Quadrilha e Choro


Leonor Bianchi 

A Quadrilha, estilo de dança, tem relação direta com o choro, gênero musical originalmente brasileiro. A dança começou a se popularizar nos séculos XIII e XIV, na Inglaterra e depois como a quadrilha francesa –   “country dance”.

Durante o longo período da Guerra dos Cem Anos, entre os séculos XIV e XV, entre Inglaterra e França, houve um forte intercâmbio cultural entre ambos os países e a “country dance” se tornou a “contredanse” francesa; em português, ”contradança”.

Apesar de ser uma dança camponesa e rural entre os ingleses, a ‘contredanse’ foi, aos poucos, virando uma dança da nobreza entre os franceses. No século XVIII, essa já era a dança protocolar de abertura dos bailes da Corte.

Naturalmente com a vinda da família real para o Brasil, a moda pegou por aqui, já que a elite brasileira dos tempos do império adorava tudo o que vinha da França e  da Europa.

Dance in open air. Bruegel (1566).

A tela ‘Dance in open air’, de Bruegel (1566) é uma representação clássica das ‘festas juninas’ dos camponeses ingleses.

A ‘contredanse’ se transformou na dança de quadrilha porque na Espanha era comum usar o termo ‘cuadrillo’ para designar a contradança feita com apenas quatro pares. De alguma maneira a expressão se popularizou até mesmo na França (como ‘quadrille’) a ponto de passar a definir toda a quadrilha, independentemente do número de participantes.

A quadrilha é uma dança de salão europeia originada no século XVIII e muito popularizada no século XIX, tendo se espalhado por toda a Europa e colônias. Quase todos os manuais de dança da época possuíam uma seção explicando os passos e a etiqueta da quadrilha. Sua formação coreográfica requer quatro casais dispostos na forma de um quadrado, que se revezam nos passos da dança. Um dos pares é o principal, que lidera os outros.

Musicalmente, a quadrilha é composta por cinco partes (ou movimentos) diferentes, como cinco pequenas músicas intercaladas, cada uma com começo, meio e fim. Os ritmos de cada parte também seguem determinadas regras: a primeira parte pode ser em 2/4 ou 6/8, a segunda sempre em 2/4, a terceira sempre em 6/8, e a quarta e quinta partes sempre em 2/4, sendo que todos os temas possuem a duração de 8 compassos. Naturalmente, a dança acompanhava cada um destes ritmos, fossem ternários ou binários.

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Segundo informações do site www.ernestonazareth150anos.com.br “a quadrilha também se tornou um gênero popular na Belle Époque brasileira, presente na obra de diversos autores. Por exemplo, a coleção de 15 CDs “Princípios do Choro” (Acari Records, 2002), que fez um grande resgate de peças de compositores deste período, registrou 5 quadrilhas: de Saturnino, Luiz Borges de Araújo, Anacleto de Medeiros, Henrique Alves de Mesquita e Galdino Barreto, todas em cinco partes. Chiquinha Gonzaga também compôs duas quadrilhas (Arcádia e quadrilha de Jandyra), e o “pai do choro” Joaquim Callado compôs nada menos que 22 quadrilhas, trazendo grandes contribuições ao gênero. Curiosamente, existe pelo menos uma quadrilha contemporânea, composta nos moldes antigos: Um baile em Villa-Boa, de Maurício Carrilho, e Cavaquinho de ouro, de Gustavo Cândido.

Segundo a pesquisadora Cristina Magaldi, no livro Music in Imperial Rio de Janeiro: European Culture in a Tropical Milieu (Scarecrow Press, 2004), peças deste tipo eram escritas para consumo interno, para serem tocadas em encontros familiares e saraus, e para preencherem intervalos de peças teatrais. Essas obras serviam de entretenimento nos salões cariocas devido ao seu sotaque exótico europeu, e não exatamente como peças nacionalísticas com o objetivo de retratar uma linguagem musical distinta.

É interessante notar que, embora este gênero esteja hoje praticamente extinto em sua forma original, no Brasil ele evoluiu para a quadrilha de festas juninas, fenômeno rural que adquiriu grandes proporções principalmente no Nordeste, dançada com muitos pares comandados por um mestre “marcador”. Já nos EUA, a quadrilha seguiu outro caminho evolutivo, culminando na popular square dance, nomeada a dança oficial em 19 estados.

Para ouvir: Onze de Maio, quadrilha de salão composta por Ernesto Nazareth e dedicada à “Exma. Sra. D. Maria José Amado de Meirelles”, esposa de um cunhado de Nazareth. O título provavelmente faz alusão ao aniversário da homenageada, ocasião festiva em que pode ter sido executada para ser dançada (piano, Alexandre Dias):” 

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Author: imprensabr