama, no canto, Todos formados ou pela Universidade Estadual de Londrina, com especialização ou não e pelo Conservatório de Tatuí.

Inicialmente o projeto destinava-se a 40 alunos, sendo cinco por horário, que estudam cavaco, violão, percussão e canto.

– Acredito que seja um número razoável para cada educador trabalhar de forma agradável para todos, diz Lucas, que ano que vem deseja voltar o acesso de adolescentes e adultos ao projeto.

Nas aulas são passadas noções de teoria musical, rítmica corporal, exercícios em cada instrumento, ritmos relacionados, audição da música trabalhada, harmonia e melodia. No segundo semestre serão iniciadas práticas com grupos maiores e todos os participantes do projeto.  As obras de compositores clássicos do choro, como Waldir Azevedo, Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Joaquim Callado e Garoto são apresentadas e exploradas durante as aulas, onde os alunos também aprendem a ler partituras em paralelo ao aprendizado da percepção musical.

E nem o fator ‘falta de instrumento’ tem sido um problema para que os pequenos estudantes façam as aulas.

– Foi feita uma reunião em que deixamos os pais avisados que seria importante seus filhos terem o instrumento para praticarem durante a semana o que foi ensinado. E os pais se viraram, alguns emprestaram de parentes, outros compraram, enfim, os participantes da oficina se integraram e viram a importância de adquirir cada um seu instrumento, explica o professor e idealizador da oficina, Lucas Fiuza.

Amanda Miculis, de 8 anos, estuda violão na oficina de choro.

Amanda Miculis, de 8 anos, estuda violão na oficina de choro.

A família e o seu incentivo é fator importante para o desenvolvimento das crianças. Um dos destaques do projeto, a aluna de violão de 8 anos, Amanda Miculis, é filha de pai que toca violão no estilo blues, e se mostra entusiasmada com a oficina Papo de Anjo. “Estou adorando. Conhecendo músicas novas e tocando para minha família.”, comenta a aluna. O aluno de cavaquinho, Lucas Kenji, de 9 anos, conta que se entusiasmou porque começou a estudar com sua mãe, que toca violão. “Eu me empolguei quando minha mãe começou a ensaiar comigo e falou que íamos nos apresentar juntos no final de ano.”, ressaltou o aluno.

O aluno Lucas Kenji gosta de estudar com a mãe, que toca violão.

O aluno Lucas Kenji gosta de estudar com a mãe, que toca violão.

Ao final deste ano, uma das ideias é fazer uma apresentação com os alunos da oficina para a comunidade escolar. Lucas deseja, com esta oficina, que “o choro seja cada dia mais escutado, executado e apreciado desde a infância até todas as idades”.

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Author: imprensabr