Vai começar o futebol! A ‘verdadeira’ história de ‘Um a Zero’, música mais executada de Pixinguinha e Benedicto Lacerda


Leonor Bianchi

Benedicto Lacerda na flauta e Pixinguinha atacando no saxofone durante a inauguração da placa da Rua Pixinguinha, em 1956, (RJ). Revista Radiolândia.

Benedicto Lacerda na flauta e Pixinguinha atacando no saxofone durante a inauguração da placa da Rua Pixinguinha, em 1956, (RJ). Revista Radiolândia.

Um a Zero

(Música de Pixinguinha e Benedicto Lacerda)
(Letra de Nelson Ângelo)

Vai começar o futebol, pois é,
Com muita garra e emoção
São onze de cá, onze de lá
E o bate-bola do meu coração
É a bola, é a bola, é a bola,
É a bola e o gol!
Numa jogada emocionante
O nosso time venceu por um a zero
E a torcida vibrou
Vamos lembrar
A velha história desse esporte
Começou na Inglaterra
E foi parar no Japão
Habilidade, tiro cruzado,
Mete a cabeça, toca de lado,
Não vale é pegar com a mão
E o mundo inteiro
Se encantou com esta arte
Equilíbrio e malícia
Sorte e azar também
Deslocamento em profundidade
Pontaria
Na hora da conclusão
Meio-de-campo organizou
E vem a zaga rebater
Bate, rebate, é de primeira
Ninguém quer tomar um gol
É coisa séria, é brincadeira
Bola vai e volta
Vem brilhando no ar
E se o juiz apita errado
É que a coisa fica feia
Coitada da sua mãe
Mesmo sendo uma santa
Cai na boca do povão
Pode ter até bolacha
Pontapé, empurrão
Só depois de uma ducha fria
É que se aperta a mão
Ou não!
Vai começar…
Aos quarenta do segundo tempo
O jogo ainda é zero a zero
Todo time quer ser campeão
Tá lá um corpo estendido no chão
São os minutos finais
Vai ter desconto
Mas, numa jogada genial
Aproveitando o lateral
Um cruzamento que veio de trás
Foi quando alguém chegou
Meteu a bola na gaveta
E comemorou

Há uns anos, durante uma entrevista que fiz com o biógrafo de Benedicto Lacerda, Sidney Castello Branco, perguntei qual era a música de Benedcito mais executada. Sem titubear ele me respondeu: Um a Zero!

Sempre primando por esclarecer os erros repetidamente contados ao longo dos anos sobre a obra e a vida de Benedicto Lacerda e/ ou sobre a história da dupla Benedicto e Pixinguinha e das músicas assinadas pela parceria, Sidney contou que esta composição, um choro não fora criado em 1919 para comemorar uma vitória do Brasil sobre o Uruguai, na histórica decisão do Campeonato Sul-Americano, em 29 de maio do mesmo ano, como todos dizem até hoje.
“É de fundamental importância esclarecer a história da música ‘Um a Zero’, dita por alguns ser de autoria exclusiva de Pixinguinha e que foi composta em 1919 por conta da vitória brasileira sobre a seleção do Uruguai tornando-se vencedora da Copa Sul Americana de futebol, quando na realidade foi composta por ambos”, defendeu Sidney.
E seguiu…
“Lacerda, todos da época sabiam, era Flamengo, da mesma forma como todos sabiam que Pixinguinha era Vasco.
O tricampeonato carioca conquistado pelo Flamengo em 29 de outubro de 1944 com a vitória sobre o Vasco, placar de 1 x 0, gol de Valido, foi para Benedicto inesquecível, e, para Pixinguinha, o oposto. E o titulo da obra muito provavelmente veio em cima desse resultado.
Foge de qualquer lógica, e de qualquer racionalidade, a história que Pixinguinha teria composto a obra em 1919 em homenagem à seleção brasileira de futebol e a guardou no baú. E então fica a pergunta: – mas… que homenagem seria esta? Uma homenagem secreta da qual os homenageados não têm conhecimento?”, esclareceu o biógrafo.
‘Trata-se de uma lenda urbana”, disse Castello Branco, argumentando:
“Qual a razão de uma homenagem a seleção brasileira de um campeonato dessa importância ficar guradao num baú de 1919 até 1946? Outro ponto que defendem quando dizem  que o motivo de a música ter ficado tanto tempo guardada é o de que Pixinguinha achava que ninguém era capaz de tocar a música nem ele próprio. Outra pergunta é: por que nenhum jornal ou revista da época noticiou a homenagem? 0nde está a partitura original manuscrita em 1919?”, observou Sidney.
E finalizou:
“Será que haverá resposta factível para essas perguntas? O fato é que Benedicto e Pixinguinha fizeram juntos, lado a lado, ‘Um a Zero’, assim como outros choros. Cada um fazia uma parte e vice-versa”, concluiu o biógrafo do flautista Benedicto Lacerda.
E você, qual a sua versão para essa história?

 

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