Músicos de Campinas se apresentarão na Holanda, França e encerrarão a curta temporada de duas semanas no Clube do Choro de Londres
Leonor Bianchi
Os chorões do Conjunto Subindo a Ladeira, de Campinas, estão de malas prontas. O destino: Amsterdã, Paris e Londres. Será a primeira turnê internacional do conjunto formado em 2011 e que nesse pouco tempo já tem dois cds gravados e uma lista extensa de importantes apresentações em circuitos e festivais de choro no Brasil.
Dia 19 eles embarcam. A temporada de duas semanas na Europa será aberta no dia 22 de agosto, em Amsterdã. Dia 26 o Conjunto se apresenta no Chacun Fait e dia 27, no tradicional bar Mineirinho, espaço dedicado à cultura brasileira em Paris, onde acontecem rodas de choro com frequencia. E, em Londres, o Subindo toca no dia 29, quando também faz um workshop para os instrumentistas do Clube do Choro de Londres, finalizando sua estada no Velho Mundo.
Quem conversou com a Revista do Choro para contar mais sobre essa trip foi a chorona pianista-cantora, compositora e arranjadora Priscila Matos, integrante do Subindo a Ladeira ao lado do bandolinista e compositor e também arranjador André Ribeiro e do pandeirista Roberto Amaral. Foi ela quem enviou uma mensagem para o Clube do Choro de Londres apresentando o trabalho do Conjunto e inscrevendo o grupo numa seleção que eles fazem convidando instrumentistas de choro do Brasil para se apresentarem lá.
“Por um acaso, o André mandou para mim o site do Clube do Choro de Londres com o link de uma seleção que eles estavam fazendo de músicos brasileiros para tocar lá. Eles pediam uma série de materiais e nós enviamos tudo. Depois de dois meses, eles entraram contato conosco fechando a data do dia 29 de agosto. Nesse dia daremos um workshop na parte da manhã, onde cada um de nó – eu, o Beto e o André -, faremos uma aula voltada para os nossos instrumentos no choro. Depois disso, ao fim dessa primeira dinâmica, nos reuniremos todos para a prática instrumental em conjunto. Após o workshop, à noite, faremos uma apresentação no Clube. Será um dia intenso, mas com um belo trabalho a ser realizado”, comentou Priscila.
Uma esticadinha até Amsterdã e Paris com o chorinho na mala!
E, uma vez indo para a Europa, por que não investir em novos contatos lá fora e tentar espaço para mais apresentações em espaços e casas noturnas dedicadas à música instrumental em outros países próximos à Inglaterra? É tudo tão perto! Foi exatamente o que os chorões do Subindo a Ladeira pensaram. Como a viagem ficaria restrita especificamente à apresentação e à realização da oficina de choro no Clube do Choro de Londres, o pessoal resolveu investir e dar um rolê rápido por mais duas importantes capitas europeias: Amsterdã e Paris; duas cidades onde a música brasileira é apreciada e consumida com gosto!
Nessa etapa, a de produzir novos locais para apresentações na Europa e aproveitar ao máximo a oportunidade de estar indo para lá, surgiram novos contatos, novos amigos, pessoas interessadas em conhecer o trabalho do Conjunto e ajudar na articulação que os músicos estavam costurando. Nessa vibração positiva da rede que ia se alinhavando em torno dos músicos, o Subindo consegui fechar mais três apresentações: uma em Amsterdã e duas em Paris.
O que eles vão apresentar lá
Segundo Priscila Matos, o repertório que o conjunto apresentará na turnê inclui clássicos do choro e composições autorais, mas mantém o foco pesquisa que o grupo dedicou à obra de Chiquinha Gonzaga, onde mostram arranjos próprios do conjunto para músicas da maestrina chorona.
O primeiro CD do Conjunto é o “De três em três 3”, gravado final de 2011 e lançado em 2012. É um trabalho totalmente autoral, com distribuição da Tratore. O cd mais recente é um trabalho de pesquisa inspirado na obra da chorona Chiquinha Gonzaga.
“Essa pesquisa começou em 2013. Sempre tive interesse em conhecer mais sobre a biografia e a obra da Chiquinha e lendo o livro da Edinha Diniz me identifiquei muito com sua personagem. Trabalhei muito com o conteúdo disponível no site Chiquinha Gonzaga. Baixamos várias músicas do site e fomos escolhendo o que cabia na construção do bandolim e o que ficava legal para o trio, pois era preciso saber o que cada um (piano e bandolim) poderia solar. Selecionadas as composições em 2014 entramos em estúdios. Já tínhamos parte da verba para a produção desse segundo Cd, que vinha de um fundo que criamos com a venda do primeiro cd. No final de novembro de 2014 colocamos o Cd numa plataforma de financiamento compartilho para finalizar o projeto da Chiquinha, para finalizar a masterização e a prensagem de mil cds.’’
Instrumentistas utilizarão músicas próprias para as aulas do workshop
Geralmente, o repertório apresentado nos modelos de oficinas de choro como esta que o Conjunto Subindo a Ladeira vai fazer no CCUK, inclui composições de Pixinguinha e Benedicto Lacerda, Jacob do Bandolim, e os clássicos do Choro. Nesta também haverá, porém, os músicos do Subindo foram ousados: introduziram composições próprias no repertório do workshop.
“Escolhemos trabalhar três músicas e vamos trabalhar, todos, as mesmas músicas com os grupos que estiverem fazendo o workshop conosco: nossa composição “Um é pouco”, do nosso disco “De três em três” é um choro, mas é mais um maxixe, tem uma sincopada de maxixe”, uma sugestão do Beto para o arranjo que fizemos, eu e o André, para esta música; o Corta Jaca, da Chiquinha Gonzaga e Apanhei-te cavaquinho, de Ernesto Nazareth”, contou Priscila.
Presença do Subindo no CCUK é aguarda com ansiedade
Enquanto aqui no Brasil os músicos do Conjunto Subindo a Ladeira se preparam estudando e ensaiando até o último minuto para fazer bonito na turnê (o último ensaio rolou ontem à noite e esta matéria está sendo fechada hoje, sábado, 15 de agosto), em Londres a expectativa é grande por parte dos chorões do CCUK que esperam há oito meses a ocasião.
Distante do Clube do Choro de Londres temporariamente para realizar sua pesquisa de campo, o bandolinista brasileiro e um dos representantes do CCUK, Gaio de Lima, em depoimento à Revista do Choro disse que:
“O CCUK é uma plataforma não somente para integração da comunidade britânica na cultura brasileira, mas também da comunidade brasileira na britânica já que a grande maioria dos músicos e audiência que frequenta nossos eventos não é brasileira, porém ama a nossa música e participa ativamente dos nossos eventos. O CCUK espera que o Conjunto Subindo a Ladeira se sinta em casa e receba calorosamente (independente do frio) o reconhecimento da nossa audiência. Para isso, estamos fazemos uma campanha bem puxada pra trazer gente dos quatro cantos do Reino Unido para assistir o trabalho maravilhoso deles. O nosso workshop ainda está em fase inicial e não tem ainda um grande demanda exatamente porque as pessoas ainda não estão conscientes de que ele existe, e há aqueles que ‘pensam’ que não conseguiriam tomar parte de um workshop de choro. Porém, estamos trabalhando bastante para difundir mais os nossos workshops. O Marcelo Romano, cavaquinista Italiano que assumiu recentemente a coordenação do workshop, está fazendo um trabalho fenomenal e organizando tudo da forma mais eficiente com colaboração de Clea Thomasset, nossa Project Manager”.
Indumentária e cenografia de época
Sempre engomado, o trio do Subindo a Ladeira investe também no visual. Os rapazes sempre na beca trajam ternos que lembram os chorões de antigamente, já a pianista desfila lindos e charmosos vestidos, desenhados exclusivamente para ela, pela estilista Patrícia Lombardi, uma amiga que cumpre também o importante papel de um personal stylist da chorona.
A indumentária escolhida pelo conjunto para ser uma das marcas de suas apresentações e que remete aos tempos de ouro do rádio no Brasil (anos 30 e 40), logicamente será é peça integrante dos espetáculos do grupo também ‘lá fora’.
Chiquinha Gonzaga inspirou segundo cd do Subindo, lançado este ano
A discografia do Conjunto Subindo a Ladeira ainda é pequena (dois cds), contudo, se em número ela é curta, em propósito nasce vasta. Este ano, os meninos do Subindo lançaram seu segundo cd: Homenagem a Chiquinha Gonzaga. O trabalho é resultado de uma intensa pesquisa que fizeram imersos na obra da chorona ícone da presença feminina no choro e da música brasileira, a primeira e primeira maestrina do mundo, Chiquinha Gonzaga.
Vale ainda o destaque: por tratar-se de uma homenagem, o cd traz composições de Chiquinha, mas também seis músicas compostas e com arranjos de André Ribeiro e de Priscila Matos, não necessariamente composições feitas por eles dois juntos, o que há também no cd.
O projeto fonográfico foi finalizado por uma campanha de financiamento coletivo que os músicos fizeram na internet através de uma plataforma que vem sendo muito utilizada por outros chorões. Super bem sucedida, o disco foi finalizado em produzido em dois estúdios: Vitrola Digital Estúdio, em função do piano de cauda, e no Síncopa, que fez a mixagem e masterização do disco.
Além deste cd, em 2012 eles gravaram o primeiro trabalho “De três em três”, lançado em 2013.
Chorões brasileiros no CCUK
O Clube do Choro de Londres pode ser uma porta de entrada para quem pretende investir na carreira internacional. Em 2014 o Clube criou um projeto de intercambio musical e cultural entre artistas do Brasil e Inglaterra. Em seu site, o Clube passou a convidar grupos do Brasil a se inscreverem numa espécie de seleção. Os músicos convidados pelo Clube não ganham recursos financeiros para irem se apresentar e fazer o workshop, os músicos vão por conta própria, por vontade de tocar e investir. A expertize da coisa reside em criar uma rede e começar a planejar sua ida com prazo, assim é mais viável agendar outras apresentações e divulgar seu trabalho em outras regiões próximas a Londres. Na Europa nada é distante, lembre disso. Gigante somos nós!
“Desde do ano passado passamos a publicar as datas que estariam disponíveis perto do final do ano (normalmente começo de outubro), em nosso site, e pedimos aos interessados em fazer parte das nossas atividades que enviassem seus trabalhos (release, fotos, vídeos). Pedimos ainda que selecionassem três datas que poderiam estar em Londres, no Clube, para desta forma, a proposta se tornar ainda mais flexível para todos os músicos.
A Priscila entrou em contato conosco e colocamos o Subindo a Ladeira na nossa programação desde o ano passado, ou seja, o vídeo e informações da banda ficaram disponíveis na nossa website (que e bem frequentada), por mais de oito meses. Acreditamos que ajuda muito para divulgar o trabalho dos artistas aqui fora e também dar mais tempo para a plateia pesquisar e escolher o trabalho do artista que eles irão assistir. Sem dizer que abre mais possibilidades de outros trabalhos para os artistas. Claro que o Clube do Choro UK não é uma agência de artistas, e deixamos isso bem claro, porém, sempre incentivamos e ajudamos como podemos para que esses artistas tenham espaço nos veículos de comunicação, gerando assim interesse de produtores internacionais”, explica o bandolinista representante do Brasil no CCUK.
‘Ano que vem a gente volta!’
Sabidos de que duas semanas é pouco tempo, os músicos já pensam na viagem do ano que vem sem nem mesmo terem feito a deste ano! nada como trabalhar com planejamento de médio e longo prazos? Mas brincadeira, os meninos do Subindo a Ladeira estão tão empolgados com a viagem que já programam uma turnê mais demorada pela Europa.
“O Roberto é servidor e conseguiu marcar as férias para esta data. Eu e o André vivemos profissionalmente de música e estamos investindo na viagem”, conta Priscila Matos.
De Londres, Gaio, os instrumentistas, colaboradores e frequentadores do Clube do Choro de UK aguardam o choro de campinas do Conjunto Subindo a Ladeira sedentos para ouvir e conhecer mais sobre este gênero encantador e fascinante que expressa tão bem a alma do Brasil.
“Esperamos desse e de todos os encontros gerar um dialogo musical através da roda de choro, que é uma estrutura que permite não somente compartilhar, mas também dá com igualdade o direito a voz para todos os artistas presentes, sendo eles Brasileiros ou não). Normalmente os convidados como o Conjunto Subindo a Ladeira tocam nas quatro fases do nosso evento. A primeira fase e um roda aberto a todos, depois e a banda da casa aonde só tocam os músicos mais familiarizados com o gênero, depois vem o show do convidado e para terminar um roda de samba de raiz. Fazemos sambas que estão mais conectados com a linguagem do choro. Eu, Gaio de Lima, infelizmente não estarei presente nessa roda pois estou for do Reino Unido no momento fazendo pesquisa de campo, mais sei que a roda será um sucesso com esse grupo de choro maravilhoso que está indo nos visitar. Esperamos que todos, mutuamente, possam aprender, ensinar e principalmente se divertir muito nessa roda”, conclui o bandolinista.
Quem sobe essa ladeira?
André Ribeiro – Bandolinista, compositor, é Bacharel em Música Popular pela UNICAMP. Conhecido no cenário paulista do choro, já se apresentou com o violonista Alessandro Penezzi e o Mestre do Bandolim de São Paulo, Izaías Bueno de Almeida. Em 2004 realizou o Concerto em Sol Maior para dois bandolins de Antonio Vivaldi com a Orquestra Sinfônica da Unicamp. Dotado de técnica primorosa, em 2009 o instrumentista venceu o 8º Prêmio Nabor Pires Camargo, na categoria Instrumentista. Em 2008 lançou o disco “Abrideira” com o grupo Fina Estampa e em 2012 o disco “De Três em Três” com o Conjunto Subindo a Ladeira.
Priscila Matos – Pianista é Professora de piano do Conservatório Carlos Gomes de Campinas, já se apresentou ao lado de importantes músicos do cenário potiguar como Ticiano D’Amore, Juliano Jow Ferreira e Darlan Marley, tendo sido integrante de bandas de renome como Macaxeira Jazz e Seu Zé. Em 2004 gravou uma faixa do CD Mamute Sound (Natal-RN) e em 2012 lançou o disco “De Três em Três” com o Conjunto Subindo a Ladeira.
Roberto Amaral – Pandeirista, Representou a música brasileira no Congresso Brasa na Tulane University (New Orleans – USA), apresentou-se no Teatro Rival (RJ), Palácio Belas Artes (BH), e Instituto de Artes da Unicamp. Já dividiu o palco com Izaias Bueno de Almeida, Zé da Velha e Silvério Pontes e Nailor Proveta. Estudou na Escola Portátil de Música do Rio de Janeiro e em 2011 gravou com a cantora Beth Carvalho o CD de 100 anos de Nelson Cavaquinho, além do disco “De Três em Três” com o Conjunto Subindo a Ladeira.
Priscila Matos é uma Mulher do Choro
Natural de Salvador (BA), Priscila Matos (32) começou seus estudos musicais – sempre ao piano – aos nove anos de idade, na Academia de Música Carlos Gomes, em Aracajú (SE), por influência do irmão mais velho. Mudando-se com a família para Natal, foi lá que concluiu seus estudos.
Com repertório eclético, ela já tocou de tudo, como ela mesmo diz, mas foi no choro que ela se encontrou musicalmente:
“Desde dos 14 anos eu já toco na noite e sempre com um repertório bem eclético, rock, ska, jazz… Aos 15, 16 anos comecei o estudo de canto, mas profissionalmente posso dizer que foi quando eu vim morar em Campinhas, há sete anos, que eu comecei a trabalhar com música. Minha família era um pouco contra que eu seguisse a carreira musical e eu acabei cursando Odontologia. Eu vim pra Campinas para fazer mestrado em Odontologia, mas acho o fato de eu ter saído do ninho fez com que eu criasse coragem de fazer aquilo que eu sempre quis fazer, que era trabalhar com música. Cursei, não terminei ainda, a licenciatura, o curso de Educação Musical da UFSCAR e aqui acabei tocando bastante e conhecendo muitos músicos e acabei me interessando muito pelo choro. Eu comecei com um duo com o André em 2011 e depois pensamos em formar um trio, foi quando chamamos o Beto e formamos o Subindo a Ladeira”.
Desde eu entrei no Subindo a Ladeira o choro não sai mais! Eu gosto muito do choro. Apesar de ser bem eclética, tenho uma coisa muito forte com a música brasileira, acho que sou um pouco bairrista mesmo.
Tenho o trabalho de choro, tenho um grupo de samba com o André, e um projeto de forró também. Quando me perguntam o que eu toco eu respondo: música brasileira.
Hércules Gomes e o piano no choro
Durante o estudo que fez sobre Chiquinha Gonzaga para a produção do Cd que gravou este ano com o Conjunto Subindo a Ladeira, Priscila conheceu o mestre do piano no choro Hércules Gomes. Com ele, dedicou-se a aperfeiçoar a pesquisa de interpretação da pianista ao instrumento, o que considera ter marcado sensivelmente todo o seu processo de estudo.
“Conheci o Hércules Gomes, professor de piano, e isso foi fundamental. Acho que não conseguiria fazer o trabalho que fizemos sobre Chiquinha sua assessoria. Ele me ensinou praticamente tudo: a parte técnica do piano, postura, angulação dos dedos, do pulso… Ele me ensinou muita coisa”, considera a pianista.
Futuro traçado
Antes de gravar os dois cds com o Subindo a Ladeira, a pianista gravou o Cd solo Futuro Traçado, no qual canta composições autorais.
“Nesse cd eu toco e canto. Tem bastante forró, sambas e outras coisas autorais. É um trabalho com outros músicos, o Tiago Emina (bateria), o Theo Yepez (baixo), Edu Guimarães (sanfona), que inclusive gravou uma faixa do primeiro cd do Subindo a Ladeira, o Choro com dendê, um choro que eu fiz pra ele e aí a gente o convidou para fazer esta participação do cd. Pretendo dar mais atenção quando voltar da Europa”, planeja a compositora.
Conheça mais sobre o Conjunto Subindo a Ladeira
http://www.conjuntosubindoaladeira.com/
https://www.youtube.com/watch?v=xjPjq-BCEgI
https://www.youtube.com/watch?v=BxZiH7tvCN8
https://www.youtube.com/watch?v=xjPjq-BCEgI
https://www.youtube.com/watch?v=HQvVUdwY6qk