Leonor Bianchi
Permanece até os nossos dias uma dúvida que todos os pesquisadores da obra de Pixinguinha (1897 – 1973/ RJ) tentam responder ao longo dos últimos 50 anos e a qual nem Pixinguinha esclareceu com firmeza: a origem da composição da valsa ‘Apoteose do amor’.
Sem registro oficial, a música geralmente aparece sendo creditada a Cândido das Neves (1899-1934/ RJ), o Índio.
Cândido chegou a formar realmente parceria comi Pixinguinha, mas a respeito dessa valsa, especificamente, permanece a incerteza de quem foi o seu verdadeiro compositor.
Ary Vasconcelos (1926 – 2003/ RJ), pesquisador de música popular brasileira, dono de um dos maiores acervos de discos do Brasil, dentre eles os primeiros discos de cera gravados no Brasil, os primeiros discos de Orestes Barbosa, Pixinguinha, Carmem Miranda… falecido há quase duas décadas, deixando um enorme legado com seu acervo de livros e discos foi quem afirmou pela primeira vez, em sua coluna publicada na maior revista do país naquele tempo, a revista O Cruzeiro, que Pixinguinha era o verdadeiro autor da melodia da valsa, sendo Índio o letrista. Ele era amigo pessoal de Pixinguinha, e fez essa afirmação num artigo publicado em 28 de fevereiro de 1973, 11 dias após a morte do amigo Alfredo da Rocha Vianna Filho, como querendo esclarecer por fim quaisquer dúvidas que ainda se recaissem sobre esse tema, como quem desejasse que o amigo descanse em paz tendo sua verdadeira história contada.
Pixinguinha tergiversou
Em 1966, em seu primeiro depoimento ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, no qual Pixinguinha trocou uma série de datas, esqueceu fatos, confundiu situações, ele também respondeu de forma a deixar a dúvida ainda no ar quando foi perguntado sobre quem seria o compositor da valsa Apoteose do amor. Em sua resposta Pixinguinha tergiversou: “É… Não… Deixa isso para lá!”
Letra da valsa
APOTEOSE DO AMOR
Deus, só Deus
Sabe que os olhos teus
São para mim
Dois faróis clareando o mar
Na fúria do mar
Onde naufraga uma barca
Que o leme perdeu
Coitada, essa barca sou eu
A naufragar
Na existência que é o mar
Socorre-me com a luz desses faróis
Que são teus olhos azuis
São dois lírios os teus seios alabastrinos
Quase divinos
Parecem feitos para o meu beijo
Muito almejo dos lábios teus
Por um som
Pela glória do nosso amor
Musa dos versas meus
Inspira-me por quem és
Minha alma, bendito amor
Curvada aos teus pés
Rosa opulenta
Que o meu jardim ostenta
A queima em dor
Inspiração do meu amor
Eu nem sei por que foi que te amei
Pois tudo em ti é formosura e singular
Amei teu perfil
Amei teus olhos azuis
Eu amei teu olhar
Por fim nem tens pena de mim
Que sofro e choro
Na ânsia de te amar
Ah, triste de quem
Vive a chorar por alguém
A gravação clássica de 1935 pela Victor tem acompanhamento primoroso dos violonistas Pereira Filho e Luís Bittencourt e do bandolinista Luperce Miranda, que aqui toca violão.
Apoteose do Amor (valsa-canção, 1936)
Cândido das Neves (?)
Disco 78 rpm / Título da música: Apoteose do amor / Autoria: Neves, Cândido das, 1899-1934 (Compositor) / Orlando Silva (Intérprete), [S.l.]: Victor, 1935 / Nº Álbum 34047 / Lado A / Lançamento: 1936 / Gênero musical: Valsa.
E pra você, quem é o verdadeiro autor dessa valsa?