Leonor Bianchi
Oito Batutas foi um conjunto musical brasileiro criado em 1919 no Rio de Janeiro e formado por Pixinguinha na flauta, Donga e Raul Palmieri, no violão, Nelson Alves, no cavaquinho, China, no canto, violão e piano, José Alves, no bandolim e ganzá e Luis de Oliveira, na bandola e reco-reco. O repertório do conjunto incluía choros, maxixes, canções sertanejas, batuques e cateretê.
O conjunto foi formado para se apresentar no Cine Palais a pedido de seu gerente, Isaac Frankel, que ouvira o Grupo Caxangá, no qual tocavam Donga, Pixinguinha e João Pernambuco, um dos maiores violonistas da história do choro, autor de Luar do Sertão. O grupo estreou na sala de espera deste cinema, roubando a cena dos filmes que eram exibidos! Alguns dos admiradores do grupo eram Rui Barbosa e Ernesto Nazareth, que se apresentava tocando piano na sala de espera do Cine Odeon, situado exatamente em frente ao Palais, ambos na Cinelândia.
Pelo sucesso do grupo, os Batutas começaram a apresentar-se em festas em casas da alta sociedade, bem como no Cabaré Assírio, no subsolo do Teatro Municipal – onde acompanharam os dançarinos Duque e Gaby. A convite destes, e com patrocínio de Arnaldo Guinle, os Batutas viajaram para Paris em 1922, apresentando-se por seis meses na boate Schéhérazade. Depois de voltar ao Brasil, fizeram uma turnê em Buenos Aires. Lá, participaram de gravações para a RCA Victor argentina. Embora promissora, a viagem rendeu prejuízos financeiros ao grupo e a amizade entre seus integrantes. Foi o fim do regional., que se desfez ainda em solo argentino.
Os 100 anos dos Oito Batutas
Este ano faz 100 anos que Pixinguinha (Rio de Janeiro, 23 de abril (e 4 de maio) de 1897 — Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 1973) reuniu um grupo de músicos para tocar numa sala de cinema famosa, na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, então capital federal do Brasil. A história da formação dos Oito Batutas, considerado o marco fundador da música popular brasileira, segundo alguns pesquisadores, é o tema da série ‘Os 100 anos dos Oito Batutas’, que começo a publicar hoje na Revista do Choro.
Na série serão apresentadas fotos, documentos, artigos, partituras, áudios, vídeos e produções acadêmicas sobre os Oito Batutas. Será uma exposição virtual sobre os Oito Batutas e a evolução da música popular brasileira nos últimos 120 anos.
Dando início a série não vou publicar nenhum ‘furo nem uma foto de Pixinguinha criança, como todo mundo faz, mas uma imagem que para mim diz muito, pois simboliza uma fase divisora de águas na vida do nosso querido maestro, quando ele passa a se apresentar profissionalmente, ainda muito jovem, com apenas 14 anos, e também por ser uma foto onde o ‘líder’ dos Oito Batutas aparece ao lado de outro componente dos grupo muito antes do regional existir.
A trajetória dos Oito Batutas começou triunfal e encontrou um momento de decadência quando de sua turnê na Argentina, quando o grupo se desfez em uma briga nunca amenizada depois.
A influência dos instrumentos de sopro utilizados nas orquestras norte-americanas foi captada sobremaneira por Pixinguinha, que introduziu novos elementos na música brasileira, sendo um pioneiro da linguagem musical que conhecemos hoje no Brasil na música popular de maneira geral.
Pixinguinha fez com que os intelectuais do seu tempo parassem para ouvir a música feita pelas camadas mais populares no Brasil a começar pela sua própria, que embora fosse extremamente simples, jamais foi simplória e trazia elementos da cultura africana e da cultura de uma ‘sociedade popular’ urbana de um Rio de Janeiro que transitava entre o rural e o urbano, assim como elementos eruditos, pois teve formação com grandes músicos, como o próprio Irineu Batina, seu primeiro professor de música quando era ainda criança nos tempos da Gardênia Azul… Piedade, subúrbio carioca.
Foi justamente essa simplicidade sem ser simplória somada à sua capacidade de criar arranjos populares refinadamente eruditos e vice versa que o tornou bastante reverenciado por grandes maestros em todas as partes do mundo.
Na foto que destaco aqui, Pixinguinha, aos 14 anos de idade aparece ao lado de João Thomáz de Oliveira Jr., que tocava ganzá e depois integrou os Oito Batutas. Ambos estão posando com outros músicos da Orquestra do Teatro Rio Branco, comandada pelo maestro, pistonista e compositor Paulino do Sacramento.
Também, ainda hoje, abrindo esta série-exposição sobre o centenário dos Oito Batutas, publico um trecho do livro do pesquisador Izomar Lacerda, ‘NÓS SOMOS BATUTAS: Uma antropologia da trajetória do grupo musical carioca Os Oito Batutas e suas articulações com o pensamento musical brasileiro’, próximo lançamento da Editora Pizindim. O livro integra uma curadoria especial que montei para homenagear os Oito Batutas pela Pizindim.
Como resume o autor, “trata-se de um estudo antropológico sobre o ambiente artístico-musical carioca do início do século XX, sobretudo na década de 1920, tendo como chave de entrada narrativas e eventos relacionados ao grupo Os Oito Batutas, cujo espaço simbólico ocupado na memória da música brasileira tem lugar de destaque. A partir de um trabalho de campo realizado no Rio de Janeiro, a narrativa etnográfica se baseia em minha experiência de rastrear e mapear categorias numa varredura de fontes primárias em arquivos, principalmente jornais da época. Os temas são confrontados com dados de outras narrativas constituintes desta história (jornalísticas, biográficas, memorialistas, historiográficas e musicológicas), salientando as transformações e os arranjos diferenciais destas composições, buscando contribuir para a compreensão de dinâmicas constitutivas do pensamento musical brasileiro, bem como aspectos fecundos da construção da brasilidade.
Para ler, acesse o link http://revistadochoro.com/artigos/nos-somos-batutas/