O choro caboclo de Adamor do Bandolim
Leonor Bianchi
Acho que agora sim é a hora certa para falarmos de Adamor do Bandolim na Revista do Choro e finalmente finalizarmos a matéria de capa que estamos para colocar no site desde maio, quando foi lançado, pela #e-ditora], nosso livro Pensadores do Choro, que traz o Mestre do Choro Caboclo como protagonista em um de seus textos.
O tempo, que tanto nos ensina, acabou fazendo com que aguardássemos os holofotes que começaram a aparecer em cima do nosso entrevistado nos últimos seis meses pararem de brilhar para então fecharmos esta matéria. Preferimos deixar a estrela aparecer bastante na grande mídia, que ainda não sabia nem quem era Adamor do Bandolim, para então contarmos a nossa parte da história. Deixamos os jornalões e jornalecos darem capa como se fossem eles os caras que sacaram a pauta, para ver de longe como se comportariam todos os atores em cena. Ver de longe é sempre mais interessante do que estar no olho do furação o tempo todo, como eu sempre acabo estando, em função desse meu temperamento… digamos… um tanto quanto crítico com o que merece crítica…
Os ‘papa pautas’
Ninguém da imprensa tinha ‘sacado’ o Mestre Adamor… Fui eu (obviamente depois da Vanessinha, autora do texto que trata do instrumentista no livro Pensadores do Choro!), que trabalhando horas a fio, montei um mailing com muitos emails de editores de cadernos de cultura dos maiores jornalecos que circulam no país e disparei um release sobre o livro para a imprensa nacional falando sobre o Pensadores do Choro e quem era Adamor do Bandolim. E os jornalistas pautaram; não o livro, este eles fingiram que não existia. Foram em cima foi do Mestre Adamor, como urubus esfomeados disputando um naco de carniça. E o mais incrível é que esses editores que receberam minha sugestão de pauta falando sobre o livro e o trabalho de Adamor do Bandolim se quer deram uma nota de rodapé com o nome da ImprensaBR, responsável por disparar os emails relativos aos nossos produtos (o livro é um produto da Revista do Choro e da #e-ditora]), o da #e-ditora], e o da Revista do Choro… Nada. Não mencionaram a gente em nenhum momento em suas reportagens, matérias ou artigos que fizeram explorando a imagem do Mestre do Choro Caboclo.
Se para o instrumentista paraense este foi seu momento de glória, e tinha mesmo que ser!… Para nós da #e-ditora] e da Revista do Choro, promotoras do edital que de certa forma lançou sobre ele esses tantos holofotes, a ocasião exigiu moderação e reflexão: “Afinal, estamos trabalhando para quê se na hora de colocar a pauta na rua, na hora do ‘vamos ver’ quem levou a fama de ter colocado o cara na mídia foi o jornaleco Y e a revistinha de fofoca X…?”, pensamos na redação. Para mim, que nunca trabalhei na linha do ‘tenho que ter um furo de reportagem, tenho que ter, tenho que ter… que nem esses fominhas sem escrúpulos da ‘geração jornal-cafezinho amargo’ esse episódio deixou notória a falta de respeito da imprensa para com a própria imprensa, no Brasil. Foi horrorosa a forma como (de maneira mais específica os editores de ‘cultura’) a imprensa agiu durante toda a campanha de lançamento do livro, fingindo não ter recebido um email nosso sequer falando da obra literária Pensadores do Choro, evidenciando apenas o objeto de um de seus textos para com isso conseguir vender jornal às custas de ‘pautas inéditas’ ou minimamente ‘mais originais’ do que o lixo que eles lançam na rua diariamente.
Nesse processo todo, cheguei a receber um retorno via email absurdo de um questionamento que fiz ao editor de um jornal carioca (que se diz democrático) de onde saiu uma matéria mais absurda ainda envolvendo o meu nome, sem eu ter nunca recebido um telefonema de dentro de sua redação. Falta ‘braba’ de ética. A jornalista dele ligou pro objeto da pauta que a gente sugeriu e falou que estava ligando porque eu havia dado o telefone dele pra ela e tal e coisa e coisa e tal… Absurdo! Sem noção esse ‘profissional’ de imprensa… Eu nunca nem falei com esse jornalista!
A única que sacou que por traz ‘disso tudo’ existiam duas cabeças pensantes produzindo a coisa toda e deu o merecido mérito a isso foi a jornalista de uma grande revista semanal, de circulação nacional, com sede na capital paulista. Para este veículo dei uma rápida, mas ótima entrevista! Inicialmente a jornalista havia dito que o cunho da matéria era informativo e que o foco seria o choro, simplesmente o choro. Era pra falar como estava o choro hoje no Brasil, mas eu acabei fazendo um panorama de como está o choro no Brasil e no mundo… Falei de vários instrumentistas, da cena do choro fora do Rio e São Paulo, enalteci Sergipe, Bahia, Paraíba, Minas Gerais! Comentei sobre o projeto Panorama do Choro (SP), ali do lado dela, mencionei o crescimento do número dos festivais… citei a produção de filmes com o tema choro e lembrei do curta-metragem O Clube, sobre o Clube do Choro de Porto Alegre… listei uma relação razoável de nomes de chorões que dialogam com a Revista do Choro e com os quais ela deveria procurar conversar antes de fechar sua matéria… e, por fim, falei sobre os filhos de Abel Ferreira, Vania e Leonardo Bruno – com quem ela tanto queria entrevista -, pessoas maravilhosas com quem conversei durante a produção da matéria que a revista publicou sobre o centenário de nascimento de Abel, celebrado este ano, em fevereiro (o que mais atraía a jornalista era a matéria sobre o centenário de Abel Ferreira que a revista havia colocado online alguns dias antes da entrevista), e finalmente dei o mote que achava que a nossa fala enquanto Revista do Choro deveria ter na matéria. Não direcionei, mas dei o mote, e ela, como uma jornalista sagaz que é, aceitou: a pauta era, obviamente, naquele contexto, o lançamento do livro Pensadores do Choro, que estava em vias de ser lançado quando fez a entrevista. Isso foi em fevereiro deste ano e havíamos acabado de dar a nota dos vencedores do edital no site da revista. Fiz questão de evidenciar para a jornalista que fazia a apuração via celular, que o foco da matéria não seria eu ou a Revista do Choro, mas que teria que ser o livro que estávamos promovendo e que revelava textos fantásticos e pessoas especiais escrevendo sobre choro. Durante toda entrevista frisei a relevância do personagem real Adamor do Bandolim, comentei quem era Vanessa Trópico, a autora do texto que versava sobre ele no livro Pensadores do Choro e também apresentei rapidamente Sergio Aires, o outro ‘instrumentista-escritor’ contemplado pelo prêmio literário que fizemos.
O que fica desse acontecido é a impressão de que os editores da imprensa brasileira são capazes de atropelar qualquer um que estiver à sua frente, principalmente se este alguém for outro jornalista. Infelizmente essa é a linha de atuação dos editores dos cadernos de cultura dos jornalões Brasil à dentro e até de alguns veículos que se dizem mais modernos e de cunho popular, progressistas, com o discurso voltado para o trabalhador, para a ideologia do operário… Até essa imprensa se mostrou oportunista durante a campanha de lançamento do livro Pensadores do Choro e correu atrás do Mestre como se a Revista do Choro e a #e-ditora] inexistissem, sendo que foram elas que levantaram toda essa bandeira, seguindo os passos da autora Vanessa Trópico, e sugeriu a pauta ‘Adamor do Bandolim’.
Notas de rodapés não dadas à parte, preferimos deixar esse ‘momento celebridade’ passar um pouco para então darmos nós a nossa… como direi… versão da história… e falarmos mais sobre este brasileiro batalhador, amante de sua cultura, a cultura marajoara, deste verdadeiro baluarte do choro no Norte do Brasil… Um homem que, desde a infância, em Anajás, um município pobre entre os muitos da humilde região do Marajó, um lugar recôndito no Norte do Brasil, escutando os LPs de 78 rotações do pai, ligou sua vida intimamente ao choro.
Uma história que (re)começou com o prêmio literário Pensadores do Choro
Novembro de 2014. Redação da Revista do Choro, Lumiar, Rio de Janeiro. Eu e meu companheiro e editor da revista, o chorão e violonista Rúben Pereira, colocamos no ar, pela nossa #e-ditora], um prêmio literário de nível nacional que contemplava artigos e textos sobre choro. Dividido nas categorias Crônicas e Memórias, e Instrumentos, o Edital de Fomento à Produção Literária Pensadores do Choro recebeu inscrições de todo Brasil, mas apenas dois textos foram selecionados: Tudo Culpa do Choro, do chorão e professor de música Sergio Aires, natural de João Pessoa, Paraíba, e O choro marajoara de Adamor do Bandolim e um breve relato da história do choro no Pará, da cavaquinista e pesquisadora de choro Vanessa Trópico, de Belém.
Impressionados com a riqueza e ineditismo que o material da autora Vanessa nos revelava, avaliamos, assim que acabamos de ler seu artigo pela primeira vez, ainda fazendo uma análise dos materiais que haviam chegado através do edital literário, que ele teria que ser publicado através do prêmio, para que o nome desse gênio do bandolim brasileiro fosse revelado ao mundo e ao Brasil, que ainda não sabiam quem era Adamor do Bandolim até então. Exceto alguns músicos do circuito mais tradicional do choro, bandolinistas do naipe de Izaias Bueno e Afonso Machado (Galo Preto) com os quais Adamor mantém comunicação, ainda que esporádica, há muito anos, pouca gente conhecia Adamor e seu choro caboclo, antes de colocarmos seu nome nas páginas da Revista do Choro em função desse edital que fizemos em conjunto com nossa editora, uma editora ainda muito pequena se comparada as gigantes do mercado editorial, mas extremamente comprometida com a publicação de obras com temas relacionados à essência da cultura brasileira.
E foi assim, através desse prêmio literário que conhecemos, passamos a ter contato e a admirar o Mestre Adamor do Bandolim, um marajoara nascido em 29 de maio de 1942 num braço de igarapé do Rio Limão, um dos afluentes do rio Guajará, o principal da região do Marajó e que fica de frente a Anajás, o maior município do arquipélago e centro geográfico da região.
Laços familiares: a musicalidade seria herança do DNA materno
Seu pai, Osvaldino Nascimento Ribeiro, era lavrador e trabalhava na extração de látex, muito explorado naquela região ainda nos anos de 1940. Já adulto e casado com Dona Celina Lobato, recebeu um convite de ‘seu tio Cândido Manoel Ribeiro para trabalhar em seu comércio em Anajás, e foi na hora em busca de melhores dias.
De Anajás, Adamor muda-se com seu pai para Belém. Adamor tinha 10 anos. Depois que seu tio percebera que o salário que estava pagando a ele não era suficiente para a manutenção de sua família, resolveu ajudar na sobrevivência de Osvaldino abrindo na beira do rio um ponto comercial para o sobrinho trabalhar revendendo seus produtos. Anos mais tarde, já aclimatado ao local e bastante entrosado à comunidade, Osvaldino adquire o terreno da Casa Sempre Viva, onde ficava o estabelecimento e onde Adamor passou boa parte da infância.
Memórias da infância em Anajás
Dos tempos de menino em Anajás, Adamor lembra das festas e folguedos populares que até hoje permeiam seu imaginário. Em nossa entrevista ele comentou:
– “Quando eu era pequenininho, antes de eu pegar o banjo, eu via as festas de comemorações de santo que se faziam no interior, festa para levantamento do mastro do santo. Tinham aqueles conjuntos de lá mesmo, que hoje não existem mais, aqueles velhos músicos, que tocavam, não o choro, mas outras músicas. Era a época dos metais: bombardino, trombone, contrabaixo. Isso no final de meus seis, oito anos. Entre 50 e 60 já começaram as músicas com clarinete, viola, feitas lá mesmo no interior. Era tudo acústico. A viola era feita artesanalmente com cinco, seis trastes mesmo. Nem afinavam direito, mas era nisso que eles tocavam”, recorda o Mestre do Choro Caboclo.
O gosto pela música deve ter vindo do DNA materno. No livro Pensadores do Choro, Adamor conta à autora Vanessa Trópico que lembra-se da mãe, Dona Celina, contar que o avô Augusto tocava piston. Ainda que não tenha conhecido o avô, a música chegaria a Adamor através dos tios maternos, que tocavam clarinete e banjo.
A admiração por Garoto e a dedicação ao banjo aos seis anos de idade
E seria através de Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto, que o bandolinista Adamor começaria a apreciar o choro. Primeiro com um banjo feito de destroços de um avião que caíra na região de Anajás, depois com um cavaquinho simples e rústico de cordas cansadas e desafinadas. Assim, Adamor perseverou em seus estudos, que nesse tempo tinham que acontecer em horas incertas… ‘quando dava’… e mais tarde, ainda na adolescência, estudava atrás do balcão do comércio do pai, revezando-se entre o atendimento e o instrumento, tocando baixinho para não ser notado.
A apreciação pelo choro aconteceu ainda na infância. Entre os discos que seu pai comprara junto da tal vitrolinha que mencionei no início da matéria viera um LP de 78 rotações do multi-instrumentista Aníbal Augusto Sardinha. Criança e vendo na capa a palavra Garoto, Adamor pensou tratar-se de um menino como ele. O som do banjo de Garoto encantou o chorão-criança do Marajó, que ali, aos seis anos de idade era ‘picado pelo bichinho do choro’.
“Por volta de 1948, ocorreu um acidente aéreo na região da mata. Após os procedimentos de perícia e retirada dos corpos, a população local invadiu e retirou a fuselagem do avião para, assim, colher as peças grandes e metálicas, principalmente as partes de alumínio altamente côncavas e utilizá-las na construção do toldo das canoas. Um de seus tios construiu, a partir de um desses pedaços, o bojo de um banjo artesanal que, nosso chorão, diz “Eu não sei como ele fez, como encorpou o coro… Mas ele fez!” No intervalo em que o banjo estava sendo construído, seu pai adquiriu de um regatão uma vitrola (acompanhada de muitos discos de música instrumental) por meio da troca de produtos do extrativismo com um comerciante ambulante. Aos seis anos de idade, Adamor se apaixonou pela música que ouvia naqueles discos, especialmente os sons de solo, os quais chama de ponteados. Entusiasmado com a beleza da melodia e por acreditar que se tratava de um menino tocando o choro Encabulado, nosso chorão ainda muito jovem, não sabia que Garoto era o pseudônimo de Anibal Augusto Sardinha, grande instrumentista e compositor brasileiro. Entretanto, soube com genialidade e poucos recursos, absorver nota por nota incorporando-se ao gênero choro de forma insolúvel por toda sua trajetória de vida. Ainda menino, nosso chorão pegou o banjo velho de seu tio Firmilino e dedicou-se exaustivamente à escuta dos discos, a partir dos quais tentava memorizar a melodia e recriá-la no seu instrumento” conta a pesquisadora de choro ” conta Vanessa Trópico no livro Pensadores do Choro em seu texto O choro marajoara de Adamor do Bandolim e um breve relato da história do choro no Pará.
O estudo do instrumento
Estudar música fora um problema para Adamor logo nos primeiros anos em que passou a ter contato com o instrumento. Seu pai, extremamente conservador, temia que o filho se enveredasse pelos caminhos da vida boêmia e não via nisso um futuro para o menino. A desmotivação vinda do pai não o impossibilitou de estar sempre envolvido com a música e Adamor, já mais mocinho, conheceu sua primeira grande referência no choro: Amilar Brenha, o ator de circo e chorão cigano que cruzou o destino do rapaz e o enfeitiçou para sempre com seu jeito de tocar e sua mágica de fazer a música acontecer e fluir… uma lembrança da qual o nosso Mestre do Choro Caboclo jamais se esquecera.
A ida para Belém aos 10 anos para estudar
Quando tinha dez anos (1952), o pai de Adamor mandou o filho para Belém para dar continuidade aos estudos. Na capital do Pará, o jovem cursou o ginásio (1953 a 1957) no Colégio do Carmo em regime de internato. Um fato marcaria o prosseguimento de Adamor na escola. Seu pai, que nessa época estava em Macapá (capital do Amapá), totalmente envolvido com a política local por influência de seu tio Candido (o mesmo tio que o ajudará antes), e não tinha dinheiro suficiente para mandar ao filho, para que permanecesse estudando em Belém. Nesse período em que estudou na capital, Adamor só tinha contato com o instrumento no período de férias escolares através da figura de Mundinho Cordeiro, um amigo que sempre frequentava, a serviço, a casa de comércio de seu pai, “Sempre Viva”.
Amilar Brenha
– “O Amilar surgiu na minha vida em 1958, quando ele chegou em Macapá como integrante de uma trupe de circo. Eu tinha 16 anos. Comecei a acompanhar o espetáculo do circo mais para vê-lo tocar, porque até então eu não tinha visto ao vivo uma pessoa tocar tão bem como Amilar. Já tinha ouvido em rádio, em disco, mas não ao vivo. Foi quando eu vi o bandolim na mão dele. Eu já tinha visto um bandolim. Meu tio tinha um bandolim que ele tocava, que até me ensinou umas notinhas, mas era tudo muito rudimentar. O Amilar, não. O Amilar foi quem me abriu os horizontes e fez com que eu me apaixonasse pelo choro. Quando o vi tocar me apaixonei e fiquei sendo aluno dele. Eu ia aos lugares onde ele ia tocar para vê-lo tocar, nunca fui à casa dele para ele me ensinar uma nota, eu olhava observava e ia para casa para estudar. Começando no cavaquinho, não dava certo por causa da afinação do bandolim, que era diferente. Aí eu falei com ele: – Mestre, eu tenho meu cavaquinho, mas as cordas não dão certo. Então ele disse para eu comprar cordas de bandolim e afinar o cavaquinho como um bandolim. Foi quando eu comecei a tocar. Ouvia ele tocar e comecei a armar os acordes”, conta Adamor.
A última vez que o Mestre do Choro Caboclo esteve com seu ídolo Amilar Brenha foi em 1986.
– “A última vez que vi Amilar foi em 1986 quando ele foi lançar o disco dele em Macapá. O governo bancou um LP – naquele tempo era o vinil -, mas na semana do lançamento ele foi acometido por um AVC e não pode tocar, aí eu fui convidado para me apresentar no lugar dele,”, lembra Adamor do Bandolim.
Da admiração por ver alguém tocar ao ato de compor suas próprias músicas e ir tocar no rádio
E quem poderia supor que o menino humilde de Anajás, que tocava um banjo velho e um cavaquinho desafinado poderia compor ele mesmo suas próprias músicas? Contrariando a lógica da educação no Brasil e da realidade de milhares de crianças e jovens sem oportunidade de estudo, acesso a lazer, cultura e informação, Adamor, como um brasileiro casca grossa que desde cedo é, não só poderia, como compôs e segue até hoje compondo muito, inclusive e, sobretudo, choros. Adamor tem mais de 70 músicas autorais, sendo que pouquíssima coisa foi gravada por ele mesmo, que tem cinco discos produzidos. Por outros músicos nada foi gravado ainda. Adamor está para ser descoberto pelos chorões.
Suas músicas começaram a fazer sucesso quando ele tinha apenas 20 anos. Sem pretensão, nesse tempo, Adamor já compunha jingles para campanhas políticas locais. Eram paródias em cima de outras músicas que já existiam. Como relembra, durante a entrevista, em um momento poético e íntimo, foi em 1962, que compôs seu primeiro choro. O cenário era um trecho do rio Anajás chamado ‘Estirão do Marinheiro’:
– “Comecei aos 16 anos como calouro, cantando músicas dos outros. Naquele tempo eu fazia também músicas de paródias para campanhas políticas locais, mas isso era uma brincadeira. Acho que foi aos 20 anos que começou a nascer meu primeiro choro. É muito rudimentar, eu não lembro o ano, mas deve ter sido em 1962 mesmo. Eu ia viajando num trecho do rio Anajás chamado estirão do Marinheiro e lá me veio a primeira inspiração. Chama-se Estirão do Marinheiro, mas está só na minha memória, eu nunca gravei, nunca mostrei pra ninguém, é muito rudimentar mesmo essa música”, nos conta o Mestre do Choro Caboclo, Adamor do Bandolim.
Primeiras rodas de choro e a referência do pernambucano Simpatia
Além de Amilar Brenha, outra importante referência para o Mestre do Choro Caboclo foi o pernambucano Simpatia, um instrumentista também pouco conhecido.
– “Na época da casa Aldemir eu tocava muita música do Simpatia. Simpatia foi um pernambucano que levou o choro para o território no Guaporé, hoje Rondônia. Foi o fundador da Rádio Difusora de Rondônia. Depois do Waldir e do Jacob foi o músico que mais me influenciou” -, conta Adamor.
Aldemir Ferreira foi fundador da Casa do Choro e um importante personagem para a difusão do gênero no estado de Belém. Falecido em 1983, depois de sua morte haveria uma lacuna até 1987 para que choro tivesse novamente espaço em Belém, quando da inauguração da Casa do Gilson, em funcionamento até hoje.
A importante década de 1980 para sua carreira musical e a ida para Belém como servidor dos Correios: Tudo contribui para Adamor continuar tocando seu bandolim
Seguindo fielmente os passos do gênio do bandolim, Jacob Pick Bittencourt, o Jacob do Bandolim, Adamor não nunca viveu apenas da música para manter sua vida, ele tinha emprego e rendimentos fixos.
“Em 1963, Adamor passa a trabalhar nos Correios como Agente Postal, em Anajás, na Ilha do Marajó, tendo em vista que ninguém queria ir para aquela região, pois não havia nem telefone nem navio. Nosso Chorão por ser nativo da região sabia todos os barcos que percorriam os municípios que formam o arquipélago do Marajó e trazia as malas dos Correios para Belém, e vice e versa. Ao chegar em Belém, colocava as malas com destino para Marajó no táxi, para guardar na casa de um tio que morava próximo aos Correios, pegava o seu dinheiro e ficava um mês na cidade antes de retornar para Marajó. Foi na capital paraense que comprou um instrumento novo e discos de choro e de forró. Quando retornava a Anajás, dedicava-se a ouvir e memorizar as músicas e os choros desses discos.
Foi nesse tempo, em que fazia essas viagens a trabalho, Belém – Anajás, que Adamor entrou para o circuito do choro em Belém. Gersino Pacheco, aquele bandolinista de Macapá que ao se apresentar no programa da rádio ‘Alô, Brotos’, encorajou Adamor a participar do concurso de calouros, já estava tocando em Belém, e foi por meio dele que conheceu os chorões da época por aqui. Adamor tem um imenso repertório dessa época. De estudos, pouco sabe os nomes e compositores dos choros que estudava, pois os discos lhe foram roubados, só não de sua memória”, narra a pesquisadora Vanessa Trópico no livro Pensadores do Choro.
57 anos de carreira
– “Considero o início da minha estrada quando me apresentei na rádio, em 1958 e meti na cabeça que ia ser músico. Nos anos 1960, comecei a tocar aqui em Belém em grupos que não eram tão conhecidos na mídia, mas eram conhecidos na cidade. Eu era conhecido no meio musical porque eu vinha para Belém profissionalmente. Nos anos 1970, fiz parte de outros grupos, como Manga Verde e outros grupos maiores”, pontua Adamor.
Trocas com outros chorões
Morando no Norte do Brasil, longe de onde a cena musical acontece com toda sua pompa, investimentos do poder público, leis de incentivo e tudo mais, Adamor acaba ficando ‘restrito’ a interfacear com os músicos apenas de Belém e região. Não estamos falando que isso seja ruim, pois os músicos de Belém não deixam absolutamente nada a desejar para os de outros lugares do Brasil, não se trata disso. Mas esse distanciamento acaba sim fazendo com que haja pouca troca entre os músicos e isso acontece com Adamor, sempre aconteceu. Durante nossa entrevista, ele comentou sobre isso:
– “Mantenho contato telefônico com Izaías Bueno de Almeida, com quem sempre falo pelo Facebook também. Tenho contato com Afonso Machado e Ronaldo do Bandolim, com quem toquei quando estiveram por aqui, mas não sei se eles tocam as minhas músicas”, disse Adamor.
Um correspondente da Revista Roda de Choro em Belém
Quem não lembra da Revista Roda de Choro, que teve seis edições no final dos anos de 1990? Pois bem, Adamor do Bandolim era correspondente da revista em Belém.
– “A Revista Roda de Choro circulou por pouco tempo. Eu era representante aqui em Belém, o Ausier, em Minas… Eu dava notícias por cartas e telefone. Acabei me envolvendo muito com o choro por causa disso” -, relembra o chorão, que fora durante essas seis revistas o relator, o representante do choro no Pará.
O choro em Belém do Pará hoje
Como relata Vanessa Trópico no livro Pensadores do Choro:
“Do que se tem registro, a história do choro neste estado começou por volta de 1938. Além dos regionais que tocavam nas rádios PRC-5 e Marajoara, havia um conjunto formado por alunos do colégio Paes de Carvalho, conforme nos mostra a pesquisadora Maria José em seu artigo O Choro em Belém do Pará – Sonoridade regional de um gênero musical brasileiro. O conjunto ‘Bando de Estrelas’ era formado por Edyr Proença, Newton Paranhos, Herald Moraes, Paulo César Paranhos, Sidônio Figueiredo, Laureano Corrêa e Delival Nobre. Esses são considerados por Adamor do Bandolim como a primeira geração de chorões da cidade.
Segundo Carlinhos Gutierrez, esses músicos tocavam choro na Praça do Pescador. Mesmo depois de mais de 40 anos, a escola Paes de Carvalho ainda tinha a tradição de fazer festivais de música, onde Carlinhos Gutierrez chegou a participar.
Maria José Moraes, em seu texto, lembra que o Pará foi contemplado com projetos para a divulgação da música popular, não só com apresentações artísticas, mas publicações literárias, lançando, na época, novos nomes. Um desses projetos foi o lendário ‘Projeto Pixinguinha’. As apresentações não aconteciam apenas nas capitais, mas também nos interiores. Por conta deste projeto houve muitos outros de âmbito regional, como o projeto Jaime Ovalle, realizado no período de 23 a 27 de junho de 1980, no Teatro da Paz, tendo como objetivo, incentivar e apoiar os músicos e compositores e sua profissionalização. O projeto Jayme Ovalle não teve o sucesso esperado, não alcançou seus objetivos, mas deixou de herança um grupo de músicos dedicados a tocar choro na cidade, o Gente de Choro.”
Integrante desde 1979 de um dos regionais mais antigos de Belém, o Grupo Gente de Choro, Adamor trabalha hoje ao lado dos músicos Paulinho Borges, na flauta transversal; Gilson e Bochecha revezando-se no cavaco base; Cardosinho no violão de seis; Paulinho Moura no de sete e Hemílio Mininéia na percussão.
“No início da década de 1980, aproximadamente em 1982, surgiu no cenário do choro da cidade um grupo que se destacaria pela qualidade de seus músicos e repertório mais elaborado. O Corta Jaca surgiu das reuniões que o flautista Yuri Guedelha fazia em sua casa. Também tocavam em festas onde eram convidados de forma ainda não profissional. O grupo era composto pelos jovens Paulo Moura, Didica, Bochecha, Dedé, Salomão Habib, Júnior Bambu e Nelsinho. A segunda formação, quando já atuavam profissionalmente, tinha Bochecha no cavaquinho, Josimar Monteiro no violão de sete cordas, Mourinho Sete Cordas, Augusto Meireles no violão de seis cordas, Emilio Meninéa no pandeiro, Muka no surdo, Yuri na flauta e Alfredo da Costa Coroa no bandolim. Este, após algum tempo foi substituído por Luiz Pardal, criador dos novos arranjos do grupo. Conforme nos relatou em entrevista, Bochecha afirma que foi a formação mais forte até então do grupo, com um repertório difícil que incluía o choro ‘Jubileu’, ‘As Bachianas’, o ‘Tema da Quinta Sinfonia’, até músicas dos ‘The Beatles’ em ritmo de choro. Como considera Mestre Bochecha:
“- Foi uma nova escola porque até então eu não sabia fazer redução de acordes usando a sétima e a nona”.
A Seresta do Carmo foi um projeto de valorização do centro histórico da cidade, promovido pela prefeitura de Belém. Neste evento, o Corta Jaca era o grupo oficial, como relata Maria José de Moraes no livro Trilhas da Música, que acrescenta ainda, que o grupo teve grande sucesso de público e mídia. Para Adamor do Bandolim, foi o melhor trabalho de choro até então feito no Pará.
Em 1979, no dia 6 de setembro, data que hoje, por iniciativa de Adamor do Bandolim, marca o Dia Estadual do Choro em Belém do Pará, fora inaugurado na cidade, no bairro do Jurunas, a Casa do Choro, comandada por Aldemir Ferreira da Silva. Nessa época, nosso Mestre do Choro já era conhecido e tocava com Aldemir pela cidade, tendo ingressado no grupo de choro Gente de Choro, o mais antigo da localidade, onde Adamor era o segundo solista ao lado do amigo Gersino Pacheco. O trabalho nos Correios obrigava-o a se ausentar, e quando estava na cidade, dividia o solo com o companheiro de grupo, até que se transfere para Belém e passa a viver constantemente na cidade. Com o falecimento de Aldemir, em 1983, o grupo Gente de Choro se dispersa sem necessariamente se desfazer, pois os encontros dos chorões foi transferido para a casa do cavaquinista do grupo, Gilson Rodrigues.
Em 1987 é inaugurado um novo espaço: a Casa do Gilson, também conhecida na cidade como Bar do Gilson e pelos chorões, carinhosamente chamada de ‘quartel general do choro’. Local que abriga até hoje os chorões da cidade.
O gênero choro neste estado é mantido pela força e colaboração de músicos de qualidade e generosidade, que por mais que eu me esforçasse em tentar medir, não seria possível. São eles: Gerardão, o primeiro sete cordas do Pará; Alcides Freitas, o Catiá, violonista solista; Biratan Porto, bandolinista, compositor e cartunista, responsável pelos mais belos registros em ilustrações expostos na Casa do Gilson (se você já foi figura de suas obras, pode considerar-se uma “celebridade do Choro”); Paulo Moura, responsável pelo projeto Choro do Pará, músico e compositor dono de uma técnica musical impressionante ao violão de sete cordas.
Carlos Alberto Meireles, o Mestre Bochecha, músico brilhante, teve formação musical em clarinete, porém domina o violão de sete cordas e a técnica do centro do cavaco no acompanhamento de choro como poucos no Brasil. Ainda muito jovem já sabia acompanhar todos os choros do disco Vibrações, de Jacob do bandolim, o que lhe valeu tocar na Casa do Choro, de Aldemir, e com Gercino Pacheco, bandolinista. Mestre Bochecha tem um vasto conhecimento e repertório musical. É responsável pelo naipe de cavaquinhos da Orquestra de Choro do Pará, companheiro fiel do Mestre Adamor do Bandolim e domina como poucos todo repertório deste compositor.
Paulo Borges é um flautista que possuí expressão musical e uma interpretação do choro neste instrumento ainda não vista igual no Pará.
Cardosinho, o violonista de seis cordas generoso como os outros, acompanha quem é veterano no choro ou iniciante e domina os mais belos bordões do gênero.
Emilio Meninéa é percursionista e produtor do grupo Gente de Choro. Marcelinho Ramos tem no improviso a alma do choro na ponta dos dedos. Toca vários instrumentos, mas destaca-se no bandolim.
Carlinhos Gutierrez, professor universitário e violonista sete cordas, tem uma das características mais belas de um chorão: a generosidade de passar seu conhecimento sobre o gênero adiante. Gosta de tocar junto, é um incentivador dos iniciantes e músico que domina um dos os mais belos repertórios clássicos do choro.
Diego Leite, maestro responsável pelos violões e regência da Orquestra de Choro do Pará é o mais novo talento em forma de virtuosidade nos violões seis e sete cordas.
Claude Lago, maestro dos sopros no projeto Choro do Pará e editor das partituras das obras de Adamor do Bandolim, faz um belo trabalho sempre com muita competência e organização. É um saxofonista com enorme desempenho e repertório devidamente decorado.
Muitos são os músicos que se esforçam pela preservação do gênero, foge-me a competência de classificá-los neste momento.
Nosso Chorão também passou, ao transcorrer de sua carreira musical, por grupos de samba da cidade, como o Novo Som, Sol Nascente, Oficina, e Manga Verde, este último de maior expressão na história dos grupos de samba da região, e no folclórico grupo Urubu do Ver-o-Peso. Foi nessa época de sua vida, que ele adotou o nome artístico de ‘Adamor do Bandolim’”, relata a pesquisadora Vanessa Trópico no livro Pensadores do Choro.
Considerando positiva a cena do choro hoje em Belém, o Mestre Adamor do Bandolim diz:
– “O choro em Belém esta muito bem, obrigado. Apensar de todos os percalços e todas as dificuldades, o apoio que o governo tem nos dado através da oficina da Orquestra de Choro do Pará tem resultado em muitos aprendizes. Acho que a gente tem hoje sete, oito grupos de choro no estado despontando no cenário nacional”, considera o instrumentista e militante do choro no Norte do Brasil.
Homenagens e legado: o famoso dito ‘flores em vida’
Homenageado durante o Carnaval deste ano por uma escola de samba de Belém, Adamor começa a perceber que está deixando um legado para as novas gerações. Quando perguntamos como ele vê o futuro, como ele se vê daqui a alguns anos, o Mestre diz que sua música poderá não ser a mesma, pois o avançar da idade extingue muitos movimentos e a agilidade das mãos, mas que a trajetória por ele construída já é referência e fonte de estudo e pesquisa para muitos músicos jovens que estão chegando agora.
– “Fui tema de Carnaval agora em 2015, coisa que nunca pensei na vida e agora estou no livro Pensadores do Choro. A comissão de frente com todos aqueles chorões me deixaram muito emocionado. Os bandolinistas representando o choro na frente da escola e as figuras de Pixinguinha e Villa Lobos foram para mim foi coisa de cinema. Fiquei muito feliz, mas não pelo meu nome estar em evidência na escola, e sim pela história do choro estar sendo contada no balneário de Mosqueiro. Foi uma forma do pessoal absorver um pouco dessa história ouvindo falar em Calado, Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga… e dos regionais, onde falaram do meu trabalho. Sinto-me honrado de estar no meio desse pessoal tão ilustre e tão valioso para a cultura brasileira. Quando eu me chamar saudade de uma coisa eu tenho certeza: deixarei um legado para o choro aqui no Pará que nunca imaginei deixar”, diz Adamor do bandolim.
A discografia do Mestre do Choro Caboclo
Ainda pouco difundida, a discografia de Adamor do Bandolim é riquíssima em seus poucos quatro trabalhos fonográficos. Em 1993 ele gravou seu primeiro disco, ainda em vinil, o Chora Marajó. Na época, o disco teve uma entrada mais forte nos estados do Maranhão, Piauí e Amapá.
Em 1999, Adamor do Bandolim fez parte do CD Choro Paraense (série Pará instrumental, Volume IV) como compositor e intérprete. No mesmo ano, gravou o CD Adamor Ribeiro (Projeto Uirapuru, Volume VII). Em 2007 lançou o CD Choro Amazônico, patrocinado pela Petrobrás.
Lágrimas da Minha Ilha
Em maio, Adamor lançou seu quinto disco, o CD Lágrimas da Minha Ilha, no Teatro Margarida Schiwasappa, em Belém, com participação de Sebastião Tapajós, Tiago Amaral, Marcelo Ramos, do grupo Engole o Choro e da Orquestra Choro do Pará.
Segundo a pesquisadora de Choro e cavaquinista Vanessa Trópico, que vem há alguns anos acompanhando de perto a vida e a carreira do Mestre do Choro Caboclo, no CD Lágrimas da minha terra, Adamor do Bandolim expressa sua gratidão ao pároco que ele diz ter visto ‘arregaçar a batina’ para realizar um dos trabalhos mais expressivos de preservação do patrimônio arqueológico do Marajó.
Participações de importantes nomes do choro de Belém e produção de Emílio Meninéa
Com participação de Sebastião Tapajós, Trio Manari e Chiquinho do Acordeom, o CD tem nas bases, o grupo de choro mais respeitado e antigo do estado, Gente de Choro e conta com Paulinho Borges (flauta), Gilson Rodrigues (bandolim e cavaquinho), Carlos Bochecha (cavaquinho), Cardosinho (violão 6 cordas), Paulinho Moura (violão 7 cordas) e Emílio Meninéa (percussão). Participam também do CD os músicos Marcelo Ramos (violão 7 cordas), Luiz Pardal (celesta e violino), Leandrinho (cavaquinho), Esdras de Souza (sax), Johab Quadros (trompete), Jó Ribeiro (trombone) e Thiago Amaral (clarinete).
Gravado e mixado nos estúdios Apce Music e Midas Amazon, o CD tem direção musical de Emílio Meninéa, produtor dos quatro CDs anteriores de Adamor e traz 13 faixas onde o Mestre do Choro Caboclo homenageia as ilhas do Marajó e personalidades da região, como o Padre Padre Giovanni Gallo, criador do museu do Marajó, em Cachoeira do Ararí. O museu possui o maior acervo da cultura marajoara do mundo.
O CD e o show de lançamento tiveram patrocínio do programa Natura Musical, e apoio da Lei Semear do governo do Pará.
– “Lágrimas da minha ilha surgiu de uma visita que eu fiz a Museu do Marajó. Eu tive a oportunidade de conhecer o Padre Giovani Galo e acompanhava seu trabalho através dos artigos que eram publicados nos jornais locais. Ele foi um missionário católico que foi para o Marajó e se apaixonou pelo lugar e se envolveu tanto com as questões do Marajó, que a igreja passou a cobrar dele, porque ele parava mais nas fazendas com os pescadores, pesquisando, do que na igreja. Ele deixava um giacomo na igreja e ficava nessas pesquisas. Conclusão, ele abandonou a batina e continuou o trabalho de pesquisa. A igreja perseguiu seu trabalho, ele foi incompreendido, disseram que ele estava com intenções políticas, que queria ser prefeito, a igreja se voltou contra ele, que na verdade estava em busca de toda a riqueza da cultura marajoara. Ele se envolveu de uma tal maneira, que pediu para ser enterrado ao lado do museu e assim foi feito. Por isso, o CD é dedicado a ele e ao seu trabalho. Homenageei também minha netinha Maria com a Valsa Açucena em parceria com Sebastião Tapajós, os convidados foram o Trio Manari, o Chiquinho do Acordeão, que fez Do Pará a Pernambuco comigo, o Marcelinho Ramos, meu parceiro no Chorinho no Madeira. Essa música tem uma história bonita, nós fomos excursionar por todo o Norte e chegamos lá no Acre às margens do rio madeira ele o Cardoso juntos. Chegaram no hotel mostraram a primeira e a segunda partes e eu conclui com a terceira na hora.
Quero agradecer muito aos músicos que me ajudaram na produção do disco, à produtora Carla Cabral, o apoio da Associação dos Arquipélagos dos Municípios do Marajó, o apoio da Secult, que ajudou no lançamento do disco e à Natura, que patrocinou o projeto” -, enfatiza Adamor.
Caderno de partituras inéditas será publicado em 2016
Com cerca de 70 composições – ele não sabe ao certo -, 35 foram gravadas. O Mestre do Choro Caboclo também tem muita coisa ainda inédita e diz que as 12 músicas do próximo disco já estão prontas. Uma dessas músicas inéditas é Saudade Sempre Viva, feita em homenagem ao pai, Osvaldino. Para a mãe ele compôs Prece. A música integra o repertório do quarto disco de Adamor, Choro Amazônico.
Com tantas músicas ainda inéditas, o chorão quer começar o quanto antes a catalogação e organização desse repertório para a produção de um caderno de partituras que ele espera publicar no ano que vem. O caderno é uma forma de levar suas músicas para as escolas de choro, onde os estudantes passarão a aprender o gênero também com suas partituras.
– “É projeto para 2016 publicar um caderno com todas as minhas partituras. Tenho um livro com 25 partituras, mais as músicas que faltaram ser escritas, as do CD Lágrimas da Minha Ilha, e possivelmente outras que estão surgindo agora. Tenho gás para mais uns dois trabalhos. Quero regravar o Chora Marajó com novos arranjos e tenho material para mais outro trabalho”, diz Adamor.
Em família
Casado com Isabel Nobre, sua segunda esposa, com quem vive um amor de juventude, porém no auge da maturidade da vida de um homem, Adamor tem família grande. Pai de sete filhos, sendo três meninas e quatro meninos, todos rapazes já formados, e avô de 11 netos dos quais o Felipe, filho de sua filha Elenice é o mais musical deles.
– “Ele é dentista, gosta de rock e de vez em quando toca choro comigo. Tem o João Pedro, meu neto filho da Nívea, minha filha que toca pandeiro. O restante da turma gosta de ouvir, escuta, mas não são chorões… -, comenta Adamor em tom de lamento.
E o porvir dos Pensadores do Choro?… Serviu pra quê o livro?
A entrevista com Adamor aconteceu momentos depois de ele ter recebido o livro em mãos, no Pará. Perguntado pela própria autora sobre o que ele achava do resultado do material que ele via, Adamor disse:
– “Muito bonito o livro e mais bonito foi a ideia de fazer o livro, no qual eu sou o maior beneficiado. Eu jamais imaginei estar na Biblioteca Municipal, quanto mais na Nacional. Este livro aqui já está me dando um suporte tão grande, que eu tenho moral para falar de choro para qualquer um. Ninguém aqui no Pará teve esta benção, este mérito, esta dádiva.”
Instrutivo com grande aplicabilidade prática.