Ademilde Fonseca: A Rainha do Choro 1


Leonor Bianchi e Rúben Pereira

A cantora e Rainha do Choro, Ademilde Fonseca, consagrada como a maior intérprete de choro cantado de toda historia do gênero, é uma personagem essencial para se contar a trajetória do choro no século XX. Nascida em Macaíba (RN), no dia 04 de março de 1921 e falecida em 27 de março de 2012 com 70 anos de carreira, Ademilde deixou um legado dos mais ricos para a história do choro.

ademilde fonseca

Apaixonada por música desde nova, participou de muitas serestas e saraus na capital do Rio Grande do Norte, Natal, onde passou a morar a partir dos quatro anos de idade, e onde chegou a integrar conjuntos musicais e trupes de artistas mambembes. A menina Ademilde apaixonou-se por um dos seresteiros e violonistas destas trupes e casando-se com ele, foi para o Rio de Janeiro em busca de mais oportunidades profissionais. “Não sei se me apaixonei por ele ou pelo violão. Acho que foi pelos dois”, confessaria anos depois, a Rainha do Choro.

Com o talento nato de cantora e facilidade para cantar choros velozes, Ademilde Fonseca, pouco depois de chegar à cidade maravilhosa, em 1941, fez teste na Rádio Clube do Brasil e apresentou-se no programa de Renato Murce, Papel Carbono.

Em 1942, foi acompanhada em uma festa pelo Regional de Benedicto Lacerda, e ao cantar o choro Tico-Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu com letra de Eurico Barreiros, impressionou o flautista Benedicto Lacerda, que então era o maior cartaz das gravadoras e do rádio da época, e a levou para gravar, tornando-se assim seu padrinho musical.

Ademilde Fonseca estabeleceu um marco dentro do choro brasileiro aprofundando a estrada aberta por Carmen Miranda, que já gravara choros cantados em sua carreira musical. A aparição de Ademilde e sua destreza para cantar com precisão e em alta velocidade fez surgir diversas letras para choros impensáveis de serem cantados até então, como Apanhei-te cavaquinho, de Ernesto Nazareth e Brasileirinho, de Waldir Azevedo.    

Levada por Lacerda, gravou seu primeiro disco em julho de 1942 pela gravadora Columbia, com o choro Tico-Tico no Fubá de um lado e Voltei pro Morro, de Benedicto Lacerda e Darci de Oliveira, do outro lado. O sucesso foi imediato e Ademilde passou a gravar e apresentar-se com regularidade, criando um séquito de fãs a sua volta.

Em 1943, grava Apanhei-te Cavaquinho, com letra de Darci de Oliveira e Benedicto Lacerda, e Urubú Malandro, com letra de Braguinha. Logo passa a ser conhecida como a Rainha do Choro e faz jus ao título gravando cada vez mais choros cantados e velozes.     

Ademilde Fonseca foi destaque na famosa e extinta Revista do Rádio, em seu primeiro ano de publicação, 1949.

Ademilde Fonseca foi destaque na famosa e extinta Revista do Rádio, em seu primeiro ano de publicação, 1949.

Em 1944, levada pelo cantor Déo, integrou o elenco da Rádio Tupi onde apresentava-se acompanhada dos regionais de Rogério Guimarães e Claudionor Cruz. No ano seguinte, gravou a polca Rato-Rato, de Casimiro Rocha, com letra de Claudino Costa, acompanhada do conjunto Bossa Clube, do violonista Garoto, obtendo enorme êxito.

Ademilde gravou, em 1946, um de seus maiores sucessos, o choro Sonoroso, de K-ximbinho e Del Loro.

Em 1950 grava Brasileirinho, de Waldir Azevedo com letra de Pereira da Costa, e Teco-Teco, de Pereira da Costa e Milton Vilela, consagrando-se definitivamente como grande intérprete de choros. Neste mesmo ano, assina contrato com a Todamérica e grava os choros Molengo, de Severino Araújo e Derrubando violões, do maestro Carioca.

Ademilde Fonseca foi destaque na famosa e extinta Revista do Rádio, em seu primeiro ano de publicação, 1949. Ao lado ela aparece com o Regional de Claudionor Cruz.

Ademilde Fonseca foi destaque na famosa e extinta Revista do Rádio, em seu primeiro ano de publicação, 1949. Ao lado ela aparece com o Regional de Claudionor Cruz.

Em 1951 grava o baião Delicado, de Waldir Azevedo, e faz estrondoso sucesso.

No ano de 1952, viajou com a Orquestra Tabajara para a Europa, onde foi aplaudida por plateias das mais exigentes, e fez temporada na França, onde apresentou-se no castelo de Coberville em espetáculo promovido por Assis Chateaubriand para um público de artistas europeus e americanos.

A partir de 1954, já contratada da Rádio Nacional, Ademilde passa a se apresentar na emissora acompanhada dos regionais de Jacob do Bandolim, Canhoto e Pixinguinha, e pelas orquestras de Radamés Gnatalli e do Maestro Chiquinho.

Na década de 1960, viaja novamente para a Europa, onde apresenta-se ao lado de Jamelão, ficando seis meses em cartaz na capital portuguesa, Lisboa. No ano de 1967 participa do II Festival Internacional da Canção, defendendo o choro Fala Baixinho, de Pixinguinha, com letra de Hermínio Belo de Carvalho.

A carreira de Ademilde foi das mais ativas em relação a manter acesa a chama do choro. Durante certo período, ela era apontada como responsável pela manutenção do choro, e a Rainha creditava a força do gênero às rodas de choro e não ao seu sucesso: “- O choro cantado aumentou bastante a divulgação deste estilo, porém não creio que tenha sido fundamental para a preservação do ritmo, em meio à avalanche de estilos estrangeiros. Todo aprendiz de violão, cavaquinho ou pandeiro participa de rodas de choro, pois este é o ritmo genuinamente brasileiro”, declarou certa vez a cantora.

Mas Ademilde teve sim uma grande parcela de contribuição na difusão e manutenção do choro. Gravou inúmeros sucessos, todos com a marca do canto veloz e afinado. Nas décadas de 1960 e 1970 teve participação destacada, enquanto o choro sofria relativa baixa com a chegada do iê, iê, iê, da bossa nova e do rock nas paradas de sucesso do Brasil.

Em 1975, grava um LP em que se destaca-se a composição feita m sua homenagem por Aldir Blanc e João Bosco, Títulos de Nobreza, mais conhecida como Ademilde no Choro.

Ademilde Fonseca nunca parou de trabalhar e já com 50 anos de carreira, na década de 1990, declarou em relação à memória cultural brasileira: “Com o currículo que eu tenho, até poderia estar bem. Mas eu não tenho do que me queixar, a não ser da inversão de valores. Muita gente fica triste porque o Brasil não se preocupa com o que foi feito no país. Nós, artistas, vamos trabalhando na medida em que as pessoas se lembram da gente”. Este depoimento retrata bem a luta que a cantora travou nos anos 1990 e 2000 para manter acesa a chama de seu canto chorado. Sua voz manteve a tessitura mesmo depois dos 80 anos e Ademilde não parou de cantar um só momento. “Cantar choro não é tarefa muito fácil, pois as melodias alcançam tessituras musicais muito altas e muito baixas, porém, a minha voz comporta naturalmente estas variações” declarou a cantora.

Convidada por Carmélia Alves, integra-se ao grupo “As Eternas Cantoras do Rádio”, ao lado de Ellen de Lima e Violeta Cavalcanti. Em 2000 gravou um depoimento dos mais altivos e importantes para o programa Ensaio, da Tv Cultura, dirigido por Fernando Faro, e em 2001 participou do CD “Café Brasil”, produzido pelo conjunto Época de Ouro junto a Rildo Hora e com participações de Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Marisa Monte, Leila Pinheiro, João Bosco, entre outros.

Ademilde em seus últimos anos de vida apresentava-se ao lado da filha Eymar Fonseca e no dia do seu falecimento tinha gravado o programa Sarau, com Chico Pinheiro, para TV a cabo. Falece de ataque cardíaco fulminante deixando muitos admiradores e uma trajetória única como cantora de choros.

Livro conta a biografia da Rainha do Chorinho

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Em dezembro de 2014, Airton Barreto, sobrinho e genro de Ademilde (casado com sua filha Eymar Fonseca), lançou o livro ‘Ademilde Fonseca, a Rainha do Chorinho’, com prefácio de Osmar Frazão, radialista e pesquisador da Rádio Nacional. Segundo o autor, o livro traz informações corretas sobre muitas informações truncadas e erradas que são divulgadas na internet sobre a autora, além de ser uma homenagem à cantora, que ainda não tinha sua vida registrada em livro.

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Author: imprensabr


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One thought on “Ademilde Fonseca: A Rainha do Choro

  • Patricia Porto

    Na época em que havia baile de Carnaval na Cinelândia, íamos sempre ver Ademilde e outros cantores tradicionais do Carnaval, como Emilinha Borba, Marlene, Zé Ricardo, Francisco Carlos, Venilton Santos, entre outros. Era um baile espetáculo inesquecível, promovido pela Prefeitura do Rio. Deu-nos a preciosa chance de rever grandes cantores, ouvir e cantar deliciosas marchinhas. Era, enfim, uma programação cultural de alto nível e de preservação da memória do Rio de Janeiro.

    De uns anos para cá, lamentavelmente, deixou de acontecer, substituída por uma música mecânica de ritmo e gênero alheios não só ao Carnaval, como à própria música popular brasileira.