Leonor Bianchi
A Quadrilha, estilo de dança, tem relação direta com o choro, gênero musical originalmente brasileiro. A dança começou a se popularizar nos séculos XIII e XIV, na Inglaterra e depois como a quadrilha francesa – “country dance”.
Durante o longo período da Guerra dos Cem Anos, entre os séculos XIV e XV, entre Inglaterra e França, houve um forte intercâmbio cultural entre ambos os países e a “country dance” se tornou a “contredanse” francesa; em português, ”contradança”.
Apesar de ser uma dança camponesa e rural entre os ingleses, a ‘contredanse’ foi, aos poucos, virando uma dança da nobreza entre os franceses. No século XVIII, essa já era a dança protocolar de abertura dos bailes da Corte.
Naturalmente com a vinda da família real para o Brasil, a moda pegou por aqui, já que a elite brasileira dos tempos do império adorava tudo o que vinha da França e da Europa.
A ‘contredanse’ se transformou na dança de quadrilha porque na Espanha era comum usar o termo ‘cuadrillo’ para designar a contradança feita com apenas quatro pares. De alguma maneira a expressão se popularizou até mesmo na França (como ‘quadrille’) a ponto de passar a definir toda a quadrilha, independentemente do número de participantes.
A quadrilha é uma dança de salão europeia originada no século XVIII e muito popularizada no século XIX, tendo se espalhado por toda a Europa e colônias. Quase todos os manuais de dança da época possuíam uma seção explicando os passos e a etiqueta da quadrilha. Sua formação coreográfica requer quatro casais dispostos na forma de um quadrado, que se revezam nos passos da dança. Um dos pares é o principal, que lidera os outros.
Musicalmente, a quadrilha é composta por cinco partes (ou movimentos) diferentes, como cinco pequenas músicas intercaladas, cada uma com começo, meio e fim. Os ritmos de cada parte também seguem determinadas regras: a primeira parte pode ser em 2/4 ou 6/8, a segunda sempre em 2/4, a terceira sempre em 6/8, e a quarta e quinta partes sempre em 2/4, sendo que todos os temas possuem a duração de 8 compassos. Naturalmente, a dança acompanhava cada um destes ritmos, fossem ternários ou binários.
Segundo informações do site www.ernestonazareth150anos.com.br “a quadrilha também se tornou um gênero popular na Belle Époque brasileira, presente na obra de diversos autores. Por exemplo, a coleção de 15 CDs “Princípios do Choro” (Acari Records, 2002), que fez um grande resgate de peças de compositores deste período, registrou 5 quadrilhas: de Saturnino, Luiz Borges de Araújo, Anacleto de Medeiros, Henrique Alves de Mesquita e Galdino Barreto, todas em cinco partes. Chiquinha Gonzaga também compôs duas quadrilhas (Arcádia e quadrilha de Jandyra), e o “pai do choro” Joaquim Callado compôs nada menos que 22 quadrilhas, trazendo grandes contribuições ao gênero. Curiosamente, existe pelo menos uma quadrilha contemporânea, composta nos moldes antigos: Um baile em Villa-Boa, de Maurício Carrilho, e Cavaquinho de ouro, de Gustavo Cândido.
Segundo a pesquisadora Cristina Magaldi, no livro Music in Imperial Rio de Janeiro: European Culture in a Tropical Milieu (Scarecrow Press, 2004), peças deste tipo eram escritas para consumo interno, para serem tocadas em encontros familiares e saraus, e para preencherem intervalos de peças teatrais. Essas obras serviam de entretenimento nos salões cariocas devido ao seu sotaque exótico europeu, e não exatamente como peças nacionalísticas com o objetivo de retratar uma linguagem musical distinta.
É interessante notar que, embora este gênero esteja hoje praticamente extinto em sua forma original, no Brasil ele evoluiu para a quadrilha de festas juninas, fenômeno rural que adquiriu grandes proporções principalmente no Nordeste, dançada com muitos pares comandados por um mestre “marcador”. Já nos EUA, a quadrilha seguiu outro caminho evolutivo, culminando na popular square dance, nomeada a dança oficial em 19 estados.
Para ouvir: Onze de Maio, quadrilha de salão composta por Ernesto Nazareth e dedicada à “Exma. Sra. D. Maria José Amado de Meirelles”, esposa de um cunhado de Nazareth. O título provavelmente faz alusão ao aniversário da homenageada, ocasião festiva em que pode ter sido executada para ser dançada (piano, Alexandre Dias):”