Dorival Caymmi e o Choro


Pixinguinha-Caymmi-Vinicius-e-Baden em foto de David Drew Zingg

Por Leonor Bianchi

Não poderíamos publicar a edição N. 1 da Revista do Choro sem mencionar o nome de um dos maiores ícones na Música Popular Brasileira: Dorival Caymmi. O baiano, que este ano, se vivo estivesse, faria cem anos, viveu os áureos tempos do Rádio no Brasil, época em que o Choro já estava estabelecido no Rio de Janeiro há muito e os regionais tomavam conta do ambiente de rádio acompanhando todos os grandes nomes da canção brasileira daquele tempo.

Ainda que tenha ficado marcado por canções folclóricas e praieiras, Caymmi teve sim uma relação com o Choro e conheceu de perto, no seio familiar, o que era ter um chorão dentro de casa, se assim podemos dizer. Seu primeiro contato com o Choro foi na juventude, na Bahia, com os saraus na casa de seus pais, onde aconteciam muitos encontros de seresteiros. Um deles era seu tio Cici, que tendia mais ao Choro, como revela Stela Caymmi em seu livro ‘O Mar e o Tempo’ (2001).

“Quem tocava um violão para ninguém botar defeito era Cici, o irmão de Sinhá mais chegado a Durval (pai de Caymmi). “Era boêmio, gostava de uma bebidinha e não se envergonhava de tocar violão” – revela o sobrinho. Dorival adorava quando o tio participava dos saraus em casa tocando um chorinho atrás do outro. Era um excelente solista de Choro. Quando percebeu o interesse do sobrinho pelo instrumento, deu-lhe algumas dicas: “peraí, o relativo é lá menor. Durval não te ensinou. Você acabou de tocar o dó maior e passa para o lá menor. Agora tem a terceira, tem a falsa, antes da terceira tem a falsa, você vai fazer. Quando seu pai puder compra um método para você. Pelo método é só você olhar e tocar”, lembra Dorival. “Ah, não deu outra!” – prossegue o compositor em meio às lembranças -, “Eu juntei o dinheiro do método de Canhoto e comecei a tocar.”

Dorival Caymmi, desde que começou a gravar suas músicas teve contato com célebres regionais e músicos de Choro da mais alta estirpe. ‘Balaio grande’ foi gravada com o Regional de Benedicto Lacerda, em 1941. Gravou, também com o Regional de Benedicto Lacerda, ‘A vizinha do lado’, em 1946. Suas primeiras gravações de ‘Lá vem a baiana’ e ‘Marina’, ambas de 1946, foram feitas com Jacob do Bandolim e Regional do Canhoto. Dorival, inclusive, ficou grande amigo de Jacob e participou de diversos saraus em sua casa.

Nos anos 90, Dorival Caymmi fez uma série de apresentações acompanhado de Radamés Gnattali e Camerata Carioca, gravando para a TV um antológico trabalho com as músicas de Caymmi arranjadas por Radamés e Mauricio Carrilho.

A obra de Dorival Caymmi é vária, assim como a matriz de nossa música popular, e cabe no universo de todo intérprete. Com os chorões não é diferente, e cada vez mais, vemos a obra deste emérito compositor ser interpretada e tratada por chorões. ‘Vatapá’ é um maxixe daqueles que balançam todas as cadeiras. Seus sambas ‘Vestido de Bolero’, ‘Saudade da Bahia’, ‘Maricotinha’, ‘Maracangalha’, ‘Eu cheguei Lá’, ‘Dois de fevereiro’, ‘O samba da minha terra’ e outros mais somados aos seus sambas canção, como ‘Nem eu’, ‘Marina’, ‘Sábado em Copacabana’, ‘João Valentão’ (este começa como sambão e vai para uma levada de ‘varandão’, bastante familiar aos chorões), são obras totalmente conectadas ao universo do Choro.

Veja mais nos links

Balaio Grande, por Dorival Caymmi acompanhado do Regional de Benedicto Lacerda. 1941. https://www.youtube.com/watch?v=6Dji4cdQ1mk

 (1)   A vizinha do Lado, por Dorival Caymmi acompanhado do Regional de Benedicto Lacerda em disco Odeon 12685 A (matriz 8008). Gravado em 12.02.1946 e lançado em março de 1946. https://www.youtube.com/watch?v=P-X90643C_0

 (2)    Lá vem a baiana – Gravação RCA Victor de 11 de julho de 1947, lançada em agosto do mesmo ano, disco 80-0536-B, matriz S-078763. Com Jacob do Bandolim ao Bandolim. https://www.youtube.com/watch?v=8Rawy8LKsEo

 (3)   Marina, por Dorival Caymmi, voz, e Radamés Gnattali, piano. https://www.youtube.com/watch?v=f4D7BFmae50

 (4)   Programa Contra Luz, apresentado por Hermínio Belo de Carvalho. Raro e inédito. Dorival com Radamés e acompanhado pela Camerata Carioca. https://www.youtube.com/watch?v=qIdUGaaMLco

Foto:  Baden Powel, Pixinguinha, Dorival Caymmi e Vinicius de Moraes.

Créditos: David Drew Zingg

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Author: imprensabr