Leonor Bianchi
O novo modelo de ouvir e consumir música pela internet, o famoso ‘streaming’ fez crescer o mercado da indústria fonográfica mundial pela primeira vez, desde 2005. Os dados foram divulgados no dia 12 de abril através de um relatório da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI).
A expectativa foi cumprida, e este resultado já era esperado desde 2014, quando o mercado mostrou estagnação, revertendo uma queda nos lucros que vinha desde 2005.
É a primeira na história da indústria fonográfica mundial que as receitas digitais (US$ 6,7 bi) superaram as vendas de discos físicos (US$ 5,8 bi).
Na América Latina houve 11,8% de aumento nas receitas. No Brasil, o aumento foi de 10,6%. Na América do Norte as receitas aumentaram só 1,4%. Já na Ásia, o registro de crescimento foi de 5,7%, e na Europa, 2,3%.
Segundo Paulo Rosa, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), “o crescimento do mercado digital puxou o crescimento brasileiro, e o mercado digital foi puxado pelo streaming”.
O número de assinaturas de serviços de streaming – formato que cresce mais rápido, já representando 19% do total das receitas fonográficas em todo mundo-, como o Spotify, Rdio e Deezer saíram de 41 milhões para 68 milhões de assinaturas, nos últimos dois anos,no mundo todo.
Uma receita significativa que existe quando falamos em streaming é a publicidade. Esta também teve aumento: 45% no mundo e 192% no Brasil.
Os norte-americanos são os maiores consumidores dos serviços streaming em todo o mundo. No ano passado, os EUA superaram as vendas físicas e os downloads pagos de músicas, o que significou um acumulo de 34% do lucro com música no país, de acordo com a Associação da Indústria Fonográfica dos EUA (RIAA).
Porém, nem tudo é comemoração para o segmento. Os downloads pagos tiveram queda de 10,5% nas receitas mundiais, entretanto, ainda continuem sendo o maior segmento digital, representando 20% do total das receitas fonográficas mundiais.
A indústria se queixa, porém, de setores do streaming que ainda não revertem lucros, como os sites em que o conteúdo é gerado por terceiros. No ano passado, segundo a IFPI a receita de venda de vinis (US$ 416 milhões) superou o YouTube (US$ 385 milhões) nos Estados Unidos.
Segundo o IFPI, os valores pagos por plataformas de streaming de áudio e vídeo com conteúdo gerado por terceiros (“User Generated Content”), e que remuneram a utilização desses áudios ou vídeos musicais, exclusivamente com base em receitas de publicidade estão completamente defasados em comparação com os demais operadores de streaming, e se constituem no maior desafio para o desenvolvimento do mercado digital no futuro, com remunerações mais adequadas e justas para criadores e produtores musicais. O problema decorre principalmente da atual legislação nos Estados Unidos e na Europa, que protege estas plataformas, e só deverá ser equacionado com mudanças legislativas, já em discussão naqueles dois territórios.
E os músicos, o que têm a dizer sobre esse crescimento? Frejat e Chico Buarque, no Brasil, acham pouco o retorno financeiro do streaming e afirmam que é menor que o das vendas físicas de discos.
Curiosidade! Quanto o Spotify paga para os artistas do top 10?
Desde que as plataformas de streaming começaram a tomar força, nossa relação com o consumo de música mudou. Cada vez menos baixamos músicas porque é bem mais prático abrimos o Spotify ou o Deezer, por exemplo, ou mesmo Youtube.
O que é vantagem para o público pode dar prejuízo a alguns artistas, que se opõem à ideia do streaming e tiram seus catálogos do ar. Ano passado, em função desse debate sobre quanto as plataformas de streaming pagam aos artistas, o Spotify abriu sua lista de pagamentos, embora os valores pagos não parecem ruins.
Um artista que aparece no top 100, por exemplo, recebe, por ano, aproximadamente, 3 milhões de dólares. Já os artistas do top 10 arrecadaram 13,9 milhões de dólares cada um!
Vale dizer que esse dinheiro vai para as gravadoras, e a parcela de cada artista varia de acordo com seu contrato.
Neste mercado em evolução permanente uma a alternativa é criar seus próprios mecanismos para divulgar e vender suas músicas. Foi o que o cantor fez Jay-Z, que criou o serviço Tidal para abrigar suas músicas. http://tidal.com/br
“O negócio está muito mais pulverizado do que era há 20 anos. Os valores são menores e o universo de conteúdos é muito maior. Para o artista, a remuneração ainda é pequena. A escala das assinaturas tem que crescer”, diz Rosa.
Já as vendas de CDs e DVDs no Brasil diminuíram em 19,3%, enquanto as vendas digitais, que incluem streaming, downloads e telefonia móvel, cresceram 45%.
Veja os dados relativos a esse crescimento no Brasil
No Brasil, o mercado fonográfico (físico + digital) teve em 2015 aumento em suas receitas de 10,6%, impulsionado pela continuidade do crescimento da área digital (+45,1%).
– Receitas com a distribuição de música em formatos digitais representaram em 2015, 61% do total combinado físico + digital no Brasil, comparados a 48% em 2014.
– A continuidade do recuo de vendas físicas (-19,3%) e, em contrapartida, o desempenho significativo do mercado de música digital (+ 45,1%) certificam que a distribuição de música gravada através de meios digitais já é uma realidade irreversível, seja por streaming, downloads ou telefonia móvel.
– Downloads de músicas avulsas e álbuns completos mantiveram-se praticamente estáveis em 2015, com crescimento de 0,2%, representando 20,8% da área digital. Receitas derivadas de Telefonia Móvel tiveram aumento de 4,9% com 13,6% de participação no total do digital. Já as receitas com origem na distribuição por streaming remunerados por subscrição/assinatura cresceram 192,4%. O faturamento do streaming remunerado por publicidade elevou-se em 30,7%.
– As duas modalidades de streaming – remuneradas por subscrição ou publicidade – representaram respectivamente 35,5% e 30,1% do total do faturamento com música digital no Brasil em 2015.
Segundo Paulo Rosa, Presidente da ABPD, “O relatório do IFPI sobre o mercado fonográfico em 2015 traz boas notícias, e confirma a tendência dos últimos anos que já apontava para um gradual amadurecimento do mercado de distribuição de música em meios digitais, com diversidade e consistência de modelos de negócio e cada vez mais consumidores participando do mercado formal. Situações específicas, porém não menos importantes, como o “Value Gap” citado naquele relatório devem ser discutidas na origem e resolvidas em benefício global de criadores e produtores musicais de todas as nacionalidades. Já os números divulgados hoje pela ABPD, demonstram que o mercado brasileiro segue a mesma tendência do mercado mundial, com o setor digital sendo determinante para seu crescimento e já representando a maior parte de suas receitas.”