Roda de Choro do Porto: Uma Roda que já foi partilhado por gentes de Miami e das Ihas Guadalupe


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    Por Inês Henriques – Correspondente de Lisboa/ Portugal

Porto – A Roda de Choro do Porto, cidade do Norte de Portugal, a segunda mais importante do país, existe há dois anos, quando Tiago Cassola e Eduardo Baltar, “apaixonados por Villa-Lobos”, decidiram começar a tocar.

“E desafiaram outras pessoas. Começou [a Roda] de uma forma muito crua, na Unicepe [Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto], uma coisa tímida. Já tínhamos choro aqui no Porto, com os Copo de Feijão, que são todos portugueses, um deles já esteve a trabalho no Brasil, que tocavam choro e samba”, começou por contar Agostinho Rodrigues, um dos integrantes da Roda e proprietário da Porto Guitarra, uma loja de instrumentos de corda no coração da cidade. “Tivemos a felicidade de ter o Marcelo Portela, brasileiro de Florianópolis, um sete cordas fantástico, que veio dar dinâmica, veio dar o toque que faltava, já que a Roda eram só portugueses. O Marcelo trouxe uma qualidade incrível, a ginga do choro, o ‘know-how’, a literatura, tudo! Em 2012, acabou o doutoramento e nós continuamos. Temos um núcleo duro, ainda que depois não haja um número certo. Existo eu, o Nuno Mendes, conhecido como ‘Musta’, o Eduardo Baltar, o Paulo Osório e o Nuno Coelho. Há ainda o João Moreira, clarinetista da Casa da Música”, acrescenta.

roda choro porto 1

Agostinho toca bandolim e o seu ídolo não podia deixar de ser se não Jacob. “Jacob era a minha meta, o que é muito difícil. Outros ídolos… Hamilton de Holanda, Ronaldo do Bandolim, do Trio Madeira Brasil”, diz-nos.

Dividindo-se entre os shows na Unicepe e na Porto Guitarra, a Roda, que continua a viver da espontaneidade, da dialética com quem assiste, já recebeu pessoas muito diversas, de sítios que, numa primeira fase, nem nos passaria pela cabeça.

“Tivemos cá uns clientes, um casal das Ilhas Guadalupe, fascinados pelo chorinho. Comecei a esboçar o Doce de Côco, perguntei se ele conhecia, disse que sim. O marido até tocava bem guitarra. Quando vi, ela estava a cantar, em português [ela era francesa das Ilhas]. Quando escapou a letra, fez vocalizos e improvisou. Até um coreano cá tivemos. As pessoas às vezes cantam, principalmente o Carinhoso”. Mas não só. “Já tivemos aqui o Trio Bola Preta, residente na Holanda, que veio como quarteto. Tem uma flautista brasileira, um sete cordas português, o cavaquista é finlandês e o pandeiro alemão. Falam português, estes dois últimos, por causa da música. Não têm quase sotaque nenhum. (…) Recebemos uma mensagem no Facebook da loja da Roda de Choro de Miami, a dizer que vinham a Portugal em junho, se podiam tocar. Também já tivemos gente de Bruxelas, da Roda de Paris. É um espaço que de repente passa fronteiras”, lembra Agostinho.
Com um público fiel, que os segue, a Roda do Porto vive muito de “fusões”, tendo já contado com a “introdução da guitarra portuguesa num dos concertos”, “fusões estranhíssimas, mas que resultam”, onde por vezes “se toca o fado clássico”, ao ritmo do choro. E este é um género musical que vai ganhando torcida em Portugal.

“O chorinho é preciso conhecer. Ao ouvir a primeira vez parece ritmo de samba, tocado de uma forma mais lenta. Nada disso. É muito mais complicado. Muito mais específico, é preciso muito mais conhecimento a fundo da raiz do choro, como se toca, para se perceber o que é o chorinho”, assegura o bandolinista.

O texto foi deixado no português de Portugal propositalmente.

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Author: imprensabr

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