No domingo 24 de janeiro de 2016, a Revista do Choro começou a publicar o livro Pensadores do Choro na íntegra para seus assinantes. A cada domingo um novo capítulo vem sendo publicado desde então. Após publicarmos o artigo Tudo Culpa do Choro, do autor Sergio Aires, contemplado pelo prêmio literário promovido pela Revista do Choro e e-ditora] (www.portaldaeditora.com.br), em 2014, estamos publicando o texto de Vanessa Trópico vencedor do edital: O choro marajoara de Adamor do Bandolim e um breve relato da história do choro no Pará. Leia hoje o nono capítulo do texto de Vanessa Trópico.
Boa leitura!
O choro no Pará é mantido ainda pelos chorões da época de ouro do gênero. Em 2005, foi realizada uma oficina sobre a linguagem do choro, promovida pelo instinto Instituto de Artes do Pará, com os fundadores do Instituto Jacob do Bandolim e Escola Portátil de Música (RJ). A partir disso, surgiu a iniciativa de criar uma orquestra de choro paraense, nascendo, então, o projeto ‘Choro do Pará’, sob a coordenação de Paulo Ernesto Braga Moura e Jaime Bibas.
Segundo Carlinhos Gutierrez, testemunha ocular do nascimento do projeto, a história do choro no Pará tem um divisor de águas antes e depois do surgimento da Orquestra de Choro. Músico e violonista sete cordas, Gutierrez passou 25 anos sem tocar seu violão, priorizando o trabalho e a família. Para ingressar no projeto e avisado de possíveis testes, tentou algumas aulas com o então genial multi-instrumentista Marcelo Ramos, conhecido no mundo do samba como Fúria do Guamá. Não houve aulas nem testes. Carlinhos conta que foi na oficina que voltou a tocar o gênero e se lançou no violão de sete cordas. Ele diz que até se atrapalhava com a sétima corda e também recorda que antes do projeto só era possível ouvir choro pelos grupos tradicionais ou em encontros desses chorões. A orquestra promoveu a cultura do gênero para os jovens, garantindo a continuidade de sua execução.
Os primeiros instrutores das oficinas que deram origem a orquestra foram: Paulo Moura (violões), Carlos Alberto Meireles (Mestre Bochecha) e Fernandinho (cavaco), nos solos, Yuri Guedelha, que ficou pouco tempo por problemas de incompatibilidade de horário, assumindo seu lugar o saxofonista Marcos Puff Cardoso, Márcio Jardins e Emilio Meninéa (percussão). Hoje os instrutores são: Mestre Bochecha (cavaquinho), Diego Leite (violões), Claude Lago (sopros) e Emilio Meninéa (percussão).
As aulas em módulo continham o estudo de três choros em média. Na primeira oficina, foi trabalhada com os alunos a composição Chora Marajó, de Adamor do Bandolim. Como até hoje, no final de cada módulo a orquestra faz uma apresentação, Paulinho Moura convidou Adamor para tocar com os alunos e, desde lá, nosso Chorão participa de todas as oficinas.
Carlinhos conta, que o fim do primeiro módulo do projeto fora um grande evento filmado pela TV Nazaré e que era possível perceber nas imagens o sincronismo no movimento de palhetada de cima para baixo dos cavacos.
Gutierrez lembra, ainda, que o naipe de violões contava com cerca de 70 alunos, um número surpreendente.
Ainda neste evento de finalização do primeiro módulo, houve apresentações dos grupos de choro resultante da oficina. Cada grupo teve a oportunidade de apresentar três choros. O grupo criado por Carlinhos Gutierrez, ‘Com a Corda Solta’, que tinha em sua formação mais três músicos alunos do projeto, o grupo Charme do choro, só com meninas, e também o grupo ‘Sapecando no Choro’, que teve como criador Nazo Silva, grande incentivador da cultura no estado.
Mais conhecido por seu trabalho no Boi Pintadinho e no Arraial do Pavulagem, Nazo trabalhou muito pelo choro no Pará. Era o responsável por um encontro estadual que acontecia no espaço de uma escola de idiomas da cidade, o CCBEU, e movimentava os chorões e grupos de todo lugar. Como diz, brincando, Carlinhos Gutierrez:
“- Se jogassem uma bomba ali, acabariam todos os grupos de choro do estado”.
Ainda sobre os grupos que se formaram na primeira oficina, temos o ‘Charme do Choro’, formado inicialmente por nove meninas que faziam parte do projeto. Segundo acredita Gutierrez, este grupo só de mulheres tem esse nome devido ao tratamento carinhoso que Paulo Moura tinha para com as meninas ao chamar o grupo de charme ou charminho.
Na noite de autógrafos do livro de partitura das composições de Adamor do Bandolim pelo Projeto Uirapuru, Carlinhos teve seu primeiro contato com o bandolinista e pode falar com o Mestre, quando este perguntou seu nome, para escrever no livro que lhe foi entregue para autografar.
O projeto objetiva fomentar esse importante gênero musical através de oficinas, práticas de grupo e apresentações, visando a educação, difusão e formação de novos grupos de choro, assim como a formação de platéia.
Durante os ensaios, o repertório é trabalhado de maneira individual, com as modalidades devidamente separadas. Em um segundo momento, todos se encontram formando a grande Orquestra de Choro.
O repertorio é composto por clássicos do gênero: obras de Pixinguinha, Waldir Azevedo, Jacob do Bandolim entre outros compositores.
Os frutos do projeto não cessam. Na atualidade, temos os grupos Charme do Choro, Engole o Choro, Clave do Choro, Chorando Pra Cachorro, Choramingando e Choro Caboclo, todos eles privilegiam o Mestre do Choro, tocando suas composições, porém, este último executa exclusivamente em seu repertório as composições de Adamor do Bandolim. Vale ressaltar, que todos esses grupos são formados por alunos ou ex-alunos do projeto Choro do Pará.
Na visão de Mestre Bochecha, o projeto é louvável. Ele espera que sua permanência seja de muitos e muitos anos. Com relação ao termo Orquestra, Bochecha ressalta que, se fosse possível estender os módulos por mais tempo, com espaço para aulas de instrumento, a qualidade dos participantes do projeto seria maior, pois o termo músico de orquestra se dá a músicos que estudam e ensaiam muito, e os instrutores, por falta de recursos, não conseguem dispor de todo este tempo para ensaiar e ensinar.
Para Adamor foi uma feliz ideia a criação do projeto, mesmo com todas as dificuldades e falta de recursos. Ele enxerga a iniciativa como uma semente muito fértil ao ver os grupos de choro emergindo. A juventude que não conhecia está tendo a oportunidade de conhecer o choro e os chorões da região e do Brasil. Nosso Mestre afirma que vai fazer o que puder para instaurar o Dia Municipal do Choro em Belém, para que tenhamos mais argumento, ou mais pretexto para tocar choro para o povo que ainda não conhece o gênero musical.