MORRE HERMETO PASCOAL


Leonor Bianchi

Faleceu aos 89 anos, na noite deste sábado, dia 13 de setembro de 2025, no hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, o músico Hermeto Pascoal.

Personalidade singular na música brasileira dizia-se fazer música universal, e teve uma longa vida cercada sempre pela música, a alegria e os amigos.

Foi com a música que Hermeto conheceu o mundo levando sua arte e a cultura brasileira – que associou ao jazz sem nunca perder sua raiz alagoana da cidade de Olhos D’água, que dá nome ao documentário “O menino do olho d’água”, que estreará em janeiro do próximo ano, no canal Curta +.

Conheci Hermeto Pascoal ainda no tempo da Universidade Federal Fluminense, com meus 22 anos, quando fui com os amigos do curso de Cinema a sua casa no Jabour, subúrbio carioca, conversar sobre a trilha sonora de um curta-metragem que estavam filmado naquele momento e queriam convidar o “Bruxo” para compor a mesma.

Tive a oportunidade de assistir algumas dezenas de apresentações de Hermeto, sempre no Rio de Janeiro, e, no ano de 2015, o entrevistei com exclusividade para a Revista do Choro. Entrevista esta que foi gravada em áudio e vídeo pela internet, mas ao final o vídeo da mesma se perdeu em função das tecnologias das lives que na época estavam começando e era a nossa única forma de fazer a entrevista, pois eu trabalhava, como até hoje o faço, daqui de Lumiar, Nova Friburgo, onde sempre funcionou a Revista do Choro, e o Hermeto estava em São Paulo. As imagens da entrevista se perderam, mas o áudio consta do acervo da Revista do Choro, e eu vou tentar compartilhar com vocês através de um vídeo no novo canal da Revista do Choro no YouTube, mas deixa o link ao final deste artigo para quem quiser ouvir agora. INSCREVA-SE clicando aqui. O canal antigo foi derrubado no dia 3 de setembro em função das inúmeras denúncias que eu vinha fazendo sobre determinadas pessoas dentro do segmento do Choro. Elas derrubaram o canal.

Na entrevista, que contou com a participação do seu filho Fábio, ele contou detalhadamente sua vida e sua relação com a família Miranda do também saudoso Luperce Miranda, bandolinista de quem foi parente tendo se casado com Ilza Silva, filha do violonista Romualdo Miranda, irmão de Luperce.

 

Um vida dedicada à musica

Hermeto dedicou sua vida à música e aos palcos sem nunca ser tomado pela sensação do estrelismo das celebridades que conheceu e com quem tocou desde cedo, e que nos cercam a todos no meio artístico. Além de um enorme legado em nível musical, com suas composições que ultrapassam milhares, ensinou-nos também bastante com sua postura humilde, generosa e humana; algo raríssimo em dias atuais em qualquer segmento que seja.

A notícia de seu falecimento pegou a todos de surpresa e a mim também, que acordei no meio da madrugada e vi uma postagem sobre sua passagem na sua rede social, que diz:

“Com serenidade e amor, comunicamos que Hermeto Pascoal fez sua passagem para o plano espiritual, cercado pela família e por companheiros de música.

No exato momento da passagem, seu Grupo estava no palco, como ele gostaria: fazendo som e música.

Como ele sempre nos ensinou, não deixemos a tristeza tomar conta: escutemos o vento, o canto dos pássaros, o copo d’água, a cachoeira, a música universal segue viva. Hermeto diz:

“Este canto vem de longe,

A distância não sei dizer,

Salve, salve a toda a gente,

Que vive e deixa viver,

Aqui vai o nosso abraço,

Com o som e o saber,

Tirando de nossas mentes,

As palavras pra dizer,

A música segura o mundo,

Enquanto a gente viver,

É a maior fonte sem fim,

De alegria e prazer,

Toquem, cantem, minha gente,

Até o dia amanhecer.”

Pedimos respeito e privacidade neste momento.

Informações sobre despedidas públicas serão divulgadas em breve nos canais oficiais.

Quem desejar homenageá-lo, deixe soar uma nota no instrumento, na voz, na chaleira e ofereça ao universo. É assim que ele gostaria.

Gratidão por todo carinho ao longo do caminho.

Família e equipe de Hermeto Pascoal

With serenity and love, we announce that Hermeto Pascoal has passed on to the spiritual realm, surrounded by family and fellow musicians. At the very moment of his passing, his Group was on stage — just as he would have wished: making sound and music.

As he always taught us, let us not be ruled by sadness: listen to the wind, the birds, a glass of water, a waterfall — universal music keeps breathing. As Hermeto used to say:

“This song comes from afar,

The distance I cannot tell;

Hail to all the people

Who live and let others dwell.

Here goes our warm embrace,

With sound and knowing well,

Drawing from our minds

The words we wish to tell.

Music holds the world

For as long as we excel,

It is an endless fountain

Of joy and pleasure’s spell.

Play, sing, my dear people,

Until the dawn’s first bell.”

We kindly ask for respect and privacy at this time. Details regarding public farewells will be shared soon on his official channels.

If you wish to honor him, let a single note ring — from an instrument, your voice, or a kettle — and offer it to the universe.

Em nota o site do G1 divulgou o notícia:

“Breve biografia

Nascido em Lagoa da Canoa, distrito de Arapiraca (AL), Hermeto foi um dos artistas mais inovadores da música brasileira.

Autodidata, ele começou a tocar acordeão aos 10 anos e ficou conhecido por criar sons com objetos inusitados, como panelas, garrafas, brinquedos e até animais. Sua obra, marcada pela improvisação e experimentação, ganhou o mundo e foi reconhecida por nomes como Miles Davis, que o chamou de “o músico mais impressionante do mundo”.

Hermeto nasceu em 22 de junho de 1936 e, por ser albino, não podia trabalhar na roça, o que o aproximou dos sons da natureza.

Ainda criança, começou a criar instrumentos com materiais improvisados e a tocar para os pássaros. Aos 14 anos, estreou com o irmão José Neto na Rádio Tamandaré, em Recife. Em seguida, passou por outras rádios e orquestras, como a Tabajara, na Paraíba, e a Rádio Mauá, no Rio de Janeiro.

Na década de 1960, Hermeto se mudou para São Paulo, onde formou grupos como o Sambrasa Trio e o Quarteto Novo, ao lado de Airto Moreira, Heraldo do Monte e Theo de Barros. Com o Quarteto, participou de festivais e acompanhou artistas como Edu Lobo e Marília Medalha.

Nos anos 1970, foi levado aos Estados Unidos por Airto e Flora Purim, onde gravou com Miles Davis e lançou álbuns como Slaves Mass. De volta ao Brasil, criou seu grupo fixo e gravou discos como A Música Livre de Hermeto Pascoal e Zabumbê-bum-á. Também participou de festivais internacionais, como Montreux (Suíça) e Live Under the Sky (Japão), e tocou com Elis Regina em apresentações memoráveis.

Legado

Hermeto foi três vezes vencedor do Grammy Latino e recebeu títulos de doutor honoris causa da Juilliard School (EUA), da Universidade Federal da Paraíba e da Universidade Federal de Alagoas. Em 2024, lançou o álbum ‘Pra você, Ilza’, em homenagem à sua companheira de vida, e foi tema da biografia Quebra tudo! – A arte livre de Hermeto Pascoal, escrita por Vitor Nuzzi.

Sua última apresentação no Brasil foi em junho de 2025, no Circo Voador, no Rio, poucos dias antes de completar 89 anos. Na ocasião, transformou o show em uma grande celebração de aniversário.

Hermeto rejeitava rótulos e chamava sua obra de “música universal”. Tocava jazz, frevo, baião, música clássica e popular brasileira, sempre com liberdade criativa.

O artista deixa seis filhos, 13 netos e dez bisnetos. Seu legado permanece como um dos mais ricos e originais da história da música brasileira”.

CLIQUE AQUI para ouvir agora a entrevista inédita e exclusiva que Hermeto Pascoal concedeu à Revista do Choro.

 

Fotos: Divulgação/ Acervo Hermeto Pascoal

 

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Author: imprensabr

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