Leonor Bianchi
O norte da França se prepara para receber a segunda edição do Lille Choro Festival. Organizado pela Associação AÇAÍ, o encontro acontecerá de 15 a 17 de março no Auberge de Jeunesse Stéphane Hessel de Lille, reunindo músicos de várias nacionalidades em seis espetáculos, 10 master class (6 instrumentais e 4 de samba de gafieira), dois bate-papos; um sobre a atual situação política brasileira com presença da historiadora Maud Chirio (Université Paris-Est-Marne-La-Vallée) e do geógrafo Hervé Théry (Universidade de São Paulo), outro sobre a difusão do choro na França, com a chefe da Orquestra Brasileira na França, Simone Menezes. O musicólogo Oscar Barahona fará uma palestra sobre o bandolinista brasileiro Hamilton de Holanda, e ainda, o cineasta brasileiro radicado em Paris, Filipe Galvon, exibirá seu documentário “Encantado, le Brésil désenchanté, sobre o qual fala a respeito em um podcast gravado com exclusividade para a Revista do Choro (ouça logo abaixo).
Músicos brasileiros darão um show de choro e improvisação
O bandolinista Daniel Migliavacca, já está em Paris para participar do festival, deu um rápido depoimento à Revista do Choro:
“Estou muito feliz de estar participando deste festival que celebra a música brasileira e especialmente o nosso amado Choro. Tocar com o Glauco Solter é sempre um prazer. Vamos apresentar algumas composições próprias e arranjos especiais de alguns clássicos com muitos improvisos”, disse o instrumentista.
Além dele e seu duo, toda a programação do festival é composta por instrumentistas brasileiros. E e o mais interessante, devemos observar, é que não são músicos de São Paulo ou Rio de Janeiro, como geralmente vemos nos festivais internacionais de música instrumental ou choro; são instrumentistas das regiões Sul e Nordeste.
O festival tem parceria com a Embaixada do Brasil na França, Instituto Jacob do Bandolim, Rádio Campus Lille, Auberge de Jeunesse Stéphane Hessel de Lille, CMCAS do Nord-Pas de Calais, Contemporânea, Revista Bossa-Mag. A Revista do Choro é parceira de divulgação do festival.
O diretor artístico do festival é o instrumentista brasileiro Roberto de Oliveira. Ele gravou um podcast exclusivo para a Revista do Choro contando a história do festival e como será a edição deste ano. Roberto tem a presença do grande trombonista brasileiro Raul de Souza, como padrinho festival. Raul (84), que este ano faz 65 anos de carreira, celebrará a data no festival. O pesquisador da Universidade de Lille e presidente da Associação Açaí, Étienne Clément, é um dos ‘mentores intelectuais’ do festival. Para ele, o Lille Choro Festival é uma oportunidade para unir intelectuais, músicos, estudantes de música e apreciadores de choro, na região do norte da França. Ele, que já esteve inúmeras vezes no Brasil e chegou a morar aqui, guarda um carinho especial pela nossa cultura e fala isso em nosso idioma!
“Eu amo o Brasil! Trazer este festival de choro para a França através da Associação Açaí está sendo uma experiência muito interessante e gratificante de intercâmbio cultural com o Brasil, a qual, espero, continue por bastante tempo”, disse.
Uma programação rica e eclética
O fim de semana contará com masters class de violão, pandeiro, bandolim, improvisação, linguagem do choro, trocas de experiências no choro com Raul de Souza, e samba de gafieira. Haverá ainda dois debates, um deles com a historiadora Maud Chirio e a pianista e chefe da Orquestra Brasileira, Simone Menezes.
A noite de abertura do festival, sexta-feira, 15 de março, poderá ser escutada ao vivo (a partir das 16h até às 19h – horário do Brasil) através do link https://www.campuslille.com/.
A noite de encerramento do festival acontecerá com a formação de um regional de choro, que acompanhará de forma tradicional todos os convidados especiais fazendo uma homenagem aos 65 anos do padrinho Raul de Souza. Convidados especiais do regional: Raul de Souza (padrinho e homenagem aos seus 65 anos de carreira, trombone) Roberto de Oliveira (trombone e bandolim), Osman Martins (cavaquinho), Antônio de Pádua (trompete), Daniel Migliavacca (bandolim), Douglas Marcolino (sanfona), Cleylton Gomes (fauta transversal), Giltácio Santos (clarinete) Formação do regional : Olivier Lob (violão 7 cordas), Alua Nascimento (pandeiro), Lauro Cesar Viana (cavaquinho), Cacau Moutinho Da Silva (zabumba), Samuel Rocha (violão 7 cordas).
Raul de Souza, padrinho do festival, fala sobre seus 65 anos de carreira, que começaram no choro e serão celebrados durante o festival
Raul de Souza, o padrinho do festival, conheceu o maestro Pixinguinha e tocou com ele e Benedicto Lacerda, assim como com Altamiro Carrilho e tantos outros grandes chorões! Neste áudio gravado com exclusividade para a Revista do Choro, ele comenta sua relação com o choro e fala sobre o Lille Choro Festival.
Foto: Noite de encerramento da primeira edição do Lille Choro Festival, ano passado, com Raul de Souza, padrinho do festival (à direita), e todos os músicos e voluntários que ajudaram na sua organização.
Diretor artístico do festival, Roberto de Oliveira, conta a história do festival e a fala sobre a cena do choro na França
O multi-instrumentista Roberto de Oliveira, que promove o festival, é brasileiro, natural de Fortaleza. Em 2009, foi morar em Lille, norte da França, onde fundou a Associação AÇAÍ, da qual é diretor artístico. Roberto estudou trombone no Centro Educacional Padre João Piamarta (escola de excelência italiana em Fortaleza). Na França, estudou trombone clássico no Conservatório Regional de Lille sob a direção do professor de trombone Christian Bogaert. Multi-instrumentista, toca também bandolim, cavaquinho, violão, bugle e percussões. Em 2017, Roberto lançou seu primeiro álbum solo intitulado Sertão. Este projeto original de música instrumental brasileira tem raízes numa viagem realizada no sertão brasileiro em 2015, e tem influências do forró, bem como a do soul e o do jazz. Em 2018, através de uma parceria com o pesquisador Étienne Clément, ele realizou a primeira edição do Lille Choro Festival.
Conheça mais sobre o trabalho do instrumentista
Soundcloud
Mesa redonda sobre Villa-Lobos e os Choros
Simone Menezes, chefe da Orquestra Brasileira na França, participará de uma mesa redonda sobre Villa-Lobos e os Choros durante o festival. Neste podcast gravado com exclusividade para a Revista do Choro ela destaca os pontos que abordará.
‘Encantado, le Brésil désenchanté’: festival terá exibição de doc. francês dirigido por brasileiro
Ouça o podcast gravado pelo cineasta brasileiro radicado em Paris, Filipe Galvon, sobre seu documentário “Encantado, le Brésil désenchanté (LaClairière Ouest, 52 min.), que será exibido durante o festival seguido de um debate após a sessão.
Créditos
Foto da Simone Menezes: © Bruno Bonansea
Foto do Murmurando: © Salvino Lobo
Fotos do público 1a. edição do Lille Choro Festival: © Gilles Brochand