O Choro nas telas do cinema 3


Nova safra de filmes nacionais coloca o choro como tema central e revela um Brasil de excelentes instrumentistas e cineastas

Por Leonor Bianchi

Uma cientista social e uma desenhista [quase historiadora], que hoje estuda artes plásticas, ambas de Porto Alegre; uma jornalista carioca, uma equipe de documentaristas de Belo Horizonte, e um grupo de instrumentistas de Piracicaba. O que essas pessoas têm em comum? A paixão pelo cinema e pelo choro. Uma paixão que vem revelando um Brasil de grandes cineastas e de excelentes instrumentistas do gênero. Um Brasil onde a cultura popular e de raiz pulsa forte e fala mais alto nas telas do cinema.

Assistindo boa parte dos novos filmes que vem sendo exibidos em mostras, festivais e circuitos alternativos de cinema, e na TV, no Brasil, nos últimos dez anos, percebemos que o choro tem sido tematizado em muitos filmes, séries especiais para televisão, para canais por assinatura, e está cada vez mais íntimo do audiovisual. Ou seria o inverso? O fato é que da ficção, passando pelo doc-ficção e pelas narrativas clássicas do documentário, chegando às novas formas do fazer documentário, à prática do documentário relacionista, onde o documentarista se envolve com o fato registrado, com a vida das pessoas que filma e entrevista, nunca vimos o choro tão representado nas telas do cinema nacional.

Temos duas faces dessa produção, onde uma é rica e a outra anda de pires na mão, de pedinte atrás de editais de cultura, leis de renúncia fiscal e, nos últimos tempos, capta recursos em plataforma de compartilhamento de projetos em sistema de financiamento coletivo, os chamados crowndfunding. Ainda limitado, o número de cópias dessas produções percorre poucos espaços de exibição e em alguns casos nem chega às salas comerciais de cinema, restringindo-se aos circuitos cult de festivais e cineclubes.

A Revista do Choro, percebendo a forte referência que o gênero vem exercendo em novos realizadores, decidiu pautar como matéria de capa de sua edição N. 3 ‘O choro nas telas’ a fim de identificar quem são esses nossos diretores, essa nova safra do nosso cinema, que vem mostrando interesse em retratar o gênero através a sétima arte. Através do cinema, mas também do vídeo, do audiovisual de maneira mais ampla, para o caso de produções que não são direcionadas especificamente para o cinema, pois quando falamos ‘cinema’ parece que restringimos a produção ao cinema e quando falamos em audiovisual, o conceito se amplia e temos aí filmes e séries para TVs abertas e fechadas, celulares e internet, por exemplo.

Mas, infelizmente, grande parte de nossa produção audiovisual não chega a ser exibida nem em salas de cinema, nem nas TVs, sejam estas abertas ou fechadas… por falta de políticas que tratem do tema, ou por falta de consistência das que existem hoje, mas orbitam em torno de interesses de grandes grupos exibidores e empresas de comunicação. No caso do cinema, nossos filmes não são exibidos simplesmente pelo fato de não terem orçamento que os permita ampliar seu número de cópias e, consequentemente, sua exibição nas salas do circuito comercial. A velha conta de quanto custa para fazer a produção chegar ao público parece não entrar no orçamento dos nossos filmes, ou melhor, os financiadores não permitem que ela entre. É desonesta a disputa. Um filme norte-americano entra no mercado brasileiro de exibição com mais de 400 cópias. Um filme brasileiro só consegue entrar no cinema se tiver o selo forte de uma grande major apoiando a produção e ainda assim barganha 350 cópias no mercado, número mínimo de cópias de um lançamento internacional norte-americano no Brasil, por exemplo. Ainda assim, com a pujança da força da cultura popular, ainda que não encontre espaço nas salas comerciais, a maioria dos filmes que falam sobre o universo do choro está chegando aos circuitos alternativos de mostras, festivais de cinema e vídeo, cineclubes e espaços culturais de todo Brasil, naturalmente, e cada vez mais o público, digamos assim, do cinema, está tendo contato com a ‘cultura do choro’ através do vídeo.

Do lado de cá das majores do cinema brasileiro, descobrimos as documentaristas gaúchas Ana Mendes e Natália Chaves Bandeira. Em 2008, elas concorreram ao edital de cultura do Fundo para Arte da Secretaria da Cultura de Porto Alegre, o Fumproarte, e realizaram o longa-metragem O Clube, contando a história do Clube do Choro de Porto Alegre, fundado em 1989.

Surgiu, espontaneamente no email da revista e interessou muito, o release do filme Bar Semente, da jornalista Patrícia Terra, sobre o retorno da cena de samba, do choro e da música instrumental brasileira no bairro boêmio da Lapa, no Rio de Janeiro, na última década.

Pesquisando conteúdo e conversando com amigos, chegamos aos mineiros de Belo Horizonte que estão gravando um filme sobre a vida e a obra do violonista chorão Mozart Secundino de Oliveira.

E, entre tantos filmes e pessoas que foram surgindo durante a produção desta matéria, descobrimos, durante a produção de outra pauta, que tem uma turma em Piracicaba, terra do mestre de violão Sergio Belluco, registrando muitos encontros com o instrumentista, já pensando em fazer um documentário com o material. Durante a entrevista que fiz com o conjunto Água de Vintém, acabei sabendo mais sobre o projeto que os músicos do grupo desenvolvem acerca da obra de Sergio Belluco e que dentro do projeto de gravação do CD em homenagem a ele, que estão produzindo, os meninos do ‘Água’ também estão gravando um documentário sobre Belluco. O documentário tem direção de Kael Gonçalo e produção da Pyx Filmes, ainda sem previsão de finalização e lançamento.

O Conjunto Água de Vintém, que faz um trabalho de resgate da obra do violonista piracicabano Sergio Belluco está gravando com um documentário sobre a vida e obra do mestre com o cineasta

O Conjunto Água de Vintém, que faz um trabalho de resgate da obra do piracicabano Sergio Belluco está gravando um documentário sobre a vida e a obra do violonista, com direção do documentarista Kael Gonçalo. O filme deve ficar pronto ano que vem.

Editais e fundos de cultura possibilitam novas produções, mas muitas nem chegam a serem exibidas no cinema

Still de O Clube. Créditos: Ana Mendes.

Still de O Clube. Créditos: Ana Mendes.

O ano era 2008 quando as documentaristas Ana Mendes e Natália Bandeira passaram a frequentar o Clube do Choro de Porto Alegre. Na época, elas não imaginavam que o ambiente do Clube as fascinasse e que chegariam a fazer o maior e mais importante registro do clube de choro fundado há 25 anos numa das capitais mais tradicionais do Brasil. O processo de gravação do filme só rolou em 2011, num momento em que elas já estavam entrosadas com os chorões e fazendo parte daquela família de músicos e confrades do Clube.

– Começamos o trabalho em 2008, quando íamos ao Clube todas as quintas-feiras para desenhar (Natália) e fotografar (Ana). Ao final desse ano fizemos uma exposição com as imagens. Mas também, mais que as imagens registradas, já tínhamos muita convivência com os frequentadores e músicos do Clube. Isso nos levou à construção do projeto do documentário. Gravamos o filme em uma semana, foi muito tranquilo, pois tínhamos uma certa intimidade com nossos entrevistados e também porque fizemos pré-entrevistas com todos eles, antes das gravações. Estudamos muito. Além disso, como o espectador do filme pode notar, ao longo do tempo nos tornamos parte deste Clube também, então acabamos construindo uma história de dentro daquele ambiente, embora tenhamos chegado só em 2008, quando o Clube já tinha seus vinte anos de história – conta a diretora do longa-metragem, Natália Bandeira.

Segundo Ana Mendes, a sintonia fina entre ambas as diretoras, que são grandes amigas, colaborou para o enriquecimento da construção de todo o filme.

– Um dia não sabíamos nada sobre cinema e no outro vimos que tínhamos histórias belas pra contar. Somos caçadoras de histórias, o cinema foi consequência. Criamos uma concepção própria que se reflete na maneira como lidamos com as pessoas entrevistadas. Nos tornamos personagens das histórias que contamos porque nos envolvemos profundamente com as pessoas entrevistadas, isso é espontâneo, faz parte da nossa personalidade, mas depois de um determinado momento, virou método – diz Ana Mendes.  

Still de O Clube. Créditos: Ana Mendes.

Still de O Clube. Créditos: Ana Mendes.

O filme O Clube teve pré-estreia no dia 11 de janeiro deste ano em sessão na Cinemateca Paulo Amorim, na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre, mas o lançamento oficial ainda não tem data certa para acontecer. O filme está na fase de percorrer mostras e festivais de cinema e está sendo inscrito em diversos desses projetos pelo Brasil e pelo mundo. Já foi exibido no Festival Internacional de Cinema de Fronteira, em Bagé, no RS, na categoria ‘não competitiva’. Além de POA, o filme sobre o Clube do Choro de Porto Alegre já foi exibido também Rio Branco, no Acre e em Porto Velho, em Rondônia. Agora, as diretoras aguardam resposta sobre a possível exibição d’O Clube num encontro de antropologia visual, em Belém.

De acordo com a diretora Natália Bandeira, ela e a amiga documentarista com que divide a direção do longa-metragem, Ana Mendes, ainda não sabem qual será o futuro do filme.

– Como o filme foi realizado através de um edital, a produção dele foi contratada somente para a execução do projeto. A pós-produção ficou em nossas mãos. O que acontece é que é o nosso primeiro filme. Agora, estamos fazendo nosso segundo e nem sempre temos força ($$) para seguir tudo – diz a produtora independente.

– A gente está a fim de disponibilizar o filme online, através do site de uma produtora parceira. Entramos na loucura de inscrever o filme em festivais e de mantê-lo inédito para isso, mas não tivemos pernas para tanto, sozinhas. Levamos o filme de baixo do braço para aonde vamos e mostramos em pequenas sessões. Tem acontecido assim e acredito que este não é um problema exclusivo do nosso filme. A distribuição é bastante desfalcada no Brasil e não é previamente pensada nos editais. Não é à toa que a há pouco foi promulgada a lei que obriga as TVs exibirem filmes brasileiros. A coisa está mudando e a categoria está organizada. A Casa de Cultura Mário Quintana está aberta para receber o lançamento do filme… pode ser que aconteça lá – observa a diretora Ana Mendes.

Política de fomento a novas produções de longas-metragens e documentários

Atualmente, além de distribuir aos poucos o seu primeiro longa-metragem, as diretoras Natália e Ana estão dirigindo o filme ‘Nêga Lû’. Para as duas, a Revista do Choro fez uma pergunta relacionada à política de fomento a produção audiovisual no Brasil, que fez a todos os outros entrevistados e depoentes da matéria. Leia o que as diretoras do filme O Clube disseram:

Revista do Choro: Como vocês avaliam a política de fomento à produção cinematográfica de longas-metragens hoje no Brasil?

Natália Bandeira: Estamos conhecendo ainda. Esta pergunta normalmente vem pedindo uma crítica e, certamente há o que se falar, mas entendo que no Brasil, falando apenas em cultura, pode-se dizer que a educação, as artes visuais e a arte de rua, por exemplo, ainda estão muito mais à margem.

Ana Mendes: A gente transita entre várias áreas das artes porque não deixamos de ser fotógrafa e desenhista, encaixamos nossos projetos em diversos editais sempre em busca de contar boas histórias. Acho que o documentário é muito bem aceito em todas as suas variáveis, já foi absorvido pelas artes. O cinema brasileiro de ficção bebe muito na realidade. Mas de maneira geral acredito que temos de avançar muito ainda em relação à inserção do cinema brasileiro no circuito, na televisão, nas escolas. Isso ainda é uma reivindicação da classe.

Simplicidade – um filme sobre Mozart Secundino de Oliveira

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Outro filme que marca a boa fase de entrosamento do cinema brasileiro com o choro é o documentário musical Simplicidade – Mozart Secundino de Oliveira, que começou a ser gravado em 2009 por um grupo de amigos do violonista de Belo Horizonte.

O filme sobre o grande violonista chorão mineiro Mozart Secundino (91) ainda não foi finalizado por falta de recursos. No dia 28 de agosto, seus produtores colocaram o projeto de realização do filme em um site de captação de recursos através do sistema de financiamento coletivo, e esperam conseguir recursos para finalizá-lo.

Segundo a jornalista e pesquisadora cinematográfica Mariana Mól:

– Já foram realizadas as filmagens (mais de 24 horas de imagens), o roteiro e uma edição bruta – tudo de forma independente. Mas agora, para tirar o projeto dos nossos computadores e corações, e fazer o documentário seguir para o mundo, abrimos uma campanha de financiamento coletivo para conseguir R$15 mil e finalizar o filme. A campanha está no site www.variavel5.com.br/projetos/simplicidade – informa a produtora.

A origem de tamanha ‘simplicidade’

Em 1950, Jacob do Bandolim compôs o belíssimo choro Simplicidade, que se tornou a música preferida de Mozart. O violonista Mozart Secundino de Oliveira nasceu no dia 21 de fevereiro de 1923, em Bandeirinha, distrito de Betim (Minas Gerais). Mudou-se com a família para Belo Horizonte aos onze anos de idade e seu primeiro emprego na capital foi de entregador de marmitas. Depois virou carregador de compras no Mercado Central e, mais tarde, foi motorista de táxi e vendedor de doces – trabalho ao qual dedicou-se por 20 anos. Viúvo, Mozart é pai de dois filhos.

Sua carreira musical começou em 1964, quando aprendeu a tocar violão com o professor Bento de Oliveira, que lhe deu aulas por três anos. A partir daí, começou a tocar em bares e a complementar seu salário de vendedor de doces com o choro. Mozart integrou o regional de choro da Rádio Guarani; acompanhou por muitos anos o músico Waldir Silva e, hoje, faz parte de vários grupos de choro de diferentes gerações de Belo Horizonte. Foi somente em 2009 que formou seu próprio grupo: Quem não chora não Mama. Mozart é também um dos membros-fundadores do Clube do Choro de Belo Horizonte.

O filme ainda não tem data de finalização e lançamento.

O ‘Choro da Lapa’ deu raízes e brotou em novas sementes

Com produção de Cavi Borges (Cavídeo), edição de som de Carlos Fucs (Toca da Raposa) e direção musical do violonista Yamandu Costa, e também dos violonistas Zé Paulo Becker e Luis Filipe de Lima, a jornalista carioca Patricia Terra está em plena gravação do longa-metragem documentário Semente – Raiz da Música Brasileira.

O filme está reunido momentos históricos de criação artística e recuperação do importante reduto cultural do Rio de Janeiro, precursor no movimento que hoje atrai milhares de visitantes e consumidores de cultura: a Lapa.

– Recuperar a trajetória do Semente – uma verdadeira ‘incubadora musical’ –  é realizar um documento histórico sob vários pontos de vista. O mais importante diz respeito ao registro cultural, com a reunião de imagens, sons e depoimentos de artistas – algo que as próximas gerações precisam conhecer, assim como conhecemos hoje a importância que as reuniões de compositores, instrumentistas e intérpretes em apartamentos da zona sul carioca tiveram para o surgimento e a sedimentação da bossa nova – ressalta a diretora do longa, que contará com a participação de expoentes do samba e do choro cariocas.

Além disso, o filme quer mostrar o bar como espaço singular de preservação de memória, expansão e renovação espontânea da música brasileira, por funcionar como um celeiro artístico, um palco que atrai profissionais de outros estados e outros países, interessados na criação musical.

Não há carioca que hoje não conheça o Semente, na esquina das ruas Joaquim Silva e Evaristo da Veiga, embaixo dos Arcos da Lapa. O bar foi aberto em 1998 e acabou se tornando uma importante referência para uma nova geração de sambistas e chorões do Rio de Janeiro e ponto de encontro de músicos de todos os lugares, até de fora do Brasil.

No Semente novo, roda com Yamandu Costa, Samuel de Oliveira e João Camarero.

No Semente novo, roda com Yamandu Costa, Samuel de Oliveira e João Camarero.

Até início de 2014, o Semente funcionou em 76 metros quadrados, incluindo a cozinha, um palquinho improvisado, um balcão e quatro janelas com vistas para o aqueduto histórico, os bondinhos de Santa Teresa, e ajudou a escrever a história recente da MPB. Artistas como Marisa Monte, Beth Carvalho, Davi Moraes, Mariana Aydar, Roberta Sá, o pessoal da Velha Guarda da Portela e muitas outras vozes da nossa música já passaram por lá. Teresa Cristina e o grupo Semente, batizado assim por ter se formado e afirmado no bar, os grupos Casuarina, Abraçando o Jacaré, Orquestra Lunar e Tira Poeira (com este último, Bethânia gravou seu CD Brasileirinho), Moyseis Marques, Marcos Sacramento, Nicolas Krassik, Edu Krieger, Zé da Velha, Silvério Pontes, Cristina Buarque, Zé Paulo Becker (Trio Madeira Brasil) e o virtuose das cordas, o gaúcho Yamandu Costa, que foi recebido pelo Semente em sua primeira apresentação no Rio e em 2011 se tornou sócio do espaço, são alguns bons exemplos da qualidade da música que frutificou ali e que o documentário vai resgatar. 

Recomendado pelo The New York Times para quem vem ao Rio e quer ouvir boa música, o lugar recebe visitantes todas as noites da semana, encaminhados por grandes hotéis. Gente que volta para o país de origem saudosa da experiência única de partilhar de noites de pura música brasileira, que nunca se repetem.

– Vamos lembrar no filme, que abrir espaço em meio a um cenário decadente não foi fácil.  Pioneiro no movimento de revitalização da Lapa em sua boemia cultural, o Semente enfrentou muitas dificuldades e chegou a fechar em 2003. Os donos eram a professora de estatística da UERJ Regina Weissman e seu marido, o psicanalista Osvaldo Rego -, enfatiza a diretora do filme Patricia Terra.

Depois da criação do Distrito Cultural da Lapa pelo Governo do estado, em 2001, veio o surgimento de outros espaços, como o Carioca da Gema e o Rio Scenarium, e a casa viveu uma crise, com muitas dívidas e multas por causa do barulho. Mas em janeiro de 2004, o bar reabriu aos cuidados de um grupo de amigos que se identificou como Comuna do Semente e pagava do próprio bolso as despesas de manutenção. A atual dona, a gaúcha Aline Brufato, estava neste grupo. Ela fincou pé e acabou assumindo a empreitada de manter o Semente de portas abertas, enquanto terminava seu mestrado em Engenharia de Produção na Coppe-UFRJ, projeto que a trouxera para o Rio de Janeiro.

Patrícia Terra conseguiu imagens feitas no bar em 2001, de Teresa Cristina, Yamandu Costa, Moyseis Marques, Zé Paulo Becker, todos muito jovens em cena… Mas momentos atuais, com Zé Paulo Becker e participações especiais de atrações internacionais, como as de Snarky Puppy e Dave Mathews Band, também estão no roteiro do filme, segundo Patricia.

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Ela conta que:

– O trabalho de resgate de imagens feitas por cinegrafistas amadores, artistas e emissoras de televisão já foi iniciado. Já filmamos mais de 30 entrevistas e algumas noites incríveis no bar. Quero transmitir a quem está longe um pouco da energia gerada neste palco gestacional de uma nova fase na música que se produz do Rio de Janeiro para o mundo, e fazer ressoar a música que se fez ali, nos últimos 16 anos, para a eternidade. O Semente é a casa dos músicos e o filme vai levar essa casa cheia de arte para qualquer parte do mundo. Como um vento que ajuda na semeadura, espero que o documentário leve a intimidade desta música ainda mais longe – deseja Patrícia Terra.

O filme, que deve ser finalizá-lo até março de 2015 e lançado no FestRio 2015, teve orçamento mínimo de 370 mil reais, mas está sendo feito sem recursos e patrocínio. Com larga experiência em produção de filmes de baixo [ou nenhum orçamento], o produtor Cavi Borges deverá novamente emplacar mais um sucesso do cinema brasileiro dentro e fora do Brasil, é só questão de tempo. O primeiro corte na edição do filme foi feito com recursos próprios, porém, a finalização será feita com apoio do Canal Brasil. Aprovado em duas leis de incentivo à cultura (ICMS-RJ e ISS-RJ), o projeto acabou não tendo captação de recursos.

Para a diretora do longa:

– É muito difícil para alguém que está começando conseguir financiar seus filmes. Com determinação e trabalho é possível aprovar em leis, inscrever em editais – que são poucos para quem não tem experiência, sem precisar de formação específica. Mas na hora da captação… não rola. O dinheiro fica sempre nas mãos dos mesmos. Parece que quem investe, não quer arriscar. E, já que é assim, creio que o governo deveria subsidiar filmes de iniciantes, para renovar o mercado.

Assista no link a ‘promo’ do filme

https://www.youtube.com/watch?v=Ow9qr1sG57s

Choro e Cinema

A relação do choro e dos chorões com o cinema sempre existiu no Brasil. Na época do cinema mudo, de 1896 quando o cinema chegou ao Brasil, até 1929, quando surge o som no cinema, era Ernesto Nazareth e centenas de outros pianistas que tocavam pianolas atrás das telas, durante as projeções de pequenos filmes, nos muitos cinemas do Rio de Janeiro.

Os Oito Batutas, na década de 1920, tocaram na sala de espera do Cinematógrafo Palais, também no Rio de Janeiro, e dali, da salinha de espera do cinema, ganharam o mundo.

O personagem mais popular do desenho ilustrado e depois do desenho animado no Brasil, o Zé carioca, teve a voz de Aluízio de Oliveira [parceiro de Tom Jobim e grande produtor musical brasileiro…] e dublagem de José do Patrocínio de Oliveira, chorão, compositor, bandolinista e violonista no cinema animado, levado às telas do mundo inteiro pelos estúdios de Walt Disney, nos Estados Unidos.

Ernesto Nazareth é citado na coluna Cinematographos do jornal o Paiz, em 11 de agosto de 1910, um ano depois de ter começado a trabalhar na sala de espera do cinema.

Ernesto Nazareth é citado na coluna Cinematographos do jornal o Paiz, em 11 de agosto de 1910, um ano depois de ter começado a trabalhar na sala de espera do cinema

O filme é feito em 1943, num período de guerra, um ano antes das tropas brasileiras serem enviadas para combater na Europa, na Segunda guerra Mundial, após pressão do governo norte-americano, que exigia de Getúlio Vargas um posicionamento contra o fascismo que crescia na Alemanha nazista. Nesse contexto, o Brasil funda um pacto de relações culturais com os EUA e o filme Zé Carioca, assim como Carmem Miranda e sua explosão definitiva naquele país, se daria em torno da indústria da guerra.

Uma das raras imagens em movimento que conhecemos do flautista chorão Benedicto Lacerda tocando na primeira fase de seu regional, acompanhando Aurora Miranda, está no filme Alô, Alô, Carnaval, de Adhemar Gonzaga, lançado no Brasil em 1936, pela Cinédia [http://www.cinedia.com.br/], primeira produtora de cinema do Rio de Janeiro, fundada por Gonzaga em 15 de março de 1930. O flautista teve participação em dezenas de filmes.

Também da Cinédia, mas dirigido pelo imortal ‘Pai do Cinema Brasileiro’ Humberto Mauro, o filme Ganga Bruta, de 1933 [http://www.youtube.com/watch?v=55pkZpXr2R8], teve trilha sonora do maestro chorão Radamés Gnatali e, ao violão, na canção principal, de Heckel Tavares com letra de Joracy Camargo, o compositor, violonista e bandolinista Pereira Filho.

Para finalizar, pois senão não paramos mais de citar a intensa e permanente relação entre o choro e o cinema, quem poderia esquecer um dos maiores sucessos do cinema mundial, o filme O poderoso Chefão [1972], de Francis Ford Coppola? Sua trilha sonora – uma das mais famosas da cinematografia mundial, assinada pelo grandioso compositor italiano Nino Rota -, teve arranjo de bandolim e interpretação do violonista e chorão brasileiro Laurindo de Almeida. Depois de anos tocando em diversos regionais nas maiores rádios do Brasil, Laurindo radicou-se nos Estados Unidos no final dos anos de 1940, com o fechamento dos cassinos, fazendo naquele país extensa carreira, composto trilhas sonoras e arranjos para mais de 800 filmes, a maioria, sucesso de bilheteria do cinema mundial.

Nada mais expressivo a respeito da relação do choro com o cinema do que a composição Odeon, de Ernesto Nazareth

Nada poderia representar de maneira tão singular e característica a relação do choro com o cinema quanto a composição de Ernesto Nazareth Odeon, feita por ele para homenagear o ambiente onde vivera intensamente. A música foi composta em 1910, ano em que Nazareth vai trabalhar tocando na sala de espera do Cine Odeon, na Cinelândia, bairro do centro histórico do Rio de Janeiro. Odeon é um tango brasileiro no qual o pianista faz alusão a sua memória da sala de projeção do Cine Odeon. De 1910 a 1913, Nazareth trabalhou no Cine Odeon. Saiu e voltou a trabalhar no cinema em 1917, regendo uma pequena orquestra.

Você não pode deixar de assistir

Depois de tanta informação sobre o choro no cinema brasileiro, que tal assistir alguns filmes e colocar o olhar, assim como os ouvidos, em dia?  A Revista do Choro relacionou alguns filmes sobre o tema, produzidos no Brasil, que você não pode deixar de ver. Anote aí, a maioria você consegue na internet, outros são raros, alguns sumiram com o tempo…

Pixinguinha: Direção de João Carlos Horta, 12’,1969.

https://www.youtube.com/watch?v=XYncHWL5w7A

Conversa de Botequim: Direção de Luiz Carlos Lacerda, 1972.

Álbum de Música: Direção de Sérgio Sanz, 10’, 1974.

http://portacurtas.org.br/filme/?name=album_de_musica

O Choro dele: Direção de Leilany Fernandes, 9’, 1975.

Chorinhos e chorões: Direção de Antonio Carlos Fontoura, 9’, 1974.

http://curtadoc.tv/curta/musica/chorinhos-e-choroes/

Alma carioca, um Choro de menino (Animação): Direção de Willian Côgo, 6’, 2002.

https://www.youtube.com/watch?v=NOdIq1ZHOzA

Choro Novo – Diretor: Direção de Luiz Henrique Gazolla, 26’, 2003.

Brasileirinho – Grandes encontros do Choro: Direção de Mika Kaurismaki, 90’, 2005.

http://vimeo.com/92739615

Pixinguinha e a velha guarda do samba: Direção de Ricardo Dias e Thomas Farkas, 11, 2007.

https://www.youtube.com/watch?v=PktXlToWDEA

Nas rodas do Choro: Direção de Milena Sá, 85’, 2010.

Na levada do Choro: Direção de Lucia Campos e Marcelo Chiaretti, 77’, 2008.

Documentário sobre o Choro em Minas Gerais

https://www.youtube.com/watch?v=X4Sgf6GCJQE

Choro – Original do Brasil

Espia Só: Direção de Saturnino Rocha, 75’, 2012.

http://www.youtube.com/watch?v=34gjdfjAKag

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Author: imprensabr


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