Leonor Bianchi
A Hemeroteca Digital do Choro relembra a primeira edição do Festival da Velha Guarda, realizado em São Paulo pela TV Record, em 1955, com curadoria e idealização do radialista Almirante. Na matéria abaixo, transcrita da revista Radiolândia, acompanhamos um pouco do que foi a iniciativa que marcou os 56 anos de Pixinguinha, grande homenageado do festival, que reuniu a nata dos chorões do Rio e São Paulo.
Arte, emoção e brasilidade com a Velha Guarda
Texto de Arnaldo Câmara Leitão
Fotos de Hildo Passos
Nos dias 23, 24 e 25 de abril realizou-se em São Paulo o I Festival da Velha Guarda, reunindo antigos artistas paulistas e cariocas, cantores, instrumentistas e compositores num congregamento musical e emotivo, que alcançou o mais completo êxito.
A ideia inicial partiu de Almirante e foi encampada pela Rádio Record e apoiada posteriormente pelo Departamento Municipal de Cultura e pela Comissão do IV Centenário, além de igualmente por toda a imprensa paulistana.
Assim explica Almirante o objetivo dessa jornada artística:
“Nosso propósito inicialmente era apenas homenagear Pixinguinha a quem a música brasileira tanto deve, no preciso dia em que completava 56 anos, dia 23 de abril, e que se comemora o dia de São Jorge Guerreiro.
Surgiu daí o primeiro desenvolvimento da ideia, pois logo verificamos ser impossível separar Pixinguinha do grupo de amigos e acompanhantes que com ele festejam o seu natalício, ao mesmo tempo que aqui, sozinho, não haveria modo de dar-lhe o conforto espiritual encontrado em sua residência no Rio, por essa ocasião.
Exposto o problema, assim à direção da Record, levantou-se então a ideia de ampliar os festejos mediante não apenas a vinda dos companheiros de Pixinguinha, como também a reunião de todos os seresteiros da Pauliceia, transformando-se, pois, o aniversário do grande artista como pretexto para um autêntico Festival da Velha Guarda em que os artistas da música brasileira de anos atrás pudessem confraternizar-se musical e sentimentalmente.
Nesse sentido, tive também a lembrança de propor que o dia 23 de abril passe a se chamar o “Dia da Velha Guarda” em homenagem permanente a Pixinguinha, com as devidas comemorações de âmbito nacional – sugestão que parece, foi bem recebida por todos no Rio de Janeiro e São Paulo”.
O Programa
Caprichosamente elaborado por Almirante em colaboração com Paulinho Carvalho, diretor da Record, e com representantes da prefeitura e da comissão do IV Centenário, o programa abrangeu três dias de comemorações recaindo numa sexta-feira e no sábado e domingo seguintes.
Na sexta-feira, Pixinguinha concedeu uma entrevista coletiva à imprensa, na sede da comissão do IV Centenário, na qual, inclusive falou sobre a deturpação por excesso de mercantilismo da excelente música popular brasileira. A entrevista impressionou pela profunda modéstia e pela tenra mensagem de carinho que Pixinguinha endereçou à terra de Piratininga, que não visitava há cerca de 30 anos.
No programa, Pixinguinha abafou como regente e saxofonista e principalmente pelas insuperáveis improvisações em dupla com o flautista Benedito Lacerda.
Por ocasião foram apresentados ao público todos os componentes da caravana de chorões dos cariocas assim constituída: Pixinguinha, Benedito Lacerda, José Luiz de Moraes (Caninha), João Machado Guedes (João da Baiana), Jacob Bittencourt, o Jacó do Bandolim – que embora não seja da seresta antiga foi convidado pelo muito que tem feito pela nossa música popular tradicional e que num gesto de grande dedicação compareceu ao Festival mesmo tendo sofrido hemorragia interna três dias antes, consequência de uma internação cirúrgica a qual se submeteu em janeiro deste ano -, Patrício Teixeira, Gumercindo do Amaral (o Mulatão), Léo da Rocha Vianna José Cícero Dantas Casimiro Ramos Filho João Batista de Oliveira Edgar Soares Manoel de Souza aos Manoel de Souza Alcebíades Costa (Bid) Alfredo José Rodrigues Alfredinho do flautim Salvador Correia Milton Dantas de Oliveira Haroldo Rodrigues, Chamberlain Francisco Esteves, Vitório Luiz Caldeira Bororó Sebastião Cirino nozinho Mello Moraes Mozart Araújo Ernesto dos Santos Donga J Cascata Othon, Saleiro, Patapinho, Roberto Chaves e Pinho do Bandolim.
Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional